Fazia mais uma das minhas corridas matinais, que seria, como sempre, seguida dos exercícios diversos: alongamento, flexões, força.
Quando terminei meu tradicional percurso, sentei-me em um banco, o mesmo de sempre, para retomar fôlego. No banco ao lado um simpático casal me olhava. Olhei-os e trocamos sorrisos.
Ambos de meia idade, aparentando mais ou menos uns quarenta e cinco, cinqüenta anos. Tomavam sorvete; deliciavam-se entre o morango e o chocolate de um e de outro. Ofereceram-me como manda a lei das cortesias.
Recusei, primeiro pela mesma lei, segundo por realmente não querer; não era saudável: muito açúcar e muitas calorias.
Notei neles a boa forma física e os elogie. Retribuíram-me com boas palavras.
Perguntei se costumavam fazer exercícios para se manterem naquela forma. A resposta me surpreendeu.
A mulher disse que cultivava a saúde da alma; esta por sua vez dava a boa saúde do corpo. Comentou ainda, buscando palavras amenas para não me desagradar, que achava pessoas como eu muito estranhas, aliás, não conseguia entender como buscamos a plenitude de fora para dentro e não ao contrário, como manda o bom senso.
Sorri um sorriso envergonhado. Queria rebate-la, mas como faze-lo. Eles ali, em plena forma, não se importando com calorias e colesterol, enquanto eu exausto olhava desolado para os aparelhos que ainda me aguardava. Tinha ainda a academia: musculação, natação e karatê.
Eles se foram em caminhada a observar as belezas às voltas no agradável parque.
Dei-me conta que jamais olhara para as paisagens que me envolviam em meus exercícios. Para que me preocupar com as árvores, as flores, os pássaros? O que importava é que a natureza estava lá. Nas aulas de ciência aprendi o ciclo do oxigênio que se fechava entre a respiração animal e a respiração vegetal. Isto é tão somente o que necessito saber para as minhas corridas: se há árvores, muitas de preferência.
A verdade cientifica me dava razão. Mas, e a felicidade aparente na sutileza daquele casal tão saudável de corpo e alma? Não queriam discutir as coisas, a natureza das coisas. Eram apenas felizes; apenas acreditavam.
Será que de fato eram realmente felizes?
Tentei esquece-los, enfim, o tempo exigia que eu fosse ao embate comigo mesmo nos aparelhos instalados no parque. Lá estavam as barras em todas as formas e alturas e os bancos para os improvisados alongamentos e flexões.
Quão duro é se manter saudável!
Aqueles sorvetes me pareceram tão saborosos; tão saudáveis.