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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Horizonte Solar -- 05/01/2007 - 03:03 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As palavras, signos vivos
Metáforas, metonímias, simbolismos
Oceano de sensações, emoções, campânulas
Sons de sino numa tarde úmida e solar
Pulsam nos corações dos habitantes
Da casa litoral cercada por um muro
Arejado de brahamazul, exaurido pelo movimento
Da (e)terna maresia dos elementos
Fluxo fugaz, vida vinda do horizonte
Palavras, pulsações azuis
Sinestesias, sentimentos antagônicos
Signos pulsando apascentados
Nutrem-se de "blues" tibetanos, harmonizados
No olhar da mulher que abre a janela
E percebe que o céu é o seu lar
E vê sua alma aproximar-se
Em ondas como se quisesse lhe afogar
Ilimitada e tênue quietude
Na pracinha próxima à praia
A infinitude perpassa a todos e a tudo
Os sons do bronze pulsando as horas
Simultâneas ao pulsar da emoção
Renova a espiritualidade do lugar
Através das palavras o poeta viaja para algures
Os períodos ficam, nascem, fluem no papel
Em direção a nenhures.
Renova na vida diacrônica
A nova geração desse mar. De emoções
O homem antigo, passeia antanho êxtase
Agora diáfano bruxuleio de sensações
Repetem-se nesta hora as rotinas diluídas
Na exuberância da vaga a marulhar
Na areia da praia raia outra vez
O luar primeiro, nunca rotineiro
A banhar a mureta branca
Caiada de argêntea cintilação
Simulando amparo à morada dos sonhos
Protegida pela estação de ondas, aeronavegação
O horizonte longínquo faz sonhar
Quantas criaturas extinguiram-se
Nessa casa de ondas brancas
Como o voar da andorinha imortal de asas brancas
Quantos pássaros sobrevoaram gerações de criaturas
De areia. Paixões nasceram de seus sonhos
E as palavras continuam depois a moldar a massa
Do homem a volver poeira no continuum do tempo
A história construída no pó do Absurdo e da Graça
Não fosse a palavra alada dos versos
Singrar o sangue da posteridade
E o signo homem, de outro tempo e dimensão
De Áries a Peixes, d´outrora, de todas as idades
Teria se diluído em nada
O sonho e a ilusão de todo esse azul
Ninguém jamais poderia espreitar
Da janela do tempo porvir
Os seres que habitavam a pequena vivenda
A mureta caiada do sol da soledad, maresia
De uma solidão serena, suave, sem nome
Pessoas comparsas das lendas do vento norte
Sósias das histórias de pescador
Mistérios do imaginário desse lugar de céu azul
Universo a murmurar na praia à velocidade da luz
E a pracinha ao lado
Também caiada de branco e "blues"


UMA ÁRVORE
Experimente falar com uma árvore
Não com palavras
Sinta a emoção de abraçá-la
Converse em silêncio com ela
Sobre sua transitoriedade
Ela dirá que o homem é um passageiro fugaz
Momentâneo, com uma vida de delírio por viver
Ouça-a infinitamente humilde lhe dizer
Ser parte do tempo que se alimenta do húmus
Do humor nem sempre compassivo
Da natureza do vento
Do sol, da luz lunar, das águas
Suas raízes sempre em contato com a terra
À árvore não sobra tempo para delirar
Se a avidez e a alienação do homem
Não prostrar a floresta para construir um túnel
Ou uma estrada, ela nunca vai parar de se dar
Em sombras, folhas, flores, frutos
Sua história nas atas diáfanas do vento
Registra por vezes certo pesar. Afinal esse
Animal, homem, não poupa nem os de sua espécie.
Suas folhas a ondular ao sabor da aura
Satisfeita, indiferente, transmite ao poeta
A transcendência e a harmonia
Que ele não sabia existir essa racionalidade
Na vida vegetal. Nesse abraço telúrico ouviu
A vida pulsar no coração do solo, da água, do ar
A soberba racional some
Ele a aquecer-se na sombra solar da árvore
A mais antiga tenda que abrigou os homens


“FLAPS”
Se te excluem do rebanho
És apenas um selvagem
Diga não, não siga
Se não quiser
A lei geral da libido
Dos deveres deste mundo
Não te isentes da fadiga de negá-los
A águia voa mais alto
Que os pássaros da praia
Um deles não sabe disso
E vence naturalmente
O pico do vôo falconiforme
A seu modo salta sozinho fronteiras abissais
Vence a condição limite
Voa sobre nichos jamais alcançados pela águia
No voar mais alto alhures, navega sua sina
Fernão Capelo Quixote
Abre as portas de paisagens longínquas, inusitadas
Despreza a coleira doméstica da rotina
Aceita o desafio das asas do anjo
Da insensatez. A paralisia
De não ficar nos limites do bando
Os membros alados não são de cera
Objeto desse prazer solar
O bibelô coletivo não pode ser livre
A liberdade para ele é mortal
Como o foi para Ícaro
Ao invés de ouvir Dédalo
Voar a uma altura moderada
Derreteu as asas o ardente sol
Voar é para o homem que sabe sonhar-se
Pássaro. A liberdade de ir mais longe
As pinturas da vastidão a desbravar
Não faz parte da programação
“Aldeia global padronizada”
Eleva-te alado nas criptas do luar
Vê, afinal, o quanto é essencial a desmemória
Saber manter o rumo certo na incerteza
E chegar até sua "Cecília", a ilha, salvo
À imitação de Ulisses vencer as ninfas do mar
Mirando o horizonte de Ítaca
Onde Penélope resignada
Fiava ondas e as desfiava
No fado afortunado do tecido solar
Obrigado, grande irmão da libido global
Preciso navegar além do poente
Vencer a face da suposta beleza
O canto encantado das sereias
Sufrágio-serpente, gênese universal
Fazer a rude ambição do desejo amainar
Estou bem, na trilha
Da velha neurose conhecida
A navegar sobre a tempestade de sal
Em busca de minha Penélope
Enfrentando os inimigos em Ítaca
Em que lugar dessa Terra, dessa ilha
Estará a minha fêmea
A minha alma gêmea
Ritual de passagem



MANO FANTOCHE
Sei de pessoa que engole sapos
E come moscas.
Pensei que isso só existia nos filmes de vampiro
A mente é um túmulo
Onde os mortos falam em seu ouvido
Seu medo: perder o lugar de morar
As mordomias do emprego
A caverna com tv do seu abrigo
O quarto onde se esconde
Em suas noites mórbidas
As almas penadas roubam-lhe a calma
São seu paraíso perdido no delírio
Fazem-lhe companhia via Internet
O pai para manter a mente ativa
Senta-se num sofá, deita-se na rede
Fica na oitiva
A vida submissa sabe humilhar
O mais antigo suga do mais moço
Rouba seu crescimento anímico
Pra viver um ano a mais de subvida
Permite ser controlado em tudo
Seu sono, seus sonhos, seus passos
Do trono de necessidades
Fabrica suas mentiras
Dispersa ainda mais os seus pedaços
Você faz que gosta e acredita
Porque vendeu a alma por um carro
Diz estar bem assim
Que ser escravo aparente
Nada significa de fato
Mas toda vez que diz sim
E sempre concorda com tudo
Ele domina sua vontade
Seu porvir fica mais turvo
A suposta personalidade, um caco
Mantém sua alma cativa
Alimenta-se da mente traída
Apaga as luzes de seu futuro
Faz de você
Papa-moscas do Nosferatu
Caro companheiro, acorde agora
Você soldado assalariado
Desse fardo pesadelo, desse mistério
Buraco negro de sua vida
Não carregue como uma mula
Com todo esse zelo sem rumo
Os ossos de seus antepassados
Suas fomes, alergias, suas taras
Suas rugas, suas fugas, suas cargas
Toda essa dinastia de cemitério
Essa agitação sem guarita
Ao sair toda manhã de sua toca
Seus olhos têm vergonha do sol
Sua fidelidade aos mortos
Sua simpatia pelo demônio
Ele mantém sua alma passiva
Ele se alimenta de sua mente cativa
Você vive uma vida que não a sua
Seus passos conduzem a lugar algum
Em seu horizonte brilha
A realidade do sonho em vão
Seus corpúsculos subterrâneos
A laje tumular da família
A juventude perdida
Ele sorri de seu vazio
De seu salário, de sua cerveja
Da promessa de sua parte na partilha
De dentro de seu corpo sepulcro
Puxa a coleira da falta de liberdade
Como se você fosse um cão
A ladrar pelo prato de comida
E você diz estar tudo bem
Que está certo e é direito ser virtual
Alguém viver por você, sua vida
Como um sócio empresarial
Mas no fundo você sabe com certeza
Ser vítima desse mal. Que fazer ?
Ele mantém sua alma aflita
Sua Parságada há muito se perdeu
As contas a pagar, a avareza
Quem é o senhor de sua mente sujeita, seduzida
Que vive sua libido por você ?
VIRADA DO MILÊNIO

"Monkey is monkey"
Judeu, batavo, corifeu
Muçulmano ou
Católico apostólico romano
Todos netos da Lucy
Vovó, ó, ancestral de fé
Seu cérebro de tangerina
Criou o forró, o narcopagode
O analfabetismo acadêmico
O futebol rococó e o sanatório da Sé
Sua maior aspiração
A epidemia neural
A farinha de colher
Vovó, ó, não livrou a cara de ninguém
As netinhas estão soltando a franga
Os netinhos estão nessa também
Mandarina fóssil, criou todas as coisas
Deus do matriarcado global cromagnon
Pastavam os lobos em sua volta
Tinham medo de chegar mais
Em sua proximidade letal, apenas
As almas ajoelhadas da intriga, do roubo
E do tráfico de demências afins
A infâmia faz parte de sua reza
E os que uivam ávidos de plasma
Antes de saírem para outra noite de crimes
Fazem suas orações à madre mãe do tititi. Abim
Vovózinha, ó, habilis dos quartos de motel
Quantas vezes você ganhou das ciências o dossel ?
Descobriu o cachorro quente sapiens/demens
A bomba de nêutrons explodiu
Nas conversas de coquetel
Criou com louvor
A praça da alimentação dos shoppings
Você merece todos os prêmios Nobel
Seu fanatismo pelo consumo de bugigangas
Seus anéis de formatura, sua sabedoria PhD
As netinhas só querem saber de cabeleireiro
Mostrar bumbuns nas passarelas da música caipira
Malhar os “trens” nos fins de semana
E cadê você ?
Nas praias, nos bailes, nas escolas motéis ?
Quantos Oscar você já ganhou
Fazendo-se personagens de Hollywood ?
A princesa das passarelas
A musa das canas caianas
A modelo dos coquetéis
Quantos milhões de CD’s você vendeu este ano ?
Insistindo para que todos vejam, a cores
Onde é a sede de sua inteligência
Mexerica dos podres poderes
Você está de luto e não sabe
Veste-se de arco-íris, na essência
Tudo em você é artificial
Afetos, pensamentos fantasias de carnaval
Sua mente em ebulição
Seu assado de panela
E esse mal-estar geral
Que santo vai te valer
Se você acender uma vela ?
Seu drama moderno
O milagre econômico
Que gerou a ultraviolência social
Mãe de todos os seres
Madonna de todo horror radical
Ilustre grandmother daqueles monkeynautas
Dando pulinhos na lua, que atração astral
Seus netinhos puxaram aos ancestrais
“Filhos de peixe peixinhos são”
Inventaram bombas capazes de dizimar
Todas as espécies de animais
No Maracanã cheio de berros
O mundo todo em suas mãos
Uma quer ser, quando crescer
A Gisele Bündchen anorexa pra valer
A outra, a Carolina Careca
A de calcinha transparente, 17,
A garota de programa Barbie
A Bruna Surfistinha tem a chave
A fulana deseja ser a mulher do cafajeste
Ele é um cara que tem "molho"
Se precisar maneirar você põe no drive
A cantora do cal canhoto
Aqueloutra, a Sabrina Zip Net
A Ivete, namorada do bicheiro
Você sabe como funciona
A política do arrocho
A Regina da arte fascistinha
Amante do sinhôzinho Malta
Já deu todas as dicas
De seus descendentes primatas
Ajoelham-se nos oratórios
Olhos vidrados nos demos pornôs
Suas netinhas velhacas
Têm as mentes mais banais do planeta
E nas platéia da tv
Querem todas vir a ser
A vaquinha de presépio que mais se sobressai
Nos programas de auditório
Vovozinha Abim, ó, você não vê ?
Está na hora de mudar
Passageiros do Terceiro Milênio
Querem uma mente nova pra pensar
Essa mentalidade de pipoqueira
Não satisfaz meus sentidos
Você agora, quer ser chic
Veste-se nas melhores grifes
Das butiques do colarinho branco
Suas netinhas são o sal da terra
Do dólar do real do euro
A guiar o bananal em direção alhures
Rainha da nova geração de pererecas
Você tem a modernidade
Da garota da idade da pedra
Anjo do ecstasy
Se droga com prozac pra manter
Esse sorriso de fada grunge, esperta
Que adianta anestesiar seu medo
Se nem assim ele vai pra longe ?
Um pouco de Ética não vai mal
Da Sé em Sampa à
Marquês de Sapucaí
Ao Palácio Central da Besta do Carnaval
Vende-se de tudo: de majestades do quilombo
À foto mais sensacional
Banqueiros de lambreta
Verdinhas falsas, sonhos de valsa
Vai sair em tudo que é jornal
Os auditórios cheios de palminhas
Aplausos de pé para a próxima titica global
Chegou a hora da risada gravada
Quem mais sorrir nos programas de humor ?
Palmas para o bulevar do baixo astral
Mama Abim, primata de todos os filhos da mãe
Ouça um pouco, por favor
Seu neto precisa de uma garota
Com uma mente e um coração de gente
Que não faça seu QI ir pelo ralo
Que valorize sentimentos
Que se afine com emoções
Que não sejam de auditório
De fazer justiça a macaco
Sou filho da evolução das espécies
Por que em seus programas de ratos
Só cabem bobagens, quermesses ?
Suas netinhas só lêem o Paulo Coelho
Com essa cultura de comadres
De candinhas e seus espelhos
Com esse tipo de tesão
Quem vai saber fazer valer meus direitos ?
Meu desejo é em vão ?
De não querer ser traficante
Doleiro, cantor de pagode
Michê do colarinho branco
Ou rato de porão ?
Minha cara avózinha, ó, teu horizonte
Não abriga nenhuma paisagem mental
Que seja minha. Nenhuma afinidade
Teu astral gerou esse tipo de sal
Estilo tvvisão, cultura de praia do Calhau
Tua face medonha de mulher das savanas
Maquiada de estrela global
É sucesso no ibope da sala de jantar
Vovózinha, ó, das festas de Natal
Papai-Noel te trouxe um mel
A sonoridade de minha flauta
Seus lábios ensejam um chega mais
Mamão com açúcar
Venha também encontrar
Este cantinho de céu
Menininha do canta lá, você cresceu
Sua boneca quebrou o braço
O mecanismo de seus olhos emperrou
Suas pupilas estão escancaradamente fechadas
Seu presente de virada de milênio
A promessa de que viverá o nosso desamor
Um genoma de tungstênio
O bom Noel vai te dá
A dádiva de casamento ideal
Um donativo de gênio no Natal
Um casal de macacos-prego
A menina vai nascer de seis meses
O garoto de 180 dias
Os sinos vão dobrar por ti neste limiar de século
Dad-Noel vai botar
Debaixo de sua caminha
Atrás do travesseiro vário
As profecias que nós de damos
No rasgar da camisinha
Os espermatozóides em fuga
Vão se danar de vez
A moça só, só pensa em ser
A mulher do gamo
A namorada do lourinho Uga-Uga
Você vai segurar essa peteca ?
Ser a garota pioneira da suruba ?
Da extinção da espécie sapiens/demens ?
Sua cabeça vai plugar esse ruído vário ?
Seu país é a cia do pagode
Você é ibope até para “ô coitado”
Minha laranja-mimosa
Sua moral, margarina de sanitário
Minha garota fogosa és a tal
Faz-de-conta que no meu sarau
Não vais mais brincar de Adão e Eva ?
De Abim que tudo sabe
Das conversas de comadres ?
Nessa Micarina vais ser a
Pincesinha de baile
Cinderela do senhor do mal ?

((At.: Esta poesia ironiza o universo em desencanto dos condicionamentos de pessoas que não parecem racionais
e mais se afeiçoam aos atavismo de símios (Guerras, corrupção, tráfico, prostituição,lavagem de dinheiro por banqueiros políticos, chefe de partido, matança, violência, tráfico de menores, disseminação indiscriminada da cultura da globalização(nivelamento cultural por baixo via tv e Internet). O poeta, otimista, acredita que na cultura globalizada atual, existem indivíduos que agem e reagem como se fossem mutações culturais, seres humanos. Investidores na Paz.))


SENDA ZEN
Eu sou você, hoje
Caminhando na chuva
Complexcidade e irreverência
Mitos e perigos de usuário
Da vida que a gente tem
Eu sou você hoje
Na fila de emergência do INPS
De madrugada na calçada
Improviso, como um nômade do Ceasa
Uma tenda pra obter um crachá
Uma consulta para depois do ano 2010
Na feira da Previdência
Eu sou você, hoje
Os sonhos fluindo dentrededos
Em direção ao próximo milênio
Todas as bocas caladas pelo enredo
Todas as almas penadas no degredo
Pasmam com a conquista de Marte
No universo paralelo do próximo domingo
Eu sou você, hoje
De frente para o crime
Nas esquinas e fronteiras
Combatente das encruzilhadas
Nas Tamburellos da 3ª Guerra Mundial
Protótipos invandem a sala de jantar
A 300 quilômetros por hora
Você fica no pó romântico e escatológico
Nem percebe que sua cabeça rola
Vendo os animais pastar na grama
Ganhando milhões de dólar
Para correr atrás de uma bola
Eu sou você, hoje
O salário congelado, os preços altos
Comendo frango resfriado
Que o diabo, muito bravo, amassou
Nos conchavos entre o Planalto
E os deputados que o Judiciário mamou
Eu sou você, hoje
Vítima das excelências
No buraco negro da idade
Em direção à poeira do Tempo
Ao mausoléu da previdência
As esperanças o vento levou
Eu sou você, hoje
A surfar nas trilhas da cidade
A cara de sertão
Os olhos de peão, amanhã
No rio, senhor da 3ª Margem
A lua flutua sozinha, nua
Na noite transmantiqueira
Nesta cidade de carne
Nesta realidade de diversões e sorrisos
do 1° de abril
Eu sou você, hoje
No carinho que se diluiu
Como um castelo de teias
À beira morna do rio
Seus ativos financeiros
Nos fios de cabelo
Nas imagens do filme noir
Afirmaram-se no continuum
As palavras do "velho de Restelo"
Vendo a telenovela na sala de jantar
Eu sou você hoje
A abrir os olhos para outro dia
Mesmo que este outro dia seja ontem
Nas bocas tagarelas
Das garotas banguelas
Que o vento da madrugada levou
Na programação tatibitate
Elas também vão ser atrizes de novela
Imitando aquelas donzelas nos motéis
dos filmes pornôs
Via controle remoto
Chega enfim, o sábado sem fim
Porque hoje prossigo sendo você
Na pele fria do buraco negro da tv
Meu corpo sob o cobertor de elétrons
Protesta a falta de orgasmos reais
Vendo a programação do domingo
A próxima semana chegou
Os próximos sete dias estão aí
O tempo dilui-se, voa
Com sua licença, agora
O Peregrino precisa
Ganhar a segunda-feira
Vencer os medos inacreditáveis
As realidades intransitáveis
A Guerra-Fria pela sobrevivência
Como uma bomba de nêutrons
A realidade explode a cada passo
No salto alto das aparências
Bom ter em chamas este fósforo
Conduzindo este cigarro de feltro
Em direção ao fundo infinito do cinzeiro
Na grande Pirâmide da Banana
Vai começar a semana do senhor Neutro
Nem a favor nem muito pelo contrário
Correndo atrás do dinheiro
Meu filho, meu avô materno me dizia:
“O homem se mede é pela largueza dos chifres”
Outra vez apago esse cigarro
No cinzeiro fabricado de matéria lunar
Nessa seção da madrugada
Nas mucosas desse dia que nasce
Na manhã dessa 2ª feira solar.


UM POUCO DE ÉTICA, POR FAVOR
(“HUMAN RIGHTS”)
Você é do tipo do eleitor
Que acredita ser a culpa do frango?
Você vai votar no "hôme" outra vez?
Não tenho nenhuma simpatia
Pelos demônios do capitalismo
Pelos soldados de Satã
Que vendem tóxicos para crianças
Usam-nas em movies pornôs
E alegam estar dando emprego
Por elas fazendo grande favor
Não tenho nenhuma simpatia
Pelos demônios do capitalismo
Que quebram Bolsas no Oriente
E fazem o 3º Mundo do Cone Sul
Pagar a conta da globalização
Não tenho a mínima simpatia
Pelas legiões de demônios
Que fazem este criptalismo funcionar
Movido por políticas à frangogate
Não tenho nenhuma simpatia pelos demônios
Que lançam crianças à execração pública
Nos faróis dos vidros levantados
Nem pelos demônios da violência policial
Que correm atrás do prejuízo
Em implacável busca, captura e execução
De bandidos pés-de-chinelo
Enquanto seus oficiais dão cobertura
Às eminências do tráfico aéreo
Nos inferninhos da cidade de carne
Não tenho nenhuma remota simpatia
Pelas legiões satanizadas
Da metrópole em busca
De um lugar ao sol
Na sala de jantar das telenovelas
Com personagens movidas
à Força Aérea da Branquinha
Pelo Crash mental das classes médias
Da unanimidade do mercado ao aplauso
À inocente dança da garrafinha
São Nélson Rodrigues nos proteja
Dos demônios das simpatias
Das ofertas dos mil sorrisos
Do tecnocrata do colarinho branco
Que lança o osso ancestral
Dos confins da idade da pedra
Para além de 2001
Proteja-me de ter simpatia
Pela “História da Riqueza do Homem”
Pela sede fanática, pela fome catártica
Das famílias unidas
Por hambúrguer e Coca-Cola
Pelas patotas de saúvas novas
Que devoram o país
De dentro dos pagodes oficiais
E babam sobre tudo
Sobretudo que é importado
Inclusive literatura
Minha antipatia se estende
Aos forrós neoliberais
Às orgias dos genocidas
Dos comitês macroeconômicos
Das equipes dos bancos centrais


MAMA TVÊMICA
Ela limpa as fraldas
Beija-me o bumbum
Faz carinho no pipi
Diz o que vou calçar
Fumar é proibido
A roupa que vou vestir
Quero qualidade, Madona
Chega de histórias extraordinárias
De verborragia bíblica
De cursos de culinária
De xororões e mulheres bregas
Stop com as receitas e dietas
Os porres de criminalidade
De políticos em causa própria
Parlamentares à frangogate
na impunidade.
Preciso aspirar um pouco de ar
Dê um tempo na poluição
Aids, aborto, obscurantismo
Ignorância, pobreza, xuxalização
Pare de mensurar as dimensões da crise
Dê um tempo na globalização
O colarinho branco
Ostras "moet chandon" & CIA em Hong-Kong
E o governo mete o mãozão em meu bolso
Estou roubado
Assaltos institucionais globalizados
Todos os dias
Por todos os lados
Ets e ficções científicas
Informática, Internet e tecnologias de ponta
Seqüestros de ativos financeiros
Sombra e água fresca
Impunidade, Miami, surubas pornôs
Alto, Chega. Verdades tropicais
E Caetanos e Rochás
Stop com Schummacher
Com os demais paradigmas
Do capitalismo selvagem
De oposições bolcheviques
E com seus antípodas
Bandas e vocais populares
Calcinhas espermacetes
Homo sapiens/demens seus chiliques
Puxadores de cachorrinhas
A gatinha mia no motel
Ao lado de seu "poodle" chic
Quixotes e Dulcinéias fazem ventar
As mós dos moinhos da tv sem parar
Pixies, apetites e gordinhas no chicote do spa
Números do RG fazendo girar
Reações em cadeia da economia
Na alcatéia global.


MULTIMIDIA
Estou desinteressado
Em concursos e shows
Estou desinteressado
De suas filhas, de seus filhos
De seus desvios
E casuísmos padrões
Não estou interessado em seu dinheiro
Em sua política econômica
No "crash" flutuante das Bolsas
Estou desinteressado na desinteligência
De seus cosméticos e empregos
Na sua malebenevolência agônica
Como diria aquele ditado:
Melhor estar Jabôbo
Do que adversário do FHCPadrão
Como me interessar pelo cinema ?
Pela pasmaceira dessa dramaturgia ?
Pelos canais a cabo
Sua espectrometria ?
Como me interessar pela glosa
Dessa ideologia de insetos ?
Como dizia aquele cantor popular:
“Ideologia, eu quero uma pra fudê
Ideologia, eu quero uma pra fudê”
Não estou interessado na compra de um robô
Nem pelo capô do fusca da Xuxa
Na mecânica tântrica
Na ciência irracional
Nessa intolerância impune
da criminalidade global
Em comer hambúrguer de minhoca
Nas Sinagogas do McDonald’s
Nas taras e fardos
Dessa realidade inorgânica
Que o tchans da Carla Peres derrama
No banheiro das damas
Da emissora de tv
Não estou interessado nos discursos
Globalizados dos porquinhos colonizados
Como o queijo rói o rato
Estou desinteressado desses ídolos
Do descontrole remoto do charco
Estar no inferno é dose
No do Rio há, pelo menos, a paisagem
Em Sampa é a seco paradisíaco,
mormaço de amoníaco e CO2
Estou desinteressado desses modelos literários
Meu título de eleitor venceu
Meu carro foi roubado
Minha mulher faleceu
Nasci sem pai nem mãe
Dessas águas de março
Minha ex está com osteoporose
Como uma grávida
Estou nauseado da náusea
Estar desempregado desajuda
Minha quinta mulher morreu de aids
Estou de saco seco
De tanto jogar esperma na pia do banheiro
Da antropofagia dos anos de chumbo
Que devorou para sempre
A juventude desse país
Resta-me essa droga universal
Esse espelho global
A Internet no monitor do micro
Da cultura Homo sapiens/demens
Estou desinteressado
Da globalização cromagnon
Das patotinhas de saúvas
Da compulsão enganosa do marketing
Dos spas e suas musas adiposas
Por fim, estou de saco cheio
Desses ácaros no saco
Dos salões de automóveis
Da exploração gratuita
Da violência mórbida
Das fórmulas velozes
Dos vencedores a qualquer preço
Dos candidatos a frangogate
Todo esse divertimento
O mágico de Oz proporciona
Fórmula Um e tudo mais
Trush de latarias
A 360 km por hora
Visto de minha janela
O Gugu e o Faustão
Apanham de dez a zero
Da baixaria do alemão
Da FIA do Schummacher
Que fazer dessa necrose tv
Dessa metrópole de plástico
Dessa cloaca noctívaga, fogos artificiais
Dessa Vega da lata do luxo
Dessa métrica datada das latarias
A globalização do vômito
Animada pela xuxalização da criminalidade
Que futuro pode vir daí ?
Quem ganha com esse show topa tudo por dinheiro?
Com esse excesso de banalização ?
Com esse amanhã ao deus dará ?
Faz de conta que ainda é cedo
Pra fazer valer tua voz
Tua canção, tua lágrima popular
Teu futuro mil vezes adiado
Pra nunca mais
voltar
Semelhante ao desespero de Proust
"Em Busca do Tempo Perdido"


O REI DOS ANIMAIS
Uma pessoa que conheço diz
que a raça humana é meio pinel
já aquele pintor desenha mulheres
em tom realista, meio pastel
Alguns dizem que é machismo
outros sorriem da idéia
melhor sorrir da dita
que ser dela fraco
Minha Santa Madalena
protetora do bairro chic
fazei-me morar nos Jardins
que a Rita Lee suspendeu
Que será do futuro
Dessa cidade de carne
Dessa potência à Viagra
Do berço e o do túmulo da ambição
Dessa multidão de broacas ?
que nas margens do Rio de Janeiro
cresceu os grandes lábios
nos favelas do PCC
Para onde irá o velho sozinho
fugir para a floresta
satanizar-se em lobo?
Aonde a criança no velho
E a juventude em bandos e pares
A imaginar que sua idade
tem todo tempo do mundo

A geração precedente
plantou em sua mente
a maldição do gênero
a obscuridade do futuro
O jovem pensa ser jovem
e acredita estar indo
para onde o tempo rola
passado que o vento levou
Quanta ansiedade pelo futuro:
investir na colonização de Marte
e fechar as portas da cidadania
para os do movimento sem-terra
sem educação, sem saúde, sem lar
A lógica da humanidade:
fazer macaco virar gente
fazer gente virar macaco
que pra tanto só precisa
se espelhar no Jô Soares
Cada coisa que você faz
um motivo a mais pra amar.
E malamar
Ra, Rama. Lama. Mala.
Ralar mal o mar do alarme.
Que Alá nos proteja
Na falta de outro lar
Esses versos adâmicos


O APANHADOR NO
CAMPUS DE CENTEIO
Todos as pessoas que conheço
E as que desconheço
São muito boas
As mais incríveis do mundo
Estão todas envolvidas com sobrevivência
Isto é dose: tudo por dinheiro
Pra Dreher nenhum botar defeito
Todas têm uma direção
Certezas salariais
Humanismo de holeriths
Religião de contracheque
São vencedoras da dureza
Deram a volta por cima
E desafiam: “A volta por cima que dei
Quero ver quem dava”.
Algumas por certo são
PhDs em neurolingüística
Outras, muitas, exorcizam demônios
Nas armações da madrugada
Mulheres e homens podem ser visto
A uivar, trêmulos, satanizados, céticos
Tentam livrar-se da pobreza, do desemprego
Da miséria. Negam-se, em exorcismos simulados
Nos programas evangélicos
Estar possuídas pela feras da metrópole
Pela ambição, ganância, inveja
Por três dos sete lados dos recados capitais
Serei entre todos esses heróis do Millennium
Um perdedor? Que perdi eu? A ira, a soberba
A intemperança, a inveja, a ignorância?
O cartão de ponto? Perdi amigos com múltiplas
Propriedades, automóveis do ano ?
A proximidade de seus enredos de cinema
De seus animais de estimação com pedigrée
Perdi a carona em seu tapete persa voador
Que conduziu aqueles astronautas
A patéticos pulinhos na lua, às custas de sua dor ?
Perdi as passagem para o vôo orbital
A colonização de Marte
Perdi a Terra longe, muito longe
Com suas pessoas de ficção científica
Os games “Doom” que transformam performáticos
Em infomaníacos das “Cavernas e Dragões”
Perdi a garra pelos megahertz do micro
Tantas coisas perdi que me pergunto
Para que despertar tão cedo ?
Serei eu o vencedor de minhas ações ?
Que sente saudade de todo mundo
E de ninguém ?
Serei eu o vencedor
Que ganha de seu medo


CINZAS E DIAMANTES
Busque uma amante na favela, poeta
Para escrever um poema
Sem pedras no meio do caminho
Como chegarás à palavra rima?
Saia da saia justa
Da conspiração calada
Da intimidade que paralisa
Romântica, realista, pós-moderna
Descalce o sapato alto
Chegue-se ao inusitado que intimida
Aos favos incertos
Nas coxas abertas do anjo barroco
Vinco comezinho do hiato
Da obscenidade domada
Vá até a Via-Láctea da garota ao lado
Aproxima-te do mundo indomado
Pela ausência
Busque a amante entre as Flores do Mal
Elas brotam em todos os lugares
E em lugar nenhum
Se não estiveres lá
De que forma arderá
A chama do chacra da kundaline?
Alucina-te na carne da influência ímpar
Arde no tesão de teu canto
Ele passou, e nem te deste por isto
Que és fogo e cinzas
Eternamente aqui
Como neste poema sujo
Eleva-te em vôo imortal enquanto dure
Fênix, veste a calça de nuvens
Alcança a lucidez de Saussure
Corre sem ferraduras
Cavaleiro de Pégaso.
Pelos prados ao Norte do Aquário
Ao Sul de Andrômeda & Cisne


O TEMPLO DA ROSA ALQUÍMICA
(Controle Remoto da Solidão)
Por que haveria de me satisfazer
Esse mundo rouco
de tanto apregoar mercadorias pela tvvisão ?
Viver é possível, quando a percepção
Coletiva, global, luta por cooptar
Minha mente como se fosse eu
Um inseto sem coração ?
As pessoas não são mais que moscas
Para os conglomerados de tvvisão
As pessoas da sala de jantar (a)traídas
Pela teia de raios catódicos do inconsciente
Pelas mercadorias que se transformam em lixão
De um para outro dia
Depois de consumidas como ração
Os esquizóforos domesticados
Voltam a comprar os produtos
Em oferta na programação
A luminosidade do vídeo receptor (a)trai
Como insetos em volta da luz
Do monitor de tvvisão
A boca maquiada da “talk-show”
Promove a alegria artificial
Das madonas de auditório
Impedidas de viver um mínimo júbilo
Uma miserável satisfação
Elas aplaudem e sorriem
As momices, trejeitos e visagens
das excitantes madames da tvvisão.
Alguém já reparou na infinita tristeza
Das garotas de auditório movidas a aplauso
E a ilusão? Elas não param de bater palmas
Mecânicas como um robô, alegres como uma dor
Clap-clap-clap-clap-clap-clap
As mãos festejam o mecanismo
Do aliciamento, devaneio e delírio
Da desordem da programação
Em poucos minutos seus olhos de fogo, abrem-se
Aflitos, derretem na chama da desilusão
Enquanto as pessoas da sala de jantar
Se reúnem como réus em volta da telinha
Olhos fixos na ratazana da programação
Iridescentes miudezas feéricas
Mantêm em custódia sua atenção
Você olha a telinha, como se houvesse chance
Remota possibilidade
De não alugar seus sentidos
A toda essa lavagem. Sentado na poltrona
Você se entrega e relaxa
Entretém-se e escracha
Como se pudesse, ao mesmo tempo,
Manter alguma mínima espiritualidade
Enquanto enche o coração e a mente
Com o peixe podre, febril e fedido
De toda essa banalidade
Vem fada madrinha, pega na minha mão
Conduz este filho do homem
Para algum horizonte distante
Não quero ser outro ratinho
Na boca desse cação
Leva-me para longe daqui
Que neste auditório há mais desatino e pranto
Que as pessoas da sala de jantar
Que também fazem parte dele
Possam compreender e carpir
Quanto mais você escancara os olhos
Mais os mantém fechados
E só quem ganha com isso são as
Sereias bufarinheiras, os ratinhos bem nutridos
As tetas gordinhas do sexteto
Os piratas das caravelas
Os negociantes de farinha atrás dos bastidores
Estão se lixando para suas necessidades e dores
Que eles vivem de as faturar
Clap-clap-clap-clap-clap-clap
Clap-clap-clap-clap-clap-clap
Você acompanha a música da programação
Você, que nunca pára de “dançar”.


CORRUPÇÃO DE MENOR
O professor ensina gramática
Numa turma de adolescentes traumáticas
Uma gosta de mela com maconha
Outra, de pelotas de "crack"
Fulana, filha de mamãe pamonha
Beltrana, amante de Zezim do pó
Que querem elas aprender ?
Todo sujeito deseja delas apenas o objeto direto
Querem mesmo saber ? Quem sabe ?
Têm a idade da sedução
Nenhuma acredita em milagres
Exceto o da festa do apartamento
Latino com muito bundalelê
Sabem no fundo do inexistente coração
Que dessa madrasta sociedade
Herdaram apenas o muro da vergonha
A sina do colo mecanizado das pessoas de proveta
Que Drummond poetizou
Garotas, discentes dos projetos
Do futuro. Como aquele Carlos conseguiu
Inserir um pouco de lirismo
Na mecânica orgânica das atividades diárias
Pavlovinianas, de vocês ?
Predicados do objeto direto
Anjos tortos de pró-gramas
Nas sombras e nos cursos
Que fazem numa sala de aula
Vocês, que nasceram para estrelas ?
Senão fazer de conta que têm outra coisa a aprender
Que não seja engatinhar na maionese ?
Hoje é festa lá no meu ap.
Vai ter dramas e bundalelê
E se a camisinha "ploft" ! Que fazer ?
No auge do "vamos ver" ?
Quem vai de primeira pessoa pronominal?
Com quem ou de quem se fala ?
Quem vai se responsabilizar pela carência dessa escolha ?
Dessa escola, desse feto, dessa escória ?
Que "Pra Lamento" vai tirá-la do relento ?
Que leis do Supremo vai livrá-la do PCC ?
Ou visitá-la nessa coma, nessa cama de Kaposi ?
Como aprender outra gramática
Senão as das coxas fogosas ?
A mente limpa de "coisas sujas"
Ao invés de leituras e idéias
É um anjo limpo de bactérias, fungos, vírus
Protozoários, células cancerosas
Não houve tempo para a leitura de nenhum livro
Exceto os do currículo
Quantas infecções e ferimentos
Contaminaram seu corpo e sua alma
Adolescente com uma educação cromagnon ?
Você sonha chegar o dia fortuito
De sair dessa prisão de ventre
Em busca do tempo perdido
Tão proustiano, tão distante, tão ausente
Ela que se orgulhava dessa escola tão passada
Onde nada lhe faltava em ilusão e esperança
Agora, finalmente sabe
Lhe terá sobrado apenas dor, dor e dor ?
Você estará preparada
Para esse dia que virá
Em Busca do Tempo Perdido?
(Ninguém nunca está)
Você dormiu em berço esplêndido todo esse tempo
Agora a contaminação do feto
Por essa infecção terminal
Ou você casou com o príncipe encantado
E é feliz professora de gramática normativa ?
Seu salário é de quantos mil réis ?
Seus alunos aprenderam o acento circunflexo
Em casa ou na escola, com você
De que vão te adiantar
As teorias de Noam Chomsky ?
A lingüística da Escola de Praga
O Massachusetts Institute of Technology ?
Você talvez correrá
(Se lhe restar alguma disposição)
Em Busca do Tempo Perdido
Talvez só sobre o ódio como herança
Mas você sozinha, com duas ou três companheirinhas
Não conseguirão dinamitar
Como diria Drummond, a Ilha de Manahatan
A inconsciência não mais estimulante
De trabalhar sem alegria para a educação
De crianças para um mundo caduco
Suas aulas em classe não incluem nenhum exemplo
Terás fome de consumo, falta de dinheiro e desejo sexual
Que mais poderias querer
Um estado policial que socorra tuas ausências ?
Quem se importará com tuas demandas
As crianças traídas ? As bibliotecas que não freqüentaste
Por que já sabias de tudo, eras dona do conhecimento
Do léxico e do vocabulário adolescente
Orgulhavas-te de uma academia
Que parou no tempo passado
Do anacronismo de seu professorado
Do "saber" que orgulhosamente
"ensinavas" às crianças traídas.
No processo covarde de seduzir sua turma
O jejum da cidadania. Afinal querias mais colar grau ?
Vais passar a vida de professora
Subindo e descendo as repartições
Das burocracias do eleva dor
E eu afirmo: mereces essa rotina assassina
O votar nos políticos
E seus associados, os banqueiros de rapina
Que fazem da educação e da cultura desse país
Essa pátria das chuteiras
Com seu carnaval de bonecas.
— Ninguém merece ?
— Você merece. Você aceita !


MUTAÇÃO CROMAGNON
(Contagem regressiva)
Deus criou este mundo sim
Criou o homem para criar
Vida inteligente na Terra
Ele, humano, revelou-se um destino
Carente de Ética
Sem, 100 sentidos, sentidos, pertinentes
Impertinentes da fera
Como um anjo caído no nada
Mendigo de cem medos covardes
Geridos pelo crime organizado
Uma mercadoria que não transcende
A forma de viver outro dia
Na ideologia da cidade de carne
Moderna, com cérebro de barata
A Criação em sombras dissimula-se
Nas formas antiquadas do passado
Processa o ódio coletivo
Como se fosse uma oração diária, armada
No emprego, no almoço, no carro congestionado
O homem coisa em sua caverna de cimento
Esconde em seu covil de aço modelado
A mente raquítica, o ego rançoso
Sombra e trevas, tráfico e mercado
Esse homem, desprezo de si mesmo
Alimenta esse ego radical, essa mente inferior
Um oceano de possibilidades num vaso de cristal
Ébrio em seu “delirium tremens”
O intelecto inculto, a consciência sem essência
Fogos fátuos, inquietude desespiritual
Como surgir desse inferno atômico
Dessa inconsciência coletiva, covarde
A serpente ígnea da espinha dorsal do ser
Essa coisa ativa, superior, imersa
No centro magnético
de mágicos poderes da Terra
O despertar ascendente do Tao. Ação
Coração e mente num criativo
Ilimitado e livre
Processo de Criação.


JUDAS S/A
(Capital marketing)
Todo dia alguém crucifica alguém
pelo leite das crianças
da família é o pai
tem de levar para casa
no mínimo trinta reais
Não quer o filho traficante, o outro, ladrão
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo dizem não
Aquele grupo da milícia
para mostrar que está em ação
esmaga trinta crianças por dia
orgulhoso de cada condecoração
Ele quer garantir a escola dos filhos
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo ditam não
No lago sul da capital federal
um irmão nega outro irmão, orgulhoso de seu dia
programa uma viagem, longa duração
para visitar seus grandes amigos do peito
o pato donald, o mickey, os irmãos metralha,
e o gastão, na terra encantada da disneylandia
Tudo que quer é um pouco de divertimento nesse mundo cão
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo clamam não
Com quantos dinheiros você vai passar
o próximo fim de semana ?
Pensas: no litoral vais estar bem com sua dor
o que te queima não é o sol na cara
é na 2ª feira voltar a ser trabalhador
por mais que se julgue um privilegiado da pátria, um pão
você do fundo da alma não passa de um cancro
uma metástase do colarinho branco
Você quer apenas sentir-se um pouco zen
Relaxar, não pirar de vez, senão...
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo rogam não
Com trinta dólares no bolso você olha a tv em sua sala
sente-se vencedor com seu salário
toma outra dose de “whisky stick” a mão
pensa nos HPs de seu carrão
De quantas pessoas você tem medo
ao sair com ele da garagem
porque o sinal vai estar sempre vermelho
o autocontrole para você é um sinal fechado
Você precisa de um passeio sem o medo por companhia
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo gritam não
Seu temor está na esquina das vítimas de sua mesada
Com trinta dólares de gasolina
na rodovia Airton Senna
você abasteceu seu carro.
Há muito ele está fora de linha
todos aqueles veículos novos olhando dos lados
você longe está de estar sozinho
por que sente-se tão ilhado, rente ao chão ?
Você quer apenas um pouco de privacidade
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo bradam não
Sabe que se alguém puser uma arma em sua cara de sorvetão
ninguém partirá em sua defesa, ninguém viu nada
Você quer apenas sentir-se menos inseguro
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo tornou você um bufão
Os trinta dinheiros do salário mínimo exigem não
Pelos dólares do depósito mensal, você vendeu tudo
que poderia ter algum valor:
amizade, confiança, carinho, ternura
com todo seu dinheiro você não comprou nada mais
do que sua quota de mal bocado
pela qual paga nas suas horas de dor
sua mulher está a querer sempre mais
uma hora no cabeleireiro ilusão.
Você está prestes a berrar, soltar o grito
para quê ? De aparências você está cansado
mas ninguém nunca lhe dirá isto
Você quer apenas sentir-se menos aflito
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo aqui estão
Os trinta dinheiros do salário mínimo exclamam não
Todos vão exigir sempre mais, outra trapaça suada, sua
para ganhar outros mil dinheiros
você é a bola da vez a girar a bolsinha na greve
de rua por melhores salários
girando, girando, aumentando a tensão
Você se segreda: “Nada disso vale a pena preservar”
na roleta do desamor, nada sua tensão
Você quer apenas um pouco de afeto
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo nada são
Os trinta dinheiros do salário mínimo reclamam não
Você está a sentir-se agora
como aquele executivo do colarinho branco
com sua gravata de mil dólares
com seu sapato de cromo alemão
por trinta dinheiros, insone você conduz
as contas a pagar, na mão
com trinta impulsos você quita o telefone
com outros trinta a conta de luz
mais trinta mil dinheiros você investe no Bolsão
na petrobrás, na souza cruz
você tem tudo que o consumo seduz
Você quer apenas segurança no futuro
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo no talão
Os trinta dinheiros do salário mínimo ordenam não
Por que você se sente tão solitário ?
com todos esses familiares ao lado
você que alcançou tudo
onde está sua liberdade ?
Não é capaz de dar uma volta no carrão
sem que esses olhos te observem
sem que seus acusadores te cobrem
seu lugar em sua casa
serem proprietários de sua alma
seu comportamento padrão
entre as outras pessoas da sala de jantar
Você deseja apenas relaxar
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo são sua tensão
Os trinta dinheiros do salário mínimo intimam não
No videogame do micro computador
você está inseguro com tanta segurança
sempre vigiado por personagens de tv
você, que por tanto tempo ouviu
Da ana paula padrão, da lilian with fibh,
Dos âncoras todos do "boa noite"
como se fossem de casa
e ele comessem na sua mão.
Depois do Jornal da Noite
na hora de fazer dormir a tensão
Você almeja um sono de arcanjo
Depois de mais um dia de cão
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo padrão
Os trinta dinheiros do salário mínimo impõem não
A mulher te espera na cama
após o salão de beleza
mas você sabe que não há viagra neste mundo
que possa tirar a certeza
de que preferias, na verdade, uma garota de programa
que te daria algum prazer a mais na cama
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo em questão
Os trinta dinheiros do salário mínimo determinam não
O gari cata o lixo das ruas
Igual uma avestruz
a boemia enche a cara nos bares
a equipe macroeconômica cobra imposto
pelo copo de cerveja e pelo câncer souza cruz
você acha fácil livrar-se
dessa empatia telepática ?
Dos impostos do leão ?
Quer fugir para outra rotina internética.
Vidiar a garota performática
Achar um ponto de luz no fim do túnel
uma resposta na sociedade hermética
Mas os trinta dinheiros do salário mínimo do furgão
Os trinta dinheiros do salário mínimo reclamam não
Seu novo dia, pode esperar
é infinita a utopia
a capacidade de sonhar a cidade de carne melhor
como nos seus sonhos
nunca vai vir agora, virá sempre amanhã
Porque a sua vida adiada todos os dias
Por mais desejada que seja
Nunca vai chegar
Não passa de uma infinita negação
Seu “state of mind” mantém você “stand by”
Deseja uma fé e uma crença com paixão
Sua religiosidade de boteco de tv
sua espiritualidade de novela te trai
Sua cabeça de moinhos de vento
Você não passa de um Quixote
Sem a dignidade da imaginação
Você quer sentir-se um vencedor
Os trinta dinheiros do salário mínimo são sua ração
Os trinta dinheiros do salário mínimo
São sua mais legítima afirmação !


S/A DO PÂNICO
(Versos Ditirâmbicos)
“Meu amor me ensinou a ser simples/
como um largo de igreja/
onde não há nem um sino/
nem um lápis/nenhuma sensualidade.”
(Oswald de Andrade)

Uma alegria fugaz para usar todo dia
Sem mistérios, sem tempo perdido para buscar
Outra maneira de ficar atento
Depois, a prateleira do supermercado
Fazer a feira na festa do ap.
Pode ter certeza não vai faltar brilho
Nem conversas sobre a pátria das chuteiras
Birita ou bundalelê
Nem tampouco papel higiênico
Não haverá mais tédio
Depois da epidemia do carnaval
Você terá mudado pouco
Melhorado o seu talento
Valeu em parte ter limpado
Na falta de toalhas de papel
A mesa do rango com papel higiênico
Deixa sangrar sua tpm
Deixe estar. Estar na eme
Fale um pouco desse seu discurso brega
Da engrenagem mental da armadilha
Como se amar fosse se refugiar
Numa viagem cega numa ilha
Produza algo de inusitado
Um “insight” nesse arquipélago de nãos
Ligue seu Pentium Quatro
Espante a fera da solidão
Ponha a água do chá no fogo
Invista no molho do feijão
Beba um cale-se de vinho faça um espaguete
Invista na cultura do forno e do fogão
Navegue no Titanic Internet
Como último recurso de fugir
Da fera da solidão
Ah ! Aquele sentimento oceânico
Há seu semblante lúdico e musical
Com trilha sonora de neon branco
Você com aquele sapatão de salto grosso
Assumindo seus ares de bacana, manca
Caminhando pelo calçadão de carne
Em oferta nos bares da av. Compracabana
Você só quer uma noite de cama
Depois de encarar uma trilha de arsênico
Roçar seu umbigo no meu braço
Seu quadril: o signo do signo da Balança
Olhos de ressaca, Capitu e Madona
Nada de mal nos alcança
Você, seu jeito de fragmento fotogênico
Na falta de guardanapos de papel
Só, só precisas de um
pedaço de papel higiênico
Café da manhã, merenda, lanche, almoço
Acho o máximo essa cara de anjo torto, insone
Cantada no atalho das músicas
Desfrutada pelas sete vidas
Do canil cafona dos Rolling Stones
Ah, esse seu espaço cênico
Onde você morre de preguiça
Macunaíma circula em seu sangue ancestral
Sua distração, seu lanche, o arroz tropeiro
Sua atenção plugada nesse espaço cênico
Na cidade de carne de seu corpo
O corcel do desejo cavalga pênsil
Nada nos há de faltar
Nada de mal nos alcança
Sagrado pedaço de papel higiênico
O banho ao levantar
Esqueci de lhe ajudar
A passar o sabonete no pentelho
Exato no triângulo de cabelos
Pintados de ouro e de branco
No alto límbico dos grandes lábios
Limpo no canto de sua boca
Aquele mel azedo que pinga de seu queixo santo
Um pedaço de baba esquizofrênico
Eu faço sua foto desenhada
Desse buquê surreal de sardas, faço poesia
Para você, minha musa de papel higiênico
Não posso dizer que no escuro
Vi em você aquela lágrima que não se vê
Ou você me chama, me chama
Ou a rotina pega você pelo pé
Seu calcanhar de Aquiles tingido, helênico
Com o sangue menstrual da mulher
Suas contas a pagar, suas rotinas helênicas
Sua televisão ligada na história
Na Ilíada do papel higiênico
Suas idéias avançaram
Você teve uma única na vida ?
Sua entropia está em curso
Você desfilou vestida de pele de raposa, de foca
Ou na pele do príncipe urso ?
Seus sonhos encantados
há muito estão de cócoras
Seus passos caminhando na chuva
Sua sala de jantar quântica
Seus filhos enlatados
Sua casa na praia em Ubachuva
Você nem ousa pensar em voar como a Fênix
Você está mais pesada que a Wilsa Carla
Desfilando na praia do Coqueiro
Você se dirige firme ao banheiro
Toda segura de si
A segurar o pedaço de papel higiênico
O novo dia chegou
O novo que você teme
O samba que você não dança
A dança que você não sente
Seus filhos, educados pelo controle remoto
Por uma notícia súbita, um pé de vento
As idéias e a cultura, passem bem
Tudo se limpa bem demais
Os restos mortais do rancho de ontem
Basta um pedaço de papel higiênico
A tv higienizou seus hábitos
O hábito faz o monge?
Não se afobe, nem entre em pânico
Sua síndrome você limpa de perto, de longe
Purifica a cara com pó de arroz
Com o batom das mulheres de Atenas
Uma vez dentro do banheiro
Com certeza não vai faltar
Em todos os esportes olímpicos
O sucesso mais espetacular
O corre-corre atrás do dinheiro
O recorde do atleta cínico
Dirigindo-se apressado ao banheiro
Em busca da salvação
Num pedaço de papel higiênico
Que bom que houve a maçã
No paraíso perdido da Grécia
E que as medalhas de ouro
Dos atletas que riem no fim
Todos tinham algo por que lutar
Nem que seja pensando assim
Um desafio a visualizar
Eles têm medo de que o suor e todo esse cansaço
Não seja afinal suficiente
E o Titanic de seus esforços
Redundem numa beleza incoerente
Quando a noite vier e restar apenas
Um pedaço de sanidade
Preso ao papel higiênico
Por favor, não higienize meus hábitos
Mantenha sempre no lugar sua lira e o seu arco
Aonde você se esconde?
Entre os sais e as panelas do quarto ?
Que algo mais se preserve de você
Que não seja apenas os ésteres
Das estrias de seus bibelôs
E da arte de engolir sapos
Que uma mágica qualquer te preserve
De renovar essa sua disposição
Para ser companheira íntima dos ácaros
Você leu um livro este ano ?
Depois da Micarina tudo voltou ao norma l?
A sala de jantar, o deserto dos tártaros
Você embargou noutro par ?
Num outro desejo autêntico
Entrou no carro foi ao trabalho, foi estudar ?
Escondeu-se do sol esperançosa e feliz ?
Como uma atriz de Celebridades Belíssimas
Com hora marcada no celular
Da sensualidade da cidade de carne
Verde-amarela, como uma flor medrosa, arisca
Na lipoaspiração do papel higiênico
Com esse seu sorriso de pagode
Artificial e mecânico como
Uma entrevista de jogador de futebol
De misse Brasil 2006
Você sacode a poeira da folia
E embarca como um peixe
De boca no próximo anzol
Na grana do próximo freguês
E o mundo existe como se fosse para você
Seu coração, um bloco de gelo autêntico
Pulsa. Seu pulso ainda pulsa
E sua mão segura esperançosa, automatizada
Um pedaço da cidade em seu apartamento
Um naco globalizado
Comprado no supermercado
De seu papel higiênico


PRAZER EM DESCONHECÊ-LO
Hoje consultei os Arcanos do Tarô
Os búzios rolaram para pessoas que conheço
Quarto-sala três em um
A vida delas uma pedreira
Meus amigos estão cheios de filhos
e de medo. De não chegarem inteiros, vivos
Ao fim da primeira década do século XXI
Por que parecem em pânico
O príncipe encantado
A gata borralheira
Os entrevistados do Jô Soares
Se tudo está garantido?
A cesta básica e o brilho
Ocupando o mesmo lugar no espaço
Meus amigos estão cheios de esperanças
Em direção ao século XXI
Ondas de borracha platinizada
Rodam céleres pelas estradas
Faróis de milhas negras
Focam os vincos amarelos do asfalto
A rocha eletrônica a química inorgânica
O mundo informatizado
As pessoas que conheço
Estão aprendendo a correr
Parecem não saber quase nada
Desse chove não molha
Deste fim de século
Desta data magna
Desse zunzumzumn
Desse “Independence Day”
Dessa pátria amada
Dessa bandeira de fogo
Dessa roupa rasgada
Deste século Vinte e Um
Meus amigos estão nos abrigos obscuros
Nos “spas” rigorosos cumprem tictacturnos
Em desfile na passarela virtual
Onde de qualquer jeito
Em qualquer classe social
De alguma forma estão bebendo
O sangue que o diabo amassou
Porque no século XXI
As uvas nunca estarão verdes
Na árvore de natal transartificial
Estrelas da vida inteira
Anunciam o paraíso global
Para a segunda década
Do século XXI
Que haverá de tão diferente
Bestas vendendo cachorro-quente?
Estou ansioso pra chegar lá
Nessa terra prometida
Da tecnologia feral
Aonde todos vão estar bem
Senão por bem, pelo mal
Sentimentos emoções e liberdade
Quanta facilidade
Todos produtos aprovados
Nos testes de quantidade
Nas embalagens a vácuo
À venda nos supermercados
Do século XXI
Prazer em desconhecê-la
Autoridade política, clero do Olodum
“Top models” em desfile
Boiardos do Pelourinho
Novas formas de incesto político
Destaques do carnaval
Cineastas, dramaturgos, romancistas
Meu filhin, meu painpain, meu barão
Estafetas, tenistas e corifeus jornalistas
Nefelibatas, poetas, texugos e surfistas
A turma do ahahahh eu tô maluco por Ética
Colarinhos brancos e moleques
Torcidas uniformizadas
A fauna aguerrida dos vencedores da peste
Todos os tipos de artistas
De jogadores de truco
De curadores de museus
De comedores de sapos
Roqueiros, repentistas, seresteiros e chorões
Tino, Timor, Temor Leste
Dos ruminados por anacondas
Devorados por tubarões
Trinta e seis por Vinte e Um
Treinadas para a maratona da lida
Xuxas, michel Jackson’s e madonnas
Do século Vinte e Um


O DIA SEGUINTE À FINAL
Senhor, tens certeza de que foi este o mundo que criaste
Por tua livre e espontânea vontade ?
Onde está a liberdade das pessoas do mundo livre
Se elas não podem escolher entre a paz e a guerra ?
Até o “Muro da Vergonha” agora é do outro lado
Do “Muro de Berlin”
O “Muro de Berlin” foi derrubado, o de Israel apenas começa.
Rejeitaram os miseráveis de todas as formas
Multiplicaram-nos geometricamente para além
Das páginas de Victor Hugo
O medo está livre nas ruas russas das metrópoles
Semeando o complexo industrial militar do horror
Nesta Copa do Mundo, olha com serenidade para a condição humana
Senhor, que futuro poderá haver a partir das sementes
De Marte plantadas nos dias de hoje ?
O 11 de Setembro ainda produzirá muitos frutos
Da mesma árvore radicada nos campos do temor
Que se poderá colher amanhã dessa semente sinistra
Que frutos poderão produzir senão a danação definitiva
Da árvore da vida amaldiçoada por toda rima ?
Como fazer valer a esperança na cidade de carne
E o sêmen da fé no trabalho na urna uterina da cultura
Da morte? Também vês tv, Senhor ?
Que mentalidade poderá produzir essa chuva de sangue
Essa propaganda menstrual das gangues insanas do consumismo ?
Sem elas, Senhor, que será do capitalismo cromagnon ?
Por que as Torres Gêmeas não foram vistas
Como uma advertência à carência de paz ?
Por que a Copa do Mundo não traz uma expectativa
Menos brega e menos venal ?
Por que, Senhor, o World Trade Center continua uma
Ameaça ao hemisfério ocidental?
E cada adulto, idoso, criança e adolescente
Fica a vê navios quando atenta ao vocabulário
Raso de um jogador de futebol ?
Permita-me, Senhor, fazer meus, por momentos,
Estes versos de Voltaire:
“O mundo inteiro geme em cada um de seus membros:
Todos nascidos para o sofrimento e a morte comum
Com relação a este caos terrível direis:
Os males de cada um fazem o bem de todos
Que bem aventurança! E quando com voz trêmula
Mortal e lastimosa proclamais: Tudo vai bem!
O universo vos desmente e vosso coração
Contradiz cem vezes o conceito de vossa mente...”
Senhor, dai ao mundo nessa Copa do Mundo lideranças
Que não estejam sedentas de sacrifícios primatas
Dos presidentes ébrios do sangue de seus mercenários
Presos somente à avidez do lucro
Como qualquer coronel da pelota
Vestindo a camisa da "Seleção de Roubos"
Ganhando para disseminar o horror global da Copa
Pela posse de uma bola de couro
Fazendo a propaganda da "democracia do Mundo Livre"
A quem eles pensam enganar, Senhor?
Com esses surtos coletivos de ôla Uga-Uga
Esses criminosos do noticiário do Hexa?
Sempre sedentos de dólar
Atentos profissionais da arena da pelota
Fazendo a festa nos estádios globalizados
Pelos canibais vestidos à "black-tie"
Nos bastidores dos comedores de bola



TEOLOGIA VETUSTA
Desse lado da Via Láctea
Há um sintoma pulsante
Uma transparência do mal
Uma vibração ressonante
Um transtorno longevo, imemorial
A atuar na mãe que teme que o filho cresça
A querer que ele permaneça
Fazendo-lhe companhia em seu astral
Há uma palpitação cardíaca flutuando
De pai para filho, desde a aurora do mundo
Conduz a todos a lugar algum
Este nenhures palpita
Uma realidade remota, um gen
Da mais antiga casa da mãe Joana, Eva
Em seu lar doce lar já pulsava
E dele se irradiava
O criminoso ancestral do paraíso perdido
Lilith, a serva do serpentário primitivo
Sobrevivente das eras
Rainha da glaciação e do medo
Mãe/Abim, extremada de Caim
Mastodonte das civilizações matriarcais
Hoje, comemoras o Natal
Com presentes do bom velhinho
Noel, sua trouxa consumista de bugigangas
Alimenta as feras, as armas de todos os tipos
Variados brinquedos e ritmos
Que ensinam a simulação de matar
Caim, o pai do crime. Patriarca da civilização
Do consumo. Da raça dos primatas
Da família original, tão forte e agradecida era
Ao Deus seu criador, que bastou uma serpente
Insinuar-se, rastejante, no solo caliente do éden
Para que perdessem tudo que valia a pena preservar
E curvaram a razão a um Deus
Que em troca de tamanha submissão
Contaminou-lhes a alma coletiva, Proteu
Para todas as gerações de suas vidas, gerou
As criações de camaleões do futuro
Portadores de uma alma contaminada
Por todos os malefícios e carências ateus
Seus descendentes disfarçam-se muito mal
Em cidades de crentes, seitas e religiões
Com suas formas e disfarces e maneiras
Supostas de adorá-Lo
Ao Deus que os flagelou desde a fraqueza inaugural
E deu-lhes a eterna ansiedade do éden
O ônus da perversão e da culpa
Em suas mentes indefesas
Em seus corações solitários
Fadados eternamente ao insumo indigente
Da maçã e do pó
Pelos séculos e milênios afora
Cada alma ocupada em sobreviver agora
Anseia em vão por ser menos réproba e




REVÊ-LAS
Acreditar que essa mulher um dia fora jovem e criança
Que aconteceu com sua vivacidade fabricada pelo sal ?
Quem se apossou da primavera agora tão passada ?
Quem a fez serva dos atributos da coca ?
Talvez tenham lhe dito demasiadas vezes
Que deveria sucumbir às solicitações do PCC
Ao desenvolvimento de uma suposta vitalidade. Artificial
Do capitalismo selvagem à moda de São Paulo
Cidade comando do PSDB
Ela acreditou. Não lhe disseram que a
Fonte da juventude está em confiar que ela existe
Dentro de si. Não parar de buscar
Essa verdade solar de que o espírito é imortal
Não lhe disseram que deveria ser mais
Que uma muleta para seus anciãos da política
Negou seus interesses pertinentes
Provaram-lhe por “A” mais “B”
Que deveria fazer parte de suas rugas
Adubar as raízes negras
Tiraram dela a esperança
Do que não fosse parte elementar de suas pregas
Educada para ser uma boa menina, a bola da vez
Dos interesses mais bregas
A grana e o delírio sendo tudo
A espiritualidade não era mais que uma ilusão
Porque o medo de ficar sozinha, carente e cafona
Fez dela uma devota da timidez afetada
de suas preces, e regras de marafona
Aceitasse calada essa herança
Ela, a filha tolerada, depois das outras
Queridas e amadas
Garantiram-lhe essa “traumatologia"
Cresceram nela as teias de aranha da vida
Tomaram conta de seu coração
O pulsar do fuxico e do boato
Ela aceitou como se fosse uma oração
Seu corpo envelheceu precoce e a mente
Desacreditou que a juventude a habitava
No andar de cima, janela dos fundos
A célula do prazer pereceu antes de ter brotado
E o céu, com o tempo
Virou uma paisagem 100 estrelas
Temeu expor-se ao sol
Ao invés de fonte de luz e calor
Ela passou a viver acreditando
Na suposta sabedoria de seu avô
E os outros, aqueles a quem o medo, e a gravidade
Pegaram-na pela mão e a conduziram à catacumba
Hoje, esse tempo agora, depois
De que valem suas palavras insanas
Que apenas a si mesma encanta ?
Cercada pela prole de anjos barrocos
Não mais investe na dureza da bunda
Nem na repressão fanática das crianças
Ou na vaidade das dietas góticas, rotundas
Ou ficar olhando as memórias como de costume
Em busca do tempo perdido, afunda
Seu coração é como o vagalume
Acende, apaga, estressada e calma
Precisa das trevas para brilhar
De tanto achar seus anjinhos bonitos
Nem notou ser agora uma mulher de betume
Armada de defesas até a alma
Como se esperasse de uma hora para outra
Um ataque do Bin-Laden
Uma invasão de mentirass do Bush
Tudo nela tende ao azedume
Ao revê-la hoje lembrei
De suas antigas certezas de cartas
De seus castelos de areia
Que o vento levou e se desfez no nada
Ao impacto dessa onda
(de lágrimas talvez)
Ela não mais é aquela pessoa cheia de certezas
E me implora socorro com seus olhos de mágoa
Que posso fazer por ela ?
Estender-lhe a mão e dizer
Como há algumas décadas, tão idas
“Vem comigo”. Ela correu em direção diversa
Arrumou-se sob as asas sombrias do anjo torto
De que falava Drummond
Seus olhos imploravam
para que fizesse voltar o tempo
E ela pudesse pegar minha mão
Ter acreditado na providência
Somente o acaso é pleno de possibilidades.
E a solidão, querida
Como se vestida de nuvens brancas num horizonte de blues
Aonde a própria morte não é mais
Que um curto-circuito de luz azul
Mas o abismo a havia ferido
Antes que tivesse nascido
O tempo do aprendizado se esvaiu,
O futuro havia se exaurido dentre dedos
Como água de cachoeira
As rezas, as missas, os terços. Lançou tudo
Como um presente na mão do carcereiro.
A família, o marido, a descendência:
o grande nada e o senhor ninguém
Fora obra do azar ou de seu consorte ?
O ar que respira zomba dela
Nenhuma mão para acariciá-la
Nenhum gesto de ternura a abraça
Senão a fera da solidão
Nenhuma palavra de verdade
Vestida em seu manto púrpura
Sente que devoraram sua carne
E a entregaram às chamas frias
Ao delírio de ter da multidão
À eterna noite da turba violeta
Antes de dormir, leu no livro
De sua memória, suas lamentações
Jazem por terra, nas ruas
Meninos e meninas idosos
João, Flávio, Pedro, Pitty, Rita e Maria
Caíram sob a espada desse tempo de ira
Cedo demais carentes de perfumarias
Havia acreditado em outra coisa
Não sabe ao certo no que era
E agora esses terrores a cercam
Convocados como se num dia de festa
Dos seus, quem poderia ser poupado ?
Os que criou e educou
Foram exterminados por uma cultura
Globalizada pela dominação do obsoleto
Afinal, que mulher está preparada para a lida ?
Que esposa e mãe conhece o marido e os filhos
Essa descendência pertence a quem ? Ao vento ?
O pai é o senhor computador, a mãe, a senhora tv
Ela, apenas um nome na areia
Nascida para o pó do esquecimento



GIGOLÔ DAS MASSAS:
A REDE

Quando estou envolvido com intimidade
As delícias dos anéis, um universo de saudade
Minha mulher sempre saturnal
Parece vestida de noiva
Uma ilusão de muito antigamente
30 milênios de memória distante
Traz para perto em um instante
O agora atual de longínqua antiguidade
Minha mulher ideal cheira a "chanel five"
Aspira pelo nariz o sentido do Sabá
Dêem-me neste domingo tvvisivo um pouco que seja de
Algo mais que apenas futebol, pegadinhas, sai de baixo
Um programa de debates no lugar da branca Magda
Uma palavra de verdade no lugar-comum do Big Brother
Por favor, tenham algum respeito por minha mente
Só porque ela está na sala de jantar
Não quer dizer que tenha de se fartar
Com o conteúdo dessa metalfísica demente
Com o horror dessa propaganda de chocolate
Entre duas ou três chacinas nessa tarde
Parem, de despejar o conteúdo dessa lixeira na minha idéia
Meus neurônios clamam por qualidade
Estou no século XXI, mas o Grande Irmão Macaco
Faz sucesso impondo bananalidades
Por favor, dêem-me um pouco de direitos humanos
Não quero estar sempre sendo devorado
Pelos interesses pré-históricos informatizados
Como se fosse mais um símio sem cidadania
Nesse circo dos horrores globalizado
A vida é boa. A vida global é bela
É só não se permitir todo tempo
Estar sendo corrompido por ela
A vida global é boa. A vida global é caserna
Quando corrompida pelos interesses
Da multimídia cá delas
Eu preciso de um pouco de razão e sensibilidade
Que será de minha vida? Do trabalho
Dos filhos dessa geração sem pai nem mãe?
Se estão como peixes plugados na Rede?
Minha mente não vale mais que esse salário mínimo?
Bobagens à Big Brotários?
Minha querida, minha delícia, meus anéis
Eu nunca me canso de curtir essa sua
Pré-histórica fantasia de Patricinha de (psycho) motéis
De Perua dos shopping center dos corações saturados
Você esqueceu existir entre as orelhas
Algo mais que cabelos desenrugados
Numa cabeça 100 idéias
Trabalhada pela cultura de cabeleireiros
Compre um livro para ela
De quando em vez, de mês em mês
Não a alimente apenas de shampoo
“Psycho motel” e terreiros de forró
A vida é mais que o PCC
Dos programas do Gugu
Do pânico que governa a capital São Paulo
Das nossas senhoras do Ó
Receptoras de doações de modelitos
Você é um lindo ser humano feminino
Não a imitação de uma vaca no pasto. Reaja
A toda essa expectativa de Alice
No País dos Espelhos do Bandeirantes
Oferecida, inflamada por modistas
A cara de sua auto-estima pasta no brejo
Desse shopping center dos corações embaçados
De que vale acessar por controle remoto
Todo esse lixo de butiques em desfile
Artigos da moda, vestuário, bijuterias
Produzido por esse circo “bom de ver”
Que suga a possibilidade de inteligência
E afunda você nessa demência
Nessa falta de imaginação
Consumista, cromagnon, capitalista
Toda essa cambada simpática
De gugus vendedores de sorte
De homens do realejo
De bundões artificiais, festivos, alegretes
Dos corações malocados
Faturando horrores com sua pulsão
De espectador de tvvisão
De pessoa numerada da sala de jantar
Nada mais que um fantasma
No mausoléu das pesquisas
De suas próprias ilusões
Eles fazem tudo por dinheiro
E alguns pontos no ibope
Você nunca questionou
Essa falta de opções
Essas ofertas via tv
Você pensou uma única vez
Em sair desse larbirinto internético
Desse consumo apopléctico
Que conduz você a lugar nenhum ?
Ou você também não está nem aí ?
Em sendo mais uma pessoa datada
No mausoléu das ofertas consumadas
Combustível mixado
Enchendo a bola da corrupção
E do verdadeiro espírito pirata


A GERAÇÃO DO
MONOLITO
(O Século XXI começou para você ?)
Vc teve o futuro nas mãos e jogou fora
Não soube fazer a diferença
Entre a bijuteria e a pedra preciosa
Vc aceitou a alienação em seu apego
às perfumarias. Não distinguiu nem soube o que fazer.
O ouro do sol entre os dedos
Esse livro aberto diante dos olhos
ao alcance das mãos, a poesia
E você ainda buscando no sebo
As páginas impressas da homilia.
O carvalho, o javali e o salmão
O peixe estelar no aquário da nova era
Mas para você o salmão é apenas
um parente da truta
Aonde buscar inteligência, força, harmonia ?
Numa cultura cheia de tretas ?
Pegue pela mão a mágica mochila na estrada
Do dia a dia. Aqueça as asas em direção
Ao horizonte. Aprenda a caminhar seus passos
Saia fora da espiral do larbirinto
Rume em direção à paisagem
Não olhe para trás
Nem se transforme numa estátua de sal
O Dédalo neolítico, tão antigo e atual
A prenda curricular de seus “nano-chips”
Os dólmenes e os menires megalíticos
Sepulcros e túmulos dos quais vc vai sair
Pela primeira vez o ouro do sol vai brilhar
Diante de seu olhar extasiado
A gente sagrada da liberdade ao redor
As portas da percepção você vai cruzar
As visões do mundo invisível
Enfim vais devassar
A antiga religiosidade era uma prisão
Seus passos silenciosos a descobrir a estrela
Sua crina seu olfato corrente.
Os cascos eqüestres. Acesos. Solaris.
Encontra a condição
Atávica que luta em ti por conhecer
Que a vida é poesia e descoberta
És Pégaso, pedra Centauro prospector
O trabalho de Sísifo, ardor
Ilumina-te em teu dorso lendário
Desaparece nas ondas, desafia catástrofes
Em teu rosto resplandecente verás os mares
Quantas culturas e encenações de cataclismos
Venceste. Salta de dentro de tuas espáduas
Expelido pelo útero rastejante da serpente
Ejeta-te do sepulcro mais profundo
Toneladas de ossos ancestrais te prendiam
Emergiste da cultura dos vermes, quente
Tua cabeça afinal, humana
Insurge-se infantil, igual criança
Nas mãos milenares da virgem negra
Copula com a morte. Desesperada ela clama
Por viver. Ousa ser seu original fecundador
A morte, das cinzas, quer existir e viver
Uma outra vida que desconhece
E desespera-se por não saber,
como um sáurio
Aonde a saída para o raio de sol
Diante dessa imensa poeira
De ossos que encoberta qualquer
Mínimo resquício de luz.
Em seu túmulo negro ela envelhece
Suas rugas nascem através dos tempos
Oculta-se nas faces inocentes das meninas
Refugia-se atrás dos cosméticos milagrosos
A garota da esquina e a mulher aziaga do
Shopping center dos corações solitários
Está mumificada pela vaidade fátua
A natureza insensata nada pode fazer por ela
Ninguém lhe dá a mínima atenção. Cadê você?
Sua alegria é aparente, sua casa uma caixa preta
É apenas mais uma encantadora de serpentes
Veja quanta tristeza e decepção há
Em seu olhar de águas de profunda
superficialidade. Divisa quantas rugas milenares
em sua pouca idade
Seu orgulho e presunção são miríades
De disfarces. Ela guarda como
se fossem preciosidades
Sua verdadeira face em chamas
É a sentinela das múmias
O tempo em sua idade cronológica
Esconde a criança mumificada pela soberba
Olha o tempo, a face de areia
Não compreende nada.
Pensa que é, ou são, os óculos
Ou a falta de um binóculo
Por detrás da maquilagem milagrosa, acerba
O disfarce da juventude inexistente
A astúcia sobrevive em seu corpo
Que há mil gerações vem parindo
Uma posteridade submersa pelo medo
De desvendar dos milênios os segredos
Com ou sem a ajuda de Édipo. Saber
Que não há pacto possível com o tempo
Chegou a hora de vencer novas adversidades
Essa suposta sabedoria, os árcades milenares
Aparências, exterioridade de butique
Bijuterias a conquistar os tolos
A garota, a marota antepassada
Pega a mochila e verás
Que cada filho pródigo não é mais
Que um estranho detestado
Pela geração ancestral dos hominídeos
Vai, se queres crescer
Conhecer a geopolítica da Terra
Não temas os medos inconscientes
Não te farão nenhum malefício
Utiliza os símbolos de sílex dos larbirintos
És agora um homem, não mais uma criança
Herança da civilização que começa
És o ourives, de teu arco de tua flecha
De um tempo que se supera. Evoluir
Ou perecer plugado na Internet
Teus passos hão de pisar
A carruagem de ossos dos mortos
vence a cultura infantilizada.
Pasma a água há muito estagnada
dos milênios. A bugiganga da sala de jantar
é apenas um olho mal, de vidro
do pirata que quer roubar
teu tempo. Vai criar cultura
ou ser um cataclismo
Afundado no firmamento da poltrona
Uma fantasma da sala de jantar
Um ser mumificado pelas insignificâncias
Da tvvisão, ou um momento de civilização ?
De que lado estás ?
Uma múmia, um avião da sala de jantar
Com a boca aberta, cheia de dentes
Esperando o refrigerante chegar ?
Ou o diploma ?
Milhões de anos podem desaparecer
Ser tarde demais um dia a mais
A próxima dentada no sanduíche
Ninguém nasce senão de si mesmo
Vai, os serás pasto cozido
pela mentalidade dos mortos-vivos
Queres ser mais uma vítima do controle remoto ?
Do entretenimento xuxalizado da sala de jantar ?
Uma múmia extasiada
Olhando as belezas encarquilhadas
do Fantástico ?
As bundinhas, os peitinhos das velhas mocinhas
Garotinhas recauchutadas pelos cabeleireiros
Dos “talk-shows” e suas danças do neolítico ?
Pega tua mochila e em breve verás, de longe
As horríveis belezas das quais te separastes
Teu reencontro com os dinossauros
Será uma surpresa essa viagem no tempo
Vão te pacificar as rugas disfarçadas
Serás mais uma vítima
Uma criança traída ?
Devorada pelo canibalismo
da cidade de carne ? És jovem
ou um habitué da praça de alimentação
dos shoppings ?
Tens um futuro em teus passos
Ou sentimentos de medo
Que te fazem regredir
No cobertor de pele
dos sentimentos datados da necrópole ?
Queres fundar uma banda
Cantando canções
Que nada têm a dizer ?
Ou vais buscar a experiência
Na arte insubstituível de viver ?
És parte atuante do PCC do Gugu?
Do Domingão do Buldogão?
Dos corações e mentes em franca oxidação ?
Que tal perder a esperança
Sorrindo das pegadinhas,
Divertindo-se com as vídeo cacetadas ?
És um fardo paleolítico na sepultura sofá?
Tens um coração para amar
Ou adaptar-se às trevas ?
És um hominídeo anterior
À invenção do pergaminho ?
Ou um mutante em busca do caminho ?
Queres criar a própria linguagem
Ou balbuciar asneiras a vida inteira ?
Queres dizer algo inusitado
Sem teres criado as emoções
Há linguagem criada em teu vocabulário ?
Mama Tv é um mausoléu de imagens
Vais viver tuas dificuldades, ou ser outro
Demente da fraternidade infantilizada nacional ?
Uma força viva da natureza, ou parte
Do festival de moscas da cultura global ?
Um fanático fundamentalista do controle remoto
Uma coisa, uma mercadoria fascista
Um produto depreciado pela indústria bairrista
O “artigo do dia” em seu copo
Redondo na garganta e na palma da mão
E a próxima notícia do atentado terrorista ?
Que indústria financiou ? Alckmin se responsabilizou ?
Ou foi o Cláudio Lenga-Lenga, governador ?
Eles preferem negociar com o PCC ou com um
Membro de uma banda tipo ratos de porão.
Ou desmentir a melhor imprensa
Os ocupantes do Bandeirantes, para eles
O presidente é abominação
A cidade de São Paulo há muito anda nua
E não adianta, eleitor, saber de quem é a culpa
Se você não sabe que a culpa é sua
Corporativistas, sombrios, regionalistas,
Escondidas atrás de suas gravatas de mil dólares
De seus sapatões de cromo alemão
Paradigmas do preconceito contra nordestinos
Papagaios de pirata a repetir sons e a tecer discursos
Torcendo por um futuro inexistente
Exceto para eles. Essas assombrações bem vestidas
Querem o poder para eles, de qualquer jeito
Fazendo do passado o presente
Numa viagem do tempo às avessas
Fantasmas da República Velha
Políticos góticos, saudosistas do
Estado do Café com Leite
A anarcoditadura do PCC
A fazer pó dos neurônios dos eleitores
E eles não conseguem disfarçar
Uma política que morre sem ter chegado a nascer
Quem por ti vai acende uma vela, PSDB ?
És um cadáver arfante, sem ter o que dizer. E aí?
Como justificar a vergonha de negociar com o PCC ?
Enquanto isso querem garantir no "Pra Lamento"
A ingovernabilidade com os intermináveis tumultos
Tempestades em copo dágua das CPIs.
A artimanha, o sestro dos "PhDs do partido alto"
Esse método de prejudicar todo o país
Que para eles não há outro modo de fazer campanha
E querer garantir a nefasta presença no Planalto.


AONDE VOCÊ SE ESCONDE
Minhas pupilas não cabem nos meus olhos
Minha visão se expande
Há um só horizonte
Daqui, os pontos cardeais não contam

O poeta privilegiou a observação
Há uma legião de indóceis párias contigo
Mas tu não tens duplo universal
Atravessas os véus que separam mundo

Conheces os segredos todos
Nada deves aos mistérios
Abre as portas do Tempo
Habita pelos transespaços

As gerações do mundo
Sem te conhecer
Pensam olhar teu rosto
Os sacerdotes não te envelheceram

A ciência tateia a sabedoria rudimentar
As geometrias, metonímias de infinitos espelhos
Te contemplam
Reflete em ti a mais antiga idade

A mais longa juventude
O império se expande além fronteira estelar
A ficção convive com neandhertal
A era atômica e o boxer

Os Cantos de Pound e o processo civil
Os olhos do viajor não cabem
Em sua órbita solar


ONOMATOPÉIA
Bisbilha fonte chuáchuá
A pitutuca e o piu-piu
Beijanjão-se. Nos dedos dédalos
100 unhas arranham nhéconhéco
Murmúrios da noite sussurram:
Pling-plique-plong-plique,
Uiva o vento insone desejo
Ser, sê a sede enseja
Seja já o penetrar celúrica celulose
Celular celeste, lunar luar sobre rios
Pingos fartam-se de molhar a água
Correm as gotas de chuva suam e soam
Lívidas, violáceas, ságenas
Pelos poros e pelos do corpo
Emplacam na ampulheta fálica
Da Quarta Dimensão. São
Dos que amam viajar no Tempo
Ping-Plique-tum-tu-tum-tu-tum, tudo
Sol a sol canta encanta o coração
Soluça só o diafragma frágil, ágil
Sem arrimo, laço, lar
100 abrigos depois
Além de eu em diante
Os corações vitíferos
Das Vênus Calipígias
Ferem e vagam vagos
Cavalgam Eros
No Porto Calvo


MARY SELVAGEM
(Nosso Sustento)
A rainha da colheita
está a aquecer na treva
sua carência de amor

Chegou como que do nada
como que em busca
de uma simples flor

Trouxe consigo a experiência
de quem tecera
mil vidas e mil destinos

Filhos amantes e caminhos
em seu retorno de tecelã
veio digitar seu rebanho
Desta vez a rainha dos grãos
tal como Osíris, floresceu
na estranha e cinza vegetação

Seu apartamento pequeno
dividiu com outras cinco minas
todos os danos e sortilégios tvvisivos

Quis ser feliz, só colheu atritos
malditos horizontes, insetos, demônios
e periquitos. (Uma cultura sem espírito)

Pensou com seu pensar miúdo
que deveria, da próxima vez, ter
mais zelo com sua volta.

Esse Universo é grande
cheio de armadilhas. Viveu
sem suportar nem sol nem vida

Mãe, amante e mulher da vida
Cresceu a carne entre os animais
do planeta Homo sapiens/demens/sapiens

Dia a dia migrou, saiu em fuga
querendo levar consigo algum
algum conhecimento transcendental

Talvez se pudesse ajudar
quem sabe, a escolher melhor
outro horizonrte, ninho e sina

Nesse mesmo momento
em algum lugar do Universo
uma criança nasce e chora

(Numa cidade cinza)

Em pouco tempo, mãe,
de sua urna nascerá
uma raça sem raízes

Um paganismo neo-pós-moderno
antigo como os Celtas
e os solstícios

Novo. Como uma nova
Idade da Pedra. Troglodita
como esse continuum espaçotempo



CHAPINHAS DE COCA-COLA

Como 90% das pessoas, nasci
De um jogo de buraco
De uma planta trepadeira
De um embalo de Sábado à noite

Como 90% das pessoas, sobrevivo
Me defendo. Asilo a Terra
Em busca do EU
Num mundo de neurose coletiva

Como 90% das pessoas, cresço
Herdeiro do nada
Órfão de tudo
Cada chapinha da geração global sabe disso

Não porque ouviram afirmar os Beatles:
No céu há Lucy´s
No alto tudo é mais fácil
Diamantes, dinheiro, lazer

Sim irmão, também é certo
A política do céu da pornô chanchada, Xuxa
É um ímã
Todos estamos torcendo para vc chegar

E poder somar no céu um dia
Um aliado, uma memória, um tempo
De poder sublimar o inferno
Quando nele fizer seu lar

Você está com tudo, irmão, vai chegar lá
Seu objetivo mesmo. Seu intuito PSI é esse?
Boa sorte. Está certo. Estou fora
Estou liberto deste jogo

LIVROS EDITADOS DO AUTOR
(EDIÇÕES ESGOTADAS DE 3.000 EXEMPLARES,
EXCETO O LIVRO "A EDUCAÇÃO DO PRESENTE",
E "HORIZONTE SOLAR" COM 500 EXEMPLARES EDITADOS CADA):

1. MAMA NORDESTE (INFANTICÍDIO) — ROMANCE.
2. OS DEGRAUS DO BANDEIRANTES (AS VÉSPERAS DO IV REICH) — DOCUMENTÁRIO POLÍTICO ROMANCEADO DE ELEIÇÕES PARA O GOVERNO DE SÃO PAULO (1986).
3. SONE, SONAR SERENAR (ADMIRÁVEL MUNDO MORTO) — POESIAS.
4. A INCRÍVEL HISTÓRIA POLÍTICA DO REI ARTHUR E DE SEUS CONGRESSISTAS DA TÁVOLA REDONDA (O PRESIDENTE "JEDY" VERSUS "SATÃ" DARTH WADER) — ESTUDO SOCIOLÓGICO SOBRE POLÍTICA INTERNA E EXTERIOR.
5. A MOCHILEIRA (THUNDRA) — ROMANCE DE FICÇÃO CIENTÍFICA E HISTORIOGRAFIA DOS "TEMPOS DE CHUMBO" DA DITADURA.
6. A EDUCAÇÃO DO PRESENTE — ESTUDO CRÍTICO SOBRE DOIS LIVROS DE EDGAR MORIN, EDITADOS PELA "UNITED NATIONS EDUCATIONAL SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION UNESCO" — PARIS.


LIVROS COM CONTRATOS
DE EDIÇÃO FORMALIZADOS
VIA PRÊMIOS CONCURSOS
LITERÁRIOS DO PIAUÍ


1. ADÃO & EVA NO ÉDEN NEO-PÓS-MODERNO (PSYCHECITY) — ROMANCE DE FICÇÃO CIENTÍFICA E REALISTA.

2. "O PRÊMIO" — CONTOS.


PRÊMIOS LITERÁRIOS DO AUTOR:


1. MARY SELVAGEM (NOSSO SUSTENTO) — CONCURSO CICLO DE POESIAS FALADAS, COM REALIZAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO EM 30/05/1990. COORDENADOR: QUARACI ARFANGA. JURADOS: ALÍPIO DA ROCHA MARCELINO, DAVI DO VALE AMADO E EDILTRAN L. FONSECA. (PROMOÇÃO: UNIÃO BRASILEIRA DOS ESCRITORES DE SÃO PAULO).

2. UM DIA NA VIDA DE RAMOS DA NÓBREGA — CONCURSO DE CONTOS EM SÃO PAULO, 25/04/1990. COORDENADOR: ALÍPIO DA COSTA MARCELINO. JURADOS: ALBERTO SALVATORI, ISAÚ CUNHA FREIRE E ELISABETH MARIA DE MEDEIROS. (PROMOÇÃO: UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES DE SÃO PAULO).

3. ONDE VOCÊ SE ESCONDE ? — CONCURSO DE POESIAS. COORDENADOR: FRED MAIA. JURADOS: LOURDES DE TÚLIO, THEREZA CHISTINA ROQUE DA MOTA E HAMÍLTON FARIA. 26.07.89. (PROMOÇÃO: UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES DE SÃO PAULO).

4. MENÇÃO HONROSA PRÊMIO DE LITERATURA "CASA DAS AMÉRICAS" (CUBA: 1985), PARTICIPAÇÃO LITERÁRIA DO LIVRO MAMA NORDESTE (INFANTICÍDIO).

5. PRÊMIO LITERÁRIO LIVRO DE POESIAS SONE, SONAR, SERENAR (ADMIRÁVEL MUNDO MORTO), DA ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE LUSOS E DESCENTES NO BRASIL (1995).

6. PRÊMIO BIENAL DO LIVRO DE SANTOS/SÃO PAULO, PELA MAIOR QUANTIDADE DE LIVROS DE AUTOR INDEPENDENTE COMERCIALIZADOS NESTE EVENTO (1996).

At.: (1) O autor participou de instituições literárias enquanto associado das mesmas em São Paulo, e ganhou outros prêmios de menor visibilidade no cenário literário da capital São Paulo. Há documentos de comprovação de todas essas premiações, inclusive os publicados em jornais literários da capital paulistana.

(2) Este livro de poesias, HORIZONTE SOLAR, participou dos Concursos Literários do Piauí, versão 2006. Houve três livros classificados, a saber: l). Yone de Safo, Adriano Lobão de Aragão. 2). Preces Subversivas; Adriano César de Abreu Costa. 3). Bifurcações no Diagrama do Tempo, Demétrius Gomes Galvão. A comissão que julgou os trabalhos foi composta por Rubervam do Nascimento, Elmar Carvalho e Nilson Ferreira. Os leitores deste livro de poesia, HORIZONTE SOLAR, possivelmente lerá os três empreendimentos literários premiados, e poderá julgar, você mesmo, se houve ou não favorecimento desse ou daquele jurado. Ou pesquisar que motivos os levaram a proceder as premiações citadas em detrimento deste HORIZONTE SOLAR. Que critérios de julgamentos privilegiaram aqueles três livros de poemas pela comissão que arbitrou essa edição dos Concursos Literários do Piauí, 2006? Você decide.

(3) Os Concursos Literários do Piauí, 2006, solicitaram 50 páginas dos participantes no gênero poemas. HORIZONTE SOLAR satisfez a solicitação, tal como todos os partícipes devem ter feito. Neste livro, as poesias constam de 54 páginas, porque foram ampliadas, algumas, visando esta edição, que, basicamente manteve o sentido original. Um exemplo de alteração que tornou mais volumoso este volume deve-se, em parte, às observações entre as poesias VIRADA DO MILÊNIO, página seis (6) e SENDA ZEN, página 11. De modo que alguns leitores mais sensíveis e menos atentos não pudessem interpretar o texto mencionado na página seis, de modo a sentirem-se cognominados de seres abaixo da escala da condição humana. Sem nenhuma desonra aos nossos ancestrais símios.





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