O que então, ilusão
é flor púrpura no caminho cinzento
engana o olhar, ludibria o sentimento
Emerge no sorriso impuro
Na esperança de papel
É o limpo céu acossado pela chuva
o não poder enxergar, mas sonhas
que a maré sobe, a correnteza favorece
nem mesmo a mais sórdida das sombras o amor vence
Tatear a terra quente
na incessante busca do tesouro
metafísico, intangível, inanimado
eu, louco e solitário
chorando ao exibir abrupto do real
Receber inutilmente com perdão a volta
esperar em vigília o falso retorno
insônia vil, nada mais há!
Ilusão, apenas
fazer ouro do pão embolorado
aflorar pelos poros a plenitude
onde existir o abismo
sugar do chão ríspido das lágrimas
o néctar
Dar-se por vencedor na derrota flagrante
por fraqueza, da virtude distante
onde reina o pavor pela decrepitude
aspirar da vitória a chama
onde de papel é a glória
afogar-se inteiro, feliz
nas chamas lentas, impiedosas
da franca decadência
Ao fechar das portas para a fantasia
vem o céu, a todo peso
o amanhecer apunhala
a bruma toma assento
contorce as cores o olhar esperançoso
Na aquarela do choro, de turvas imagens
quebra-se, pois, a imagem
amar, senão morrer
amar senão chorar
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