Usina de Letras
Usina de Letras
146 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O Bosque do Casamento Sagrado -- 20/08/2002 - 17:26 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Bosque do Casamento Sagrado





O local era o Jardim Botânico da UNESP, onde estive para uma meditação no momento da passagem do Equinócio de Outono deste ano. Ricos momentos aproveitados pelos antigos, tradição perdida pela civilização globalizada. Lá estavam elas. Três borboletas de um azul marinho que mesclavam um preto ébano em suas asas, voavam ao meu redor em formato de um atrator estranho, caótico. Surgiu na mente as primeiras figuras de E. Lorenz sobre o seu famoso atrator meteorológico e lembrei-me de um diálogo do livro “Jurassic Park” onde a Teoria do Caos é apresentada para encontrar uma resposta ao retorno dos dinossauros. Todo fractal é um atrator, mas os naturais geralmente são chamados estranhos, ou caóticos, ou ainda dinâmicos, mostrando padrões de ordem imiscuidas no caos, o que não raro requer sintonia fina para a sua identificação. Foi o que senti no momento. As três borboletas desenvolviam um movimento aparentemente errático, todavia exuberante. Definiu o local onde eu ficaria nos próximos 20 minutos. Duas das borboletas procuravam se acasalar e um carinhoso cochicho com elas, daqueles sem chances de ocorrer na minha mente embotada de alguns anos atrás, me fez voltar a atenção para ele, do outro lado. Estava ali, sempre esteve na verdade, mas nunca havia reparado. Foram alguns segundos de arrepio intenso e a frase ressoou clara: “O Bosque do Casamento Sagrado”. Mas, o que é isso, pensei. Medita, pensa e escreve, a frase reverberou. As borboletas se acasalando num padrão fractal dinâmico e, em seguida, o bosque sagrado à minha frente. Recordei “O Retorno de Merlin”, de Chopra, e os seus bosques sagrados ali narrados na aventura do tempo não-linear de Arthur, Merlin e seus amigos. Para a grande maioria, um livro de ficção. Então é isso, pensei. O bosque é uma metáfora, um arquétipo talvez, e ao mesmo tempo uma das pistas mais importantes para a cura dos relacionamentos e casamentos. Tantos são os que tem me procurado buscando uma luz para seus relacionamentos. Ah, se eu fosse o anjo que eles pensam que sou! A graça divina, no entanto, me permite ser, ao menos, um aprendiz de mensageiro. No fundo, somos todos mensageiros e seres errantes simultaneamente, os chamados bem e mal, recompensados pela busca profunda, muito mais que pelas regras e lições de casa cumpridas. As borboletas, com seus movimentos também aparentemente erráticos, sussurram: os padrões mais belos só se formam a partir do caos! Como eu ensino nas minhas disciplinas, o polonês Mandelbrot já vem dizendo isso há décadas, mas confesso que com borboletas vivas traçando poéticos padrões num bosque silencioso, eu jamais poderia supor que funcionasse. Meus alunos ainda não sabem. Coisas da energia do equinócio, imagino. O belo movimento leva, por fim, ao acasalamento dos insetos, o atrator físico da dinâmica não equacionável pela matemática clássica. Mais ou menos como o salto quântico. Volto a atenção para a bela visão do lago do Jardim Botânico e escuto: os humanos precisam de um bosque para transformar seus relacionamentos! Um bosque mental, quântico, onde inúmeras possibilidades da dinâmica caótica se apresentam mas somente uma escolha coerente pode levar ao atrator desejado, ao que a Física Quântica chama de colapso da função de onda. É a união dos opostos, encontro dos paradoxos, que produz a emergência do atrator, o bosque espiritual, uma escolha da consciência. O mais das vezes ele fica escondido, camuflado aos olhos dos materialistas, assim como o bosque dos cavaleiros de Arthur, assim como Avalon nas suas brumas, assim como o verdadeiro Deus. Nesse bosque os movimentos são livres, irregulares e ao mesmo tempo responsáveis, dirigidos pelos profundos anseios do ser humano. Não cabem aí enquadramentos determinísticos como certo ou errado. Esse é o “local” privilegiado do encontro dinâmico da plena realização nos relacionamentos. Dinâmico porque não se trata de ponto final, nem de equilíbrio. Entendo agora. É esse bosque que sacraliza o altar dos templos onde as juras são feitas e as alianças trocadas. É ele que alquimiza esses rituais numa cumplicidade humana e divina. Cai a ficha: são esses os casamentos verdadeiramente indissolúveis! E essa é uma propriedade instável e renovável, já que tudo é dinâmico. Quanta diferença da idéia antiga, fardo insuportável que tantos carregam! Que descoberta vivificante, ainda que pessoal! Quanta beleza e, ao mesmo tempo, quanto risco que os conservadores não querem correr. Por isso, não vivem. Deus é sutil, a frase de Einstein ecoa. Sem risco e sem espaço para o caótico, não surge a exuberância do padrão dinâmico que interliga quaisquer dois seres. Estão muitos a procura desse bosque divino; porém, quão poucos sabem de sua existência além das aparências. Procuram onde ele não está. Como Tomé, querem vê-lo com os olhos da carne, entrar nele, tocar nas árvores, pisar seu chão. Como aqueles que se acham donos do Jardim Botânico, não tem consciência da essência da vida, pois são produtos de nossa ciência clássica que tudo quer comprovar material e estatisticamente. Para esses, o bosque espiritual é uma ilusão, um delírio. No entanto, mesmo seguindo regras, portarias e estatutos, não se realizam, mas não dizem, tentam se esconder na normose, o normal dentro da neurose, segundo Leloup. Poder, controle, imposição, medos, são esses assuntos que os atrai. E isso justificam porque tudo é assim mesmo, não é? Se o ponto final é a morte, o pleno equilíbrio, perfeitamente compreensível, já que essa é a lei da entropia crescente da Física Clássica, não? Estudaram e ainda saboreiam Newton, Descates e Laplace, dignos representantes da ciência de ponta dos séculos XVII e XVIII. Quanto a Capra, Bohm, Chopra e Goswami, os da nova ciência do século XXI: loucos e esotéricos! Que bosque que nada! Legalismos, churrascos, bebedeiras sociais e, quando chega a hora, anti-depressivos, quimioterapia e morfina. Esse é o único caminho, dizem. Afinal, bosque quântico é coisa de esquizofrênico que fica procurando padrões ilusórios em todo canto. Os apaixonados e as borboletas sabem, no entanto, que sem eles não há mentes brilhantes.











Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui