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Poesias-->CAPA - RICA -- 07/10/2005 - 07:52 (FRASSINO MACHADO) |
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I
Vento cálido outonal
nos rostos indecisos
de incertos viandantes,
procuram a praia
de areais fugidios
por onde bandos de gaivotas
se cruzam c’ as barcas
chegadas da pesca.
Ao longe velas esbranquiçadas
deslizam lânguidas
por entre rolos de espuma
deste mar sem fim.
Os barcos da noite
lançam na areia
os restos de cardumes
que os calos avarentos
dos vendedores da praça
disputam na lota.
A areia quase sumida
recebe os dejectos infectos
que os braçais afadigados
lhes despejam impunemente.
As rochas despenteadas
com algas à distância
convidam a quem chega
um abancar desconsolado.
II
Senti-me dividido
entre as velharias e o mar
que, muitas delas,
nos despertam a alma
para um repasto de saudades.
Vende-se de tudo,
ao ritmo do vento
que circunda por ali
nas pracetas do lado.
E o primeiro impacto
acontece timidamente
pela fragilidade das ofertas
que jazem pelo chão:
- Que feira é esta,
que feira é esta,
que cobra ao mar
a delirante concorrência?
- Velharias, um euro,
tudo a um euro,
à parte as preciosas
peças de estimação
que por ali dormem
semi-resguardadas…
Tudo a um euro!
E o mar paciente
esperando por mim
à distância de um olhar
que nele ficou inquieto.
Entre a feira e o mar
fiquei-me repartido
por entre a parca nostalgia
e um horizonte bordejado
de tímida maresia.
Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS |
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