Tu não sabes talvez que tua existência foi
um convite aos sonhos mais impossíveis e as possibilidades
mais tardias que tu em mim semeou, mas nunca colheu.
Talvez não te recordes daquela madrugada fria numa noite quase abortada, quando ficamos a papear até altas horas. Já aí, neste tempo, tu havia me apresentado aos grandes autores, cujos quais eu sofria de uma fome bulêmica.Razão que rasgava minha timidez e costurava uma ponte ente nós. Tu estavas sentada na minha cama de camisola. Dava para sentir um fogo cósmico só em te ver assim. Não sei se tu percebias. Ou se percebias, gostavas. Sei que me atrevi a recitar uma poesia que para ti tinha feito. Má escrita. Bem carregada de amor.
E tu me retribuíste com um beijo cálido na testa. E pela primeira vez depois de anos de amor platónico nos tocamos de VERDADE. Tu já sabias a linguagem do amor. Eu sequer soletrava. Sim, foste minha primeira mulher, embora eu não fui teu primeiro homem. Que diferença fazia? Ficamos até o amanhecer daquele dia de julho deitados envolvidos pelo cobertor que cheirava amor de um homem REALIZADO NO AMOR.
Todos dormiam em tua casa que agora era minha também vez que te possuindo também a possuía. Quando os passarinhos começaram a cantar tu te levantaste e me deste o ultimo beijo de tua vida.
Não mais te vi como bem-te-vi naquela noite. Dia seguintefoste para o DOI_CODI e dizem que depois foste para o fundo do Atlàntico, como foram outros idealistas. Jovens idealistas que lutavam por um mundo de amor e igualdade.
Mundo que me brindaste naquela noite e não mais te tendo, passei a fazer parte dele. Mergulhei fundo nele, como em ti mergulhei e nunca mais deixei uma noite se esvair no vermelho da madrugada sem pensar em ti,minha primeira amada.