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cronicas-->O CORPINHO DE TROMBAS -- 28/09/2003 - 21:25 (Lia-Rosa Reuse) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CORPINHO DE TROMBAS

Ao sabor dos meus três anos , meus miúdos pés navegavam pela casa nos sapatos de minha mãe cujo armário eu visitava secretamente.
Sendo ela uma artista do bordado,fazia também bonecas e coelhos de pano além de costurar para nossa pequena família - meu pai , ela e eu - como medida de economia e pelo prazer da criatividade.
Solicitei-lhe então uma peça de roupas igual a uma das suas que eu sem sucesso tentara experimentar. Para melhor apresentar-lhe meus vaidosos anseios busquei na gaveta um sutiã enfeitado de lacinhos e rendas.
Ela sorriu e dias depois vestiu-me faceira algo que , na sua imaginação , corresponderia ao meu desejo. Era uma estreita faixa de tecido claro que duas alcinhas de seda equilibravam em meus ombros,fechada no meu peito por botõezinhos de madrepérola : os detalhes eram graciosos mas a forma era muito diferente do que eu imaginara !
Agradeci e fui murmurar minha decepção na casa da vizinha - Dona Tereza , doceira profissional em cujo bar iniciara o namoro dos meus pais e que acompanhava com ternura cada momento da minha vida , planejando durante o ano inteiro o bolo de meu aniversário , sempre de sua autoria.
Éramos de tal maneira cúmplices que eu , que não conhecera minhas avós , falecidas antes do meu nascimento , nela , que não tinha netos , encontrei a melhor avó que alguém possa ter tido. Ensinando-me os segredos da sua arte , orientava meus exercícios de bater claras em neve na minha canequinha de plástico cor-de-rosa ornamentada de andorinhas vermelhas ou em seus copos verdes transparentes que eu às vezes usava para fazer bolas de sabão enquanto saboreava as histórias de mistério que contava ; lavar batatas ou arroz dependurada na poltrona para alcançar a pia ; informá-la da posição dos ponteiros do velho despertador azul de seu quarto para aprender o horário.
Trocávamos confidências enquanto ela fazia pão separando uma parte da massa para mim,de tal forma que parecesse uma pombinha cujo único olho visível era um feijão ; enquanto recortava rapaduras de leite ou fervia um licor de groselha que eu tomava contente na minha primeira canequinha que fora da infància da mamãe - de esmalte branco sem desenhos e com finas bordas escuras.
Exibindo o objeto tão delicado quanto estranho,deixei rolar a dor do meu problema sobre suas experientes mãos de avó. Tentou consolar-me achando que era tão bonitinho ! Concordei , explicando que porém não era o que eu desejava . Alargando ao máximo a circunferência dos braços , esclareci :
"Assim , Vó - um corpinho de trombas !"
De imediato ela se propós a confeccioná-lo tão logo tivesse o material necessário. Passei então a recolher todos os vestígios de tecido que encontrasse para correr à sua casa , situada no mesmo pátio que a minha , entregando-lhe a relíquia que ela depositava cuidadosamente no fundo de uma das gavetas de sua máquina de costuras , cofre de nosso secreto tesouro . Fui acumulando retalhinhos de todas as cores em sua gaveta , suas tortas em meu aniversário e ela , sonhos de surpreender-me com o sutiã nos meus quinze anos.
Antes porém que a ambicionada peça pudesse contornar meu corpo adolescente , Vó Têre mudou-se para o céu e sem dúvida , com meus trapinhos cheios da mais ingênua esperança , estará costurando carinhosamente o meu CORPINHO DE TROMBAS.


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