BARBA DE MOLHO
Silva Filho
Cada um tem seu feitio
Ou o seu modo de vida
Como se fosse u’a ferida
Dói quando tocam no brio.
O verbo soa mui frio
E o adorno só tem folho
Tentando burlar o olho
De quem não faz distinção
Quando alguém faz um sermão
Já ponho a barba de molho.
Há quem adote a censura
Sem bem antes refletir
Sobre o que pode existir
No fundo da contextura.
Desde a minha sinecura
Toda lição eu recolho
Chave, tramela e ferrolho
Bem fechando a tentação
Quando alguém faz um sermão
Já ponho a barba de molho.
Cada cabeça – u’a sentença
Pra fazer um julgamento
Mesmo sem um fundamento
Sobre avença ou desavença.
Sem também pedir licença
Sem medir todo o restolho
Em verdadeiro desfolho
Por conta da presunção
Quando alguém faz um sermão
Já ponho a barba de molho.
Ninguém queira ser perfeito
Neste mundo conturbado
Ninguém queira ser tachado
De corregedor suspeito.
Quem não aponta defeito
Nem sempre se diz caolho
Passando até por pimpolho
Fugindo de confusão
Quando alguém faz um sermão
Já ponho a barba de molho.
/aasf/
08/03/2004.
MOTE E GLOSA: Silva Filho
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