Sempre gostei de assistir Propaganda Eleitoral na TV. É verdade, não estou sendo irónico. Devo ter sofrido sim uma forte influência do meu tio Toninho, que só não se elegeu vereador da pequena São Joaquim por uma apertada diferença de 37 votos. Até hoje ele acha que houve fraude ou que o time de futebol o traiu, só porque ele não deu um uniforme novo para o União. Mas apreciava sim ouvir, atento, as propostas e discursos dos candidatos.
O curioso, entretanto, é que quanto mais acompanho o noticiário político, mais aversão e descrença brotam dentro de mim. Já fui de criticar e praguejar contra aqueles que faziam de tudo para não comparecer à seção eleitoral sem motivo justo. E quem declarasse que anularia ou votaria em branco, então? Soltava os cachorros em quem se atrevesse a afirmar uma coisa dessas na minha frente. Mas, de um tempo pra cá, fui me amargurando e troquei a maioria dos programas por um CD em alto volume. Não sei se isso é só uma fase - daquelas que nos pegam de tempos em tempos - mas que está duro de aturar, isto está!
Aqui em São Paulo, por exemplo, a disputa está acirrada somente entre cinco candidatos, embora haja outros tantos com direito a se apoderar da telinha para desfilar seus jargões esquisitos sem o menor pudor. Uns até parecem ter sido contratados exclusivamente para descer o cacete nos outros. Programa de governo? Fica para segundo ou terceiro planos. Os que têm alguma chance de vencer também não ficam pra trás. Parecem mais gladiadores do que políticos.
E as promessas? Tem um plano de saúde municipal de fazer inveja ao Primeiro Mundo. Um outro que alega que, só pelo fato de o seu nome ser popular, os problemas da Metrópole serão resolvidos. E tem mais: casas populares que fazem os favelados sonhar com Alphaville e, logo abaixo do tema Segurança, as promessas espetaculares para arranjar emprego para os jovens e idosos lideram o ranking dos assuntos apresentados. Daqui a pouco, se bobear, vão empregar os recém-nascidos! Acho que a origem do meu desengano vem das promessas de campanha anteriores. Não as fantasiosas e delirantes, como o Fura-Fila e o Aerotrem. Mas aquelas que, numa avaliação inicial, parecem-nos factíveis, como não empregar os parentes e não aceitar propinas. É o mínimo que o cidadão pode esperar: o cumprimento das atribuições que são outorgadas aos nossos representantes políticos.
Parece incrível, mas estou começando a acreditar que quem está certo mesmo é o meu chefe, João Paulo. Às vésperas da eleição ele prepara seu Gol 96, entope o porta-malas de cerveja, carrega a mulher, o filho e a sogra e se manda para a Praia Grande. Pega uma fila infinita para justificar o sufrágio, se embebeda, briga com a sogra, mas passa os quatro anos seguintes com a consciência limpa.
- Não falei que esse prefeito não valia nada? - provocou-me, na semana passada.
- Pois é, JP. Mas que ele tinha cara de honesto, não dá pra negar...
O problema - penso eu - é que não dá para confiar somente no caráter do candidato. Competência administrativa, diplomacia, disposição para resolver os problemas também ajudam a compor o perfil de um bom político. Mas isso é querer demais. Acho que estou me tornando um eleitor exigente ao extremo. A propósito:
