Usina de Letras
Usina de Letras
153 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62210 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140797)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Educação e Ética da Vida -- 18/08/2002 - 21:16 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Educação e Ética da Vida





Quando o físico indiano Amit Goswami cita Sartre no caso dos dois amigos náufragos, a questão da Ética da Vida vem, com bom trocadilho, à tona. Sob uma ótica diferente, entretanto, e incorporando alguns conceitos da Física Quântica e da Ciência da Complexidade. A questão proposta é que A é muito amigo de B e os dois, pelo naufrágio de seu barco, se vêem no meio de um grande rio, distante da margem. A sabe nadar e B não. Se A decide nadar sozinho para a margem, se salva. Se decide salvar o amigo, as chances dos dois se afundarem são enormes. O que A deve fazer? É nessa hora que não há cartilhas de procedimentos certo-errado, como quer a Ciência Clássica ou os padrões conhecidos da sociedade dela derivados. Do ponto de vista quântico, a melhor resposta ao problema é aquela que A pode conseguir quando se conecta à grande sabedoria do universo, à chamada consciência universal no momento decisivo. A Deus, para aqueles que crêem. E é somente nesse instante decisivo que A terá a melhor resposta do que fazer, a conhecida intuição, a mesma que ajudou Pascal e Einstein em momentos decisivos de suas vidas. Quanticamente, a melhor resposta passa a ser o colapso da função de onda de uma das muitas probabilidades inicialmente possíveis e que é conscientemente escolhida pela conexão mencionada. Sem matemática para o definir, esse é o salto quântico, a sintonia com o todo. Claro que essa é a versão da Física Quântica de Bohr e Bohm, numa linha que permeia cada vez mais os avanços do ser humano neste novo milênio. O julgamento do certo-errado só existe no mundo clássico dual e vem daqueles que não sabem viver sem cartilhas de condutas e insistem em buscar respostas prontas para não se comprometerem. São os que, na história de Jonas, ainda dormem no porão do navio tentando ignorar a tempestade.

Esse exemplo pode ser estendido para qualquer outra situação conflitante onde o ser humano se envolve. Nos intricados casos de relacionamentos, por exemplo. Querer sempre seguir cartilhas de “boa conduta” na dualidade certo-errado, leva o ser humano a não se realizar e, ao contrário do proclamado nos púlpitos, a se desdivinizar. É extremar o racional de Descartes, esquecendo-se do segredo de uma certa raposa: “só se vê bem com o coração”! É claro que não se sugere que se acabem com regras e leis para se confiar apenas na intuição em momentos decisivos. O princípio de Kant onde, em determinada situação, cada um pode fazer qualquer coisa desde que o outro, em seu lugar, também possa, apesar de não ser suficiente, continua sendo importante diretriz. Idéias semelhantes, como as de Umberto Eco que diz que “quando o outro entra em cena, nasce a ética”, também auxiliam. Porém, em momento algum e em nenhuma situação se poderia desprezar o ensinamento do Mestre de que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”.

Alguns aspectos dessa nova abordagem da Ética foram, como agradáveis surpresas, apresentados e discutidos no Congresso de Bioética realizado recentemente na FMVZ, UNESP, Campus de Botucatu. Parabéns aos organizadores! Quem teve ouvidos para ouvir, ouviu! Marcou-me, particularmente, ouvir sobre uma nova maneira de se olhar para a Ética da Vida em se tratando dos outros seres habitantes deste planeta. Considerar os animais e os vegetais com quem se convive no planeta antes de se tomar qualquer decisão em relação ao meio ambiente, mudaria drasticamente as atitudes dos humanos. O que seria dos inseticidas, hormônios artificiais e agrotóxicos, por exemplo? Lovelock, Capra e Maturana já dizem isso há vários anos em seus modelos holísticos de rede. Fico me perguntando, então, como é que essas teorias continuam sendo ignoradas nos frios e nefastos bancos das disciplinas ligadas à vida que ainda pautam pelo paradigma patriarcal do poder-dominação, tão comentado por Boff na sua “A Voz do Arco-Íris”. Boff falando de ética na educação? Mas quem seria Leonardo Boff na ordem da elite clerical universitária, diriam doutores e pós-doutores que se colocam em pedestais, versão moderna dos sepulcros caiados? Vamos execrá-lo também aqui, uma vez que nossos aliados da hierarquia eclesiástica já o fizeram com maestria! No entanto, o mínimo que se esperaria, a bem da pluralidade de idéias e da alardeada democracia de papel, seria o de se permitir aos alunos a opção entre as inúmeras variantes das visões cartesianas e reducionistas e as sistêmicas e complexas, já que ninguém poderia se considerar dono da verdade. Muito menos os professores que se dizem educadores! Qual deles teria o direito de se colocar no púlpito da pregação cientificista dogmatizada nesta época de tantas transições, se muitos deles são os primeiros a criticar os dogmas das religiões? Quem são eles para expurgar da universidade os nomes acima citados? Bolsas e projetos aprovados, consultoria de revistas e de órgãos de fomento, participação em órgãos colegiados e publicações no exterior não lhes confere esse poder. Se o fazem, expurgam a ética! Não percebem que perpetuam a abordagem científica dominante do século XVII sem direito a contestações, instaurando uma nova inquisição? Com isso, sutil e docilmente, caçam novos candidatos à cafua e à fogueira de Giordano Bruno, fazendo da História um belo exemplo de fractal, repetindo-a em moldes auto-similares, embora com nova roupagem. Para eles, fazer ciência é fazer aquela ciência, onde um dia, obedecendo cegamente as regras vigentes, entraram de cabeça. Fazem do poço euclidiano e penumbroso onde rastejam, o único universo existente. O que há lá fora é charlatanesco ou mera especulação enquanto não for trazido “à luz do poço”. E isso, para eles, inclui definir, hierarquicamente é claro, o que é bom ou não estudar dentro do poço. Arrogam-se como senhores da fatia da ciência que acreditam terem adquirido por mérito dos títulos obtidos ao logo do seu entrópico tempo linear, à semelhança das capitanias hereditárias. Conseguem, assim, que o “per omnia seculum seculorum” saia dos limites eclesiásticos para penetrar o seu mundo científico que chamam de real. Através do intransigente repúdio ao novo, redefinem o pecado. Esclarecem conceitos difíceis, no entanto, ao servirem de exemplos para a Física Quântica: o maior mal da humanidade hoje é o de se apegar ferrenhamente aos padrões antigos, aos condicionamentos vigentes! Nisso, de fato, estão ajudando e o excomungado Goswami em seu “Universo Auto-Consciente” pode dar mais detalhes. Onde, nesses casos, fica a verdadeira Ética da Vida no respeito ao ser humano? Ou ética com educação não se misturam?

No pós-congresso, fiquei a pensar que, a rigor, não se poderia dispensar as aulas de Ética de curso algum. No entanto, enquanto essas novas visões da Ética entrassem no cotidiano da universidade por uma porta, vários protagonistas da ciência clássica e reducionista sairiam pela outra, pois, como disse o Mestre, “ninguém pode servir a dois senhores”. Seria uma Ética alicerçada nas ciências desenvolvidas no século XX, amparada nas idéias de pesquisadores e pensadores estilo João Batista que vem pregando no deserto da mentalidade consumista e imediatista, esta premida pela paranóia do número de publicações para se adequar às regras, independentemente do bem estar do ser humano ao lado. É essa “Ética Quântica e Complexa”, ou dê-se o nome que quiser, que com certeza, faz muita falta! Seria muito sonhar com algo assim em nossas universidades? O aprendizado no Congresso de Bioética diz que não. Mais ainda, os incansáveis professores Saad e Sogayar, palestrantes do Congresso e símbolos dos semeadores da Boa Nova, trazem muita esperança para os tempos que chegam. Luzes no túnel, graças a Deus! Ou melhor, no poço. É mais que notório que é da verdadeira educação libertadora que nosso país se ressente e não de escolaridade. Esta sem aquela não vale nada. Seria por essa razão, inconsciente talvez, que nossas escolas, via de regra, não educam para a vida?

Edgar Morin, o educador atualíssimo, porém proibido nas disciplinas porque incomoda demais, é quem pergunta: Onde estão, hoje, os professores verdadeiramente realizados profissionalmente? Aqueles que irradiam alegria enquanto ensinam e que conquistam e cativam seus alunos independentemente de notas? Aqueles que querem os alunos realizados como seres humanos e não qualificam suas disciplinas pelo número de alunos que reprovam? Alunos estes que, felizmente, começam a despertar. Formam boa parte da “massa crítica”, ponto de ignição citado como imprescindível para grandes mudanças no texto da Profecia Celestina. Começam a tomar consciência, por exemplo, que assim como não cabe um professor atual de Informática insistir em dar aulas com um processador 286, não é mais possível que um professor de Genética não conheça a Dolly, ou que um professor de Física fique restrito às leis determinísticas da Física Clássica ou ainda que um professor de Climatologia não entenda da Teoria do Caos. Que não é mais possível que um professor defenda a pluralidade de idéias só na oratória, exigindo, na prática, o seguimento dos “seus mandamentos” obscurecidos pelas jurássicas metodologias científicas. Sob a luz da Logoterapia de Frankl, muitos desses alunos clamam pela liberdade com responsabilidade e, para tanto, querem uma visão sistêmica e integrativa da natureza que estudam. De verdade! Uma abordagem que os considere como protagonistas do estudo que fazem e, pela Quântica, observadores que interferem na observação. Constatar essa “massa crítica” em alunos de vários cursos do Campus de Botucatu é, portanto, muitíssimo gratificante. Começam a perceber, esses alunos, que não nascem abobrinhas de amoreiras e que, da mesma forma, uma árvore boa não pode dar maus frutos. Sem serem santos, constituem o fermento de uma nova geração, os novos elos da evolução não-linear que se constrói no aqui-agora, às vezes aos saltos, como já dizia o humanista de Harvard, Stephen Jay Gould recentemente falecido. Em nosso caso específico de Botucatu, faz-se mister agir com consciência e responsabilidade num campus universitário que prioriza os estudos médicos, biológicos e agrícolas. Acolher as refrescantes brisas do novo tempo é a orientação que o nosso reitor, Dr. Trindade, deixou claro ao participar do Workshop “Viagem ao Mundo do Caos” realizado no início do ano passado em Botucatu. Como sugestão, então, que tal incluir dois livros-texto com o mesmo título na Bibliografia requerida para um pretenso “Provão para Professores”? O título comum das obras em questão é: “O que é Vida?”. Uma delas de autoria do físico E. Schrodinger, publicado em 1997 pela Editora UNESP e a outra, inspirada na primeira, lançada em Português pela JZE em 2002 e escrito por Lynn Margulis e Dorion Sagan. Este último, escritor free-lance e a primeira autora, atual coordenadora do Programa de Biologia Planetária da NASA. Seria esse um provão imaginário e, evidentemente, dele estariam dispensados todos os professores cuja área de atuação não englobasse nenhum aspecto da vida e, portanto, da ética a ela relacionada. Quem sabe com isso quem se reveste de educador passasse realmente a educar para a vida!









Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui