E haja o que houver,
disse a bela coroa,
e se algo mal se der,
ind`assim a vid`é boa.
Ela sabe o que passa
noutra cabeça que pensa,
se cai chuva na carcaça,
por exemplo, está tensa.
Se há bagagem perdida
da pessoa observada,
ela já diz de partida:
"Ela está apavorada!"
Na árvore de Natal
podem luzes embolar,
e à fulana-de-tal
ela vai aconselhar.
Ela sabe ter saudade
dos que a antes geraram,
e, sem nenhuma maldade,
dos que dela só maldaram.
Sabe que ganhar a vida
não é o mesmo que tê-la,
sempre há uma saída,
algo virá socorrê-la.
Sabe não se apegar,
abre mão, de vez em vez,
pra sua vida levar
de um modo mais cortez.
Sabe que seu coração
pode muito influir
para boa decisão,
se o caso exigir.
Já notou que tendo dores
não deve importunar,
soltar os seus dissabores
como balões par´o ar.
E também já percebeu
as vantagens do bom tato,
sempre onde mão bateu
de leve fez um bom ato.
E ela sempre aprende
— disso está consciente
e nunca se arrepende —
sobre ser inteligente.
E uma linha tirou:
que as pessoas esquecem
os casos que ela criou,
com eles não permanecem.
"O que elas lembram bem,"
diz a coroa vivida,
"é de como seta vem,
sem deixá-las sem ferida."
Não esqueça o que sinta
quando alguém lhe desperta
— mal ou bem — e nunca minta
em situação incerta.