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Contos-->O GRANDE DIA -- 12/10/2004 - 19:23 (Mario Roberto Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O GRANDE DIA

Era, de sua vida, o grande dia.
Levantou-se cedo e, comovido,
A si mesmo perguntou, ansioso:
Hei, de acaso, suportar a emoção?
Não lhe deu resposta o coração,
Pois também passara, temeroso,
De tudo o mais na vida esquecido,
A noite, a concentrar-se no que inda viria.

Por longo tempo, tinha ele preparado,
Cuidadosamente, cada sutil detalhe,
O que lhe dava uma tênue esperança
De ser enfim, o seu mister bem sucedido.
E, com a certeza do dever cumprido,
Tentava conservar a autoconfiança,
Pois não há empreendimento que não falhe,
Se assim lhe reservar o inexorável fado.

Sabia que, do mundo, todos os mistérios,
Por mais que investigadas fossem as causas,
Hão de sempre levar a que sejam debalde
Os esforços envidados no afã de decifrá-los.
O sempre caminhar é que origina os calos,
Não há como ao destino opor truque ou fraude,
Nem pode ao curso da vida o ser humano pôr pausas,
Pois, à vontade dela, subordinam-se os impérios.

Rememorava agora, ainda ao limiar do dia,
Todas as vicissitudes por que já passara,
As horas felizes que também tivera;
À mente lhe vinha, então, cada momento,
Num turbilhão que lhe tolhia o pensamento,
Uma agonia que em si jamais se dera,
Fosse qual fosse o estado em que se achara;
Aos pares, lembrava cada tristeza e alegria.

Por um instante julgou que não estivesse
Para esse grande passo, ainda, preparado,
Não era, talvez, a seu ver, chegada a hora
De empreender o tão bem elaborado plano,
Que, por seu valor, não admitia engano.
E não queria ele ver, afinal, jogado fora,
Tudo de bom que até então tinha sonhado,
O bem maior que a Deus pedira em cada prece.

A ser assim, mil e uma vezes teria preferido
Nunca, a tal planejamento ter-se dado,
Abrindo mão do maior sonho que acalentara,
Se já não fora, entretanto, tarde demais.
Sim, tinha a certeza de não mais ser capaz
De abdicar desse projeto que elaborara,
Pelo qual, insone, muitas noites tinha ficado,
A meditar sobre o maior desejo já vivido.

Ansioso, a todo instante o relógio consultava,
A observar, incrédulo, como, lentamente,
O tempo, esse cruel e temível inimigo,
O grande desconsolo dos aflitos,
Passava, indiferente aos seus conflitos.
Assim, contar, só podia, ele, consigo,
A procurar o que quer que, num repente,
Pudera afastar a lentidão que o amargurava.

Lançou-se, então, ao trabalho, com afinco,
Como se a procurar a esperada escapatória
Ao burburinho em que se lhe tornara a mente,
Abalada em sua mais intrínseca estrutura.
Assim, sofria, aquela pobre criatura,
Ante o espectro sem par da dor premente,
Que lhe poderia causar toda essa história,
Mas restava-lhe inda trabalhar até as cinco.

Como concentrar-se em sua atividade,
Executar cada tarefa que lhe cabia,
Onde encontrar o mágico fator que lhe desse
A paz para, ao labor diário, dedicar-se?
Nada, a essa altura, encontra ele que disfarce
A confusão interior que ora lhe acontece,
A, unicamente, pensar naquilo que se daria -
- Se, de resistir a tal sofrer, teria capacidade.

Passava, assim, do dia, cada segundo,
A lamentar, do tempo, tal morosidade,
Que sempre se apresenta nessa hora,
A transformar todo instante em vil tortura,
Um inesgotável manancial de amargura,
Que, toda a sua paz, levava embora,
Qual tivesse que suportar a intensidade
De carregar em si todo o sofrer do mundo.



Até que veio, finalmente, o entardecer,
Trazendo com ele a ansiedade,
Pois aproximava-se a tão esperada hora,
Que ele, agora, já não sabia, ao certo,
Se gostaria de, da definição estar tão perto,
Se queria, ainda, abreviar essa demora,
Ou se, ao contrário, preferia, na verdade,
Postergar esse momento até mais não poder.

Tenso, ansioso, dirigiu-se à sua casa,
A preparar-se ao instante definitivo,
Não mais tinha sob controle o pensamento,
Mil imagens, na memória, se atropelavam.
Rápidas, em fração de segundo assomavam,
Perdendo-se, escapando-lhe ao entendimento,
Sem que ele sequer atinasse com o motivo
De tanta confusão, que tortura e arrasa.

Mas não podia ele ao marasmo entregar-se,
Havia que tomar a única correta atitude,
Que lhe não saíra em tempo algum do pensamento,
Durante um tempo tão longo, que nem lembrava
Ao certo o momento em que vira que se iniciava
Aquele incontrolável e maravilhoso sentimento,
Do qual, dantes, não pudera avaliar a magnitude
E que, ora, o fazia como que em estado de catarse.

Sim, era, finalmente, chegada a tão ansiada hora,
Não mais podia, sob qualquer pretexto, ser adiada,
Urgia que se fosse, não poderia ele atrasar-se...
Assim, olhou em volta, como a conferir o estado
Em que deixava cada coisa, se algo havia de errado.
E, como nada encontrou que o fizera preocupar-se,
A lentos passos empreendeu a longa caminhada,
Como se andasse não na rua, mas vida afora.

Já que fora previamente a visita combinada,
Sabia que, dentro em pouco, precisava chegar,
Embora, no íntimo, não se sentisse à vontade,
Tinha a sensação de um leve desconforto,
Estava, enfim, de ansiedade quase morto,
Mas não havia como fugir à realidade...
A alguém dissera que lhe precisava falar,
Sem, no entanto, acrescentar mais nada.



Então, na hora precisa, eis que se apresentava,
Receoso em abordar o assunto da singular visita,
De vez que mil fantasmas lhe assombravam a mente,
Chegara o momento de expor toda a sua verdade...
Evocando, de início, a grande e antiga amizade,
Aos poucos, fez ver a ela o fato de que não somente
Como amiga a quisera, mas era, sim, a sua favorita,
Aquela que, de todo o coração, silenciosamente, amava.

E mais não dissera, impedido pela força da emoção,
Apenas deixando que, por si, o silêncio se pronunciasse,
Por saber, mesmo, que momentos há, em nossa vida,
Em que as palavras, por nada poderem expressar,
Como que por encanto fogem, não se podendo achar,
Por nenhum meio, a frase a ser precisamente proferida,
De forma que, por si só, todo o sentido explicitasse,
De tudo que dissera, ao seu amor abrindo o coração.

E, após um lapso de tempo que lhe parecera não ter fim, talvez,
Ouviu de sua amada a tão longamente esperada resposta:
Disse-lhe, ela, visivelmente também, deveras emocionada,
Que, nele, já por diversas vezes houvera ela observado
O inconfundível jeito de ser de alguém que, acanhado,
Por vezes tenta externar uma verdade encerrada
Em seu íntimo, uma secreta sensação a ser exposta,
No exato instante em que a coragem suplantasse a timidez.

Disse-lhe mais: que de há muito, este momento ela antevia,
Acalentando o sonho que tanto quisera ver, um dia, realizado,
De como difícil lhe fora, por tanto tempo, guardar, em segredo,
O amor que, insistente, seu coração preenchia por completo.
E então, de intensa luz e calor, tudo em volta se fez repleto,
Podendo, cada qual, a própria alma exibir sem qualquer medo,
No prazer sem fim de efetivamente amar e ser amado,
Com a certeza de viver um amor que cresce a cada dia.
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