A orquestra ia tocar só para mim naquela noite. Tudo que eu sempre quiz a vida inteira, desde que vi uma tocando pela primeira vez na televisão.
Já me via na primeira fila, com os pelos todo do corpo arrepiados segurando-me à poltrona, me contendo para não interromper com aplausos a cada dez segundos.
Imaginei a sensação de calafrio percorrendo todo meu corpo no instante que os primeiros acordes fossem dados. Era o meu sonho mais real, porque naquele dia ele se tornaria possível.
Quando os violinos entoassem a Primavera de Vivaldi ou Maria Mãe dos Homens de, não me lembro quem, ou a 5ª sinfonia de Bethoven, ou o Carmira Bourana... nem sabia exatamente o que a orquestra ia tocar, mas, qualquer coisa que fosse, só de imaginar, já ficava emocionada.
A ansiedade que precedeu o "estar" entre a orquestra e eu, me fez pensar o quanto eu era feliz por realizar meus sonhos: ter uma filarmônica inteirinha tocando só para mim, ainda que houvesse outros à volta.
Pensei tanto sobre a reação que teria, que passei o dia treinando naturalidade enquanto ela tocasse. Só não conseguia conter a satisfação que teria ao ouvir, principalmente, a percussão.
Pensei na harmonia da fundição entre os sons das cordas com os dos sopros e das batidas e a única coisa que, de fato, saberia que seria impossível evitar, seria chorar ao final.
De fato chorei, pois estava na cidade certa, no dia certo, porém, informada do horário errado... e a orquestra filarmônica naquele dia tocou para todos, menos para mim.
São Paulo, 25 de setembro de 2004.
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