Número do Registro de Direito Autoral:131197871115300200
QUINTO DOS INFERNOS*
Silva Filho
(Reposição)
Ilha de Vera Cruz
De longe terra à vista
Terra de Santa Cruz
Já na primeira revista.
Desembarcava Cabral
Quinhentos anos atrás
Mandado por Portugal
Com o escrivão Pero Vaz**
Capitânia foi a nau
Brasil o nome do pau
Que na cruz selou a paz.
Quinhentos anos depois
No mesmo "Porto Seguro"
A polícia se impôs
Dissidente atrás do muro.
O movimento Sem-Terra
Com gordas contas no banco
Deixa índio na caverna
Clamando por um barranco
Neste clima de baderna
Porrete comeu na perna
No diálogo muito franco.
Eis é a nação brasileira
Cinco séculos d’existência
Poucos têm eira e beira
O restante na indigência.
Pra manter a dinastia
Mais um quinto dos infernos
Pois imposto faz magia
Defendem os subalternos
Tem muito trem da alegria
Corrupção toda dia
Pobre gritando aos berros.
De arrepiar Cabral
De fazer tremer Caminha
De Brasil já nem o pau
De santa nem indiazinha
Réplica da nau afunda
E o F M I aperta
Índio agora cobre a bunda
Se não nego lhe acerta
Com pobreza tão profunda
Operário mais corcunda
Eis a Terra descoberta.
Silva Filho
Reposição ao banco de dados
Usina de Letras, 01/05/2000.
* Quinto dos Infernos: aumento de imposto na base de 20% sobre o rendimento auferido pelas minas de pedras preciosas, no Brasil colonial. (20% representam 1/5 de 100%). Esse episódio envolveu a morte de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), na Inconfidência Mineira.
** Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral.
Nota:
Quando o Brasil completava 500 anos, eu ensaiava os primeiros passos no terreno da poesia. Movido pela empolgação de estreante, já na Usina de Letras, escrevi o texto acima.
Desde então, escrevi mais de 500 cordéis. Alguns não me agradaram e foram sumariamente destruídos. Outros foram perdidos em disquetes travados. Agora estou tentando resgatar o que for possível, para levá-los de volta ao banco de dados da Usina de Letras.
Isso aconteceu porque, toda vez que vencia minha assinatura na Usina, eu deletava todos os meus textos. Também me identifiquei com nomes diferentes, até me fixar em Silva Filho.
