Entrar naquela sala pela primeira vez foi um acontecimento profundamente marcante em minha vida. Sentar no banco de madeira ao lado de outros meninos e ouvir o timbre de cada um numa profusão de acanhamentos e incertezas e olhos na espreita de novidades e repentinamente a porta se abrindo e a sua chegada.
Um homem de avental, voz suave e gestos precisos falando de rigores, regras e se apresentando: o meu nome é Aldo e eu sou o professor de vocês.
Professor. Trovejava e aquela palavra pronunciada suavemente me colocava na dimensão de um novo nascimento. O menino alçava vôo pela primeira vez.Um vôo empolgante que começou com a retirada do estojo de madeira da mochila, um giz alvejando o quadro negro, formas em coordenação motora no caderno de linhas de fraco azul e pauta vermelha.
É possível que o senhor Aldo esteja hoje com uns 80 anos ou tenha partido, pois afinal os professores também partem. Mas foi o meu primeiro professor professando caminhos na minha infância de Monteiro Lobato. Curioso que atualmente quase não se encontre professores no ensino fundamental, o primário, pois a quase totalidade é de professoras.
Muita coisa mudou. O professor foi modificado pelas circunstâncias, fazendo valer o pensamento do filósofo “Eu sou eu e minhas circunstâncias”. Não é valorizado hoje pelos que governam a sociedade e governo que não valoriza os professores é sempre questionável.
Havia uma espécie de reverência em torno do professor, uma doce autoridade, que só pode ser traduzida num poema de Cecília Meireles.Ele viu mudar enfim a sua valorização, mas não mudou na sua essência, pois continua o portador do amor querido, que é o do querer ensinar, o do querer transmitir.
Claro que também havia a palmatória, o castigo físico e outras formas de crueldade pedagógicas, mas, que felicidade a minha! Que presente para a minha infância! Meus professores eram respeitados por serem professores. Nunca, juro! Observei ou soube deles agredindo um aluno.
A poesia se aproveitou disso e me invadiu, se fez semente naquela sala de aula e foi crescendo e favorecendo o favo de ternura que na minha concepção pedagógica se instalou.
O meu professor, as minhas professoras, estejam onde estiverem, quero que saibam que eu fui um de seus meninos e sou feito de agradecimentos. Que alicerce!
Neste dia especial quero falar de um outro menino que um dia leu a palavra avião escrita num muro, a sua primeira palavra. Ele estava acompanhado de sua mãe e os olhos da mulher umedeceram.
A paz da alma de giz do professor está na memória dos homens de bem. Vamos proteger a criança que aprende a ler para que não se torne um adulto que dos professores esquece.