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cronicas-->Sai do vento, menino! -- 16/09/2003 - 23:59 (Thomaz Figueiredo Magalhães Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

-Acóde dona Carola, os menino tá jogando areia na rópa lavada do varal !

Uma denúncia dessa, feita pela Donair, a empregada negra de quase cem quilos, valia uma surra básica da mãe, mais a ameaça de contar pro pai na hora do café. Café da tarde, às três horas, todo dia. Aliás, naquele tempo a rotina das casas não mudava nunca, nem aos domingos e feriados. Tinha café da manhã, almoço, café da tarde e jantar.

Quando íamos a São Paulo, era uma festa, convivíamos com a moderneza de lá. A mais gostosa é que no jantar de domingo era lanche. Já era assim até na casa do meu avó, mas criança tinha que tomar um prato de sopa antes. Em compensação, depois de pelo menos uma chícara de café com leite ou chocolate quente, podia tomar refrigerante com o sanduíche. E não tinha sobremesa, por isso "soltavam" a gente mais cedo da mesa.

Haviam broncas que não existem mais: -"sai do vento, menino!" Outro vento malvisto era aquele de antes da chuva. Quando vinha o cheiro gostoso de terra molhada guardavam as crianças. Vento cheio de sujeira, de poeira com merda das criações e outras porcarias. Quem diria, hoje em dia!

Até que a vida era doce. E sábia. A Donair (dona Nair) tinha uma boa tática para conseguir pegar galinha para uma refeição. Não podia correr, então começava a andar devagar atrás da escolhida, fumando um pito. Andava paciente, e a galinha sempre meio correndo, de um lado para o outro. Não passava uma carga do pito e a galinha andava de asas abaixadas pelo cansaço, até parar exausta e entregue à morte com uma torcida no pescoço. Destroncada, era pendurada na cerca, onde debatia até morrer.

Era uma hora irresistível para zoar com a caça abatida. Difícil, porque era só o começo do trabalho da velha senhora, que viera a pé da Bahia com a família, mas só até "dispois de Minas", quando os puseram num trem. Nunca fiquei sabendo onde era dispois de Minas. Ela percebia nossa intenção com a galinha e dizia: "-tó só esperando oceis mechê prá contar pro tó Waldyr" - nosso pai. Isso não, contar pro pai era o limite. Primeiro porque ele confiava mais na Donair que no juiz da cidade. Segundo porque naquela época era de bom tom dar umas surras nas crianças, e as de pai eram solenes. A vizinhança adorava o show. E nós, naquela hora, contávamos justo com a Donair, só ela solidária e sem gozação depois da sova: -"mais quis minino que num aprende... chora não fios, um dia oceis vira gente inducada tumbém, como seu pai".


Publicado por Thomaz Magalhães® em 13set3 12:40 PM
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