Secretária eletrónica é um destes artefatos eletrónicos que em outros tempos fez a alegria dos importadores axilares de um lado, e dos que não tinham nada para fazer, de outro. Eu confesso, não nutro os melhores sentimentos por este aparelho e nunca adquiri nenhum espécime.
Felizmente, embora haja muitas, não houve uma corrida tão significativa a este aparelho como na América. Lá todos têm, ninguém vive sem isto. Pelo menos é o que os seriados de televisão mostram. O sujeito chega em casa, apanha uma pilha imensa de correspondências e enquanto dá uma olhada no que chegou, ouve os recados da secretária eletrónica. Invariavelmente há uma mãe implorando uma ligação e meia dúzia de namorados propondo contatos. Dependendo do filme, algumas ameaças, recados enigmáticos ou bandalheiras variadas. Pois nem nas novelas platinadas o artefato aparece com um mínimo de destaque. Falha do marqueting e do Ministério da Imitação de Costumes que deixou passar. Já imitamos de tudo, mas neste caso a intensidade foi muito menor.
Lembro que o surgimento destas geringonças se deu numa época em que a importação era algo muito difícil (ou caro) e todo mundo obtinha itens como este através de um amigo que era amigo de um amigo da tia de um importador axilar. Na época um reles vídeo K7 em geral era obtido desta forma. Não sei dizer com segurança, mas o próprio VK 7 deve ter feito concorrência evitando assim a proliferação destas secretárias. Vale dizer que na época, as próprias calculadoras eletrónicas não eram itens tão comuns e a régua de cálculo (alguém saberá o que é isto?) tinham sido aposentadas há muito pouco tempo.
Na realidade, eu não tenho nenhuma satisfação em conversar com máquinas. É muito desagradável. Já passo o dia todo usando uma e, não posso negar, de vez em quando, é bom conversar com uma pessoa de carne e osso, destas que falam besteiras e riem das nossas. Destas que falam "Ãh?" cada vez que se diz alguma coisa.
Se em casa não foi muito disseminada, nas empresas já segue adiantado um processo de substituição das pessoas por máquinas. Quando não se fala com a própria máquina, fala-se com um atendente que se comporta como se fosse a máquina. Só que pior. Adianta pouco colocar um atendente que imite a máquina. Homens não imitam bem as máquinas e, sendo a recíproca verdadeira, não há porque misturá-los.