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cronicas-->FOME -- 08/09/2003 - 22:02 (Maria Luiza Kuhn) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sou por natureza uma pessoa otimista, gosto sempre de optar pela crença, acreditar que o mundo tem jeito, mas confesso que às vezes fraquejo. Chego a duvidar disso e me acho até meio ingênua, porque gosto tanto de cantar o amor, a solidariedade, a ternura, enfim.
Quando guerras são "transmitidas" on line, conflitos intermináveis entre árabes e judeus estão todos os dias na mídia, quando executam um jornalista em pleno trabalho, quando vendem droga embaixo do meu nariz, quando matam um soldado na frente do nosso lugar de trabalho, quando leio estatísticas da fome no mundo, me sinto completamente impotente e estupidamente sozinha.
Sinto uma terrível vergonha de eventuais desperdícios de comida nas nossas casas. Dos excessos de oferta à mesa e o descaso e desprezo para com alguns tipos de comida. E aí me lembro da contradição da fome com o excesso, quando são gastas no mundo cifras consideráveis em remédios para emagrecer.
Quando fundamos em meados dos anos 90, os Comitês de Cidadania contra a fome e a miséria, embalados pelo sonho do sociólogo Herbert de Souza, tive pessoalmente, experiências no mínimo desconcertantes para uma pretensa classe média.
Na cidade que morava, na época Cruz Alta, existem cinturões de miséria, ainda resultantes do êxodo rural da região, reflexo da mecanização das lavouras e da política de monocultura. Fundamos comitês atuantes e cada um "adotou" uma vila. A nossa, dos funcionários do Banco do Brasil, era como a maioria extremamente carente. Lá vimos de tudo um pouco, desde um homem que morava literalmente num buraco tapado com uma folha de zinco e por isso não sabia nem mais caminhar até uma mulher que tinha medo de gente, fugia de nós até quando lhe oferecíamos comida. Foi um trabalho difícil, quase um desbravamento. Estabelecer contatos e mínimas regras para estes contatos era um verdadeiro desafio. Mas... Desafio maior era o que travávamos junto aos nossos pares e a própria comunidade. O que mais comumente ouvíamos era: - Vocês não vão resolver nada com uma cesta básica - Essa gente não quer trabalhar mesmo -. Sobre a distribuição de alimentos, como dizia o Betinho, experimenta imaginar a diferença que faz para quem não tem comida durante alguns dias, você chegar com uma cesta básica!! É um dia a menos sem fome. Sobre trabalhar: A uma das colegas mais críticas perguntamos um dia se ela empregaria alguma daquelas mulheres da vila, por mais boa vontade que esta pudesse ter. "Nem pensar, são sujas e nem sabem entrar numa casa como a da gente." Pois é, sem dignidade e com fome, como estar de banho tomado e "saber" trabalhar?? Esta foi uma experiência que ainda vai render outros escritos.
Por hoje volto a me sentir impotente.Os números mundiais são alarmantes a respeito da fome.(Segundo cálculos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, uma em cada sete pessoas no mundo não é alimentada satisfatoriamente a cada dia, o que significa cerca de 800 milhões de subnutridos) Mas será que cada um que tem comida não poderia matar a fome de apenas um que não tem??? Imagino isto se tornando uma progressão geométrica no mundo...
É preciso ainda muita evolução, ou seria um passo plenamente possível ??

maluizak@yahoo.com.br
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