FERIDAS ABERTAS
A ponta da pena riscou,
Cortou no branco do papel
Traços de tinta negra,
Que exalaram seu fel.
Impiedoso, o poeta versejou
Suas palavras duras e quentes.
Desgostoso da vida e das gentes
Ferindo o branco que o acalentou.
Dolorosos rancores,
Inquietantes suspeitas,
Frustrantes desilusões,
Feridas de desamores.
E o branco, pacífico,
Cumpriu a sina de papel,
Perpetrando, passivo,
Os pecados do poeta, fiel.
Quando no alívio do arroubo
O poeta curou suas dores,
A negra tinta, indolente,
Uniu os bordos num só sopro.
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