Usina de Letras
Usina de Letras
15 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50669)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O que mantém um homem vivo? (http://pesp.hpg.com.br) -- 16/08/2002 - 23:45 (Penfield Espinosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O que mantém um homem vivo ?



Penfield Espinosa





Infelizmente, Bertold Brecht, o grande dramaturgo e poeta alemão, perdeu uma oportunidade maravilhosa. A Ópera dos Três Vintens termina com uma canção que foi chamada de "O que mantém um homem vivo" na tradução brasileira. Em inglês, este título de canção foi traduzido por "What keeps mankind alive", ou "O que mantém a humanidade viva". Este é um título literariamente mais fraco do que aquele da tradução para o português do Brasil.



Não conheço alemão e não saberia decidir qual das duas traduções para o nome da música está correta: homem ou humanidade. Apesar disso, vamos supor que o título da tradução brasileira é o correto.



De qualquer modo, a canção é apenas um hino panfletário e pessimista que, grosso modo, diz que o que mantém a humanidade viva é torturar, humilhar e punir outras partes da humanidade. Talvez a canção tenha, no contexto da peça, outros sentidos: afinal, apesar de panfletário, BB (vulgo Bertold Brecht) era um dramaturgo e poeta respeitado.



Contudo, isoladamente a letra não se sustenta. Existe todo um sentido pessoal, psicológico e filosófico no título da canção que a letra definitivamente não explora. Camus dizia que o maior problema filosófico é o suicídio: porque, tendo a possibilidade de terminar a própria vida, um homem decide mantê-la. O que, de esperança, conformismo, crença religiosa e prazer de viver, existe na ausência do ato do suicídio.



A questão simétrica desta é importante: o que leva alguém ao suicídio? Que profunda perda perda do sentido de autopreservação é essa? O que leva o ser humano a superar sua programação biológica?



Dizem que os lemingues, animais árticos, se matam. Mas, a não ser que se postule alguma consciência coletiva de todos lemingues, cada lemingue que cai pela falésia nas águas geladas do ártico, na verdade está --- a contragosto -- sendo empurrado por todos aqueles atrás dele que não viram ainda o perigo do precipício. Deste modo, não é um suicídio. A mortandade dos lemingues é apenas conseqüência natural de eles viverem em um local muito perigoso, cheio de falésias e com pouca comida.



Narram os livros espíritas que aqueles que deixam de cuidar de si mesmos são chamados de suicidas no mundo pós-morte física. Não é preciso ir tão longe para ouvir esse tipo de coisa: existem até mesmo piadas sobre esse assunt. A clássica é:



Alguém diz para um bêbado:

-- Beber lentamente causa a morte!

-- Quem está com pressa? -- responde o bêbado.



Essa é uma piada internacional que circula pela Internet em várias línguas.



Existe também o verso famoso de Iessênin, ou Essênin, poeta russo, traduzido pelos Campos Bros.:



Morrer não é difícil.



Com seu suicídio, Essênin, um poeta querido, baixou a moral e a esperança do povo russo, com seu ato extremo, praticado no começo da Revolução Russa. O que levou o poeta Maiakovsky, revolucionário e bolchevique, a escrever em resposta o verso, também em tradução dos Campos Bros.:



Difícil é a vida e seu ofício.



Com esse verso, Maiakovsky creu ter evitado muitos suicídios. Mas não o próprio: muitos anos depois, tomado pela tristeza dos anos estalinistas, que decepcionavam os que creram na Revolução Russa como inovadora e ousada, Maiakovsky tomou de um revólver e se matou.



Aqueles tempos, antes da Segunda Grande Guerra Mundial eram muito tristes. Depois dela, a humanidade purgou sua tristeza e entrou em um ciclo ainda difícil, mas esperançoso, de crescimento e de cura dos próprios males.



O próprio Brecht tem vários poemas em torno do suicídio. Em um deles, Brecht discute a preparação e as razões para o suicídio. Ironiza, levemente, as causas disso. Brecht, que tinha relacionamentos amorosos menos exclusivistas, sugere que a infidelidade de uma mulher não é motivo para um homem se matar. Recomenda abertamente que o suicida não demonstre estar levando-se a sério demais.



Há um poema "Sobre o suicídio do refugiado W. B.", onde Brecht se mostra compreensivo, senão solidário, com W. B. Isto é um tanto surpreendente, pois para os comunistas, o suicídio era reprovável, uma falta de coragem revolucionária, um desvio pequeno-burguês.



(Talvez tenha pesado neste caso o fato de W. B. ser, muito provavelmente, Walter Benjamim, o filósofo marxista alemão que se matou crendo que os nazistas iriam invadir a cidade francesa onde se ocultava. Antes disso os aliados tomaram toda a região. Nunca houve a invasão nazista.)



Enfim, apesar de ter desperdiçado a oportunidade de fazer uma investigação mais profunda sobre a decisão de se suicidar ou não, Brecht falou mais (direta ou indiretamente) sobre o tema. Em sua obra há, inclusive, temas de encorajamento, como "Aos que hesitam", uma espécie de autoajuda para revolucionários.



Referências





B. Brecht. Poemas: 1913-1956. Seleção e tradução: Paulo

Cesar Souza. S. Paulo, Brasiliense, 1987



(Copyright © 2002-2010 Penfield da Costa Espinosa)

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui