O INVERSO DO VERSO
Era noite de inverno
E eu, só, no sofá da sala.
A solidão abraçou minha alma aflita,
A saudade veio de visita
E eu não pude evitá-la.
Queria fazer algo moderno.
Um verso diverso
De tudo que já fizera.
Procurei palavras e rimas,
Provoquei imagens e lembranças,
Evoquei crenças e quimeras.
Mas nada, nada me vinha à cabeça.
Estava tão introspectivo
Que nem parecia vivo.
E, de repente, o que eu vi
Foi um verso insosso e insalubre,
Um verso meio torto.
O avesso do deslumbre,
O inverso do verso.
Fechei os olhos e, com um abraço,
Orfeu me levou para o seu país.
Adormeci feliz.
|