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Contos-->As Cartas de Natalie e Owen (ROMANCE) -- 05/09/2004 - 05:35 (won taylor) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Capitulo 01


“Toda estória começa com uma mudança e a minha não fugirá a esta regra. Ei-la aqui:”


A minha vida estava parada; estagnada, fundida, assim por dizer. Socialmente tinha falido e amorosamente estava instável na UTI e nem merece explicação, para o abismo que o meu coração despencou e profissionalmente, aí sim, tudo deslanchava. Era ali, que eu tinha as minhas realizações. Lecionava literatura na faculdade de Niteroi e de repente soprou-me um vento de mudança, quando ofereceram-me um emprego na PUC no Rio. Deixei meus pais em Ararruma e mudei-me para Botafogo, onde ficaria mais próximo à faculdade, onde vou lecionar no curso de literatura. Dizem que a PUC tem uma ótima estrutura; isso ajudou-me na hora de escolher.

Bem, aluguei uma casa antiga numa rua tranqüila e arborizada; a casa foi dividida em duas por ser grande demais. Cheguei a desejar que o vizinho que fosse morar ao lado, não fosse do tipo barulhento; já que estamos separados por apenas uma parede, que dividi a casa toda. Com a chegada da minha mobilia, que era apenas objetos pessoais, já que a casa era mobilhada; eu pude enfim mudar-me e começar a adaptar-me ao novo lar. A imobiliaria fez tantas restrições, que pensei em desistir de alugar esta casa e procurar por outra. Devido as férias que ainda estavam no inicio, eu tive tempo para esperar mais uns dias. O proprietário mora em Londres e depois que seu irmão morou aqui no Brasil por quase sessenta anos; com sua esposa. A casa ficou fechada por dois anos e meio. Até que ele resolveu aluga-la, impondo diversas condições.
Dali a pouco, eu começava a me acostumar com o silêncio da rua e da casa vazia ao lado. Assim, eu podia ir preparando as minhas aulas; organizando os meus livros e deixando a casa um pouco mais parecida comigo. Eu costumava passar horas no quarto que transformei em escritório. Ficava na internet à procura de matérias para as futuras aulas; participava de foruns e assim, eu deixava as horas levarem os dias embora.
Certo dia, quando eu estava remexendo numa cômoda antiga, num fundo falso de uma das pesadas gavetas, eu encontrei uma espécie de díario, onde dentro dele havia cartas de Owen Strattford, um piloto Inglês da RAF; a Força Aeréa Real, onde ele relatava uma parte essencial da segunda guerra mundial à Natalie Hudson. E apartir dali começava a acontecer alguma coisa em minha vida; e é o que deixo aqui; e digo, não lhes imputando como magica, mas como algo extraórdinario, que só nos acontece uma vez na vida:

As cartas estavam empoeiradas; velhas, mas em perfeito estado de conservação, como se esperasse que alguém as encontrasse e as lessem. E eu já descabido e sem receios, não me fiz de regado e reuni todas as cartas que estavam separadas por datas, sendo assim, eu não tive nem o trabalho de organiza-las. Quando anoiteceu preparei-me para o começo da leitura, fiz um chocolate gelado e deixei o ar-condicionado ligado; apanhei um caderno e caneta para fazer anotações e sentei-me na escrivaninha de mogno, já bastante envelhecida pelo tempo. Na verdade, aquele quarto tinha um ar retrô. Era estar ali para sentir-se nos anos quarenta; as cortinas de babados no topo; os móveis, todos de madeira pura e a cama com desenhos talhados na madeiras e os criados-mudos com antigos abajurs em cima. O tapete espesso no chão, dava bem a visão, de que aquele quarto, foi transportado de algum lugar muito distante para ali.

E a imaginação desferiu o vôo desde a abertura do primeiro selo, e sem embargo das ruínas e dos tempos, deixando-me com os meus destroços presente.

“ 1940”

“Querida Natalie,

Depois que fui convocado para juntar-me aos pilotos em Londres, esta é a primeira vez que escrevo, sei que já deveria te-lo feito, mas devido aos treinamentos aqui na base, eles nos colocaram sem comunicação.

Natie, sei que prometi que lhe contaria tudo que está acontecendo aqui em Londres e eu vou contar. Enviarei toda a movimentação da guerra, caso estas cartas cheguem à você, peço que guarde-as num local seguro.
Sinto saudades de andar com você pelas ruas de Surrey; a nossa pequena e pacta cidade. Teu rosto é o que eu guardo na mente; lembro de seus olhos verdes, pquenos, brilhantes e intenso e dos teus cabelos loiros compridos e lisos, que mais parecem raios de sol e da tua boca, ah, que saudade! Teus lábios carnudos, vermelhos, molhados, breves e suaves. Apesar do breve tempo em que estamos separados, sinto falta de você ao meu lado.
Confesso que demorei a lhe dizer que a amava; mas acho que já sabia disto desde da primeira vez que nos vimos naquele bosque. Sinto ter demorado a admitir que o amor já conduzia o meu coração. Natie, não fique nervosa porque estou aqui, isto vai passar logo; não há guerra, é só especulação; uma espécie de jogo de gato e rato.
No início desse ano, nós fomos informados, que nosso espião encontrou os exércitos dos principais beligerantes a vigiarem-se uns aos outros das respectivas posições fortificadas na frente ocidental, com uma cautela que não oferecia nenhuma perspectiva imediata de um ataque em larga escala. Os aliados, no momento, pareciam ter aceito o ponto de vista de Mr. Churchill, expresso a 12 de novembro, no sentido de que "se atravessarmos o inverno sem que ocorra algo grande ou importante, teremos, na verdade, vencido a primeira campanha da guerra".
Ao lado alemão havia indícios de vaga ferocidade a ameaçar os aliados com quase imediata destruição. Hitler, na sua proclamação de Ano Novo, e novamente no seu discurso de 30 de janeiro, insinuou que estava para começar a coisa a sério. Goering anunciou que ao sinal de Hitler a força aérea "desencadearia sobre a Grã-Bretanha um assalto de violência jamais conhecida na história." Mas, com todas essas palavras, a atividade na frente ocidental era confinada a incursões esparsas, nas quais os aliados pareciam apenas procurar informações, e os alemães tentando conseguir o domínio de posições que mais tarde lhes pudessem vir a ser úteis.

Como vê, tudo não passa de uma guerra fria e que nenhum dos lados tem uma posição ofensiva e nós ainda estamos no chão e nem os navios de guerra estão posicionados. Em breve estarei em casa e logo em seus braços, meu amor. Ah, eu recebi a sua carta e fiquei feliz, muito feliz”.

Abri uma outra carta e encontrei palavras que se desprendiam de um coração vibrante e valente; palavras que eu nunca usei e ao reler tudo outra vez, descobri que no seu díario havia uma angústia nas descrições sobre o rumo que a guerra estava tomando. Mas ainda assim, nas cartas; ele tentava protege-la e se antecipava ao anumciar em palavras doces, o quanto ainda haveria futuro para os dois:



“Meu amor,

O mistério do amor revelou-se para mim e deu-me coragem para enfrentar essa fase de nossas vidas e essa força que vem de você, tomou conta de todo o meu ser. O amor chegou em meu coração e se alojou nele, e é assim que me sinto aqui, nesta base militar, onde conto os dias para lhe ver, querida.

Eu que era tão inconstante antes de te conhecer, vivia como um barco à deriva. Não pensei que pudesse sentir tanta felicidade na vida. De repente, senti que vir para cá, foi apenas uma maneira de saber, que é você e sempre será você. Sei que ainda agora você deve estar pensando, em como foi que tudo isso foi acontecer conosco. Mas garanto à você que nada vai nos separar, nem mesmo uma guerra. E tudo isso tinha que acontecer. E será o nosso batismo de fogo.

Quando você olhou dentro dos meus olhos, pude sentir que jamais poderia viver sem ver a expressão de adimiração no seu rosto. O contato do seu corpo com o meu, a sua presença é tudo que me faz superar essa separação. Porque sei que vamos ficar juntos, pois sei que a gente se ama. .Não pense no que pode acontecer se tivermos que lutar contra os nazistas, e se ficássemos parados, estaríamos entregando o nosso país e seria o mesmo que eu desistisse do que sinto por você. Tudo acabará bem; tanto para o nosso país e para nós dois.

Natie, eu sou apenas um pouco de você. E eu a amo com toda força de minha alma. Mando-lhe as noticias numa carta em anexo, para que saibas do que está acontecendo de verdade e não o que os jornais estão dizendo. Ainda não há uma guerra no Atlantico, pois os nossos navios ainda estão no cais. Leia e acredite em mim’.



Capitulo 02

Retomei a leitura do díario; somando a minha curiosidade à minha indignação; ao ler relatos vindo de alguém, que participou do horror que Londres sofreu ao ser violentamente bombardeada. Numa tentativa de Hitler acertar o coração da Inglaterra, já que o país foi a força principal dos aliados na segunda guerra mundial. Owen presentia que algo grande estava prestes a acontecer; e ele detalhou cada movimento onde a Inglaterra se fortalecia ao comandar os aliados pela Europa.


“A ameaça séria de possível ação veio a 14 de janeiro, com um novo surto de guerra nos Países Baixos. Certos informes da imprensa alegaram que este era baseado no fato de que o piloto de um avião alemão que fez uma aterrissagem forçada em solo belga tinha por casualidade no bolso os planos de um ataque alemão. A circunstância foi realçada de um modo curioso pelo fato de que o governo holandês, a 6 de janeiro, anunciara a determinação de resistir a qualquer ataque "com toda a potência de nossas armas", e o governo belga se tinha mostrado disposto a apoiar a Holanda contra a agressão. Mas, fosse qual fosse a razão, o alarme foi suficientemente forte para que a Bélgica mobilizasse 600.000 homens e para que a Holanda e a Grã-Bretanha cassassem todas as licenças no Exército. A 24 de janeiro, Mr. Chamberlain renovou o compromisso britânico de assistência imediata à Bélgica no caso de um ataque alemão. Embora nessa ocasião a crise tivesse amainado, os Países Baixos e a Suíça também permaneceram em estado de alerta à vista das informações periódicas que recebiam acerca de concentrações alemães nas proximidades de suas fronteiras. Os pequenos vizinhos da Alemanha, estava claro, não confiavam absolutamente em sua boa fé.

Entretanto, dificilmente se poderiam considerar ideais para uma ofensiva militar as condições desse período. As condições meteorológicas - as informações a respeito das quais incorriam nas muitas coisas suprimidas pela censura, em razão de que elas pudessem servir aos aviadores inimigos - mostraram de que eram capazes, desencadeando uma Blitzkrieg por conta própria. O inverno mais frio do último meio século se abatera sobre a Europa. Os temporais desencarrilavam trens, interrompiam o tráfego e criaram uma escassez temporária de carvão, tanto para as indústrias como para es cidadãos particulares. Em fevereiro, foi informado que uma quarta parte da população de Berlim vivia em casas sem calefação. Essas dificuldades na frente interna refletiam-se sem dúvida na contínua inação militar.
Isto não era verdade, entretanto, nem no mar, nem no ar. Navios mercantes continuavam a cruzar os mares com abastecimentos essenciais. As marinhas mantinham uma vigilância incessante sobre as rotas vitais de comércio. E tanto à superfície das águas como em baixo dela, a guerra prosseguia - uma guerra que procurava apertar o bloqueio contra o inimigo e romper o cerco que o inimigo se esforçava por impor.

Nestas lutas os aliados estavam mais do que bem. Pelo fim de março, cálculos não oficiais indicavam o total das perdas britânicas e francesas em 211 navios, apenas cinco britânicos havia entre estes. Entre 26 de fevereiro e 3 de março, a Grã-Bretanha perdeu somente dois navios pequenos, . E a 30 de março, Mr. Churchill anunciou que durante a quinzena anterior apenas um navio britânico havia sido afundado em conseqüência de ação inimiga.


Nesta situação, a Alemanha lançou toda a sua fúria contra a navegação neutra. O completo desprezo pela lei do direito internacional demonstrado pelos nazistas com o afundamento de navios beligerantes sem aviso prévio, e o espalhar indiscriminado de minas, ficou mais luminosamente em evidência com os seus ataques deliberados às tripulações dos navios mercantes. Durante o mês de fevereiro, em que foi informada a perda de 25 navios britânicos, as nações neutras perderam 39. Até 14 de fevereiro a Suécia tinha perdido, desde o rebentar da guerra, 32 navios de carga, com 228 marinheiros mortos e 15 perdidos. De conformidade com o ministro sueco das relações exteriores, sete desses navios foram indiscutivelmente afundados pelos submarinos da Alemanha, três dos quais quando estavam a caminho de portos neutros; e do total de 32 apenas sete tinham a Grã-Bretanha como destino. Até 21 de fevereiro, a Noruega perdera 49 navios e 327 marinheiros. Um total de cerca de 200 navios neutros fôra destruído até o fim de março. Somente num comboio aliado, onde suas probabilidades de afundamento eram de um contra 800, estava um navio neutro razoavelmente protegido nos mares. Mas, se a navegação aliada era martelada e a neutra ameaçada, a navegação alemã era varrida dos mares. Pelo fim de março, 38 navios somando cerca de 200.000 toneladas tinham sido postos à pique, a maioria pela própria tripulação a fim de evitar a captura. Quando foram acrescentadas as cem mil toneladas da navegação alemã tomadas pelos aliados, elas somaram cerca de 8% da marinha mercante da Alemanha. As restantes estavam presas em portos alemães ou neutros ou confinados, no que dissesse respeito à navegação, às águas do Báltico e dos estados neutros do norte.



Isto faria pouco mais que manter o equilíbrio com a base aliada de destruição, conservadoramente calculada entre dois a três por semana. Informes sobre a natureza dos novos submarinos alemães eram igualmente variados; mas a sugestão de que a Alemanha se empenhava pela obtenção de unidades maiores capazes de mais largo campo de ação, viria ficar comprovada por evidências definitivas”.

A preocupação do jovem piloto com sua amada Natalie demonstrava, que havia um amor sincero e candido entre eles dois. Nesse ano, Hitler já estava invadindo os países menores da Europa e a Inglaterra era questão de tempo, mas apesar de tudo, havia uma vontade da parte dele de deixar sua amada tranqüila; como se estivesse protegendo-a daquele dissabor. De certo ponto em diante a vida estremeceu-me no peito, com uns ímpetos, que pensei haver morrido há tempos; eu que desci à imobilidade sentimental, chorei ao constatar um sentimento verdadeiro e juvenil.
A noite foi logo embora e os primeiros raios de sol já invadia o quarto; também nesta época no Rio, o sol nasce com as galinhas e nem são seis horas da manhã e já está quente lá fora. Ergui-me da escrivaninha e com o corpo todo moído, lancei-me à cama e adormeci por algumas horas, sem mexer-me do lugar onde deitei-me e de subito, lembrei-me que Owen havia escrito que recebeu uma carta de Natalie e onde estaria esta; e se houvesse outras?.


Essa idéia era sublime, e fiquei obestinado a aliviar a minha melancólica condição com profundos efeitos impressos por dois jovens. Diante desta possibilidade, vasculhei todo o quarto e toda casa e nada encontrei sobre Natalie, nem palavras ou fotos, sequer deixei de procurar num canto que fosse; nos assoalhos de madeira ou nos forros do teto e nada. Então voltei à cama, cansado desfaleci sob a colcha ainda arrumada.
Só voltei a acordar à tarde e nem me lembro se comi alguma coisa; sentia-me meio enlouquecido, com aquela coisa toda e não passava-me pela cabeça, coisas do tipo. Fui ao banheiro e entrei na banheira de ferro e submergi e fiquei alguns segundos embaixo d’água, mas logo saí e olhei para o basculhante e sorri da minha loucura temporaria. A idéia móbil vagava dentro da minha cabeça e fazia-me prisioneiro da vida alheia.
Por exatos dez dias fiquei em casa, lendo e relendo aquela primeira carta, tentando de alguma forma, ver mais do que estava escrito ou sentir um pouco mais, e era como se a minha vida estivesse renascendo, ou como um parto, eu estivesse sentindo as dores do nascimento e ela se contorcesse para deixar a minha barriga a qualquer momento.










Capitulo 03

Com efeito, eu voltava ao díario queria saber qual seria a maneira, que aquele piloto enfrentaria a guerra e como seria seu testemunho:


“O episódio mais emocionante da guerra no mar foi um que produziu menos efeito sobre a força naval alemã do que sobre o restante do prestígio alemão. O caso do Altmark foi uma seqüência triunfante da destruição do Graf Spee. Esse navio, que tinha à bordo a tripulação de sete navios ingleses destruídos pelo cruzador de bolso, fôra objeto de uma busca meticulosa da armada britânica mesmo desde a batalha do rio da Prata. Por dois meses, o navio-prisão iludia os caçadores. E então, a 16 de fevereiro, foi localizado por aviões britânicos de reconhecimento quando deslizava pela costa norueguesa ao sul de Bergen, rumo a Hamburgo e à segurança.
Três destróieres britânicos saíram no encalço de sua presa. Mas a tentativa do Intrepid de capturar o Altmark foi frustrada por um navio armado norueguês cujo comandante exigiu que os britânicos respeitassem as águas territoriais da Noruega. Durante as discussões, o Altmark penetrou no abrigo de um fiorde próximo; e então os navios britânicos retiraram-se para além do limite de três milhas e radiografaram por ordens ao Almirantado.

O almirante respondeu com uma ordem de penetrar na zona neutra e libertar os prisioneiros. Foi depois do escurecer que o destróier mais antigo, Cossack, aproximou-se do norueguês e pediu que o Altmark fosse levado a Bergen sob guarda unida e ali revistado à cata de prisioneiros britânicos. Quando isto foi recusado, da mesma forma como foi recusado o pedido de que o comandante norueguês permitisse uma busca no local, o Cossack foi adiante. O Altmark, libertando-se dos gelos em que tinha sido colhido, tentou enfrentar o Cossack, mas o destróier abordou-o e um grupo de marinheiros galgou a coberta do navio alemão. Houve tiros de ambos os lados; um número de marinheiros alemães que tinha escapado pelos lados abriu fogo da terra, e o fogo com que os ingleses responderam causou entre eles numerosas baixas. Encerrados nos paióis de munição, depósitos e num tanque vazio de óleo havia 299 marujos britânicos, muitos deles em sérias condições físicas causadas pelas fadigas penosas do aprisionamento. Com estes a bordo, o Cossack deixou o Altmark paralisado entregue à respectiva tripulação e rumou com os homens libertados para a Inglaterra.

Seguiu-se a isto um feixe de protestos diplomáticos. A Alemanha protestou junto à Noruega por ter esta permitido a violação de sua neutralidade. A Grã-Bretanha, alegando que o Altmark era um navio armado e que as autoridades norueguesas tinham-no abordado e revistado em Bergen, protestaram junto à Noruega por ter esta deixado de descobrir e de libertar os prisioneiros. A Noruega, negando que o navio tivesse parado em Bergen e afirmando que ignorava que houvesse prisioneiros a bordo ou que o Altmark estivesse armado, protestou contra a ação do Cossack e exigiu a volta dos marinheiros libertados - exigência provavelmente feita mais para satisfazer a Alemanha do que com a esperança de ser atendida. A cólera apoplética dos porta-vozes nazistas ofereceu o espetáculo algo cômico da Alemanha expressando horror por uma violação do direito internacional. O contraste entre a atitude normal alemã e essa repentina exigência de legalidade foi sutilmente estabelecido por Mr. Chamberlain, a 24 de fevereiro.

De tal maneira os nazistas respeitam os interesses alheios que os navios neutros não mais estão livres de seus ataques, mesmo quando navegam apenas entre um ponto neutro e outro. Podem afundar navios mercantes, podem destruir cargueiras cujas tripulações são deixadas a navegar ao léu e morrer de inanição, mas os países neutros não devem reclamar. Porém, se nós, os britânicos, a fim de salvar 300 homens, ilegalmente feitos prisioneiros, da brutalidade de um campo de concentração, cometemos assim uma quebra meramente técnica de neutralidade, que não envolve vidas e não toca na propriedade neutra, então é quanto basta para que os nazistas fiquem exaustos de tantas exclamações de histérica indignação.

Cumprido o seu dever, por meio de formais e vigorosos protestos, acompanhados por uma oferta de arbitramento, a Noruega por sua vez mostrou-se contente em aceitar um compromisso que deixou o caso no ponto em que estava’.


Dali a pouco, tudo se transormou numa espécie de magica onde a apresentação vinha a cada página daquele velho díario e nem digo das cartas, essas sim, davam-me a essência do que faltava em minha volta; e assim eu largava o fúnebre projeto, sei que esse mistério não saía da minha cabeça e chamava-me a toda hora. Imaginava que Natalie estivesse do meu lado enquanto eu lia as cartas que perteciam à ela. Era claro a miha loucura que eu podia vê-la ali; parada; sorrindo e retirando os longos e lisos cabelos loiros da frente de seu rosto.
Tentei resisti no inicio, mas a resistência era inútil e por três dias segui abatido e mudo. Eu já não ligava a televisão e nem o computador; não pensava sequer, tinha a idéia fixa de encontrar as cartas que Natalie enviou à owen ou alguma coisa que me ligasse aos dois. Na imobiliária me informaram que os dois se casaram em Londres e logo depois vieram para o Brasil e moraram nesta casa.
Eu estava só e neste momento de solidão havia a musa do piloto que varria do meu espírito os pensamentos maus; assim eu podia tentar dormir, mesmo sendo um modo interino de morrer e indubitávelmente, sei eu morrerei sozinho.




No dia seguinte acordei debaixo de um temporal que meteu-me medo; uma dessas fortes chuvas de verão. Enfim, a tempestado amainou. Confesso que a chuva fez-me tremer; meu coração disparava e produzia os mesmos sons dos trovões
Enxuguei as lágrimas com a manga da camisa, eram lágrimas inoportunas; eu busquei um derivativo nas palavras de Owen, na paixão dele, não houvera um instante, que ele negara o seu sentimento. Comecei a lembrar-me de mim mesmo e as tremuras recomeçaram acentuando as minhas intenções literárias e dando relevo à imagem de Natalie.
Que vida era aquela que eu estava levando; faltava amor e disso não se discuti, não há argumento contra o vazio no meu peito, agora preenchido com vidas alheias. Andava tão distraído comigo, que não ouvi nemhum som vindo da casa ao lado, onde da janela, eu pude ver estacionado na entrada, um caminhão com uma pequena mudança e dois homens que carregavam poucas mobilias. Parecia que alguém estava prestes a se tornar meu vizinho. Rezei para que fossem discretos e silenciosos; fechei a janela e retornei a minha leitura.


“Meu amor,

Os meses andam passando longos e sem graça, e depois de começar a fazer vôos de reconhecimentos fora da Inglaterra, da nossa Inglaterra querida, eu senti que preciso da proteção dos seus braços para que de tarde o amor nunca se vá e que fique para sempre.

Minha querida! Ao voar no fm da tarde e ver o cair da noite fria nesses países desacostumados as estrelas, sinto perdido na vastidão onde outros mares, deslumbram outros olhares que não os nossos. E eu, fico pensando em você. Fico pensando nos momentos de saudade e tristeza que estou vivendo, tão longe de quem eu mais quero estar perto; tão longe de quem eu amo.

Voando sozinho dentro da noite, recolhendo informações e tristezas, porque eu não tenho informações sobre você, querida. Ainda sim, eu escrevo e sinto um frio terrível; quando penso que estás tão distante de mim. Embora eu saiba que tão logo, estaremos juntos e essa saudade será esquecida, com a sua presença do meu lado, meu verdadeiro e único amor.

P.S: Quisera eu que você nunca saisse do meu lado, para que os dias fossem menos longos, menos tediosos e menos tristes. Sigo lhe amando com o coração; com a alma e com cada músculo do meu corpo’.

Permaneci sentado na cadeira e debruçado na escrivaninha e vendo a neutralidade desta casa, que me leva, através do espaço, como náufrago, que espera chegar num lugar seguro. Mortos estão agora, um casal que aqui viveram felizes e que no mesmo espaço de chão, sofro eu, que por isso, abençoo esta casa que deu-me esperança de também ser feliz.
Concentrado na minha falta de lucidez, demorei a perceber as batidas na porta da frente e nem sei dizer se era cedo ou tarde, para que alguém estivesse batendo à minha porta. Confesso que cheguei até a porta ainda em transe emocional e mecanicamente abri a porta, sem ao menos perguntar quem era aquela hora e com certo risco de poder ser um assassino ou mesmo um ladrão.
Ao abrir os olhos de verdade para poder deixa-los mostrar-me quem estava ali; deparei-me com uma mulher em seus vinte e seis anos; loira, pequena, esbelta, de sorriso encantador, de olhos castanhos e cabelos longos, loiros e encaracolados.

__ Boa noite! Meu nome é Ingrid. Desculpe-me incomodá-lo, sei que não são horas para vir aqui, mas acontece que eu acabei de mudar-me para a casa aí do lado e não sei onde comprar açucar e por isso vim aqui. – explicou ela esfregando as mãos nervosamente e com um pouco de vergonha estampada no rosto.

__ Tudo bem! Meu nome é Fabiano. Entre! Eu vou apanhar o açucar. Sente-se e fique à vontade. O que está achando da casa? – perguntei-lhe da cozinha.
__ Ainda é difícil dizer. É tudo tão antigo por fora e principalmente por dentro. E essa condição que foi imposta de não mudar nada, nem os móveis, foi bem esquisita. – disse ela em tom enignático frazindo a testa.
__ Você vai se acostumar logo. Bem, aqui está o açucar. – disse eu estendendo o pacote em sua direção.
__ Obrigada! Mas na verdade, eu só precisava de um pouco para adoçar o chocolate.
__ Tudo bem. Amanha você não precisará sair cedo para comprar açucar e terá tempo para arrumar as suas coisas. Desculpe-me, mas percebo que pelo o seu sotaque que você não é do Rio. O que uma paulista faz na cidade mais perigosa do mundo?
__ Vim para o Rio para estudar. Minha família ficou em São Paulo. Eu vim para fazer faculdade de turismo. Nossa, meu sotaque é tão percebível assim?
__ Percebe que o “R” saí arranhado, mas não se incomode com isso. – acompanhei-a até a porta.
__ E você, o que faz para viver?
__ Sou professor de literatura e estou em férias, que logo acabará e retornarei ao meu óficio.
__ Qual faculdade que você leciona?
__ Ainda não comecei a lecionar, pois eu vim de Araruama e antes eu ministrava em Niterói e este ano vim para aqui para lecionar na Puc de Botafogo. – os olhos dela faíscaram tão intensamente que fiquei encabulado.
__ Que ótimo! Quer dizer, que legal. Eu vou estudar nessa faculdade. – ela estendeu a mão e pegou-me pelos braços e beijou-me o rosto e com um sorriso de menina virou-se e deu uma corridinha até o potão e eu olhando-a como se o quintal fosse maior do que o tamanho normal. Abri boca e disse ‘boa noite’ e ela apenas sorriu, fechando o portão e pondo a mão no bolso de seu jeans e retirando a chave de sua casa.

Que estranho são os pensamentos que se embolam na mente, quando ficamos confusos, de repente, eu não sabia no que pensar; deu-me vontade de ir à casa dela e dizer alguma coisa, mas qual seria a coisa certa a dizer? E o que ela pensaria? Era preciso fazer alguma coisa para que os pensamentos se organizassem ou eu ficaria um pouco mais louco.
Eu bem sei que os meus nervos se contraíram, pensava que ela fosse achar que eu estivesse num grande desespero e demorei um pouco para ir até lá, quase meia hora depois que ela saiu, e fui convidá-la para jantar, seria isso romanesco? Eu queria acudir meu coração com uma aventura simples; afinal, seria uma simples janta e o momento era bastante propício. Antes era preciso enterrar o recio para que eu tomasse coragem e me aventura-se e foi o que com muito custo, eu fiz. Bati em sua porta e a escutei dizer que já viria. Fiquei pensativo e apreensivo. Eu me sentia medíocre, mas é evidente que, ainda quando minha atitude tão extremada não trouxesse em si mesma a resposta para o meu vazio, bastava saborear os efeitos salutares da minha decisão e esperar ali, com aquele frio na barriga. Ingrid, surgiu à porta e já de roupa trocada, ela usava uma vestido amarelo claro, pequeno, porém largo e liso e com os cabelos presos, fazia dela a imagem de uma boneca de porcelana. Assim meus olhos pecorreram todo o seu corpo e mesmo antes que eu dissesse alguma coisa, ela sorriu de volta e convidou-me para entrar.


Capitulo 04

__ Desculpe-me por vir. Eu gostaria de convidá-la para jantar ou comermos alguma coisa. Como você acabou de se mudar, acho que não teve tempo de preparar alguma coisa. – disse eu, totalmente sem jeito.
__ Que gentil da sua parte! Acontece que eu já havia preparado um jantar e por que você não fica e jantamos aqui? – disse ela, apontando para a mesa na copa.


Que tempero naquele macarrão! Comia-se com os olhos, com o nariz. Eu fiquei numa ponta da mesa, com os meus vinte e oito anos, de estômago vazio e completamente despreparado para tal beleza, que estava posta diante de mim; falo do prato e da bela jovem.


__ O que está achando da minha comida?
__ Acho que já pode se casar! – encarei-a tão profundamente que senti vergonha de mim mesmo e voltei os olhos ao prato.
__ Não havia pensado nessa possibilidade. Pensei em algo mais simples; em montar um restaurante; coisa assim.
__ Tem vontade de abrir um restaurante?
__ Na verdade não. É que você falou em casamento e eu quis brincar um pouco. – seu sorriso veio e atingiu o meu senso de humor.

Depois do jantar, nos sentamos no sofa da sala e ainda conversamos sobre coisas sem sentido, aí lembrei-me das cartas e tentei entrar no assunto, sem que ela pensasse que eu fosse louco ou coisa parecida.

__ Verdade! Cartas de amor! – a curiosidade atingiu os olhos dela que brilharam com certa intensidade.
__ Sim, essas cartas estavam dentro de um díario desse piloto inglês; o dono desta casa. E ele recebia cartas dela, mas estas que ela enviou à ele, eu ainda não as encontrei. Acredito que elas existam e que devem estar em algum lugar naquela casa.
__ Você pode buscar uma dessas cartas agora? – disse ela, ajeitando-se no sofa.
__ Claro! Volto num minuto. – levantei e corri até em casa e em seguida já estava lá com uma carta nas mãos.

Ingrid deixou apenas a luz do abajur acessa e a sala estava na penumbra, eu quase tropecei no tapete e ao levantar os olhos, deparei-me com ela recostada no braço do sofa, com uma das pernas em cima do sofa e a outra no chão e o braço passando por cima do encosto do sofa e a outra mão em cima da sua coxa. Que visão!

__ Sente-se e por favor, leia para nós!

A leveza da interrupção, tratando-se de um tamanho filósofico, equivalia a um convite; mas ela própria desculpou a curiosidade com que falou. Dali a pouco, ela levantou-se e foi até a cozinha e trouxe-nos café; era tarde, estávamos na sala, uma bela sala; onde o som da minha voz ecoou como uma ópera rústica.

“Minha amada

Quero falar-lhe e não sei o que dizer em meu afastamento! Que me sinto acorrentado às horas, como prisioneiro infeliz, contando-as, minuto a minuto, à espera do momento de solidão. longe dos homens e das coisas, para aproximar-me de você...? Que a vida para mim é vazia e sem sentido, como um fantasma errante... Que essa distância, tirando-a de mim, é um martírio tremendo, ao qual não sei por quanto tempo resistirei...?

Não sei o que lhe diga; como lastimar a tristeza que me invade; como chorar o pouco tempo que estivemos juntos; como desejo estar perto de você! Vou dizer-lhe principalmente isto: amo-a muito mais agora, porque a conheço mais, também.



À distância, esta saudade enorme vai tecendo o fio de sua presença a meu lado e já vejo comigo, a todo o momento, uns olhos tristes que me disseram adeus chorando, a boca linda que me beijava tanto, a voz serena em que se apoiavam minhas palavras apaixonadas e os braços macios que me abraçavam com força!

Pego seu retrato e coloco-o à minha frente, para saber que esta tristeza que me aflige agora tem uma razão de ser, pois você de fato existe e me ama também muito! Responda-me depressa, mande-me um pouco de você, pois assim talvez alivie um pouco a tortura de amor”.


Acabei de ler e ambos ficamos uns instantes em silêncio. Eu pude ver na pouca claridade que havia lágriamas nos olhos de Ingrid. Era verdade patente que havia amor demais presente e ela com os braços caídos sob as coxas, calada, respirando muito ofegante, deixou-se ficar olhando para mim, com seus pequenos e rasos olhos castanhos, que davam uma sensação singular de luz úmida; eu deixei-me estar a vê-los, a namorar-lhe a boca, fresca como a madrugada. A imagem de Ingrid era sublime e tranqüilimente bela.

__ Oh! – ela deixou-lhe escapar um suspiro antes de prosseguir – Que coisa linda!

A voz dela saiu presa, emocionada e assustadoramente linda, fiquei olhando para seus lábios breves e sorri tímido.

__ Você percebeu, não percebeu? – quis saber se ela também sentiu o que eu sentia sobre aquele amor.

Ingrid levantou-se e caminhou até a janela e virou suas costas a fim de olhar para a rua e estranhamente murmurou alguma coisa que não pude escutar.

__ Eles amarara-se como já não se ama mais. – agora sua voz saiu mais alto e compassada.

Levantei-me também e caminhei em sua direção; toquei-lhe no ombro e quando ela virou-se, ficamos de frente e mudos; sem ter forças para resistir; abracei-a e deixei que ela encostasse no meu ombro, inclinei-me a atenuá-la, a entendê-la, não a um padrão impróprio, mas ao sabor da circunstâncias e lugar.

__ Gostaria muito de poder encontrar as cartas de Natalie. – calei em seguida e fiquei com ela nos braços, calida e numa mudez magnificamente linda.



Acrescia que esse quadro era a esperança de que ainda havia muito para conhecer de sentimentos que escapava-me em tantas oportunidades. Veja, duas pessoas que se amaram há muito tempo, uma inclinada para a outra. E nós ali, sentindo um pouco daquilo tudo, mas ainda continha o receio como se sentisse o contato das bocas dos cadáveres. Beijei-lhe a testa, no breve intervalo, entre a boca e a testa, antes do beijo e depois do beijo. Meu ressentimento e minha desconfiança.

__ Bem, eu vou para casa e depois conversamos. Tudo vai ficar bem amanha de manhã. – disse eu, amarelo, palído e desconcertado.
__ Espero que você possa encontrar essas cartas e se quiser eu posso ajudá-lo. Só não sei como... – interrompi-lhe com cuidado.
__ Sei como pode ajudar!
__ Diga!
__ As nossas casas são divididas, mas antes elas eram uma só. Talvez por isso eu não as tenha encontrado lá em casa. Que tal amanha se nós déssemos uma olhada por aqui?
__ Por que esperar até amanha? Podemos começar agora mesmo.
__ Não vai ficar tarde?
__ Estamos de férias, lembra? – ela sorriu um sorriso sarcástico.
__ Você já arrumou seu ármario?
__ Sim e lá não havia nada.
__ Deve haver um lugar!
__ Então vamos acha-lo. Aproveitaremos que muita coisa ainda está fora de lugar. Mõas à obra!

Todavia, ainda continuamos a conversar enquanto vasculhavámos cada canto da casa e a partir daquele famoso dia e que durantes os dia seguintes muitas foram as vezes que demos uma busca na casa dela e muitas foram as visitas dela em minha casa. Não comento os mimos, os beijos no rosto, as admirações mútuas, porque se os contasse, eu estaria sendo exagerado e imaturo.

Certo dia, num fim de tarde; já falido de esperança de encontrar qualquer coisa; fui ajudá-la a arrastar o ármario de jacarandá lavrado, para que ela pudesse varrer atrás e para a nossa surpresa, havia uma tampa pequena no assoalho. Ao abri-lo, lá estava as cartas de Natalie e uma fotográfia e um embrulho também. Ingrid parecia uma criança quando vê doce, com a boca aberta e a mão estendida, esperava que lhe fosse entregue todo aquele empoeirado material. Como não queria deixa-la decepcionada, entreguei-lhe tudo que continha naquele pequeno esconderijo. Corremos até o sofa e ela desamarou o embrulho onde havia um vestido, ainda novo e depois Ingrid abriu um envelope e lá estava a letra bem feminina; a letra de Natalie e depois abriu um outro e lá estava uma fotografia em preto e branco do casal inglês.

__ Meu Deus, como ela era linda. E ela está usando esse vestido aqui! – a minha declaração saiu como uma confissão.
__ É verdade. – dizia-me Ingrid.

E ela dizia isto a contemplá-la na foto entre seus dedos, a procurar melhor luz, e a beijar-me no rosto com uma reincidência impetuosa e sincera. E ía assim, derramando a felicidade dos olhos, e eu sentia-me feliz em vê-la assim. Entretanto, pagava-me à farta os sacrifícios; espreitava os meus mais recônditos pensamntos; não havia desejo a que não acudisse com alma, sem esforço, por uma espécie de lei da consciência e necessidade do coração.

__ Eu vou abrir uma carta dela e vamos começar a ler desde a primeira até a última e vamos intercalar com as dele. Vá apanhá-las enquanto eu tomo um banho e preparo um jantar para nós dois.

Como tomar banho e fazer o desejo esperar, se o desejo nunca é razoável, queria a magia das cartas dela e sentir era tudo o que eu queria. Uma hora e meia se passaram e lá estava eu; pronto, imbatível e tenso demais. O que eu esperava descobrir, que eu não era capaz de sentir os mesmos sentimentos?


Ingrid mandou que eu entrasse e quando cheguei na sala; ela mandou que eu entrasse no quarto de olhos fechados; apenas obedeci as ordens dela sem contestar. Ao entrar no quarto e abrir os olhos, vi-a vestindo o vestido de Natalie. Um vestido preto, curto, liso, onde o colo era mostrado. Nessa época, a moda inglesa escandaliza a europa, que era conservadora e comportada. E as mulheres deixavam de usar chapéu e as longas meias e suas pernas ficavam expostas, com os vestidos curtos. Os ingleses eram tidos como playboys e desajustados.

__ Sabia que Natalie estava usando este vestido, quando ela conheceu o Owen?
__ Deve ter sido por isso que ele se apaixonou por ela. Nossa, você está linda! Uma inglesinha tipica dos anos quarenta. E o que fêz no cabelo a deixou mais bela do que pensei que fosse capaz de ficar – percebi a minha excitação e calei-me.
__ Alisei-os. Gostou?
__ Devia usá-los sempre assim, você fica mais velha, digo, mais séria...
__ Vamos jantar, antes que você se entupa com suas próprias palavras. – Ingrid sorriu e foi para cozinha.



Capitulo 05

Após o jantar, fomos para a sala e meio sem jeito, eu ainda não conseguia encará-la e sentei-me envergonhado, achando-me mais estúpido do sou díariamente, mas quando a voz inebriante de Ingrid soou na sala, lenta e pausada. Relaxei!


‘ Meu amor,

Como é raro o que sinto aqui dentro do peito, apesar do amor estar em mim, e nem mesmo a beleza dessa descoberta; isso não faz com que o brilho dos meus olhos retorne, desde de que você se foi.

Penso no teu beijo doce e cheio de amor e tudo fica inesquecível. Essa guerra que nos separa, que coloca o nosso amor distante e perto, faz-me triste e vivo das lembranças suas, e do sabor dos teus lábios; sim, eu vivo porque vives.

Eu fico aqui, todos os dias olhando para o horizonte, perdida em pensamentos, querendo vê-lo passar num avião, querendo comunicar-me com você. Meus olhos inertes para o céu e esperando uma resposta que não vem. E Deus como eu queria voltar no tempo, e quem me dera acabar com essa guerra. E que assim você não tivesse partido, e se ainda tivesse; que voltasse logo e acabasse com essa dor, que sinto todos os dias, em que você não está aqui, do meu lado.

Sinto estar mostrando fraqueza, mas já não suporto viver assim, tenho medo de que se esqueça de mim e que não queira mais lembrar de mim, e por isso não sei o que escrever. Devo estar sendo infantil e tola, mas esse dia é que não quer acabar. Essa falta que sinto de você, é por saber que você é importante na minha vida.

P.S: Volte logo, meu eterno amor!’



No fundo da minha mente, eu tentava parar para respirar, por alguns instantes e o mais estranho, era que o meu coração parecia não bater e eu pude contar todos os instantes que eu perdi, vivendo sem amar alguém e parecia que eu iria ter um instante a menos de vida.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de perda, mas uma pior, a de estar vazio e seco. Breve como a ocasião, faltava o amor, e eu percebia ali, que eu vivia uma vida de remorsos que rematavam em dor e deixavá-me com o resto de alegria que não eram minha.

Ingrid inclinou-se no sofa e pôs a sua mão sobre a minha e convocou-me a ler a carta que Owen havia respondido à Natalie. Voltando a se aninhar na posição de quem vai dormir, mas seus olhos brilhavam sob a pouca luz na sala.

__ Aqui vai a carta de resposta de Owen. – disse pigareando.




“Meu amor,

Às vezes penso que posso proteger o mundo; meus braços são pequenos e fracos e tomo coragem todos os dias para não fraquejar e ser realmente do tamanho que sou; mas por amor à você e a nossa Inglaterra; encho-me de força e reajo a esse sentimento. O que lhe peço é que encontre forças, para suportar esses momentos de angústias; sei que deve estar passando maus bocados, mas logo estaremos juntos.

Digo que essas aflições serão passageiras e o amor que nos umiu num único beijo, é agora o único freio dessa paixão. Falo de peito aberto, antes mesmo que os alemães ataquem-nos o coração; eles já nos atingiram em cheio, nos separando. Mas, amor, eles jamais farão com que eu deixe de pensar em você num só instante.

Não deixe de olhar para ceú e mesmo que eu esteja longe do ceú inglês, pode haver uma estrela que lhe faça alegre. Ainda que eu esteja longe, saiba que carrego você comigo, em todos os dias, desde de que acordo até mesmo quando durmo. Eu sempre vou pensar em você, até mesmo quando estiver novamente ao seu lado, ainda sim, eu estarei pensando em quanto você é especial, em quanto você é linda e em quanto você é minha.

P.S: Eu nunca vou deixar de amá-la! Depois que descobri nas poucas oportunidades em que estive com você; eu nunca vou deixar de amá-la! Espere que em breve estarei de volta, isso eu lhe prometo’.

Novamente o silêncio nos invadiu e deu-se movimentos aos nossos corpos, e o meu corpo foi esguirando-se ao encontro do corpo de Ingrid. Transmite-lhe a eletricidade do meu ao aproximar-me e o dela, o impulso que precisava para nos abraçar-mos em total embaraço. Nos expressamos mudamente tudo quanto podíamos dizer com os olhos.

Logo eu que não era o mais esbelto, nem mais elegante, nem mais simpatico e fui pego desprevinido, nos braços de Ingrid e desde então percebi que já não estava perdido e nem tampouco sozinho.

Depois do epsódio do abraço, os dias quentes se arrastaram e lentos não apagavam da minha memória os momentos em que fiquei com ela nos braços. Quem disse que eu queria apagar aquela cena da minha cabeça? Ingrid com a pele junto a minha, o contato quente das mãos dela em mim, ficará eternamente grudado em mim.
Deixei que aquele contato fosse se apagando aos poucos e em seguida eu já estava na minha casa mergulhado na minha solitária leitura e desta vez preferi ler apenas o díario; já que as cartas seriam lidas na presença de Ingrid. E foi nesse instante que percebi que as coisas ficaram estranhas, as anotações no díario pararam num ponto. Curioso, fui ver as cartas que ficavam espalhadas pelas páginas do díario e as cartas já não estavam endereçadas a Natalie.
Na verdade, eram cartas escritas como desabafo e procura e as cartas de Natalie eram de esperança e busca. Eles estavam separados, de um jeito assustador; a comunicação estava suspensa, suas cartas já não estavam sendo enviadas um ao outro. Mas ainda sim, eles continuaram escrevendo um ao outro.
Corri para casa de Ingrid e a encontrei-a triste e cabisbaixa e não sei dizer o que senti, mas alguma coisa atingiu o meu estômago, um soco, talvez! Foram cinco minutos de contemplação mútua. Quis saber o que havia acontecido, mas sentia uma escuridão na minha voz; a me calar por completo.

__ Oh! – suspirou ela pondo os braços em volta do meu pescoço.
__ O que aconteceu? – perguntei em seu ouvido.
__ Encontrei novas cartas de Natalie. – a revelação aliviou-me e fêz-me alegre.
__ Onde as encontrou?
__ Num fundo falso do armário. – respodeu ela em voz baixa e melancolica.

Uma janela aberta deixava o vento entrar e sacudir a cortina, jogando-a de um lado ao outro. Estávamos na sala onde começamos a nos conhecer e onde começava a nascer em mim, as novidades que me afligiam em não tê-las.

__ E por que está tão triste? Você leu alguma? – eu disse isto com tom ingênuo de quem não cuida em mal. – ela se afastou de mim e estendeu uma das cartas e pediu que eu a lesse em voz alta. O que logo fiz.


“Meu amor,

Não sei o que nos aconteceu para estarmos separados por tanto tempo; mas eu não consigo acreditar que você possa ter me esquecido. Seria negar tudo o que sentia; para que neste momento, você em algum lugar, já não pense em mim.

Que você não pense nas coisas que me dizia; que você esqueceu do modo em como você olhava para mim e no jeito que você me abraçava. Você não pode ter me deixado de pensar em mim e nisso eu acredito, onde você está?

Porque eu penso em você a cada instante, e mesmo sabendo que você não está aqui; eu continuo a pnsar em você e a esperá-lo. Agarro-me a idéia de que você vai voltar, com seu sorriso lindo e com seu amor intacto e eterno.

P.S: Esperarei por você por toda a eternidade, se preciso for.

__ Então você descobriu também? Eu fui ler o díario de Owen e descobri que ele parou de escrever nele e as cartas não estavam endereçadas à Natalie. Alguma coisa os aconteceu.
__ Vamos adiantar a leitura e ver o que aconteceu.você disse que Londres foi bombardeada em Setembro de 1940. Porque eu não consigo parar de pensar na estória desses dois e alguma mudou em mim. – confessou.
__ Tudo bem, eu vou trazer tudo para aqui e vamos descobrir o que houve.

Breve foi o silêncio que permaneceu. Até que de volta, eu já empunhava o díario e tentava convercer Ingrid que devíamos começar lendo-o para que pudéssemos ter uma idéia clara do que houve.

“A guerra no ar, enquanto, pois, a guerra se desenvolvia à superfície das águas como em baixo dela, a guerra no ar continuava a dar sua contribuição principal a esse aspecto particular do conflito. Extensivos vôos de reconhecimento em terra, durante os quais os aviões aliados chegavam a pontos longínquos do leste tão distantes como a Polônia, eram efetuados por ambos os lados; mas, à exceção de ocasionais encontros de patrulhas, não houve lutas, e nenhum bombardeio de objetivos civis ou militares. Mas os navios de guerra e os mercantes estavam expostos aos perigos da guerra aérea tanto quanto aos dos submarinos e das minas.

Aqui, como no caso da guerra submarina, os neutros desprotegidos é que corriam os principais riscos. Os ataques aéreos alemães a comboios britânicos, conquanto aparentemente em aumento durante o mês de março, foram na quase totalidade infrutíferos. Os bombardeios e metralhamentos de traineiras e navios leves davam resultados dificilmente compensadores da indignação suscitada por tão implacável brutalidade. Ocasionalmente, um navio britânico isolado podia sofrer - como por exemplo o transatlântico de passageiros Domala, vítima, a 2 de março, de um ataque aéreo a metralhadora e o qual ceifou pelo menos 108 vidas, na maioria de indianos britânicos que estavam sendo repatriados depois de um internamento na Alemanha. Mas eram os neutros que ofereciam a presa mais fácil. particularmente porque estavam geralmente desarmados e completamente iluminados. Nove navios holandeses foram bombardeados e metralhados somente a 4 de março; outros três foram atacados no dia seguinte. A navegação escandinava não era mais respeitada pelos aviões do que pelos submarinos. Nem mesmo os italianos escapavam. A 7 de março, durante uma fase particularmente crítica nas relações entre a Grã-Bretanha e a Itália, o cargueiro italiano Emilia Lauro foi vítima de um selvagem ataque aéreo que matou um e feriu três - ação que, conforme observara, lastimosamente, o comandante italiano, "veio como surpresa de nossos amigos".

__ Ingrid, você consegue perceber essa movimentação alemã?
__ A Alemanha estava jogando a Inglaterra contra os aliados?
__ Sim! A falta de proteção aos navios neutros, estava deixando a Inglaterra sem força para comandar os aliados. Deixe-me seguir com a leitura.
__ Deixe-me apanhar um refrigerante para nós. E veja se você pode adiantar até o dia do ataque à Londres. – disse ela, levantando-se do sofa e ajeitando o vestido curto azul e prendendo os cabelos que lhe cobriam a face.
__ Ainda temos que ler bastante até saber em que ponto foi que Owen retonou à Londres.
__ Tudo bem, volto logo. – ao virar-se pude ver pela abertura na parte detrás de seu vestido que Ingrid não estava usando sutiã e é engraçado estar percebendo isto, num momento onde o clima é de inteira frieza. Que horror!


Capitulo 06


__ Aqui está nessa carta, Owen faz um pedido desesperado à sua amada. – disse Ingrid excitadíssima, quase deitando-se sobre mim.


“Meu amor,

Eu estou de volta à Londres, mas essa não é uma boa noticia, acredite-me. A guerra chegará aqui e fomos todos remanejados para proteger Londres. Há planos de um ataque à cidade. Mr.Chuechill declarou não haver pedido de paz vindo da Alemanha e Hitler conseguiu iludir os aliados. Então é chegado a hora; eles faram uma evacuação das pessoas aqui e faça o seguinte:

‘Vá com a sua familia para o mais longe possível de Surrey. Hitler vai atacar Londres depois que a força áerea inglesa teve ordem de bombardear os navios alemães. Natie, pegue sua mãe, seu pai, e seu irmãozinho e vá para York ou Newcastle. Saia daí imediatamente, essa cidade está na rota dos alemães’.

Desculpe-me não estar sendo mais especifico, mas teremos pouco tempo e quero saber que estará num lugar seguro, quando tudo acontecer. Que Deus nos proteja da ira dos nazistas e que nos abençoe.

Amor da minha vida; saiba que hoje e sempre eu estarei com você, e em seus olhos de estrelas. Aqui nesse momento é onde eu deveria estar, mas em outra oportunidade o melhor seria estar ao seu lado e nunca se entregue ao desânimo; nada aqui será deixado a se perder: ‘nem a nossa Londres e nem o amor que sinto por você’ e saiba que ‘lutarei pelos dois’.

Vá para uma das cidades que eu mencionei e faça isso assim que esta carta chegar em sua mãos e como lhe prometi, eu vou cumprir a promessa de estar em breve do seu lado.

P.S: Do seu e sempre seu...Owen.
Quem de nós dois podia dizer alguma palavra naquela hora? A solidão das horas vazou o ambiente e a nossa mente ficou meio confusa, apenas permanecemos quietos, e não querendo nos mover deixamo-nos ficar coladinhos um ao outro. Owen no díario vinha fazendo um relato frio dos acontecimentos; mas nesta carta havia um horror nas entrelinhas, não havia medo mas um sentimento reprimido e isso assustava.
A noite nos apanhou de surpesa e pegamos no sono deitados no sofa, e sem perceber acordamos pela manhã sentindo as mesmas vertingens do dia anterior. Deixe-me estar com os olhos nela, e a achar-lhe linda e por instantes deixei-me cair no abismo das oportunidades; de estar ali deitado com uma bela mulher sob o meu corpo, e deixei-me alisar aqueles cabelos loiros. E nisso surgiu um sorriso; um sorriso magnifico lhe abriu os lábios e depois beijou-me a face, com muita ternura e tão silenciosamente inocente, que me produziu um arrependimento, que pareceu me feir.


Ingrid entendeu; ficou séria e num rompante ajeitou-se no outro canto e envergonhada pediu-me desculpa pela ousadia e quebra de intimidade, dizendo que era alegria que não sentia, desde muitos anos. Pareceu-me que a miséria também lhe calejou a alma.

__ Desculpe-me, eu não sei se foi o susto de ter acordado de repente ou se foi sua empolgação, mas saiba que prometo não ser nunca mais indiferente à você.
__ Fabiano, você não é o primeiro que me promete alguma coisa e não sei se será o último que não me fará nada. - e alcancei-lhe os ombros, nem mesmo a minha ignorância defensora, pareceu resiganada aos toques daquelas palavras e nem minha coformidade foi capaz de tirar aquela sensação de lama.
__ Não sei o que deixaram de cumprir, mas farei promessas que posso cumprir.
__ O que você pode me prometer?
__ Como disse, apenas o que posso fazer. E nunca deixa-la que sinta medo de uma aproximação outra vez – um silêncio se fez presente e metia-me grande sustos e minha confiança não parava aí e ela ouvia-me com aquela unção religiosa de um desejo que não quer acabar de morrer; então eu percebi que a desilusão dela estava abatida.
__ Você não sabe nada sobre mim...deixe-me ficar com as minhas amorfinações...não há gratidão...deixe-me ficar sozinha...por favor, vá agora. – a fragilidade dela foi mais forte do que a vontade que vinha dos seus lábios.

Calei-me, profundamente abatido, e já por amá-la, e também porque eu não conseguia pensar em mais nada e levantei-me sem graça e como se escondendo a tristeza em meus olhos e fui andando e andando até a porta e diria que a amava se isso significasse que ela fosse ficar mais feliz.

__ Acredite, Fabiano. Você ainda vai rir de mim e desculpe aquele desabafo e é que tenho um negócio que me morde o espírito. – ela riu de um modo sombrio e triste.
__ Eu vou mais tarde e...deixe estar. Até logo! – despedi-me sem vontade e era como se fugia dali e sei que ficou alguma além do receio de ficar.

E quando o dia terminou, aquele amor imperfeito se mexia e se contorcia dentro de mim e eu só conseguia pensar numa coisa vaga e sonolenta, e quando pensava em Ingrid, aí sim, tudo se movimentava rápido e colorido. E não fazia a menor idéia dos motivos que a fazia querer afastar-se de mim; o certo é que eu estava próximo a descobrir e seja o que eu teria que ter paciência.
Dias depois ela contou-me todos os seus tédios; amarguras engolidas; contou-me das esperanças perdidas e dos sofrimentos causados pelos outros, por suas intrigas. Evidentemente havia aí uma crise de melancolia e combalida retraiu-se em suas mágoas e isso veio logo a mim, que nunca soube conduzir minha vida, que dilema!
Falei de mim e também dos meus medos e distancias e Ingrid calada nem olhava para mim e seguiram muitos segundos de retração ou o que padecia ainda era só mágoa. Em vão procurei no rosto dela algum vestigio de luta ou e um perdido sorriso, mas só havia dor a mesma dor que não se dissimula, por doer demais e era provável que Ingrid padecesse do mesmo mal que eu padecia. Estava aí uma metafísica!


Dali a pouco, eu já estava com uma parte selecionada e confesso que foi estranho e sombio ler sobre aquele massacre, e escrito por alguém que esteve tão de perto.

“No dia 7 de setembro 1940, ao invés de jogar bombas nas posições militares tais como os hangares e bases da marinha, Os aviões alemães voltaram suas atenções à Londres e sua população de 9 milhões de pessoas. Hitler planejou invadir a Inglaterra e parte da razão em atacar Londres não foi apenas para destruir o comércio e alvos comerciais, essencial para a sobrevivência da economia do país mas também para destruir o moral da Inglaterra.
Então o ataque aconteceu quae às cinco horas naquela tarde de setembro de 1940, os primeiros bombardeiros chegaram para lançar bombas incendiárias nas docas londrinas. Bombas incendiárias são usadas para começar incêndio e isto dava a luz das docas incêndio e chams que guiavam os outros bombardeiros para atingirem seus alvos mesmo na escuridão da noite. Desse jeito, o bombardeio continuou constantemente através da noite até às 4:30 da manhã seguinte.
Este foi o começo da Blitz ( palavra alemã blitzkrieg que significa guerra relâmpago ). A blitz caiu sobre Londres. lojas, escritórios, igrejas, fabricas, portos e lares suburbanos, todos foram encontrados vitimas. Isto foi nove meses antes que os londrinos fossem capazes de aproveitar uma noite inteira de sono, livre dos ateques aereo, livres das sirenes, livres, livre do som das bombas caindo em volta deles.
Quando eu cheguei para apanhar meu avião para ir combater aquela carnificina, "Primeiro, foi um alerta, um lamento que crescia e caia por dois minutos. Não havia uma sirene mas várias, como uma nota que fosse levada de municipio a municipio. Aí, houve uma pesada, irregular batida dos bombrdeiros. Depois houve muito barulho. O uivar dos cães, o som alto das bombas explosivas caindo, como um rasgar de lâmina, o barulho da incendiarias nos tetos calçadas; o barulho estúpido das paredes caindo; o alarme de roubo que a destruição tinha ajustado; o crepitar das chamas, o barulho dos vazamentos, e o sinos do corpo de bombeiros".
Londres não foi a única cidade a sofrer o duro bombardeio e difundida morte e destruição. Entre os outros alvos alemães estavam importantes cidades industriais e portos, tais como Coventry, Birmingham, Hull, Bristol, Plymouth, Glasgow, Southampton, Manchester, Merseyside, Sheffield, Portsmouth, and Leicester. Partes da cidade de Kent e Surrey foram alvo do pejuizo das bombas e a area ficou conhecida como beco das bombas este foi o caminho da rota até londres pelos aviões alemães’.

Quando terminei de ler, Ingrid apertou-me em seus braços e envolveu-me numa espécie de abraço, que parecia um pedido de proteção. Com os olhos marejados e um tremor no corpo; ele era a própria imagem de uma desolação preocupante, era um misto emoção e tristeza, pela narrativa de um massacre impiedoso. Prossegui com a leitura.


“No dia do ataque alemão a Londres, eu voei sobre a cidade e derrubei onze bombardeiros e oito caças alemães. Nessa batalha desumana eu fui atingido por três vezes e ejetando-me; voltava ao hangar e apanhava outro avião e novamente retornava ao combate aéreo. Tínhamos poucos pilotos e na verdade tínhamos poucas armas para lutar e as palavras de Mr. Churchill eclodiam dentro dentro de cada inglês naquele dia. Ele disse para que fizéssemos o que se podia fazer, e isso transformou a nossa inferioridade em coragem.

Depois de horas seguidas de ataque, sobrevoando Londres, eu vi a cidade em chamas; os museus; os cinemas; os teatros; a ponte e o Tâmisa em chamas. As bombas alemães V-1 e V-2, incendiaram Londres. Pude ver os ‘homes guards’ lutando em terra, e as mulheres bancando enfermeiras e outras pessoas indo em direção ao metrô, para esconder-se dos ataques. E jogávamos panfletos um discurso de Mr. Churchill que dizia:

“Hitler sabe que ele terá de nos vencer nesta ilha ou perderá a guerra. Se nós conseguirmos resistir a ele, toda a Europa poderá se libertar e a vida no mundo inteiro poderá progredir. (…) Mas, se fracassarmos, o mundo inteiro, incluindo os Estados Unidos, incluindo tudo o que conhecemos e que nos é importante, afundará no abismo de uma nova era de trevas”

Inflar o ânimo da população e preparar os ingleses para a provação que teríamos que passar e que se iníciava dentro daqueles dias. Eram estes os dois principais objetivos do nosso primeiro-ministro britânico Winston Churchill quando pronunciou este discurso em uma Londres que respirava os ares pesados da Segunda Guerra Mundial, uma cidade dividida entre a responsabilidade de ser o centro da resistência européia contra Hitler e ao mesmo tempo o alvo da próxima investida dos alemães.
Naqueles dias tensos de 1940, quando 58 nações das mais variadas regiões do planeta estavam envolvidas no maior e mais sangrento conflito da história da humanidade, Hitler havia acabado de declarar o início da ofensiva militar contra a Grã-Bretanha, essa operação que recebeu o nome de “Leão-Marinho”. O líder alemão vinha respaldado por sua impressionante campanha que o levou a conquistar, em pouco mais de 2 meses, entre 9 de abril e 14 de junho de 1940, nada menos que 5 países europeus (Dinamarca, Holanda, Bélgica, Noruega e França), deixando a ilha britânica como o último grande objetivo na Europa ocidental a ser anexado.
A conquista destes países deu a Hitler importantes bases aéreas para que a Luftwaffe, a força aérea alemã, pudesse tentar abrir caminho para a planejada invasão que se seguiria pelo mar. A garantia de um desembarque seguro das tropas nazistas dependia sobretudo da eliminação da RAF (Royal Air Force), a força aérea britânica, de suas instalações em terra, suas fábricas de aviões e seus hangares de manutenção. Apesar da ressalva do líder alemão de que num primeiro momento seria terminantemente proibido o bombardeio de cidades inglesas, o que se seguiu foi um dos maiores confrontos aéreos da história, a “Batalha da Inglaterra”.

Com equipes experientes e uma superioridade de 2 por 1 no número de aeronaves, a Luftwaffe entrou na batalha absolutamente confiante no seu sucesso, subestimando dois fatores fundamentais em seus inimigos ingleses que aos poucos começavámos a inverter o quadro inicialmente favorável à Alemanha: a eficiência do nosso sistema integrado de radares e principalmente o arrojo dos pilotos britânicos. Tornamos símbolos de bravura, com os casos de pilotos da RAF que tínhamos os aviões atingidos, saltávamos de pára-quedas e voltávamos a lutar com outro avião ainda no mesmo dia. O fato de lutarmos "em casa" era outra grande vantagem, pois os nossos valiosos pilotos obrigados a abandonar seus aparelhos, mesmo os que caíam no mar, ainda podiam ser resgatados pelas equipes de busca inglesas.
Dia após dia, a RAF foi consolidando sua supremacia no ar, batendo sucessivamente a aviação inimiga. Quando o número de baixas dos alemães aumentou consideravelmente, Hitler mudou seus planos e a proibição inicial de bombardeios às cidades inglesas foi suspensa. Estaávamos liberados os ataques aos grandes centros urbanos que buscavam apenas espalhar o terror e a desorientação entre a população inimiga. Tinha início as operações que eram conhecidas como “Blitz”.

Londres foi atingida pelas primeiras bombas nazistas em 24 de agosto de 1940, mas nós da RAF conseguimos impedir que pontos estratégicos, como terminais petrolíferos e fábricas de aviões, fossem afetados. Infelizmente, o mesmo não ocorreu no dia 7 de setembro, quando a Luftwaffe desferiu seu primeiro ataque em massa contra zonas residenciais de Londres. O ataque foi realizado entre as 5 e 6 horas da tarde, quando cerca de 320 bombardeiros, escoltados por mais de seiscentos caças, vieram acompanhando o rio Tâmisa e bombardearam o arsenal de Woolwich, o gasômetro de Beckton, Dockland, a usina elétrica de West Ham, o centro da cidade, Westminster e Kensington. Incêndios enormes foram causados pelo ataque, e a população de Silvertown teve de ser evacuada pelo rio. Às 20h10 do mesmo dia, mais 250 bombardeiros realizaram um novo ataque que durou até as 4h30 da madrugada. Entre a população civil houve 430 mortes e cerca de 1 600 pessoas seriamente feridas. A Brigada dos Bombeiros de Londres lutou durante o dia todo para dominar os incêndios. Às 19h30 do dia 8, apareceram duzentos outros bombardeiros, que, guiados pelas chamas, realizaram uma nova Blitz. As cenas da população correndo para as estações de metrô em busca de segurança durante o bombardeios ficaram gravadas na minha memória, enquanto eu cobria o conflito. "É quase inacreditável o que eu via quando abatido, no chão procurava voltar, ali no chão eu via como as pessoas estão relativamente calmas após essa terrível experiência. Existia uma certa dose de terror, mas não na escala esperada pelos alemães e certamente não numa escala que faça os ingleses pensarem em qualquer outra coisa a não ser prosseguir com a luta. O medo se misturava a tal ponto com uma raiva profunda e quase incontrolável, que era difícil saber onde terminava um sentimento e começava o outro."


Capitulo 07

Apesar das sucessivas vitórias da nossa aviação inglesa, foi no dia 15 de setembro, um domingo, que consideramos como a data-chave da Batalha da Inglaterra. Passava das 10 horas da manhã quando a Luftwaffe aplicou seu mais pesado bombardeio sobre a ilha. O centro do ataque era Londres e alguns parques industriais, que foram sistematicamente alvejados por formações nazistas que chegaram mais de 500 aparelhos na operação. Uma bomba chegou a cair nos jardins do Palácio de Buckingham, a poucos metros do quarto do Rei George VI, mas não explodiu. Ao final de um combate aéreo que durou cerca de 24 horas e atingiu seriamente algumas regiões da City londrina, a RAF havia novamente conseguido expulsar os invasores.

O fracasso deste novo ataque levou Hitler a adiar a decisão de desembarcar suas tropas na Inglaterra, ciente de que sua força aérea havia fracassado em estabelecer condições ideais para que os alemães pudessem cruzar o canal da Mancha. Essa tentativa havia custado nada menos que 1.733 aparelhos à Luftwaffe. Foi uma grande vitória britânica, uma batalha decisiva que teve o poder de mudar os rumos da Segunda Guerra e abrir caminho para que os Aliados passassem à ofensiva contra os nazistas que até então mantinham a aura de invencíveis.

Nós, os pilotos da Royal Air Force passamos a ser tratados como verdadeiros heróis, Mr. Churchill chegou a pronunciar essa frase: “Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos”.
A maioria desses relatos escrevi depois do combate e inseri o que senti e vi naqueles dias de conflito e vou parar aqui de escrever nesse díaro. Não sei se os alemães vão retornar aqui, mas o certo é que se voltarem ainda lutaremos até a morte; ou até vencê-los.

Eu ainda queria um pouco mais e sei que essas vitórias aliviaram os ingleses. Por outro lado. Agravou-nos a situação. O porto de Londres estava reduzido a um quarto de sua capacidade. transformou-se num pesadelo a busca pelos parentes, já que o número de refugiados era imensa. Como eu faria para achar a minha Natalie. Em york, ela não estava e nem em Newcastle.
Começava a minha noite de agonia, todos da minha familia estavam mortos; meus pai e meus irmãos lutaram e foram mortos, minha mãe e minha irmã forma atingidas por uma bomba incendiara. A familia de Natalie, também estava entre as vitimas em Surrey; eu não sei o motivo que os fizeram ficar na cidade, mas descobri de forma dura que eles permaneceram lá e que agora Natlalie estava desaparecida e que de alguma forma, eu teria que encontrá-la’.


Percebemos que a partir desse ponta da vida de Owen, ele começava a caminhar sem ter a nemor noção de onde estava indo, nem mesmo podia imaginar o que seria mas cuja solução foi entregue ao destino. Pobre rapaz!

Ingrid veio em minha direção e com sua magnifica voz de menina e disse junto ao meu ouvido que não há amor possivel sem a oportunidade da busca e se houvesse busca, então haveria amor .

Estremeci, segurei-a pelos braços e retrebui-lhe com as palavras oportunas, dizendo que o amor nem sempre precisa de dor; frio; apuros e vigilias. Se estamos preparados para amar é que a paixão confirmou que a dor se foi e só sobreviveu o amor.
Ela olhou-me nos olhos por interminaveis segundos e sem dizer nada, saiu da sala e entrou no quarto, retornando em seguida e sentando-se ao meu lado, segurando um pedaço de papel.

__ Isso é uma prova de que todas as leis do amor podem ser enganadas. – então olhando-a nos olhos percebi que talvez eu tivesse provocado aquela tristeza e compreendi logo o tamanho do meu erro. Eu tinha sido inoportuno.


__ Para quem foi este cheque?
__ Um rapaz! Ele cercou-me de carinho e cuidados e entrou na minha vida. Durante algumas semanas achei que estávamos para o amor. E tudo se transformou em susto e vexame. Desculpe, mas ainda não estou preparada para contar mais nada além do que disse. – ela ficou subitamente séria e eu achei-a tão bela e abanei a cabeça com um sorriso de ternura.
__ Os sustos e vexames acabaram. – disse eu cheio de virtudes e era uma compensação; já que não podiam ser os meus amores, que provavelmente acabaria com aquele resto de natureza humana dela.

Ingrid com a boca semi-aberta, as sombracelhas arqueadas; numa indignação visível, que não se podia negar. Fitou-me zangada e levantou-se e depois veio a mim e custava-a sair as palavras de sua boca. Confesso que nunca vi olhos mais pasmados e isso confundiu-me inteiramente. E logo seguiu-se um ar pueril que costmava ter, em certas ocasiões, e eu ouvi-a queixar-se quase sem dizer nada.

Levantei-me, segurei-a e atirei-a delicadamente na cadeira e fui de um lado ao outro da sala, sem saber o que falaria. Pensei e pensei e não havia nada que fosse proveitoso a se dizer; havia eu de ser sincero e se minha sinceridade fosse usada como uma arma letal. Porém era preciso compeli-la; traze-la de volta à vida, e mesmo eu que também estava perdido. Ali estava uma boa oportunidade de se obter salvação.
Ingrid permaneceu desorientada no sofa, mas não mexera um único musculo. Continuara a minha espera, à espera que eu dissesse algo que pudesse aliviá-la ou mesmo consolá-la. Naquele instante, se fosse contar o quanto os minutos foram longos e penosos, eu teria que demorar mais que um dia para vê-los terminados.

__ Você não faz idéia, que eu também tenha que enfrentar o meu fracasso. Eu me olho no espelho todos os dias e tenho que aceitar que falhei e que por isso tenho que pagar um preço, que às vezes é difícil de suportar. Tenho estado sozinho há muito tempo. Fui pego por um sentimento que pensei ser o amor, e foi o egoísmo que se lançou sobre mim e fiquei com o problema, que o sentido do amor não resolveu. Creio que essa força que precisava para recuperar-me tinha igual intensidade, a força que me empurra para baixo e isso investia em mim e digo que nenhuma das duas cedia e então decidi que eu não tinha coragem de enfrentar-me novamente.
Mas quando naquele dia abri a porta à você, tudo ruiu, meus temores e receios simplesmente se foram e durante muito tempo em que estiveram comigo, aquela foi a primeira vez que me abandonaram e senti-me livre como há muito tempo eu não me sentia e agora se você quiser se esconder, eu vou compreender. – fui até a porta e pude ouvi-la soluçar e quase que voltei, para enxugar-lhe as lágrimas, mas subjulguei-me e saí. Seria abusar da fraqueza de uma mulher e essa culpa eu não queria carregar.- não havia mais o que dizer ali e retirei-me, deixando-a em silêncio e sozinha com o que pensar.


Logo depois já em casa vinha outra vez a vontade, e dáva-me conselho egoísta, e eu ficava inquieto e desejoso de ir vê-la. Deste modo, impedi que a minha vontade fosse posta a força contra Ingrid e permanci em casa. Com qual motivo eu voltaria a vê-la naquele instante? Acho que era o certo deixá-la pensar e repensar em sua vida.

Sucedeu que no dia seguinte, ela veio até minha casa e muito abatida parecia não querer tocar no assunto da noite anterior. E isso causou-me um frio na barriga, um mal-estar percorreu todo meu corpo; uma sensação forte, singular. Num gesto rápido prendi-a nos braços e beijei-lhe o rosto. Ela estremeceu, fitou-me nos olhos e depois escondeu o rosto entre as mãos e com um gesto simples, desferiu-me um golpe certeiro com um olhar misterioso.

__ Sinto muito por não ter falado com você, ontem. Apenas quero deixar tudo ficar para trás. Espero que entenda.
__ Ingrid, acredite em mim. Todos nós queremos deixar alguma coisa para trás. E não se importe tanto, e saiba que eu não estou chateado. Vamos entrar!
__ Obrigada!
__ O que vamos fazer?
__ Eu trouxe duas cartas de Natalie e parece que as datas são de uns meses depois do ataque à Londres. – ela ergueu a carta e ficou balançando-a.

Ela ainda estava muito cabisbaixa, mas a jovialidade já aparecia em seu rosto e isso causava-me um certo alivio. E depois de estarmos um ao lado do outro sentados à mesa e parecia tão contente, e por cima da página olhava-me de quando em quando, serena e misteriosa.



Capitulo 08


“Meu amor,

Mais um dia longo e sem a tua presença ou uma noticia que seja; sinto não ter dado ouvido ao seu pedido e lamento muito. Meu pai quis ficar e lutar e quando não esperávamos numa tarde veio as bombas incendiarias e cairam em nossa casa e levaram meus pais e meu irmãozinho e eu não pude deixa-los morrer em vão e fui ajudar os outros feridos e banquei a enfermeira. Havia muitos feridos e qualquer ajuda seria necessaria.

E dias depois, uma bomba caiu perto do cais, onde nós estávamos e eu fui atingida. Não sei quantos horas fiquei desacordada, mas ao fazê-lo, eu estava na Polônia, um navio alemào nos recolheu e não estou certa dos dias em que fiquei desorientada e não havia contato possível com Londres e fui informada por um piloto inglês, o Knots, que estava ferido que você havia morrido durante os combates; que ele o viu sendo atingido, mas apesar de terem encontrado o seu avião entre os destroços. Ainda acredito que esteja vivo, não sei o porquê, mas sinto isso.

Meu querido, eu nunca vou acreditar que você tenha me deixado; sei que sobreviveu, eu sinto isso no meu coração e sinto que ainda vamos nos encontrar. O amor que tenho por você está vivo e me diz todos os dias que você também está e isso me mantem alerta e esperançosa. Você é a melhor coisa em mim e eu nunca vou desistir de encontar-lo.

P.S: Sua sempre, sua, Natie’.


Ao términar de ler Ingrid parecia resoluta a aceitar as emoções que eram desvendadas e descobertas, caía um véu e tudo se abria, de forma lenta e interminável. Olhei-a por sobre a página e seu olhar vinha direto e meigo, a beleza do rosto era natural. Respirei lentamente e tive ânimo para estender-lhe a mão e por cima da página sentia que ela queria a mesma coisa; ainda depois de apertar a minha mão, com carinho e cuidado. Antes dela levantar-me para apanhar uma outra carta de Natalie, deixei um olhar de alegria.


“Meu amor,

Essa dor ainda é real e sei que deves estar sentindo a mesma dor, e essa solidão que vive dia e noite em nossos peitos vai acabar. Já faz mais de um ano e ninguém dirá que eu não deixei de lembrar; de lhe procuar; ainda tenho coragem para arrumar um jeito de te levar a qualquer lugar onde eu for.

Nossas vidas são tão pequenas, mas ao mesmo tempo parecem ser maiores que nós dois, e amor da minha vida, sem você o sentido de continuar fica estranho, e por isso, eu continuo a buscá-lo e não digo que dentro de mim, mas em lugares fora de mim.

Penso em você, em como deve estar e fico imaginando em como será o dia que nos encontrarmos e de todas as coisas que vamos conversar e nos vejo felizes e assim são os dias em que estou passando sem você. Sempre o mantenho na mente, para que cada traço do seu rosto, permaneça igual e cada movimento do seu corpo continue igual e que a sua voz nunca mude. Eu o você seja sempre o que tenho dentro do meu coração.

Assim é como me sinto, mesmo com essa saudade; que consegue transformar a tristeza infinita que sinto em certeza; a certeza que tenho em encontrá-lo. Lembrá-lo e procurá-lo, traz para mim o encanto das horas que vivemos no passado. Volto a sentir o gosto dos beijos seu e isso faz tudo ficar calmo e inesquecível. Volta o som de suas palavras em meus ouvidos e isso me faz voltar a ser feliz.

Às vezes confiamos cegamente em qualquer coisa e quando eu deixei de confiar em você; veio uma bomba e nos separou, mas depois de tudo, eu não posso ficar arrependida e desanimada, e não foi culpa minha não lhe acompanhar ou simplesmente aceitar em deixar Surrey.

Só lhe digo que tudo que aconteceu comigo, era algo que tinha que acontecer, era a vontade de Deus. Só assim eu teria em quê aprender e agora poder tirar forças para continuar. Não me importa se tiver que passar meus dias em buscas e farei isso até lhe encontrar e dizer-lhe que jamais deixei de acreditar em você e de lhe agradecer por sua preocupação em me avisar dos perigos.

Tenho certeza que você é o meu mundo. A saudade que tenho da vida e a beleza das coisas e dos momentos que passamos, faz com que eu pense em você e que não me deixa sentir abandonada em tristeza e dor.

Sei que você também nunca se esqueceu de mim; e que lembra de tudo em mim. Que não nunca pensou em desistir de mim, e que continua a me procurar, com a alma e com o coração.

P.S: Ainda vives no meu amor; você será sempre infinito em mim”.


Oprimia-nos duas coisas que dissemos depois das cartas; sabemos que quem escapa e um perigo ama a vida com mais delicadeza, e o amor valia mais do que tudo. Saber que Ingrid sofrera porque confiara em alguém e que Natalie também sofrera pela mesma confiança. Deixou-nos com essa interrogativa e uma ruga crescente na testa. Era uma lição?

__ Por que me olhas assim?
__ Você não sabe o quanto é bom lhe ver! – disse-lhe sorindo.
__ Você sabe que não é disso que estamos falando.
__ São tudo pequenas coisas e não deixe que isso continue a lhe fazer mal.
__ Isso é insuportável!
__ Tão insuportável ao ponto de não querer ir comigo ver o mar do Arpoador?
__ Nossa! Quase me esqueci que eu estou no Rio. Ainda não conheço o mar daqui. – seu semblante reluziu e ficou para trás a ruga de preocupação.
__ Então deixe-me pegar a chave do carro lá no quarto e já vamos.
__ Calma! Eu preciso ir em casa colocar o meu biquini e... – não deixei que ela continuasse a falar, apareci da porta do quarto e sorrindo emendei.
__ Não será preciso. Lá todos ficam nús!
__ Nossa como vocês cariocas fazem qualquer coisa por sexo.
__ Quanta maldade! Vocês paulistas são tão ultrapassados. Vá logo buscar esse biquini, antes que eu me arrependa e mude de idéia.

Diante da belza do mar, os olhos de Ingrid saltavam-lhes das órbitas e buscavam a visão do infinito e ela não conseguia dizer nada além de ‘que lindo’ e ficava com as mãos na boca e eu a adimira-la; feliz e bela. Eu que sempre me mantive frio como um pedaço de mármore, tive ímpetos de atirar-me em seus braços e antes que eu pudesse unir os pensamentos a ação; ela pegou-me pela mão e ficou alguns instantes a olhar para mim, e depois levantou o vestido ainda molhado, sacudiu-o e caminhou até as pedras.

__ Vamos subir ali e ver toda essa beleza lá de cima? – aquilo não foi um pedido, foi um apelo de uma criança feliz.
__ Claro! E quando cansar de olhar para o mar, nós vamos beber um coco gelado e comer alguma coisa.
__ Nunca vou me cansar dessa visão magnifica.
__ Então seremos dois a adimirar uma visão magnifica. É que você fica muito mais linda quando está assim olhando para esse mar.

Ingrid refletiu um instante e adorei a expressão que fazia enquanto sorria para mim. Enfim em meio a tantas sensações profundas e contrárias, achava-a feliz e certo estava eu em pensar que ela bem pode me amar. Mesmo que fossem dados mil beijos; mas não seria a mesma emoção de ver olhos tão rutilantes. Seria impossível que nada chegasse lenta e nada artificialmnte ou sem sacrifícios.
Eu não lhe dizia nada e ela batia nervosamente com a mão nas minhas costas; encostei-me nela e beijei-a na testa e ela recuou, como se fosse um beijo de um morto e sorriu; reclamou do forte calor .

__ No que estava pensado? – perguntou-me interrogativa
__ Em como vamos fazer para que o Monza pegue. Já que não estacionei-o numa ladeira. – rimos um pouco e a tentativa ficou deixada par atrás e o meu receio me dominava mais uma vez e me impedia de pegar o que eu queria.
Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, mais sabia que estava acontecendo alguma coisa importante e todo o vendaval estava passando e levando embora todas as rugas colhidas em nossos rostos e se queríamos alguém bastava lembrar que estávamos ali, bem mais próximos e tínhamos o coração.

Depois do dia agradável que tivemos chegamos em casa já no começo da noite e fomos direto para o chuveiro; claro eu em minha casa e ela na casa dela. Para depois nos reunirmos para ler as cartas em que Owen procurava por Natalie.







De banho tomado, Ingrid entrou pela sala e a luz refletiu em seu bronzeado e seu vestido bem decotado deixava à amostra seu colo e com a transparência do tecido, eu podia deliciar-me com todo o seu esplendor.

__ Vamos começar a ler? – disse ela avermelhando as faces.
__ Claro! Sente-se ali. – apontei para a cadeira perto da mesa.
__ Prefiro que seja no sofa. É que esse passeio deixou-me cansada.
__ Confesso que eu também fiquei cansado.
__ Hum, um carioca ficar cansado por ter ido a praia?
__ Apesar do meu trabalho dar-me férias nessa época de calor; eu sempre fico a preparar as aulas ou a estudar e só venho a praia em alguns fins de semana e é raro. Sinto muito decepcioná-la ao não ser um ‘carioca’ expert em praia.
__ Não se sinta mal por isso. Eu sou paulista e não sei fazer pizza e não morro de amores por macarrão e nem por pasteis.
__ Isso é uma confissão?
__ Se tiver que ser usado contra mim depois, bem eu terei que negar.
__ Ainda bem que você disse isso, porque eu gravo todas as nossas conversas, em caso de alguma coisa ter importância mais tarde.
__ Achá-lo um menino de praia é um crime?
__ Não! Mas ainda bem, que você não pensou que eu pudesse ser um bandido ou coisa semelhante, apenas por eu ser carioca?
__ Acho que temos um impasse aqui!
__ Não acredito que haja um. Eu vou voltar a fita e apagar tudo. – fui até a ela e tomei-lhe as mãos e a conduzi até o sofa.
__ Acho que agora terá que me manter em cativeiro.
__ E perder sua compania nos próximos passeios que estou planejando. Dinheiro nenhum no mundo vale isso. – sentei-a e em seguida sentei-me ao seu lado.
__ Onde estão as cartas? – perguntou ela olhando para as minhas mãos minuciosamente.
__ Ih, que coisa! Eu sabia que eu estava me esquecendo de alguma coisa e era, as cartas. Não saia daí que volto logo.

Antes de entrar no quarto ainda virei-me para guardar a imagem de Ingrid, que sentada encolhia as penas para cima . Com as costas apoiada no braço do sofa e pendendo a cabeça para frente, para ficar olhando os seus cabelos e os alizando-os em movimentos continuos, de cima para baixo. Que visão!

__ Bem, aqui estão as cartas! – disse eu exibindo-as.
__ Você as lê, por favor! – ela soltou os cabelos e desceu uma das pernas e então pude ver parte de sua coxa e abri um sorriso malicioso e sem fundamento.
__ Você não quer alguma coisa antes de começarmos?
__ Estou bem, obrigada!
__ Então relaxe que vou dar inicio. – apertei os olhos para poder ler e inclinei-me para trás, a fim de ficar na direção do teto

“ Meu amor,

Sempre que anoitece a solidão do dia chega, e pego-me a pensar em você. Em que lugar você está e o que deve estar fazendo. Sei que eu deveria deixar que você siga com a sua vida, mas eu não quero desistir de procurá-la; porque o amor sem fim ainda existe em mim e a saudade penetra meu coração e me faz continuar e continuar.

As tuas palavras vagam dentro de minha cabeça e parece que só este som existe e sigo implorando que me leve até você e acabe com essa angústia e que você venha de volta para os meus braços. Sinto a tua falta e disso tiro a força que preciso e insisto em acreditar qua ainda vamos estar juntos novamente.

Tenho você comigo e nunca vou deixar de tê-la e onde quer que você esteja, tenha certeza que vou traze-la de volta. O tempo que está passando e pode levar séculos, e ainda sim, sei que o que sentimos não vai se acabar. Eu não consigo acreditar que você siga com a sua vida sem mim e sei que isso deve estar lhe causando tanta dor. Perdoe-me por deixá-la passar por isso, perdoe-me.

Estive em diversos lugares em Surrey e até soube que você foi uma das muitas enfermeiras por lá e que depois disso, não houve mais noticias suas. Sei que esteve com os refugiados que se feriram e que chegaram navios de bandeiras Holandesa, Grega e Italiana por lá e dessa pista é que espero encontrá-la’.


Parei de ler apenas para olhar nos olhos de Ingrid, que se aproximara de mim e ansiosa aguardava que eu continuasse a ler este episódio e eu aguardava que ela se ajeitasse; para em seguida voltar a ler:


“Sei que você não pôde atender o meu pedido de deixar Surrey e se eu fosse o seu pai, também teria ficado e lutado. E se depois você tivesse vindo à Londres a minha procura, você não teria me encontrado também, porque fiquei por quase um ano em Brigthon, fui levado para lá depois de ter sido atingido e ficado em coma por quatros dias e quando finalmente saí do coma, descobri que eu havia fraturado as duas pernas e era impossível voltar à Londres.

Ao estar em Surrey bombardeada e ver os lugares que só nós conhecíamos tão bem, eu pensei que lugar era aquele, era aquela cidade que nós amavámos? Tudo vazio e sombrio, as árvores caídas, mortas e os prédios destruídos pelo fogo, a nossa igreja ao chão e as ruas que levavam ao rio. Ainda sim, nos olhos das pessoas havia algo em quê confiar e lhe digo que a nossa cidade vai se reerguer e nós ainda vamos passear por nossas ruas de mãos dadas.

Vou continuar a lhe procurar e tudo isso será apenas uma estória que contaremos no futuro e vamos voltar a sermos felizes como antigamente. É nossa sorte amar-nos e estarmos jungidos um ao outro; como duas almas numa só. Preciso de você ao meu lado, para poder saber que tudo isso não foi em vão, e que o nosso amor, dado por Deus, continuará a ser abençoado, com nossa união fisíca.


P.S: Natie, espere por mim e não desista nunca’.


Com efeito, percebia-se que Owen não cansara de procurar pelo seu amor, e não lhe pesava o fato de Natalie não ter saído de Surrey. Ele compreendi-a de forma sincera, apesar do que havia lhe acontecido. Estranhamente, eu dei uma olhada em Ingrid e quando levantei a cabeça para olhar para o teto; ela olhou-me de volta e veio a mim e abraçou-me fortemente.

__ Precciso lhe contar porque resolvi vir fazer faculdade aqui. – suas mãos pareciam feitas de gelo, de tão geladas que estavam.
__ Diga! – movimentei as minhas mãos em círculo por suas costas, pensando em acalmá-la um pouco, para que ela pudesse contar o que estava havendo.
__ Eu tive um noivo...há sete anos atrás... – começou ela a revelar um segredo, que talvez para ela fosse uma maldição.
__ E o que aconteceu?
__ Quando nós nos conhcemos; ele parecia adivinhar as coisas que eu gostava e procurou me conquistar, de todas as maneiras possíveis. Ele era carinhoso, sincero e meigo. Apesar que eu ainda não tivesse me apaixonado por ele; eu estava sozinha há algum tempo e a presença constante dele fêz-me acreditar que ele me amava e dei uma chance a ele.
Dali em diante, começamos a namorar; saíamos e nos divertíamos, ele era agradável e tinha um ótimo senso de humor. Passamos todo o inverno juntos e em São Paulo, o inverno dura mais tempo do que aqui e isso foi quase seis meses de convivência. Ele já conhecia minha família toda e todos os meus amigos.
O que era engraçado, era que ele conhecia mais de mim do que qualquer um e eu pouco sabia dele, apenas o que ele contava; sua família morava no interior de São Paulo e ele não tinha muitos amigos e trabalhava num escritório; onde ele não podia atender o telefone. – Ingrid fêz uma pausa e respirou fundo, talvez buscasse coragem para prosseguir.
__ Você tem certeza de que quer fazer isso? – perguntei-a segurando o seu rosto com a mão e o ergui em minha direção.
__ Sim. Não é nada. pode deixar que eu estou bem. Então, mesmo não estando apaixonada, eu confiava nele e ele me respeitava e isso eu adimirava nele. E foi buscando a minha confiança que ele me seduziu e me conquistou. Ele propos casamento e insistiu em ficar noivo. Mergulhei de cabeça nesse sonho e como sempre fui certinha, e disso me orgulhava, passei a ser a noiva.
Todos estavam felizes, e todos o tinham como um homem dos sonhos; bom; honesto; trabalhador e muito atencioso. O que mais eu precisava para ser feliz? Tinha tudo que eu achava que nem merecesse, e diante desse cenário, tudo começou a acontecer rápido e desumano.
Em menos de um mês, ele já havia comprado quase todos os móveis para a nossa casa e afirmou estar tratando a compra de uma casa bem próxima a minha e que faltava alguns detalhes. Cheguei a ir lá para ver a casa e a partir dali; passei a ficar deslumbrada com a possibilidade de que eu realmente me casaria em breve, muito em breve.
Certo dia, ele chegou em minha triste, muito cabisbaixo e pouco falante. Meu pai lhe perguntou o que havia acontecido e ele disse que algo havia acontecido no seu trabalho e que não era nada de mais, apenas um pequeno problema, mas que ele resolveria logo no outro dia. – novamente ela fêz uma pausa e desta vez, refletiu e engoliu as amarguras antes de prosseguir, tentei dar-lhe força.
__ Você está sendo bem corajosa. – ergui a mão e enxuguei-lhe a lagrima que escorria junto a sua boca.
__ Nesse dia, ele revelou que faltava vinte mil reais para a compra da casa e que teria que fechar o negócio no dia seguinte ou perderia a casa. E isso era o que estava lhe incomodando. Abatido, ele ainda procurava me deixar à vontade, mas todos percebiam sua afliçâo. Meu pai chamou-o e os dois entraram no escritóio e permaneceram por horas lá dentro e quando saíram; os dois pareciam felizes. Meu pai havia dado um cheque a ele, para que não perdesse a casa. Confesso que fiquei sem saber o que pensar e não sei se iquei feliz. E naquela noite saímos para comemorar; dançamos; jantamos e comversamos bastante. E ele foi muito gentil, e eu cedi... fomos a um motel e me entreguei a ele.


Capitulo 09

No dia seguinte, ele não apareceu em minha casa e no outro dia quando liguei para o tal escritório, ninguém atendeu o telefone. De repente tudo ficou estranho e a cada dia que passava, nenhuma nóticia sobre seu paradeiro. Fomos à hospitais; delegacias; IML e hotéis. E nada, nenhum sinal dele. Meu pai procurou a imobiliária e lá soube que ele esteve lá uma única vez e quis saber se havia uma casa para ser vendida nas mediações e nada mais. Então, todos nós percebemos que havia sido um golpe. E mesmo desorientada e humilhada ainda pensei em como ele se aproximou de mim; das coias que sabia a meu respeito, já que eu sempre fui bastante discreta e ele sabia de coisas bem íntimas, que nem as minhas melhores amigas sabiam. E foi então que lembrei-me da internet, onde eu fiz amizade com uma menina; que se chamava Valda, semanas antes de conhecê-lo. Essa menina fazia-me perguntas e conversávamos sobre tudo e como era tudo virtual, eu não me envergonhava de contar os meus segredos; falava da minha timidez; do meu romantismo e até da minha virgindade. Coisas que eu não tinha coragem de conversar com as minhas amigas e com essa menina, eu conseguia falar sobre qualquer coisa.
Definitivamnte foi aí que ele descobriu os meus pontos fracos; só podia ser, não havia outra explicação, quando tentei encontrá-la on-line, ela também havia sumido e talvez nem fosse uma menina e devia ser ele. Pesquisou sobre mim e estudou-me e fêz o trabalho de casa direitinho. – ela parou de falar e deitou-se sobre o meu colo e se pôs a chorar copiosamente.
__ Isso mesmo chore e procure desabafar tudo. Mas saiba que você não teve culpa nenhuma. – dei um tapinhas em sua costas e depois inclinei-me para frente e deitei-me por cima de suas costas e ficamos em silêncio por alguns instantes.
__ Fabiano, você não tem idéia de como idiota eu me sinto, e como foi difícil encarar as pessoas, meu pai; minha mãe; minha família e meu amigos. Como ainda agora, eu me sinto humilhada.
__ Você não tinha como saber ou prever que isso pudesse acontecer. Sei que as pessoas que sofrem algum tipo de golpe, que elas ficam com a auto-estima baixa. Acredito que seja difícil para você e digo que deve tentar se reerguer e seguir em frente.
__ Mesmo depois de quase sete anos, eu ainda luto contra esses sentimentos, mas estava difícil continuar na minha casa. Todos tinham olhares de pena e eu percebia isso. Meu pai mandou confeccionar um site e colocou-o no ar; alertando outras meninas para que não caíssem no golpe que eu caí e logo descobriu que ele havia aplicado esse mesmo golpe em quase todo o país, em menos de dois anos. Usava os mesmos artiícios que usou comigo; o nome falso de Roberto Prado de Mendonça. Na delegacia, descobriram que o cheque foi descontado por ‘laranja’, quando usam documentos falsos.
__ Acho que agora você vai ficar bem.
__ Não me engane! Depois disso ter acontecido essa é a primeira vez que eu me aproximo de um homem e não quero sofrer outra decepção. Por favor, se você não quiser ver-me mais, eu vou compreender.
__ Do que você está falando?
__ Nós temos passado muito tempo juntos nesses dias e não sei se devemos continuar a nos ver. – ela levantou-se e ficou parada no meio da sala a me olhar.
__ Eu não quero deixar de vê-la! – dei um salto do sofa e segurei-a pelos ombros.
__ Por favor, você tem que entender!
__ Entender o quê? Que tens medo! Tudo bem, eu também estou morrendo de medo e daí? – empurrei-a para frente e para trás como se quissesse acordá-la ou tirá-la de um transe.
__ Eu não posso... eu não posso...
__ O que você não pode? Diga!
__ Eu não posso sentir... eu não posso em envolver...
__ Você já está sentindo e não deve lutar contra isso. Não lute!
__ Eu não sou boa nisso e todo esse tempo, eu fugi de qualquer sentimento que pudesse me fazer sofrer de novo. E venho conseguindo com exito me manter sólida.
__ Você está fazendo o mesmo que eu fiz. Você está fugindo e é só. – aproximei o rosto e fitei-a com ousadia.
__ Não me olhe assim. Eu tenho vivido bem desse modo e quero continuar do meu jeito. – ela livrou-se das minhas mãos e afastou-se de mim.
__ Como pode dizer que está bem assim? Fugindo sempre que lhe acontece algo bom e isso é viver? – insisti.
__ Não quero mais sofrer!
__ Você e todos nós!
__ Por que você acha que é diferente dos outros? – ela voltou a se aproximar de mim e encarar-me em fúria.
__ Porque sei o que você passou e apesar de não ter sido enganado como você foi. Eu também tive uma decepção amorosa que me fêz querer afastar-se de tudo e de todos. Fugi e aqui estou! E sei que nada disso adianta e é tudo inútil. – voltei a segurá-la pelos ombros.
__ O que fêz ter certeza disso? – a voz dela saiu baixa.
__ Você! – fitei-a com ternura.
__ Eu? Isso é uma piada! – Ingrid soltou uma gargalhada e virou-se e caminhou até a porta da cozinha.
__ Eu não vou contar-lhe o que me aconteceu; não agora, não nesse momento. Mas eu sei que você fêz-me ver que não adianta ficar fugindo; eu fugi e você fugiu e pimba! Aqui estamos nós no meio de uma sala discutindo sobre os sentimentos, que nos fizeram fugir de onde estávamos. – a expressão dela que antes era de sacasmo, mudou por completo e ela ficou abatida.
__ Você tem razão. Eu não devia estar aqui...
__ Onde vai? Esconder-se sob os lençois? Ou pegar um ônibus e ir para um outro estado? Ah, tenho uma idéia melhor.
__ Que idéia? – perguntou curiosa.
__ Que tal se fossémos dançar? – fui em sua direção e inclinei o corpo para frente cumprimentando-a.
__ Dançar? Não sei, acho que você está querendo me confundir.
__ Pense bem. Você vai para sua casa e fica lá triste e sem saber o que vai fazer da sua vida ou como superar o que está sentindo e talvez sentindo pena de si mesma. E então não consiguirá nemhuma resposta para o que está sentindo.
__ Você não vai tentar nenhum truque barato comigo, vai?
__ Palavra de escoteiro! – disse cruzando os dedos.
__ Tudo bem, eu vou me arrumar e volto em seguida. Mas depois, você vai me contar a sua estória. – prometi e sorri.

Ingrid retornou usando um vestido azul escuro, nem curto e nem longo, deixava parte de suas coxas à amostra e as alças faziam um ‘X’ em suas costas; e mesmo o tecido não ser fino, podia-se ver sua silueta; ela estava muito sensual, apesar que sua expressão estava bastante contida. Tomei-a pela mão e girei-a por duas vezes e só depois disso é que ela deixou um sorriso escapar.


__ Você vai dançar ou desfilar numa passarela?
__ Dependo do meu agente.
__ Vamos dançar!
__ Vamos antes que eu desista. – a voz dela estava bem acentuada sem a fragilidade de minutos atrás.

Dali a pouco, já estávamos numa boate da Tijuca, um lugar, não muito grande mas com excelente música e boas mesas para sentar-se. E ao cabo de um hora, já estávamos nos divertindo um bocado. Ingrid dançou; conversou e pulou até ficar exausta; deixou estar extravassada e contante.

__ Amanha a dançarina precisará de um guindastre para tirá-la da cama. – disse eu, ao sentarmos.
__ Minhas pernas estão doendo. Vou ficar quieta um pouco. – ela ao sentar não retirava as mãos das pernas; fazia um massagem desajeitada.
__ Vou pedir mais dois sucos de laranja e ir ao banheiro. Você consegue ficar aqui sozinha e não se perder? – brinquei.
__ A caipira aqui não irá a lugar nenhum. – disse ela fazendo beicinho.
__ Ótimo! Seria pessímo ter que chamá-la pelo auto-falante. – Ingrid lançou-me uma bola de guardanapo na minha cabeça.

Todavia ainda havia uma trava em sua mente, mas podia-se perceber que ela estava um pouco mais esfuziante e já não havia pavor em seus olhos. A noite passou depressa e nos divertimos e cheguei a tentar achar um local na minha memória, onde haja um dia como aquele, em que eu havia me divertido tanto, nos últimos anos.
Verdadeiramente, Ingrid me fizera bem e eu esperava retribuir esse mesmo bem à ela, de alguma forma. E se ela ainda não está preparada terei que esperar até que esteja. Demorei para entender que estar ao lado de alguém, não tinha nada de doloroso e depois de fugir de qualquer aproximação; fui pêgo sentindo a necessidade de estar junto de alguém e sei agora que estive errado o tempo todo. Estar com Ingrid fazia-me sentir feliz; visto; escutado; notado e não mais invisível. Deixei todos os receios de lado e busquei acudir o meu coração nada romancesco e evitei que ele padecesse de um grande desespero e não guardei conta daquele dia; em que por instantes fomos felizes.
Ingrid no meio da pista; solta; leve; desfeita dos pavores que lhe afligia e linda, sim, deveras linda. Pulsava o corpo ao balançar-se, as faces muito avermelhadas e os braços ao ar, que imagem! Guardei-as no lobo frontal para que pudesse reve-las sempre que quissesse. As luzes que piscavam a colocavam em câmera lenta, e o vai e vem frenético do seu corpo parecia um balé. Enquanto eu parecia estar tendo um ataque epilético; todo desajeitado e diria desconjuntado, porém feliz. As músicas acabavam e começavam e nós dois nem percebíamos e continuávamos dançando e dançando espantávamos os nossos males e desafetos. Ingrid mesmo parecendo hipnotizada, quando em quando lançava-me olhares e eu disfarçadamente sorria de volta. Assim ficamos por toda à noite na boate; entre danças; olhares; toques de mão e sorrisos.

Claro que nenhuma situação é oposta a outra, quaisquer que sejam as semelhanças, em nosso caso são bastantes contrárias e precisa ser estirpada, para que não nos confunda e para que ainda haja uma adquação a nossa felicidade. A clareza da exposição em meus olhos era inegável e eu tinha que lutar pelas conseqüências os meus atos. Tudo isso parecia superiormente maior do que eu e nem por isso ficava eliminada, a falta de vontade que ambos nos acostumamos a sentir e o cansaço de tentar.
De certo, que nem por isso ficavam eliminados de nossas vidas os flagelos dos desentendimentos anteriores e daí é que poderíamos superar a barreira mental e a guerra injusta que travávamos dia após dia; uma multidão de esforços e lutas, com um único proposito de eliminar a nossa vontade. Acredito que de alguma forma ao nos encontrarmos pela primeira vez, fomos atingidos em nosso despreparo e fraqueza. Alguma coisa conseguiu ultrapassar as nossas barreiras e se alojam mo meio de nossas recusas e insanidades.

Tão logo chegamos em casa e fomos direto a casa de Ingrid, o dia já estava claro, e o sol rachando no asfalto e não havia pressa em nenhum de nós dois. Entre o café e o queijo, Ingrid demonstrava-me um certa vontade de livrar-se de sua dor; ela esforçava-se para sorrir e sorria e erguia os olhos e dáva-me esperanças de abrir a guarda, para que eu pudesse chegar ao seu coração.

__ Depois de café, eu terei que retirar-me moça. Senão eu desmaiarei aqui mesmo, sentado, na sua frente.
__ Não antes de mim. Seja cavalheiro. – ao tentar levantar-se, ela pôs ambas as mãos sob a mesa e abaixou a cabeça e seus cabelos, agora lisos, escorreram todo para frente e encobriram seu rosto.
__ Você está se sentindo bem? – quis saber.
__ Sim, estou! – disse ela, erguendo um pouco a cabeça para que seus olhos pudessem ficar à vista.
__ O que foi, Ingrid?
__ É que eu gostaria de agradecê-lo por essa noite. Fazia bastante tempo que eu não me divertia assim e você foi maravilhoso e gentil. Sei que você não é igual ao... deixa para lá. Você sabe que eu andei ferida e isso não me deixa muito racional; mas confesso que você me surpreendeu com sua paciência e cuidados. Obrigada pela noite maravilhosa, Fabiano. – ela agradeceu-me.



Capitulo 10

__ Pare com isso! Assim eu vou ficar num dilema maior do que esse. Sabia que antes de você, eu era um cara mal. Você está acabando com a minha reputação. Ingrid, agora deixe-me ser sério e escute-me com atenção. Não é preciso me agradecer por nada, eu também adorei que você tenha aceitado o convite e que tenha ido comigo. Eu quis muito estar com você e é disso que precisamos, um do outro e só assim vamos conseguir nos resgatar e sair do buraco em que nos metemos. – ela veio até a mim e abraçou-me com ternura.
__ Nunca mais deixe-me tentar fugir e mesmo que eu lhe implore não me obedeça. Fique sempre do meu lado, por favor. – a voz dela saía embargada e as lágrimas molharam meus ombros.
__ Eu vou estar sempre do seu lado. Até a casa onde moro fica do seu lado. – ouvi um risinho fácil sair de sua garganta, um sinal claro que o nó que lhe travava havia passado.
__ Só você mesmo para brincar numa hora dessas.
__ Agora sim, aí tem um belo sorriso. E deixe-me ir dormir um pouco. – antes de sair apertei-a contra o meu corpo e beijei-a no rosto e ela fitou-me com ar de pelúcia.

Em minha casa, deitado a cama; distraí-me com as imagens de Ingrid dançando linda, naquela pista de dança e como um sonho, tudo estava absolutamente vivo dentro de mim. Parecia estar lá, mas nesse momento eu pudia beijá-la e é incrivel a imaginação insana. Eu podia sentir os lábios macios dela e mesmo o cheiro de seu batom. E como era eu sonho, cedi a esse encanto e fiz dele real.
Penso e avanço a mão em sua cintura e puxou-a junto a mim, passo a outra mão e deixo-a no meio de suas costas e com os olhos fixo em seu rosto, olho-a com ar de um guerreiro e não tendo-a como vitima indefesa, mas como vitória. Levo a mão até a sua nuca, sem retirar a outra de sua cintura, e com a ponta dos dedos, sinto a pele arrepiada de seu pescoço; esfrego os dedos em sua cabeça e vejo-a soltar uns grunidos; volta a masseagear o cranio dela e novamnete chega como música aos meus ouvidos, aquele gemido baixinho.
A mão que estava presa na cintura, agora ganhara movimntos em seu quadril e apanhara desprevinida de sua valentia e a fazia controcer-se; não por cocêgas, mas por comichões e com os dedos enterrados em sua bacia, eu continuava a movimenta-los. Deixei que meu corpo encostasse no dela e com leves movimentos de uma dança sensual, fazia com que cada centimetro de sua pele ficasse arrepiada.
Retirei lentamente os dedos de sua cabeça e passei-os em sua boca e forcei para que a abrisse um pouco e toquei em sua língua com o polegar; e veio agora um tremor de toda a parte de seu corpo; segurei firme pelo quadril e enfiei um pouco mais do outro dedo em sua boca. Foi sua língua úmida agora, que ficou inquieta. Ela passou os dentes em meus dedos e deu mordidelas em cada um deles,como se deles escoressem um doce.
Desci um pouco a mão até suas nádegas e apertei-lhe um pouco mais forte, para que ela se jogasse para frente e me impulsionasse contra seu corpo levemente inclinado para frente e assim, ela sentiria o meu corpo, ali reto, parado e receptivo. Olhei-a nos olhos enquanto ela beijava meus dedos e ela deixou estar com a boca diante da minha; então voltei os dedos na parte de trás de sua cabeça e agrrei de leve os seus cabelos e os puxei para trás, inclinado sua cabeça até que seu pescoço ficasse esticado à minha mêrce. Fui de encontro aquele pescoço branco e desprotegido e deitei-lhe os lábios e cravei-lhes os dentes e ouvi um grito misturado a um gemido, ainda com a mão em sua nádega, abaixei-a e ergui-a até que ela estivesse em seu pescoço.
Levantei a minha cabeça e mordi seus lábios e passei a língua neles e ela pôs sua língua fora da boca e veio de encontro a minha e esfregou-a com muito carinho e eu deitei minha boca na sua e beijei-a com força, esmagando seus lábios contra os meus e desci as mãos que estavam em seu pescoço e fui tê-las em suas costas breves e macias.

E quando ainda em transe eu continuava a sonhar, acordei com batidas na porta e sonolento levantei-me da cama e fui atender e ao abrir a porta, deparei-me com Ingrid e ela deparou-se comigo totalmente transfigurado; suado e descomposto.

__ Está passando mal? – perguntou ela encostando a mão em minha testa.
__ Não, tudo bem.foi só um pesadelo.
__ Desculpe acordá-lo. É que já está de tarde e eu trouxe cartas de Natalie e Owen para lermos.
__ Tudo bem, entre e deixe-me apenas tomar um banho. Fique à vontade e obrigado por ter me acordado. – disfarcei.

Retornei bem mais refeito; tanto do sonho como do susto, em ter sido flagado no meio de uma aventura imaginária e saudavel. Cheguei na sala e lá estava a mulher dos meus sonhos; sentada e sorridente.

__ Parece que o tal pesadelo se foi. – disse ela, em tom sarcástico, olhando-me de cima em baixo.
__ Isso sempre me acontece! – sorri sem graça.
__ Você quer deixar para amanha?
__ De jeito nenhum! Vamos começar de uma vez. – apanhei as cartas que estava sob a mesinha no canto da sala e dei-as a Ingrid que limpou a garganta e fêz um sinal para que eu me sentasse para ouvi-la.


“Meu amor,

Lamento que meu amor seja mais egoísta que meus príncipios, é isso não me deixe esquece-lo e insisto em continuar acreditando que vamos estar juntos. E assim os meus dias vão passando e mantenho você em mim o tempo todo.

Lamento que não vou vê-lo, mas eu vou poder sonhar com você e com os momentos que não tivemos a chance de passar e sonhar os sonhos que prolongamos para que se tornassem reais. Tudo ainda está em nós dois.

Eu o perdôo, meu amor, se você tiver que seguir com a sua vida, afinal, como querer que cotinue a me amar, se em verdade, nós não tivemos mais do que poucos momentos juntos? mas nunca se esqueça de mim e eu vou lembrá-lo sempre e a cada instante em que eu respirar e isso me manterá viva.

É difícil viver num campo de refugiado e não vê-lo ao meu lado, mas essas coisas eu vou superar, e sei que será difícil esquecer a cena da minha casa queimada e por isso eu fiz da minha esperança, algo infinito e assim, eu o perdôo, meu amor.

P.S: Viva sempre em frente”.


A leveza dos sentimentos de Natalie estavam bem seguros e firmes, apesar da fragilidade do momento em que ela estava vivendo, ela ainda respirava confiança e amizade pelo seu amado e desse amor vinha a esperança de prosseguir após tanto tempo em que eles estavam separados.
Era incrivel tomar conhecimento de amor tão forte e tão cheio de peças do destino e nada os detiveram e fizeram do sofrimento uma luta, às vezes desigual e desumana; onde nada os deixava de se ligarem em pensamentos. Olhei para Ingrid e ela estava um pouco sensibilizada e cheguei perto dela e sorri torcendo o canto da boca.

__Vamos ler a outra carta? – cortei o silêncio que estava entre a gente.
__ Sim. Aqui está. – profundamente abatida, ela esticou a mão até a mim e deu-me a carta e eu não quis comentar nada e deixei-a pensativa e distante, mas ainda estava ali e eu sentia que era só emoção e vontade de ter sido amada daquele mesmo jeito que Natalie era amada.


“Meu amor,

Agora separada de você por causa dessa guerra estúpida, eu fico pensando na coisas que eu poderia ter mudado em mim., meu jeito timido ou mesmo os meus cabelos; e mesmo se eu não tivesse que mudar nada, porque aprendi com você a gostar mais de mim do que antes de ter-lhe conhecido.

Passei a me ver com seus olhos e agora quando estou diante de um espelho, eu não me vejo como antes, sinto que há mais de você em mim do que qualquer outra coisa.

Eu acordo todos os dias como coração doendo e mesmo depois desse tempo sem vê-lo, eu continuo pensando em você e no que você me disse, que eu estaria mais segura em Newcastle ou em York, mas sei que eu só estaria segura ao seu lado.

Desde de que você ficou em Londres, as coisas ficaram tristes, e essa terrível guerra trouxe-nos mais dor do que merecíamos e desde de então, eu rezo para Deus que você esteja vivo e eu continuo lhe esperando como lhe prometi. E nada vai mudar o que sinto sobre você e mesmo que não leia essas cartas que agora escrevo, eu as guardarei para que leia-as ao meu lado.

Essa é a esperança que eu tenho; de ver-lhe de novo e ver você voltando para mim e por isso ainda mantenho o amor intacto no coração e a promessa que me fêz de ter-mos dois filhos. Volte... volte para mim.

Em meio há tanto sofrimento; ontem eu vi você voltando ou foi o seu fanstama; talvez. Mas não me importa. Eu aprendi a cuidar de mim; sozinha. Mas às vezes eu o vejo voltando com seus segredos e novidades; além do seu belo sorriso, aquele mesmo sorriso que me encantou um dia.

Como pode um nome, que não é real e de uma coisa irreal, machucar tanto; esse nome ‘guerra’ ser tão triste e mudar tanto as pessoas. Acredito que você vai me encontrar e me levar de volta e tudo voltará a ser florido e limpo e a desumanidade acabará aqui e vamos começar uma vida melhor; nós dois.

Alimento a esperança de lhe ver com a lembrança do teu rosto, que guardo em minha mente. Tentaram quebrar o meu espírito, mas eles não conseguiram retirar você da minha mente e nem a esperança de lhe alcançar e continuo a lhe escrever como sempre fiz e farei até o dia em que você lerá todas as cartas que escrever. Cadê você, meu eterno amor.

P.S: Volte para mim”.


Fiquei mudo e apenas olhei nos olhos de Ingrid e havia compreensão lá e busquei desesperadamente acreditar que eu estivesse errado; em perceber que Natalie estava vivendo como prisioneira numa espécie de campo de concentração ou muna triagem, à espera de ser transferida para um. Mas os olhos de Ingrid confirmava a minha suspeita.


Desse modo, o piloto Owen não podia tê-la encontrado e esse foi o motivo de ter se passado mais de quatro anos e os dois terem ficado separados por tanto tempo. Eu sentia-me ferido com a minha vida e imaginei que meus erros fossem ficar ocultos, mas eu estava errado.
Ingrid começou a arranhar sua garganta e notei a sua insistência e voltei a acalmar-me e voltei ao seu lado e fiquei a espera de ouvi-la. Era uma carta de Owen e ela pôs-se a ler.








“Meu amor,

Será que nós todos estamos certos do lugar que queremos estar? Se em nossos corações essa certeza bate todos os dias. E se estivermos errados, oque podemos fazer à respeito? Quebrar as nossas regras? Tem que haver uma razão para estarmos assim; estar num lugar no mundo que não pertencemos e eu sei que você é o meu lugar. Entendi isso há tempo atrás quando lhe beijei sob a árvore do quintal da minha casa.

Durante esse tempo em que nosos corpos estão separados; eu sempre estive com você; mesmo em separado, eu acordo todos os dias e sinto você ao meu lado e isso é o que me faz viver a cada manhã e a cada noite. E penso em como o amor chegou em nós, em apenas um beijo.

Lembro-me de cada sorriso seu e dos poucos momentos que lhe vi triste, e vi a sua coragem, valentia e bravura viver na minha mente. Às vezes tudo isso é como ficar olhando-a pela fresta da porta, enquanto você passa do outro lado da rua sem me ver ali. Eu nunca estive distante de você, porque sempre a levei em meus pensamentos. Onde quer que eu vá; lá está você; porque eu sempre soube que é você o meu lugar no mundo.

Tudo isso congelou o meu coração e sei que só você ao meu lado vai descongelá-lo; quando vê-la; quando buscá-la; pois, eu vou buscá-le em qualquer lugar em que esteja, nem que seja para perguntar-lhe se está bem e rezo a Deus todos os dia para que esteja e para que se lembre de quando segurei sua mão e a beijei.

Todos os dias eu lhe espero, ansiando ver seu rosto e sentir o seu espírito, e não somente o sopro dele em meu rosto. O que nós desperdiçamos, o coração vai recuperar e por isso faço da sua saudade algo para que isso não se vá.


P.S: Eu vou buscá-la e esteja onde estiver e leve o tempo que levar; eu a encontrarei e trarei-a de volta à nossa vida.


No silêncio que se fêz; eu decidi ser a hora de contar o meu segredo à Ingid e eu só não sabia como começar e fui pela verdade; nada melhor do que a verdade. Ingrid parecia maravilhada com a carta de Owen e seu encanto transpassava os seus poros e podia-se ver um brilho diferente em sua pele. Acomodei-a ao seu lado e tomei-lhe a mão e deixei-me ficar assim por alguns segundos, era a coragem que me faltava.

__ O que você tem, Fabiano?
__ Preciso contar o que fiz e porque eu decidi fugir da vida. – olhei em seus olhos e segurei a voz numa pausa.
__ Quer que eu faça alguma coisa?
__ Não, Obrigado! Bem, eu tinha uma namorada, Denise. E estávamos namorando há uns dois meses e eu estava gostando dela e sabia que ela gostava muito de mim. Demorei para iniciar esse namoro e mesmo sabendo que ela vivia me cercando. Quando decidi investir nesse relacionamento; tudo foi legal e eu já me acostumava com a idéia de estar com alguém. Nós saímos; bricavámos; conversavámos e passavámos parte do tempo juntos e isso era bom.
Mas aconteceu que um dia, Denise fez uma redação, num concurso promovido por uma faculdade de Massachutte, sobre a obra de Michelangelo “A Capela Cistina”, e ficou em primeiro lugar e ganhou uma bolsa de estudo para um curso de seis meses; lá nos Estados Unidos. Ela fazia história da arte e para ela esse periodo seria muito válido para sua formação.
Aí começaram as brigas; eu e meu egoísmo não aceitamos isso e eu não passaria seis meses longe dela; e pressionei para que ela recusasse esse convite e que ficasse aqui. Eu não queria ouvir o lado dela e nem quis saber as suas razões; perguntava-a a todo instante, que tipo de amor sobrevive a seis meses de separação? E agora leio nessas cartas que esses ingleses se amaram por quase quatro anos em separados e isso causa-me vergonha.



Capitulo 11

Dei um ultimato a Denise, mesmo contrariando meus pais e meus amigos; briguei com todos eles e tive discursões com o meu melhor amigo, o Felix, que quase chegaram a agressões físicas e parei de falar com ele. Afastei de tudo e todos e na minha ignorância, eu achava que estava certo. Denise ficou decepcionada comigo e partiu sem se despedir e eu fiquei com a minha razão.
Só depois quando ela retornou é que passei a entender o que eu havia feito, o mal que eu lhe causei nos dias em que ela estava mais feliz. E Felix começou a namora-la depois do primeiro ano que ela voltou. E por isso eu decidi me afastar das pessoas, e passei quase seis anos fugindo de tudo que me levasse a gostar de alguém; eu causo mal a elas e atrapalho as suas vidas; as suas ambições e seus crescimentos; só o meu amor não é suficiente. – dei uma nova pausa.
__ Se você aprendeu, já é um bom começo. – disse Ingrid colocando a mão no meu queixo erguendo a minha cabeça em sua direção.
__ Eu só percebi isso agora, de verdade, só agora depois dessas cartas. Eu ainda não tinha sentido...
__ Temos a doença, mas também temos a cura.
__ Do que você está falando?
__ Disso! – Ingrid puxou o meu rosto de encontro ao dela e beijou-me a boca.
__ Eu não quero pensar que posso magoá-la e que eu possa fazer algo com você que a faça afastar-se de mim.
__ Se você me amar como penso que ama; sei que não vais se afastar. Desde de que chegou em minha vida, eu tenho sido mais feliz e percebo que você também está feliz e se isso não for amor, tudo bem. Afinal quem pode saber quando é?.
__ Ingrid, adimito que eu me empolguei com a possibilidade de ter um relacionamento com você, e que tenho pensado nisso constantemente. Eu tenho pensado em você, mas temos uma estória que nos afasta e se algo der errado?
__ Está com medo de tentar?
__ Desesperado para tentar. – puxei-a contra mim e dei-lhe um abraço carinhoso e joguei-me aos seus pés.
__ O que está fazendo?
__ Uma promessa! Ingrid, eu lhe prometo que nunca vou magoá-la e se algum dia eu o fizer, saiba que farei tudo para consertar, o que eu tenha feito de errado. Você é a melhor coisa que podia ter me acontecido e eu não vou jogar fora essa oportunidade de fazer alguém como você feliz. – dei-lhe um beijo em seu pé direito e depois disso eu puxei-a para o chão.

Era isso no peito e no espírito uma algo leve que me fazia mandar tudo às favas. As idéias estavam claras e contemplar o rosto quase juvenil de Ingrid e isto instou tanto, que não pude deixar de aceitar aquela compensação, de estar diante daquela menina linda. Saímos à varanda para olhar à noite que nos alcançava.

__ Eu pensei que eu se eu abrisse o meu coração novamente, eu estaria abrindo a caixa de Pandora*. – as palavras de Ingrid soaram serenas.
__ Se você a abriu; então foi para liberar ao mundo o que ficou no fundo da caixa.
__ A esperança?
__ Sim.
__ É o que diz na mitologia; que no fundo da caixa ficou a esperança. – o rosto de Ingrid iluminou-se por completo.

Ficamos a nos olhar e não pôde ela encobrir a satisfação que sentia com o que eu acabara de dizer e com os olhos fulgidos, como se esperasse pela recompensa de um beijo, ela aguardava que eu tomasse a posição e lhe cedesse o louro da vitória e ofegante, eu lhe sorria. Logo,os nossos lábios se tocavam num beijo largo e sem pressa.
Com efeito, aquela era a melhor coisa a fazer, não havia palavras para que pudessem se ditas, que demonstrasse melhor o que sentíamos. Ingrid era tudo que me fazia sentir feliz e estar com ela era uma oportunidade de melhorar algo em mim e fiquei bastante feliz em deixar-me estar com ela. Abraçados, ficamos a observar o céu e suas estrelas; sentados na varanda a deixar que os pensamentos voassem livres dos açoites que antes os feriam.

__ O que você espera de nós dois? – perguntei-a segurando-lhe a mão levemente.
__ O que todos casais esperam. Que sejamos felizes! E o que você espera de mim?
__ Que entre e me ajude a preparar um jantar para nós dois.
__ Só isso!
__ E também que me beije bastante. – apertei-lhe a mão e coloquei o rosto diante do dela e com os olhos fechados, fiquei a espera de um beijo, que veio ligeiro em repetidas vezes.

Percebi que o excesso dos meus desejos; levou-me a sentir dor, a cegueira dos beijos repetidos atingiu-me o lábio superior, ferindo-o de leve.

__ O que foi que eu fiz?
__ Nada de mais. Acho que seu dente bateu e me assustei, foi só!
__ Deixe-me olhar para ver se vai sangrar. – suas mãos em meu rosto e o olhar analizador deixava-me calmo e deixei-a cuidar de mim.
__ Não há nada aqui. – disse ela soltando o meu rosto.
__ Eu disse que estava tudo bem.
__ Vamos entrar e preparar essa comida.
__ Da próxima vez eu farei um pouco mais de manha. Foi bom vê-la cuidando de mim com tanto carinho.
__ Espero que não haja uma próxima vez.
__ Não gostou de cuidar de mim?
__ Eu não gostei de te-lo machucado. Posso cuidar de você sem machuca-lo.
__ Você está certa. Será melhor mesmo!
* A caixa de Pandora foi um presente dos Deuses para Pandora, que logo em seguida veio morar na terra e casou-se com Prometeu e num descuido seu; ele abriu a caixa e dentro dela estava todos os males, que se espalharam pelos quatros cantos do mundo e no fundo dela ficou apenas a esperança.

Após jantarmos quando estávamos lavando a louça e apenas com o som da água caindo da torneira; olhei-a secando os pratos e fiquei feliz que ela estivesse comigo naquele momento e voltamos para a varanda e continuamos em total mudez e desta vez era o som da sirene do corpo de bombeiro, que nos fazia compania.

__ Deve haver algum lugar em chamas! – disse ela com o semblante preocupado.
__ Pode ser que sim e pode ser que não!
__ Como assim? – ela bruscamente virou-se em minha direção
__ Agora é bem mais difícil saber quando é incêndio. Pode ser por causa da crimilidade.
__ Lá em São Paulo também está assim. Os heróis do corpo de bombeiro estão em extinção.
__ A profissão do bombeiro que antes era tida como de herói, para toda criançada, agora com a banalidade da violência, perdeu o charme; e não é preciso ser herói para colher corpos por aí. Acabou o romantismo da profissão.
__ Muito bem, meu romântico professor. Não vamos ficar tristes. Acho que você me chamou para que ficássemos aqui para ver a lua. – Ingrid apontou para a lua.
__ Sabe, Ingrid. Eu sempre gostei de sentar-me e ficar a olhar a lua; mas nunca soube quando ela é nova; cheia; crescente ou minguante. Apenas gosto de saber que ela está lá no alto.
__ Continue assim. Senão corre o risco de acabar com seu romantismo também. – ela veio e sentou-se entre as minhas pernas e ficou silenciosa.

Passamos boa parte do tempo ali sentados olhando a lua e suas estrelas, como se tudo estivesse ali pela última vez. Mentalmente fazer essa terapia me ajuda a manter o eqüilibrio e colocar as minhas idéias em ordem e tendo Ingrid como compania tornara melhor esse execicio.

No outro dia levantei da cama ainda cedo e fui bater à porta dela, a vontade de vê-la não deixava esperar que ela acordasse e que viesse a me procurar. Bati umas quatro vezes e a ouvi sonolenta responder do quarto. Esperei ansioso enquanto ela abrisse a porta.

__ Ainda não acordei portanto fale umas duas vezes para que eu desperte. – disse ela esticando os braços no ar como se estivesse se espriguiçando.
__ Fiquei com saudades e vim vê-la! Quer que eu repita?
__ Não precisa. Já estou acordada.
__ Já que está acordada vamos passear na praia?
__ Espere que eu vou me trocar. – ela ainda estava de camisola.


Andando pelo calçadão da praia da Tijuca, com um coco na mão, Ingrid parecia uma turista dessas que chegam e se multiplicam pelas calçadas das praias. Chapéu e óculos escuros; apenas a parte de cima do biquini e uma canga e sandalias baixas. Como identificá-la de uma outra forma, senão a de turista?

__ Do que está rindo? De mim ou para mim?
__ Ingrid, eu jamais seria capaz de rir de você.
__ Então ria para mim, e por que?
__ Porque você parece uma turista.
__ E eu sou uma turista. Esqueceu?
__ Claro que não! Na verdade, eu preciso ser mais atencioso e lembrar-me disso e levá-la aos pontos turisticos famosos daqui.
__ E onde iremos? – disse ela empolgada.
__ Em todos! Eu nunca estive em nenhum deles também.
__ Que vergonha! Seremos dois turistas perdidos...
__ Perdidos, é como estávamos antes de nos encontrar. E nunca vamos nos perder de novo. – puxei-a de encontro à mim e beijei-a com vontade.

Depois de horas de passeio por bondes e escadas e confesso que esgotados até a alma, deixamos para depois as aventuras turisticas e nos retiramos para o nosso refugio, que no momento era a melhor coisa a fazer. Para ser aventureiro é preciso de uma boa dose de disposição, coisa que no momento eu não dispunha de muita e desacostumado fui o primeiro a jogar a toalha. Ingrid ao contrário de mim, sorria o tempo todo e queria tirar foto de tudo, e falava e se mostrava disposta a passar o dia subindo e descendo escadas.

__ Onde vamos amanha? – perguntou ela segurando a minha mão que estava no volante.
__ Depois de Morro do Corcovado e do Morro do Pão de Acuçar. Acho que não tem morro para subir. Bem, podemos ir na floresta da Tijuca, que também tem uma boa subida e no Alto da Boa Vista, que pelo nome não é preciso dizer nada a respeito. Vê, esse é o motivo que eu venho deixando para depois, a vontade de conhecer esses lugares.
__ A preguiça está tirando de você uma ótima oportunidade de ver tanta beleza.
__ Para ver beleza, basta que eu olhe para o meu lado direito, assim, pronto! Aí está, você a mais bela beleza de todas.
__ Melhor que o bobo olhe para frente, antes que cause um acidente.
__ Eu espero que não aconteça nada, porque do jeito que estou cansado, vão pensar que eu já estava morto antes do acidente. – começamos a rir e ria-se de qualquer coisa, bastava que um de nós abrisse a boca e lá vinha a risada.


Dali a pouco, já era noite e ainda recuperando-me da cruzada, não percebi que anoitecera tão depressa, bendito hórario de verão, que anoitece com o dia claro e quando escurece, já levou metade da noite. Que despedicio! Abri a porta da frente e fui tomar banho, a qualquer momento Ingrid chegaria, e não queria ter que parar com o banho na velha banheira, que cheia me esperava à horas.
Ingrid chegou e mandei-a entrar, e ao chegar até a sala, lá estava ela, sentada de lado no sofa, com uma perna apoiada no sofa e a outra no chão. Deixando que o vestido lhe caísse pela coxa, e a revelasse à mim e essa era a maneira que ela gostava de sentar-se e quem era eu para persuadi-la a mudar. Que bela visão eu tinha de Ingrid sentada!

__ Demorei muito? – perguntei passando a toalha nos cabelos ainda molhados.
__ Não muito! Espero que já esteja recuperado. Temos as útimas duas cartas para ler.
__ Já estou melhor. Descansei e esse banho revitalizou-me. Só espere um minuto que eu já estarei de volta. Essas são as cartas do reencontro, não são?
__ Sim! Vá depressa antes que eu abra-as sozinha. - ao voltar à sala, dei uma última olhada na imagem de Ingrid sentada e nunca tinha visto o quanto ela era linda de verdade. Os cabelos, que agora voltaram a ser lisos, escorridos e soltos; como ela mesma disse, pareciam que nasceram e foram criados assim. O rosto sereno, fino e pequeno; a boca pequena eos lábios vermelhos e breves; os olhos de órbitas rasas; e o corpo, que saltava-me os olhos de admiração e desejo.

__ Vai ficar aí parado?
__ Não é que eu... deixa para lá. Vamos a nossa leitura.
__ Você lerá a carta de Owen em primeiro. – Ingrid passou-me a carta e ficou sorrindo, ao notar que eu ainda estava sem jeito. Comecei a ler ainda nervoso:


“Meu amor,

Descobri o seu paradeiro e nesse momento eu estou indo busca-la e sei que você passou por momentos difícieis, mas tudo vai ficar bem agora e eu estarei do seu lado para que supere toda essa dor.

Saiba que nunca deixei de procura-la e que a sua falta era uma constante e por isso eu não descansei até encontra-la. Quero leva-la de volta a nossa cidade, em Surrey, começar uma vida nova com você. Criar os nossos dois filhos, os filhos que vamos ter e poder passear pelas mesmas ruas que nos viram crescer.

Eu estou lhe escrevendo em caso de encontrá-la pensando de forma diferente, afinal; faz bastante tempo e você pode ter deixado que a sua vida seguisse e assim, eu só quero registrar que eu ainda a amo e que se depender de mim, tudo será como antes; entre nós dois.

Quero dizer à você que nada mudou, embora tenhamos sofrido e nos afastado, o que tenho de melhor é a lembrança que trago de você e que só me sinto bem quando penso em você; e por isso, nunca deixei de pensar em você num só instante. E sinto muito pelo que você passou nesses anos e se as coisas foram crueis para você, acredite que deva haver uma razão de Deus e que o conforto também lhe será dado por Ele; o nosso pai.

Encontrar você entre os prisioneiros foi bastante doloroso, o que você sofreu; viu; passou e sentiu pode te-la feito pensar em desistir, mas sei que és forte e por mais penoso que tenha sido; confio que você tenha vencido pelo amor que carrega dentro do seu peito.

Preciso estar com você e mesmo que seja para nos despedir, e que seja uma última vez, eu preciso dizer que a amo e que sinto a tua falta. De todo esse horror que foi essa guerra, o que mais me machucou; foi estar afastado de você. Sem saber onde estava e o que você estava passando. Rezei com toda a minha fé para que estivesse à salva e isso eu agradeço a Deus.

P.S: Logo estaremos juntos para sempre.



OBS: PARA OBTER O RESTANTE DO LIVRO MANDE-ME UM E-MAIL QUE EU ENVIO. w.taylor.j@ig.com.br OBRIGADO!


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