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Contos-->A FÁBULA DO ANIMAL SÍMBOLO -- 01/12/2000 - 15:46 (VIRGILIO DE ANDRADE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Faço saber ao leitor, que, muito maior do que o meu desejo de tornar pública esta história; fatos e acontecimentos que se sucederam, justifica-me o dever de contá-la. De maneira, que ela não mais me pertence.
Senão vejamos:
Em 25 de março de 1993, a Câmara Legislativa do Distrito Federal registra, sob o número PL 00805/93, a entrada de Projeto de Lei que visa resgatar a memória do mais digno e representativo habitante daquele mundo novo. Nele, o autor sugere que seus pares declarem o peixe pirá-brasília (Cynobelias Boitonei), animal-símbolo da Capital Federal do Brasil.

Justificativas:
a) o pirá-brasília (pirá - peixe em tupi guarani) - Cynobelias Boitonei (Carvalho, 1959), é uma espécie de peixe rara e em extinção, e foi encontrado pela primeira vez no mundo na região Planalto Central brasileiro. Mais especificamente em Brasília no córrego do Guará, próximo ao Jardim Zoológico, pelo então administrador o senhor José Boitone.
A primeira descrição científica que se tem notícia, foi feita pelo Dr. Professor Antenor Leitão de Carvalho em 11 de maio de 1959, no Boletim do Museu Nacional do Rio de Janeiro, dando-lhe o nome de “Synposonchtys Boitonei, por acreditar ser um gênero de peixe diferente do Cynolebias. Embora seja muito parecido a este”.
Posteriormente o Dr. Eduardo Kunze - biólogo e PHD em Ecologia, professor da Universidade de Brasília, constatou ser um Cynobelias, ficando definitivamente com o nome científico de Cynobelias Boitonei e nome vulgar de pirá-brasília (peixe de Brasília);
b) o pirá-brasília tem seu habitat natural nos brejos do Distrito Federal e seu ciclo de reprodução é de um ano, sendo o seu período de vida de apenas alguns meses, mais especificamente no tempo de chuva quando tem água abundante e, no período seco, os peixes morrem ficando apenas os ovos enterrados na lama. Quando vem novamente o período chuvoso os ovos eclodem e novamente surge o peixe. Portanto, o ciclo de vida deste peixe depende da existência dos brejos, e de acordo com o Dr. Eduardo Kunze, três são os motivos do processo de extinção deste peixe:
1) a poluição dos riachos, particularmente com agrotóxicos e resíduos líquidos sanitários, provenientes das cidades satélites que deságuam na bacia do lago Paranoá;
2) a drenagem que vem sendo feita nos brejos para dar lugar à horticultura e construções;
3) a introdução de espécies exóticas de peixes no habitat natural do lago.

Justificativas à parte, o projeto de autoria do Deputado Wasny de Rouse, bem intencionado e merecedor de elogios da bancada ecologista, não encontrou o necessário apoio dos seus pares.
Sabe-se que naqueles dias, a bancada oposicionista fez uso de recursos e prerrogativas institucionais para impedir a aprovação do Projeto. Enquanto alguns nobres Deputados, afoitos e raivosos, argumentavam que contra indicação pesava a denúncia do postulante ser hermafrodita; outros, mais didáticos, afirmavam, com convicção insuspeita, que era um pervertido. Mais precisamente: bicha.
Não faltaram aqueles que embriagados pela luz e glamour do palanque eletrônico vociferam que o peixe não possuía atributos exigíveis para quaisquer postulantes ao cargo - carecia de “indicação Federal”, sem essa carta de alforria não se pode ocupar cargo de tão alta envergadura diplomática.
Não se sabe ao certo se foi estratagema político ou uma simples manobra eleitoreira visando arrecadar fundos de campanha. Mas, na semana seguinte, com muito foguetório, foi anunciada a candidatura do outro postulante: o candidatíssimo lobo Guará.
A partir daí, a Chefia de Governo despachou diversas missões diplomáticas para colher o parecer de renomados organismos internacionais. O F.M.I. não ficou de fora desta consulta. Nem poderia. Como é do conhecimento de todos, não se faz um candidato vencedor sem o seu consentimento.
E foi a partir daí, que a imprensa escrita e televisiva começou a noticiar que o lobo venceria com folga o processo eletivo. As pesquisas de opinião indicavam essa tendência e, mais uma vez, o eleitor se rendeu ao peso da mídia.
A plataforma eleitoral fora colhida da própria biografia do lobo: “Era um mamífero da família dos canídeos (Chrysocyon brachyurus), habitante das regiões abertas do norte da Argentina, Paraguai e Brasil, especialmente nos cerrados. Era um animal extremamente arisco, com hábitos noturnos e possuía coloração pardo-vermelha, mais escura no dorso, pés e focinho pretos, com malha branca na garganta”.
E, se ele é possuidor de hábitos extravagantes e estampa tão elegante; assemelhava-se, em muito, aos deputados. A mais nobre casta social da cidade.





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