Não podemos ter medo. Está acabando o primeiro e último refúgio de nossa ingenuidade. Um admirável mundo novo nos espera além da esquina. A Terra gira e brinca. Sofre quem pode, sofre quem deve. Não mais será com um fio de linha que empinaremos nossas esperanças, daqui para frente.
Tenho medo, sim. Tudo que dizem do que virá é muito ruim para quem ainda está daqui. Não quero dar o meu sangue por algo que não faz parte de mim. Tenho medo, sim. Minha mãe aparentando um constante desànimo que me é inexplicável. Meu pai passando a mão na minha cabeça e falando que vou ser tudo que ele sempre quis ser. Nada disso faz o menor sentido.
Porém, se o invento que fez o tempo, inevitavelmente, marcou minha passagem, acomodo-me, apesar dos ímpetos ainda infantis, e fico com anseios, querendo tudo na varanda dos desejos. Olhando as moças do futuro que não beijam, olhando as mulheres de saias curtas que, Ã noite, passam e conversam com os motoristas que estão nos carros estacionados na rua em que moro. Olhando, também, os arcanjos que não vejo e alguns bêbados movidos a conhaque e desilusões .
A flor que abre as pétalas diante das minhas retinas é digna de se pisar, mas não sou eu quem vai conseguir mudar o curso do tempo. Esse gosto não é meu.
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