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cronicas-->REFUGIO DAS TEMPESTADES -- 30/08/2003 - 20:09 (Maria Luiza Kuhn) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REFUGIO DAS TEMPESTADES

Inventei um caminho no qual plantei muitas flores. As minhas preferidas: estrelícias, gérberas de todas as cores, e bungavília em ramada. Providenciei uma confortável cadeira de balanço. Aí o sol sempre aparece nas horas mais incertas e necessárias, com a luminosidade dos dias do nosso outono. Este é o lugar onde cultivo a minha história. Com as memórias e as percepções construo o meu dia-a-dia.
E as memórias e as percepções são múltiplas.
Tem a memória do olfato, que seguidamente me traz saudade do cheiro de bolachas de melado com sal-amoníaco, tirado do forno à lenha e ainda quentes, disputadas pelos netos. Mas era só uma provinha. As latas se enchiam para o "Natal". Aí a memória visual, casa enfeitada, tudo cheirando a limpo. E o jardim, parece milagre, mas na memória visual do jardim tem sempre muitos pés de margaridas, gérberas e ramadas de bungavília, que nós chamávamos de três-marias.
Lembro seguidamente também dos rituais. Eram compassados os rituais. Acender o fogo no fogão a lenha, era atribuição do vó. A vó então podia levantar um pouco mais tarde, afinal ela era quem ordenhava as vacas (memória do olfato, com cheiro de leite fresco). O almoço e a jantar então....hoje até posso dizer que o jantar, era um farto café colonial. Tinha hora certa, lugares marcados à mesa e coisas indispensáveis, como conversas amenas e algumas boas risadas.
Talvez a memória mais ausente pudesse ser a sonora, pois se ouvia pouca música para o meu gosto. Para compensar tinha as férias de verão, nas quais podíamos viajar para uma vila ainda mais interiorana e visitar um casal de tios-avós. Era uma maravilha a abundancia de comida e de música. Formavam verdadeiramente um casal de cantores, com voz alegre e afinada. Cantavam à noite sempre após o jantar. Treinando a voz para o coral da igreja, diziam, mas garanto que era por puro deleite. E eu encantada me quedava quieta num banquinho, ali por perto, mesmo quando as primas iam dormir mais cedo.
Mas a minha memória mais forte e mais especial é a do "sentir". A memória do afeto. É linda, é profunda e maravilhosa. Não vem esta memória de mãos suaves e perfumadas, ou de uma frágil figura. Vem a memória, de um homem beirando os dois metros de altura. As mãos quase uma raquete. Feições fortes e salientes. Acho que calçava mais do que 44. Uma voz grossa e atrapalhada de alemão com português. Mas os olhos deste homem sempre foram as de um menino doce e travesso. E o coração , a mim sempre pareceu maior que o corpo, na metáfora.Certamente por isso que o criador lhe deu quatro filhas, entre elas minha mãe e uma delas portadora da síndrome de Down, que foi criada, mimada e estimulada com muita dignidade, até o dia que se foi,para deixar nos olhos de menino uma tristeza profunda e disfarçada. Era a sua missão ser suave e forte. Os nãos que ouvi dele,e foram poucos, sempre foram ditos para ficar e não para machucar. Mas ele me disse muitos SIM. Sim para o trabalho, sim para a família, sim para o ser humano, sim para o amor. E o sim do exemplo. Sempre digo que o meu avó me ensinou as várias formas de conjugar o verbo amar e as vezes eu quase esqueço. Por isso precisei inventar um canto na minha memória . É o caminho do refúgio nos dias de tempestade do meu mundo!



e-mail: maluizak@yahoo.com.br
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