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Contos-->ESTILHAÇOS DO CÉU -- 31/08/2004 - 21:30 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTILHAÇOS DO CÉU
Por: Edson Campolina

O velho pai deitou-se lentamente sobre a relva macia. Olhos cerrados, pois não tinha nuvens nem céu para admirar. Pôs-se a ouvir os ruídos da mata que lhe recordavam a infância: os sons dos capins se esfregando ao vento e enganando a desconfiança, os pássaros às sombras das folhas, de galho em galho em suas cantorias matinais, cigarras incansáveis, besouros zunindo o espaço, grunhidos, chiados. Um suave perfume lhe anestesiava. Esqueceu o silêncio e não percebia a escuridão de suas pálpebras. Sentiu-se leve e descobriu a verdadeira paz, tantas vezes negociada, sonhada, buscada e proclamada. Pôde senti-la brotando de seu diafragma e se espalhando pelas extremidades de seu corpo antes cansado, levitando-o.

Abriu os olhos e se deparou com o desbotado verde da parede do quarto hospitalar. Consciente de sua repentina lucidez, mas perdido na hora e no calendário. Ouvia somente o fraco e agudo sinal dos aparelhos que mediam seu fio de vida. Num último esforço alcançou seu inseparável bloco de anotações e se despediu:

“Filhos,

Sei que inevitáveis serão vossas lágrimas. Mas estarei num campo sem céu, onde o calor de um invisível sol, como d’uma manhã de inverno, nos aquece num afetuoso abraço. Estarei ao sabor do regozijo da colheita da vida. O ponteiro da balança de meus exemplos é agora imóvel. Alcancei a fronteira do horizonte de minha estrada. Deixo todos vós, o legado vivo da história minha. Voluntários ou não, meus acertos e erros agora servirão somente às lembranças vossas. Perdoem-me as ausências e destemperanças.

Meu pensamento agora vagueia pelos vossos serenos sonos dormidos sobre meu peito, pelas vossas sentidas lágrimas que, como ácidos, na infância perfuravam meu coração, pelas vossas franzidas testas da rebelde adolescência que me faziam retroceder na vivacidade da alma.
Não choro por vós, pois terão que cumprir vossas tarefas de caminhantes. Permito-me apenas vos desejar que enquanto tiverem o dia, vos lembrem de agradecer a sombra das nuvens e também inspirem, aliviados, o aroma da poeira se apagando com a chuva. Sejam fortes e, na necessidade do equilíbrio, vos apóiem no cajado da humildade e da bondade, sendo honestos consigo mesmos.

Sob todos os pensamentos e sentimentos que a escuridão da noite vos trouxer, não vos sintam sós, tampouco amedrontados. Este olhar que sempre vos observou, vezes em silêncio e na escuridão do quarto, agora se estilhaça pulverizando vossos céus com estrelas que nunca morrerão. Estarão a vos guiar pelos caminhos até o horizonte do nosso reencontro.

Com amor,

Vosso Pai.”

Fim.
30/08/2004
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