Começaram a surgir coisas em volta de mim, ou melhor, dentro de mim. Foi nessa hora que as palavras surgiram escritas, em um guardanapo de papel, quando estava tomando uma cerveja, sentado à mesa de um bar.
Tinha passado o dia, a semana, o mês todo trancado em um kaicha (local em que é executado o trabalho operário dentro de uma firma) e aquela hora eu me sentia livre como uma borboleta azul voejando perdida numa tarde de sol, só que era noite... Quase madrugada.
Olhando tristemente aquele guardanapo eu pensei.
É a nossa vida. Aqui a gente luta, trabalha excessivamente em busca de uma situação de vida melhor e com isso deixa-se de viver.
Somos gaijims (estrangeiros no Japão), exilados financeiros de nossos países.
Trabalhamos... trabalhamos... trabalhamos.
Vemos o tempo e a nossa vida passar em uma terra estranha, com costumes e valores completamente diferentes aos quais fomos educados e o pior de tudo, longe de pessoas que amamos.
Aqui nesta terra há peruanos, argentinos, iranianos, etc... Gente de todo o mundo vivendo como irmãos uma vida difícil marcada pelas saudades de seus amigos e parentes que estão distantes, como eu que sou brasileiro.
Deixamos nossos países por que?
Neles faltava comida em nossa mesa, dignidade e honestidade na política em vigor, segurança e educação para aqueles que dependiam de nós e para nós mesmos.
Optei por este exílio, como todos os que vivem nesta terra longe daqueles a quem amam e sentem falta, para conseguir viver com dignidade a minha vida, só que o preço que estou pagando é muito alto.
Não sou mais um brasileiro, sou só um gaijim. Um escravo do trabalho para poder dar aos meus aquilo que eles necessitam e em meu país era impossível vivendo com honestidade.
Naquele guardanapo eu tinha escrito: TENHO VERGONHA DE SER BRASILEIRO.
CARLOS CUNHA
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