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Cordel-->JOÃO DA GOMÉIA O eterno babalorixá de Caxias -- 31/10/2008 - 08:00 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
João da Goméia - O eterno babalorixá de Caxias


Joãozinho, filho adotivo de Jubiabá
famoso e poderoso pai-de-santo da Bahia
de todos os altares e de todos congás
chega a Baixada por Duque de Caxias.
Exímio dançarino sem medo de careta
incorporava o caboclo Pedra-Preta
trazendo ao carente fé, sonho e fantasia.

Nascido em Inhabube, interior baiano
já na adolescência chegava a Salvador;
era um mulato, neto de negros africanos
que buscava alívio e cura de terrível dor.
Levado pelas mãos da mãe, “ Vó Senhora”
Maria Vitoriana Torres, mãe de toda hora
mãe de pele, mãe de cheiro, mãe de cor.

Curado, pela casa de Jubiabá bem ficou
por três anos para iniciar-se “no santo”
e como caboclo, a dar consultas passou
pois chegava gente de todos os cantos.
Na rua Goméia onde estava o “barracão”
e onde se cumpria os rituais de devoção
como danças, cantorias e sem prantos.

Já eram os santos da casa Oxóssi e Iansã
como nos ritos negros da nação angolana
por sempre como ontem e será no amanhã
e nos batuque do bairro de Copacabana
como nos de São Caetano, em Salvador
onde João da Goméia bem cedo brilhou
e até hoje, na Baixada, sua luz se derrama.


O nosso babalorixá de primeira grandeza
no início dos anos 50, chegando a Caxias
trouxe o melhor da sua corte, a sua riqueza
nas inseparáveis filhas de santos da Bahia
nos quindins, nos acarajés, bijus, pamonhas
e, dos rituais da nação Angola, a cerimônia
que oriunda da mãe África era liturgia.

“Pai Renato” chefe de terreiro por aqui
era idoso, corpulento e andar vagaroso
foi logo percebendo o que estava por vir
na figurava desse baiano muito formoso
que alugou casa na “25” e terreno comprou
no bairro de Copacabana onde começou
a montar, em Caxias, o barracão famoso.

Foi uma amizade plenamente consolidada
na integração entre o antigo e o novo barracão
nas festas que uma ou outra casa sempre dava
e que nunca se perdia do outro a atenção.
Era na troca de favores, nos utensílios de cozinha
nas “comidas de santo”, na “saída da camarinha”
ou nas concorridas festas de consagração.

A arquitetura do casarão da rua Vassouras
hoje Castro Alves, outro baiano afamado
tinha no rodomi paredes bem duradouras
como a casa de eguns de céu entelhado.
Dedicada ao culto aos muitos antigos
o espaço, às mulheres era espaço restrito
e “a roça” um grande terreiro consagrado.

Naqueles anos 50 e 60 era o terreiro
uma das grandes atrações da cidade
tanto como o colorido domingueiro
das tradições culturais de nordestinidade.
A metralhadora e o cetim da capa preta
na imagem de Tenório sem retreta
numa cidade que crescia com velocidade.

João da Goméia, sentado na poltrona da sala
no fino acabamento que proporcionava a seda
reproduzia a imagem de rei em noite de gala
na plenitude de sua dignidade e nobreza.
Com seu anel de ouro e pedra azul na mão
cores, contas, búzios e sonhos no coração
era de luz, muita luz, a sua grandeza.

João Alves Torres Filho agora estrelava
os cenários das mais importantes revistas
e nas escolas de sambas seu brilho desfilava
cintilando na multidão que passava na vista.
Era o senhor dos atabaques nos terreiros
notícia na imprensa daqui e do estrangeiro
que só flanava na onda, indo pela crista.

O da Goméia era também do carnaval
da Imperatriz e da Império Serrano
do baile de gala do Teatro Municipal
e nos tradicionais do João Caetano.
Era do Candomblé, um líder popular
como era a Menininha do “Gantois”
a grande rainha da nação dos baianos.

Caxias foi na época a grande referência
na figura de João, da liturgia afro-brasileira
para onde até chegavam os homens de ciência
curiosos na fé inexorável da alma brasileira
na constatação inabalável de outro mundo
de outras vidas que vindo bem lá do fundo
era bem mais que uma solução derradeira.

E, chegavam os deputados e os senadores
que não somente dos votos eram dependentes
assim como os artistas de todos os setores
do cenário nacional, até mesmo presidentes
numa lista que nem assim logo se encerra
como o presente da rainha da Inglaterra
que era de muito brilho como sua gente.

Eram concorridas as festas no barracão
e contavam sempre com personalidades
que lhe davam brilho, glamour e emoção
como um grande acontecimento na cidade.
Eram festas do Caboclo Pedra Preta e dos Orixás
Iansã e Oxossi, de Olubajé e Águas-de-Oxalá
como de Lorogum fechando de felicidade.

Era a Caxias do intercessor aos orixás
uma Bahia sem as 365 igrejas de Solano.
Caxias de todos os altares e todos os congas
de todos os inkices e todos os santos.
A Caxias que no seu sincretismo religioso
sempre se permitiu o apreço respeitoso
ao padre, ao bispo e ao pai-de-santo.
Em 1971, num mês de fevereiro chuvoso
numa festa de cerimônia religiosa, desmaiou
o nosso maior babalorixá, o mais famoso
o homem que em nossa Baixada divulgou
o Camdoblé que vindo das terras africanas
abençoado nos batuques das terras baianas
João da Goméia por todo o mundo afamou.

As dores que em criança sempre o aturdia
voltou com ferocidade no dia 19 de fevereiro
e, na terra da garoa, o babalorixá, morria
fechando no luto pelo Brasil os terreiros.
Terminando o ciclo do nosso Tata-Londrá
do construtor de polêmica, da luz do candiá
de um mito da cultura religiosa brasileira.

Suas visitas a São Paulo eram freqüentes
não só pela amizade com o governador
deputados, artistas e tanta outras gentes
como aos barracões que era colaborador
nas visitas a Camarão de Iansã,Toloquê
Vavá Negrinha, Bobó e Décio de Obaluaiê
como tantos outros de quem era admirador.

Embalsamado e transportado para Caxias
seu corpo ficou exposto no “Barracão”
na missa de corpo presente, branco era magia
de panos e rendas que sublimava a emoção.
Pelas ruas eram lançadas flores e saudações
batuques entoados em forma de orações
enquanto ao cemitério o levava a multidão.

O calor e o sol ao povo não desanimava
no féretro ao cemitério de N.Sra.de Belém
que o bairro do Corte Oito, no centro, abrigava
a morada de todos que não era de ninguém
e das janelas das casas o povo comovido
acenava com lenços brancos, enternecido
e ao final da oração, em coro, dizia amém.

Na despedida final, enquanto o céu escurecia
relâmpagos e trovões invadiram a cidade
prenunciando um temporal que logo caíra
inundando a tudo e a todos com ferocidade.
Todos permaneceram até o sepultamento
quando entregue à terra no último momento
o sol reaparece terminando a tempestade.

Encharcado, o povo deixava o campo santo
no último adeus ao grande babalorixá
que na história da cidade fez seu canto
reservando, em Caxias, o seu lugar.
Joãozinho da Goméia, mito, lenda, história
João Alves Torres Filho, Olorum fé, glória
e, para todos nós, Paz e Amor, Saravá...







Referências:
João da Goméia - Guilherme Peres
Nilson D’Xangô – Realengo (RJ)
Orixás - Silvio D’Osumaré (Editora Minuano Ltda)










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