Usina de Letras
Usina de Letras
113 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62164 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22530)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50574)

Humor (20027)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4753)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->"PAPAI NOEL EXISTE" -- 24/08/2004 - 09:21 (RUBENS NECO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PAPAI NOEL EXISTE
PSEUDÔNIMO: NECO

Aproximava-se mais um final de ano. Existia um clima de confraternização e solidariedade no ar. A cidade estava linda, repleta de árvores e casas ornamentadas com pequenas lâmpadas multi coloridas. Em alguns lugares ouvíamos músicas suaves. A ruas tornavam-se num cenário de encantamento, e as pessoas por conseqüência deixavam-se envolver pelo clima natalino, tornando-se mais amenas e sensíveis. E neste clima tão especial, todos os anos as agências dos correios recebem milhares de cartas de crianças carentes, que inocentemente escrevem para o Papai Noel. São tantas as correspondências que o correio teve a necessidade de criar um departamento específico, a ASCON-Assessoria de Comunicação, que teria por missão responder a todas elas. No entanto, em dezembro do ano 2000, o volume de correspondências foi tão grande que o departamento não daria conta de respondê-las até o prazo determinado, assim sendo, fomos escalados para ajudá-los, duas semanas antes do Natal.
Naquela manhã de sábado, acordei cedo como de costume. Sentia-me ansiosa, pois no meu íntimo sabia que aquele dia seria diferente, já que iria fazer algo que me tocava profundamente. Comovia-me ler, sentir tamanha emoção e observar muitas esperanças contidas em cada uma daquelas singelas correspondências. Esperançosos em poder atender a todas aquelas criaturas inocentes iniciamos a leitura.
Tive a oportunidade de conhecer através daquelas escritas muito sofrimento, muitos sonhos, muitas necessidades. Crianças ansiosas e aflitas, mas todas com a certeza que Papai Noel resolveria tudo até o Natal. Ficávamos angustiados por ler sobre tantas crianças necessitadas e sem poder fazer algo de concreto. Durante a leitura tentava me concentrar sem me deixar envolver pela emoção, por perceber tanta tristeza e solidão. Os funcionários selecionados para o trabalho liam e emocionados deixavam que as lágrimas rolassem espontaneamente, pela inocência e carência de cada uma delas.
Ainda havia várias caixas espalhadas no local. Andréa, uma das funcionárias abriu uma caixa e tirou da embalagem uma correspondência iniciando a leitura. Ao terminar de ler a carta, mal podia falar, estava em prantos. Todos nós ficamos apreensivos, pois quase todas as cartinhas nos emocionavam, mas aquela deveria ser especial. Num gesto emocionado chamou-me para lê-la. E sob a curiosidade de todos os presentes, peguei o envelope de suas mãos e comecei a ler. O Destinatário era para Papai Noel, endereçado ao Pólo Norte- Finlândia, foi lindo poder ler isso.
Era de uma menina de oito anos de idade, que com muita dificuldade escreveu para o Papai Noel, em seu subscrito foi possível sentir a emoção e a singeleza com que escrevia. Mesmo sentindo-me influenciada pela emoção de Andréa, tentei ser a mais imparcial possível, e iniciei a leitura em voz alta.
“Papai Noel, meu nome é Caroline Stefani, mas pode me chamar de Carol, porque eu gosto quando me chamam assim. Moro com minha avó num barraco construído por ela com muita dificuldade, pois somos muito pobres. Sabe Papai Noel, minha mãe faleceu quando eu tinha dois aninhos de idade, de uma doença muito estranha que minha avó não soube me explicar, e também sinto saudades de minha mãe, mesmo sem lembrar-me dela, e não tenho pai. Adoro minha avó, porque ela cuida de mim sempre com muito carinho como se eu fosse sua filha e não sua neta. Até posso dizer que é a pessoa que eu mais amo neste mundo, mas como já disse, sinto falta de ter uma mãe”.
Neste momento meu coração disparou. Era o sinal que eu estava esperando, pois Deus não quis que eu tivesse filhos, e esse é o meu maior sonho, ser mãe. Poder afagar e dar carinho á uma criança, realizar todos os seus sonhos, mas Ele em sua infinita sabedoria, com certeza havia reservado o momento certo e alguém muito especial para mim. Acreditei que Deus ouviu minhas preces, mas estava muito abalada com a história de Carol e chorava copiosamente.
Meus colegas de trabalho sabiam de minha ânsia em ser mãe, e minha adoração por crianças, inclusive da minha intenção de um dia adotar uma. Meus amigos ouvintes também acreditaram que havia chegado a minha hora, e abraçaram-me. Diziam que esta menina precisava de uma mãe e com certeza Papai Noel iria atendê-la. Enxuguei as lágrimas, respirei fundo, apesar de tremula dei continuidade a leitura, estava muito ansiosa para saber mais sobre Carol. Em minha mente e no meu coração eu já tinha decifrado todo o enredo daquela maravilhosa menina.
“ Papai Noel, eu sei que o Senhor é um homem muito ocupado, mas eu preciso que neste Natal o Senhor atenda o meu pedido que é muito importante para mim. Sabe, eu sempre esperei por sua visita, mas infelizmente o Senhor nunca apareceu. Eu estou um pouco doente, na verdade Papai Noel, sempre tenho algum problema que obriga minha avó a correr de um lado para outro a procura de um médico, por isso se eu for atendida, com certeza terei muita alegria, pois é a única maneira que tenho de retribuir um pouquinho da atenção para com a minha pequena família, que é minha avó. São somente três pedidos. O primeiro é que eu gostaria de ganhar de Natal um panetone, eu acho esse nome tão bonito, e deve ser muito gostoso, eu nunca comi um panetone. O segundo, é uma Coca-cola, minhas coleginhas levam no lanche da escola, eu fico olhando quando elas tomam, tenho vontade de beber, mas sinto vergonha em pedir um pouquinho. E o terceiro Papai Noel...”.
Neste momento meus olhos encheram-se de lágrimas, impedindo que eu pudesse enxergar as letras, eu não agüentei, minhas pernas bambearam, tive que me sentar, minha emoção era tanta que já podia vê-la em meus braços. Apressei-me em ler.
“ O terceiro Papai Noel, é um frango assado, que eu queria dar de presente para a minha avó. Um dia desses, ela estava chorando, tinha fome. Entre o pouco que tínhamos para jantar, ela me disse que estava com saudades de comer um frango assado, e que já nem se lembrava do gosto que tinha.”
Ao terminar de ler a cartinha de Carol, fiquei indignada, mas muito emocionada ao perceber que aquela criança mesmo com uma grande carência maternal, não se importou consigo mesma, mas queria presentear uma pessoa que durante o ano todo cuidou dela, esta que sofre e vive as angustias de seres humanos esquecidos pela sociedade e por nossos governantes. Chamei Márcia, outra supervisora, e confessei a ela que eu gostaria de conhecer Carol pessoalmente, e se possível adotá-la. A cartinha correu de mão em mão, por todas as dependências do correio, e todos que a liam choravam pela simplicidade com que Carol escrevia ao Papai Noel, e sonhavam em como poderiam ajudá-la.
Combinei com os outros funcionários do correio que levariam o que Carol gostaria de ganhar, mas ela queria receber os presente do próprio Papai Noel. O supervisor da área de onde Carol morava, Valderi determinou aos carteiros que a encontrassem a qualquer custo, tínhamos que atender ao pedido de Carol. Obviamente que os outros pedidos também foram atendidos, e todas as cartinhas foram respondidas. Mas o caso de Carol era algo especial, meus amigos tinham a esperança, não somente de atender ao pedido da menina, mas talvez de também realizar o meu sonho, e assim também ganhar uma filha.
Estava ansiosissíma, não via a hora daquele telefone tocar com a novidade de que localizaram a menina. As horas demoravam a passar e minha agonia era intensa. De repente o telefone tocou, quase não tive coragem de atender, mas o impulso foi maior e lá estava eu perguntando sobre Carol. Valderi entre choro e risos dizia: “Cida, ela é linda!, Ela é meiga, é um anjo!Sabe, ela tem a língua presa, e uma voz linda, fala baixinho!!. Cida, foi Deus que a colocou em seu caminho.” Disse-me que tiveram que socorrê-la, pois estava com os pés feridos, quase não podia andar, e que durante o trajeto ao pronto socorro, falaram somente de mim para ela. Carol também se interessou por mim e fez muitas perguntas ao meu respeito, quis saber como eu era, meu tamanho, cor, idade, se eu era bonita. Disse-me que ela era realmente uma criatura muito especial, e que também estava ansiosa para me conhecer e pediu a ele que eu fosse junto com o Papai Noel. Prometeu a ela que todos os seus desejos seriam atendidos. A partir daquele momento meu coração não tinha mais sossego.Queria que os dias passassem rapidamente, só para poder abraçá-la e beijá-la.
Naquela semana, por obra do destino, recebemos a visita do simpático apresentador da Rede Tv, Otávio Mesquita. Ao chegar no correio, procurou saber de alguma correspondência que pudesse ser levada ao programa e tentar uma contribuição. Rapidamente a cartinha de Carol lhe foi entregue e todos presenciaram quando ele começou a ler. Curiosos, aguardávamos suas reações. Para nossa surpresa, demonstrou toda sua sensibilidade, e logo vimos as lágrimas correrem por sua face. Chorava como criança, emocionado dizia que Deus havia preparado aquela visita, pois em tantos anos de profissão, nunca deparou com nada igual. Pediu a permissão aos funcionários para levar Carol ao seu programa. E assim o fez.
Uma semana antes do Natal, as chamadas durante o dia preparavam os telespectadores e divulgavam a presença da inocente menina que havia enviado uma cartinha ao Papai Noel.
No dia da apresentação de Carol no programa, aguardávamos ansiosos a sua entrada triunfal. Senti imensa alegria ao ver uma linda criança dirigindo-se ao palco, acompanhada por sua querida avó, mas Carol não demonstrava alegria, entrou tímida, com olhar desconfiado e ficou imóvel.
Ao apresentá-la e relatar o seu drama o apresentador merecedor de todo respeito, e confiança, recebeu por parte dos telespectadores respostas imediatas. A Bauducco penalizada ofereceu a Carol um ano de todos os seus produtos. A Coca-Cola e a Sadia sensibilizadas pelo pedido singelo da menina, também ofereceram seus produtos pelo mesmo prazo. Prometeram ainda, que Carol passaria a freqüentar uma escola particular e teria uma casa para morar.
Todos nós gritávamos de alegria, eu continuava assistindo ao programa e não tirava os olhos de Carol, que cercada de presentes entregues por um Papai Noel, não demonstrava felicidade em seus olhinhos. A cada presente que recebia agradecia dizendo baixinho, de forma toda especial “Bigado”, a língua presa de Carol nos encantava. Confesso que tive um enorme ciúme, cheguei a pensar que talvez Carol nem quisesse mais me conhecer, afinal todas as suas carências seriam sanadas, por outro lado sentia-me aliviada, pois sabia que conseguimos amenizar tanto sofrimento, mas naquele momento senti que talvez não teria a chance de adotá-la.
Apesar de todos os prêmios recebidos pelas empresas, Carol nos surpreendeu quando no dia seguinte ligou para Valderi e perguntou se eu a tinha visto na televisão. Disse-lhe que estava muito contente, mas que esperava os funcionários do correio, e que eu cumprisse a promessa de visitá-la junto do Papai Noel. Durante a conversa ao telefone Carol não se manifestou quanto aos presentes recebidos, até parecia que nada havia acontecido, falava como se suas carências continuassem as mesmas. Naquele momento, meu coração palpitou de alegria e uma nova esperança tomou conta de mim.
Consegui junto aos funcionários arrecadar um vale refeição de cada um e nos cotizarmos para que pudéssemos comprar brinquedos e mantimentos, pois Carol morava num local onde havia inúmeras crianças carentes, e assim o fizemos. Carol nos ligava diariamente para confirmar se iríamos á sua casa.
Finalmente o dia 24 de Dezembro chegou. As 14:00 horas a Van aproximava-se do local. Estávamos em torno de 15 pessoas. Valderi vestiu-se de Papai Noel, carregava um saco cheio de brinquedos e com os alimentos que Carol havia pedido. Estela, Eliane e Márcia foram as primeiras a avistar as crianças, mesmo á distancia podiam ver seus olhinhos brilhando. Eva emocionada, não via a hora de poder abraçá-los. Finalmente chegamos, Carlos e Paulo desceram da perua sorridentes em frente a casa de Carol. Logo foram abordados pelas crianças, e Eduardo ao ver-se cercado por elas emocionado chorou. As crianças ficaram enlouquecidas ao ver o Papai Noel descer do carro, e carinhosamente ele ia distribuindo os brinquedos a cada uma delas. Zilda, Jeisa, Adelaide e Rose, estavam muito emocionadas, Rosemary e Otilia encontravam-se sensíveis á situação. Eu especialmente estava ansiosa, pois não via a hora de ver Carol de perto, na verdade eu já a conhecia pela televisão, mas Carol nunca havia me visto.
Eu caminhava observando aqueles rostinhos sofridos que expressavam alegria, mas mal eu podia andar. Logo fui surpreendida por uma criança que corria em minha direção chamando meu nome como se já me conhecesse há anos. Era Carol, abracei-a e beijei-a com todo amor de meu coração. Carol era realmente muito meiga, tinhas olhos castanhos escuros, cabelos castanhos levemente ondulados, e pele morena clara. Carol agarrou-se em mim e ao sentar-me para descansar ela sentiu-se tão à vontade comigo, que se sentou em meu colo, e ficou comigo como uma criança que acabou de encontrar sua mãe. Quando Valderi se aproximou, ela perguntou se ele havia trazido o que ela pediu, pois estava ansiosa para presentear sua avó. Com tantos presentes que já havia ganhado, parecia não ter se importado com eles, o que realmente interessava eram aqueles que lhe seria entregue pelo Papai Noel, os quais ela havia pedido. Aguardava com tanta simplicidade e carinho o panetone, a coca-cola e o frango. Levantou-se de meu colo, e olhando nos olhos do bom velhinho, agradeceu. “Bigado Papai Noel” . Ao pegar o frango, disse que este seria para sua avó, pois ela esperava isso há muito tempo, e eu vou atender o pedido dela. Correu para dentro do barraco e demonstrando alegria entregou-o a sua avó, que a abraçando, agradeceu.
Fomos convidados a entrar. Conversamos muito, rimos, e decidimos levar Carol para tomar sorvete, enquanto isso a avó prepararia o frango assado para a ceia de Natal. A emoção era tanta que todos riamos e chorávamos ao mesmo tempo. O tempo todo Carol ficou no meu colo. Eu estava de óculos escuro, e a menina tirou-o de meu rosto colocando-o no seu, disse-me que nunca tinha tido um óculos de sol, perguntou se ficava bonita de óculos, eu disse que estava linda, e que podia ficar com ele. Passamos a tarde toda juntos, no caminho liguei para Jonas, meu marido, e Carol conversou com ele como se já fosse da família e como se o conhecesse há tempos.
Ao voltarmos, a avó de Carol nos recebeu com muita simpatia, e aos poucos foi nos contando sua história. Disse-nos que a mãe de Carol faleceu quando ela tinha apenas dois aninhos de idade, pois a mesma era portadora do vírus da Aids. Consegui perceber o enorme carinho e laço que unia as duas, o amor que Carol nutria por sua avó. Percebi que ainda não seria meu momento, mas acredito que Carol seja a pessoa especial que Deus reserva para mim. Já no fim do dia, despedimo-nos e Carol anotou nosso telefone prometendo nos ligar.
Passaram-se oito dias. Para minha surpresa, ao chegar em casa recebi um recado de meu marido que me causou certa estranheza. Disse-me que por diversas vezes o telefone tocou com chamadas a cobrar e que ao atender e identificar-se desligavam. Exatamente ás 16:30 horas, novamente o telefone tocou, e desta vez eu o atendi. Carol tentava desculpar-se por ter ligado tantas vezes sem se identificar, mas queria falar comigo. Queria saber se eu tinha passado bem o Natal e o Ano Novo, e que já sentia saudades de mim. Fiquei tão feliz, pois não acreditava que Carol fosse telefonar para mim, até questionei se era comigo mesmo com quem ela queria falar. E ela dizia “ É claro, você não é a moça loira? Foram com certeza os dias mais felizes de minha vida.
A partir de então Carol e eu mantemos uma grande amizade, nos falamos sempre, trocamos confidencias e palavras amigas. O fato de ter sido relatado no programa de televisão que Carol era portadora do vírus HIV, no qual o apresentador envolvido pela emoção e demonstrando as melhores intenções divulgou, infelizmente trouxe a Carol uma descriminação por parte de todos que a conheciam. Hoje Caroline Stefani vive numa casa com sua avó, que fora construída no próprio terreno onde moravam, por outras entidades e estuda num colégio particular. Apesar de estar vivendo uma vida mais digna com sua avó, sinto que um dia estarei fazendo parte da vida de Caroline. Para mim não importa o que ela traz dentro de si, mas sim, o que eu posso fazer por ela. E conquistá-la é o meu maior desejo.











Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui