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cronicas-->Um Presente da Vida - Parte I -- 25/08/2003 - 14:01 (Rafael dos Santos Manoel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A vida não anda muito fácil. E creio que não seja só pra mim. Mas, infelizmente, nessas horas é que alguns significados comuns se tornam meio obscuros. O que é felicidade? E o sucesso? Vale pra quem? O sucesso traz dinheiro, e este não compra a felicidade? Ou, como dizemos mais céticos, o dinheiro manda buscar a tal felicidade?

Minha vida sempre caminhou de maneira relativamente fácil. Vindo de família rica, tinha tudo o que queria, quando bem entendesse. Tinha um enorme sitio a minha disposição, alem de meu irmão, meus amigos, primos e cia..
Apesar da brigas constantes de meus pais, como era muito novo conseguia tocar a vida. Mesmo quando minha mãe nos tirou de casa e fomos morar (sem meu pai, claro) nos fundo de uma locadora, a única coisa que me chamava atenção era o pé de amora nos fundos do terreno novo. Até que que um dia as coisas ficaram feias e perigosas. Meu pai vinha sofrendo de crises fortes e se travava com álcool e antidepressivos. E essa mistura quase fatal o fez destruir (com marretadas e pauladas) a locadora de minha mãe. Foi a gota d´água. No mesmo dia, com uma pick-up , também destruída por meu pai, viemos para São Paulo. Eu, minha mãe e meus irmãos.
Já tinha amigos em São Paulo, pois minha vó morava aqui e sempre vínhamos visitá-la. Mas só amigos. Minha mãe não tinha emprego e muito menos estudo para consegui-lo. E isso tudo com a prole a tira colo.
Posso dizer que sempre admirei minha mãe, desde que me conheço por gente, e a partir daquele ano (1988) ela passou a ser um exemplo de vida, e eu mal tinha saído da segunda série ainda. Ela se virou como podia. Acordava as 4:00 e ia entregar jornal de moto. As 7:00 voltava pra casa e 1 hora depois já estava trocada para trabalhar como vendedora de moto comissionada. E sem experiência. Se havia dúvidas quanto ao talento da minha progenitora, posso dizer apenas que NUNCA estudei 1 ano sequer em escola publica.
Vivíamos relativamente apertado, porém nunca nos faltou nada. Nem no Natal ficamos sem presente, mesmo com minha mão profetizando "Natal é uma data capitalista, temos que nos amar todos os dias do ano e blábláblá.." Era bonito vê-la falando uma coisa desse tipo e chegando cheia de brinquedos no dia 24...
A vida parecia ter entrado no eixo novamente. Minha noção de sucesso se aprimorava a cada ano que passava.
Não tinha nenhum problema com a escola. Sempre notas altas, sendo um dos primeiros da sala.. e o que deixava os professores perplexos, me enchia mais ainda de orgulho: eu não estudava. E não apenas isso, não tinha caderno, só fazia bagunça e ia bem. Quando tomava bronca, retrucava: "Professor, na prova à gente vê!" Santa Arrogància... porém, sempre com bons resultados... Acabei virando o xodó de alguns professores. Participava de competições de matemática, de redação, do curso de teatro, do time de basquete da escola e no futebol, era titular do time da minha sala. Sincera e modestamente, minha vaga de titular era meio OUTORGADA, já que mesmo não sendo um craque nato, conhecia o pessoal do time e isso facilitava um pouco as coisas.
Organizava festas, estava sempre de caso com alguma menina das mais interessantes da escola... e elas todas mais velhas, diga-se de passagem.
Mas o colegial se aproximava. E todos passaram a falar em prestar vestibulinho.
Nessa época, minha mãe começou a cobrar mais minha dedicação pelos estudos, pois a prova para as 3 escolas que eu iria prestar eram as mais concorridas da cidade e meu irmão, 1 ano mais velho já estava em uma delas, aumentando assim a pressão sobre mim Mas eu nem dava muita bola. Sabia (ou ACHAVA que sabia) do meu potencial. E um dia, profetizei: "Mãe, pode ficar tranquila, pois vou passar!" Mais uma vez a arrogància me subia à cabeça. Um tombo ali ajudaria a manter meus pés no chão. Porém, não era a hora...
Passei nas 3 escolas, sendo que 2 delas na primeira chamada. Havia cumprido a promessa e agora podia optar onde estudar. Escolhi como quem compra um colar de brilhantes, de nariz empinado.
E logo no primeiro bimestre do colegial, já tinha feito varias amizades, inclusive com os veteranos e por isso recebido um convite para participar do grêmio da escola. Imagine: eu, bicho, recém chegado e já no Grêmio? Era o ápice para um garoto de 14 anos... (sempre estive 1 ano adiantado na escola!). Mas o destino preparava algo pra mim, e mal eu sabia que naquela sexta-feira , 7 de abril minha vida passaria por uma prova de fogo. Literalmente.
Após a aula, já no inicio da noite, voltava pra casa de metro. Ao descer na estação SÉ, fui me distrair com uns colegas que ainda estavam no vagão e cai na linha do metro. Com ele passando. Tive fratura dupla de fêmur, esmagamento de músculo, coloquei 19 pinos e fiquei 1 ano sem andar, sendo 1 mês internado, 6 meses de cadeira de rodas e 5 meses de muleta.
Por causa do soro, emagreci demais. Meu aspecto jovem, de rosto corado e pernas grossas, agora davam lugar a uma imagem adoentada de um deficiente físico.
Ficava me perguntando o que eu havia feito para merecer tudo aquilo. Que mesmo com meus ataques de arrogància, nunca havia feito mal a ninguém e me achava injustiçado por aquilo estar acontecendo justo comigo...
Sabia que ia voltar a andar, sendo como eu era antes. Mas não totalmente. Tive suspeita de trombose, com isso havia a possibilidade de minha perna ser amputada. Eram dias e noites de choro continuo. Até que o médico disse que o alarme tinha sido falso e que a única coisa é que por causa de minha perna ter sido esmagada, ficaria na parte de trás da coxa um buraco.
Aquilo parecia ter sido o fim pra mim... Entrei em desespero e pedia a Deus para que poupasse daquilo. Queria sumir e nunca mais voltar... Imagine eu, com um buraco na perna.... Até que num de meus ataques nervosos minha mãe disse: "Filho, você devia estar feliz de ter as 2 pernas ainda..."
Eu havia invertido novamente o valor das coisas... e comecei a perceber onde realmente estava. Até aquele momento de minha vida, sempre quis ser "independente" de todos. Mas ali, na cama, sem poder mexer as pernas, vi que sozinho eu não era ninguém. E para uma pessoa, ou melhor dizendo, para uma criança descobrir que não é imortal aos 14 anos é traumatizante.
Tinha que pedir ajuda pra tudo. Até pra comer, pois não alcançava a comida. Chorava compulsivamente e sempre tentava resolver o que podia sozinho. Até que numas dessas, tentei passar da cama pra cadeira de rodas sozinho, cai no chão e como estava sozinho em casa, fiquei quase duas horas no chão, com minha perna queimando em dor até que alguém chegasse.
Porém, as coisas foram melhorando, até que um dia, numa consulta rotineira, após examinar minha perna, o ortopedista afastou-se de mim uns 4 passos, levando minha mãe e as muletas com ele e disse: "Levanta e vem!"
Aquilo foi como um soco na minha cara. Ele estava completamente louco. Como assim pedir para que eu me levantasse? Sem apoio nenhum? Mal havia se passado 1 ano do acidente.... Ele não imaginava o tanto de dor que eu já havia sentido naquelas pernas... e não queria sentir tudo de novo.. e se minha perna estourasse novamente? E ali, eu grande conquistador, percebi que era apenas uma criança de 15 anos como as outras, covarde e medroso.
Chorei e disse que não ia... tinha medo de cair, de me quebrar de novo. Chorando também, minha mãe tentou ajudar-me, quando foi interrompida pelo médico: "Se voce ajudá-lo agora, ele nunca mais anda sozinho na vida.."
Reuni o que me restava de força depois de todo aquele trauma e desci da maca. Sozinho. Eu de pé novamente. Pra ser sincero, balancei, perdi o equilíbrio e quase cai. Porém estava em pé novamente. Bastava andar, simples e comum, como aprendi a fazer aos meus 2, 3 anos. Mas diferentemente da bicicleta, depois de 1 ano sem andar suas pernas já não respondem aos seus estímulos, e na primeira tentativa de passo, ainda no consultório, eu cai de frente. Doer doeu, não posso negar, mas agora sabia que podia. Que eu era capaz.
Como das outras vezes eu havia conseguido. Só que agora eu tinha sofrido pra conseguir. Tinha plantado para colher e não apenas fiquei sentado á sombra esperando os frutos caírem sobre meu colo. A vida tinha mudado de sentido pra mim, mas muita coisa ainda precisava aprender....

Continua...
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