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Contos-->" A LUZ DOS OLHOS MEUS" -- 20/08/2004 - 17:53 (RUBENS NECO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A LUZ DOS OLHOS MEUS

...É ! Tinha que ser ele! Desde pequeno era o mais atrevido de todos. Exercitava karatê e judô; era respeitado por todos o coleguinhas, e nas brincadeiras era sempre o mocinho que derrotava, sem piedade, os bandidos. Usava sua inteligência para arquitetar planos mirabolantes, só para levar vantagens sobre os pobres amiguinhos que faziam o papel dos malfeitores. No colégio participava de todos os esportes. Queria ser sempre o primeiro. As meninas eufóricas, observavam e cutucavam-se ao vê-lo sem camisa, na barra fazendo seu aquecimento. Exibia seu físico avantajado. Era de fato um rapaz muito bonito. Aos dezoito anos alistou-se para servir ao exército. Pretendia seguir carreira, porém fora dispensado. Passou num concurso da Polícia Militar, e veio trabalhar no nosso bairro.
Ele já era bonito. Fardado então?! Era o que de mais bonito tínhamos para ver. As moças do bairro sempre davam um jeitinho de estarem por perto quando ele fazia a ronda nas ruas. Em pouco tempo, até pelo seu tipo físico, sempre praticando esportes, foi galgando postos e sendo promovido, fazendo carreira na Polícia Militar. Nunca perdeu uma chance de se aperfeiçoar em sua profissão, assim tornou-se um dos mais conceituados investigadores da polícia.
Luiz, este é seu nome. Para alguns Luizinho. Porém numa manhã de primavera, acordamos chocados com a notícia que o nosso Luizinho estava sendo submetido a uma delicada cirurgia. Na noite anterior, numa ação articulada, sua equipe programou um cerco para prender Lino, um dos maiores e mais violentos traficantes de São Paulo, e desmembrar uma das maiores quadrilhas de contrabandistas de armas e drogas, onde há meses vinha acompanhando.
Através de meios informatizados, a polícia tomou conhecimento de uma grande entrega de drogas, com dia e hora marcada. Os policiais liderados por Luiz, já comandante, deram ordem de prisão á Lino e seu bando, que reagiu a balas. Após alguns minutos tudo estava acabado. Todos os bandidos estavam mortos. Ao procurarem pelo comandante, viram um corpo estendido no chão, era Luiz, que fora atingido com um tiro na cabeça. Seu estado era grave. Os amigos gritavam e corriam para socorrê-lo. Luizinho necessitava de cuidados especiais, pois o impacto fora tão violento que o sangue escorria por seu corpo, mesmo assim, ele tentava reagir e se levantar. Ao abrir os olhos, dizia aos companheiros que não estava enxergando nada. O resgate o levou, e os amigos, inconformados, comentavam que era impossível prever as conseqüências do acidente.
Durante meses Luiz foi acompanhado por médicos em tratamentos rigorosos. Passou por algumas cirurgias, e aos poucos foi se recuperando. A polícia reconhecendo o esforço de Luiz na luta contra o crime, colocou a sua disposição o Cabo Dener, para acompanhá-lo em todas as visitas ao médico e tratamentos; como fisioterapia e consultas com oftalmologista. Um grande especialista em globo ocular dedicava-se na recuperação de sua visão, onde um pequeno sucesso já podia ser observado.
Após dezenas de sessões, numa tarde ao retornar de uma consulta, depararam com uma bela jovem, com uma atitude suspeita. Estava em cima das muretas de um Viaduto da cidade. Gritava e estava totalmente desorientada. Os transeuntes, preocupados, tentavam impedi-la de pular, embora ela dizia coisas que ninguém entendia.
Luiz, mesmo debilitado, e enxergando apenas o vulto de uma mulher, pediu ao Cabo Dener, que estacionasse o veículo; saiu do automóvel com dificuldade, e por extinto, aproximou-se da moça sem identificar-se para não assustá-la. Abriu caminho em meio a multidão e num ato de puro reflexo colocou em prática sua experiência, conseguiu agarrar-se a ela não lhe dando oportunidade de concluir o seu intento. Ela lutou e conseguiu se desvencilhar voltando as muretas do viaduto. Sua atitude parecia estranha, pois tentava ver alguma coisa, agoniada, sentou-se no chão e começou a chorar desesperadamente, empurrando o seu “salvador” como se o condenasse por não ter atingido o seu objetivo. Uma ambulância chegou e com muito esforço conseguiram levá-la. Mesmo não conseguindo vê-la nitidamente, Luiz a acompanhou segurando a sua mão.
Ao conferir seus documentos, os paramedicos identificaram seu nome, Raquel, estava em choque, falando coisas sem nexo. Foi levada e internaram-na para tratamento psicológico e psiquiátrico.
Após alguns dias, Luiz foi visitá-la. Era guiado por uma bengala e usava óculos escuros. Entrou em seu quarto apresentando-se, porém foi mal recebido; Raquel não o reconheceu. Luiz pacientemente esclareceu os fatos, e identificou-se como o policial que a tirou da mureta do viaduto. Raquel comovida, chorava e pedia-lhe perdão. Sentindo-se mais confiante, aos soluços começou relatar sua história, dizendo que não queria pular do viaduto. Estava ali, porque precisava ver seus filhos que estavam em poder do seu cunhado que a ameaçava, e tinha marcado um encontro, onde ela só poderia vê-los de longe.
Aquela informação deixou o experiente policial atônito. Colocou-se á disposição para ajudá-la a recuperar seus filhos, e colocaria também toda polícia na captura do facínora. Raquel implorou que não fizesse aquilo, temia as conseqüências, já que teria que passar algumas informações, além de descobrir alguns segredos do seu marido e contar ao irmão, aí então, tudo estaria resolvido, embora não soubesse por onde começar, até porquê não sabia que o seu marido era um traficante de drogas e armas, por isso acabou sendo assassinado há meses atrás por policiais, numa emboscada.
Raquel demonstrava todo seu repúdio por aquela ação desumana. A morte de seu marido deixou-a em situação difícil, já que não sabia de seus precedentes, e deixando seus filhos órfãos. Luiz ficou imóvel, porém não deixou transparecer sua surpresa. Acabava de descobrir que aquela mulher era a esposa do bandido que ele havia eliminado; o mesmo que o deixara praticamente cego. Pensou em abandonar o caso e deixá-la ali, porém sua responsabilidade falou mais alto. Não teve coragem de contar que tinha sido ele o causador da tragédia que ocorreu em sua família. Sentiu-se culpado pelo drama que Raquel estava vivendo. Decidiu então, utilizar todas as informações da polícia, no encalço do bandido e na recuperação das crianças.
Raquel recuperada voltou para sua casa e recebeu a visita do cunhado,Grillo como era conhecido, que esclareceu o que realmente queria. Ela teria que descobrir onde seu irmão depositava o dinheiro do contrabando e onde escondeu os dólares provenientes das vendas. Grillo estava desesperado, pois os líderes da gang o pressionavam para quitar dívidas do bando e acertar os compromissos assumidos com outros fornecedores.
Com arma em punho gritava com Raquel para que ela lhe desse as informações, pois só liberaria seus filhos após conseguir tudo o que queria.
Sem ter o menor conhecimento dos documentos e contas bancárias, Raquel implorava ao cunhado que deixasse sua família fora de tudo aquilo, enquanto falava, alguém bateu a sua porta. Grillo, tampou-lhe a boca e levou-a até a porta, olhou através do olho mágico e viu Luiz, que fora visitá-la. Ordenou que o fizesse entrar, Raquel pediu que não o maltratasse, pois era um amigo que conheceu no hospital, e era cego. Grillo se afastou e apontando-lhe a arma deixou claro que qualquer atitude de desmascará-lo, mataria o seu visitante, e escondeu-se atrás da cortina. Luiz entrou, esbarrando-se nos móveis e foi conduzido por Raquel até um sofá. Após algumas palavras, Luiz percebeu algo estranho; sentiu que Raquel estava aflita, conduziu a conversa como se fosse um amigo que veio ver se ela precisava de alguma ajuda, e minutos depois retirou-se.
Grillo voltou a pressionar Raquel ainda mais irritado, deixando escapar que sua vida estava por um fio, caso ele não aparecesse com as informações e o dinheiro para pagar os fornecedores das armas e das drogas, e se algo lhe acontecesse, não deixaria nenhuma pista do esconderijo dos seus filhos. Desesperada, Raquel afirmou que seu marido jamais comentou sobre suas atividades. Nunca lhes faltou nada, era um bom pai, dedicado e nunca teve motivos para vasculhar seus documentos, mas prometeu ajudá-los a encontrar o dinheiro, pois sua vida não teria mais sentido sem seus filhos.
No dia seguinte Raquel foi até o apartamento de Luiz, precisava desabafar seu sofrimento; sentindo a dificuldade de Luiz propôs acompanhá-lo nas sessões de fisioterapia e ao oftalmologista para seus exames semanais. Luiz agradeceu e aceitou, mas percebia que Raquel estava ansiosa, preocupada, e estressada. Sugeriu que fossem dar uma volta, com intuito de distrai-la. No restaurante de um shopping, onde pararam para jantar, Luiz conseguiu fazer uma varredura em sua mente, pondo em prática sua experiência de investigador, armou uma estratégia com possibilidade de encontrar o que o cunhado de Raquel queria.
Raquel falou-lhe das cartas que tinha e comentou sobre o último presente que ganhara do marido foi um colar com pingente, que ao abri-lo tocava a música “sampa” de Caetano Veloso, e tinha uma pequena foto de suas crianças, tirada em frente a um velho cinema na avenida Ipiranga. Raquel falava dos detalhes com naturalidade, porém o hábil investigador, começou a montar o quebra-cabeça, unindo os detalhes do local da foto e de outros que Raquel citava.
Raquel nem imaginava que Luiz já investigava o caso. Questionou-lhe sobre a sua doença, observou que tinha uma grande cicatriz em sua cabeça. Luiz tentava disfarçar dizendo que um tiroteio há muito tempo atrás deixou de lembrança àquela seqüela. Raquel tinha esperanças em recuperar suas crianças e contava apenas com o apoio de Luiz, então começou a ajudá-lo e acompanhando-o em todos os lugares. Assim Raquel passou a ser para Luiz a “Luz de seus Olhos”, e o envolvimento entre eles fora inevitável, onde um sentia que precisava do outro.
Numa visita a casa de Raquel, Luiz pediu que ela pegasse o colar. Pediu que retirasse a foto do pingente e a descrevesse nos mínimos detalhes. Ao abri-lo, Raquel observou uma anotação no verso da foto, leu uma numeração em seqüência: 2º.E/ 28º.D/ 3º.E. Luiz percebeu que se tratava do segredo de um cofre.Raquel descrevia a foto dizendo que fora tirada em frente a um cinema antigo no centro da cidade, que estava desativado e abandonado há muito tempo.
À medida que Raquel descrevia, Luiz viu-se no local, pois conhecia o lugar como a palma de sua mão.
Preparou sua equipe para uma busca no local. Ao entrar no cinema descobriram um cofre e o abriram. Ali estava guardado uma grande fortuna em dólares e todos os documentos que provavam os crimes; além de indicar o paradeiro de várias pessoas envolvidas e procuradas pela polícia, entre eles o líder da máfia.
Todos os envolvidos foram capturados. Apenas Grillo, conseguiu escapar, porém não soube como tudo fora descoberto. Raquel que também nem imaginava que Luiz estivesse por trás das investigações, inocentemente acompanhava pela televisão o corre-corre das viaturas da polícia pelas ruas de São Paulo, a prisão dos bandidos e a recuperação do dinheiro, embora não imaginasse que fora ela mesma quem teria dado todas as pistas, e não conseguiu fazer nenhuma ligação dessas prisões com a gang de Grillo. Através destas informações Luiz realizou uma das maiores prisões do estado, porém pediu que seu nome não fosse divulgado, já que ainda tinha que deter Grillo e descobrir o cativeiro das crianças.
Os dias se passaram, Grillo discretamente visitava Raquel, sentia-se um pouco mais tranqüilo, afinal seus perseguidores estavam presos. Porém Grillo, e seu irmão morto, haviam feito um pacto, de um vingar o outro caso algo os acontecesse, e para que seus filhos fossem libertados, Raquel teria que assassinar o policial que atirou em seu irmão. Raquel recusou, argumentou que não sabia de quem se tratava, e que não poderia fazer o que ele lhe pedia, mas foi coagida a acatar as ordens, caso quisesse seus filhos vivos. Sem outra alternativa Raquel aceitou e começaram a elaborar o plano.
Na noite seguinte haveria uma festa num clube da cidade, onde seriam homenageados alguns policiais, entre eles estaria o que atirou em seu marido. Grillo estaria disfarçado e fardado de policial e entraria com ela que também estaria disfarçada, passar-lhe-ia a arma e no momento em que o chamasse para a premiação ela teria que atirar. Luiz telefonou para Raquel convidando-a para o acompanhar a cerimônia, mas ela alegou estar indisposta e não ter clima para festas, pois só conseguia pensar em seus filhos, desculpou-se e recusou o convite, deixando-o á vontade para participar e aproveitar a noite.
No clube a festa decorria animada. Luiz sentou-se num lugar discreto e tentava ligar insistentemente para casa de Raquel, preocupado porque ela não atendia, pediu que uma viatura fosse até a sua casa verificar se estava tudo bem. A hora das honras e homenagens aproximava-se. Guiado por amigos Luiz foi conduzido até o palco e aguardava sua chamada.
Grillo acompanhado de Raquel totalmente disfarçados e com credenciais falsas, adentraram o salão e sentaram-se bem a frente do palco, onde o locutor, mestre de cerimônias, estava chamando um a um dos premiados por bravura, entregando-lhes uma medalha.
Raquel com a arma por baixo de uma capa, era orientada por Grillo que assim que chamassem o policial responsável pela derrota da gang, deveria atirar. No alvoroço que certamente ocorreria, Raquel tiraria a peruca e o casaco e sairia do local discretamente, pois ele criaria uma confusão com bombas lacrimogêneas e de fumaça, porém, se caso algo saísse errado, ele mesmo terminaria o serviço.
As luzes foram apagadas após um discurso eloqüente, relatando as bravuras de um dos melhores policiais da cidade, apenas um foco de luz iluminava o palco. Um silêncio tomou conta do lugar. Raquel aproveitando a escuridão mirou a arma preparando-se para atirar. De onde estava não tinha chance de errar. Fechou os olhos por um segundo, pedindo a Deus que a perdoasse. Precisava de ajuda, pois estava entre a liberdade de seus filhos e o assassinato do homem que havia levado a sua vida a ruína. O mestre de cerimônia sem proclamar o nome do herói pediu para que ele entrasse; e calmamente, com dificuldade, guiado por uma bengala, Luiz caminhava para receber sua homenagem. Raquel sentia-se pressionada por Grillo, que a obrigou a cumprir sua missão. Com a arma pronta para apertar o gatilho, enquanto Luiz aproximava-se do foco de luz, Raquel o reconheceu, titubeou, não sabia como agir, e Grillo percebendo que Raquel ficou imóvel ao vê-lo, arrancou-lhe a arma a empunhou para atirar. Neste momento os policiais presentes na festa, ao menor sinal de Luiz, apontaram dezenas de armas para Grillo, impedindo que se movesse. Luiz tranqüilamente deu-lhe ordem de prisão, e que fosse levado imediatamente.
Luiz desconfiara e ficara atento ao saber que a viatura que esteve na casa da Raquel minutos antes, obtive informações dos vizinhos que a viram saindo vestida estranhamente, acompanhada de um homem suspeito. Já imaginando que seria uma cilada, preparou sua equipe para agir na hora exata e definitivamente encerrar o caso. Pediu ao comandante que não interrompesse a cerimônia, pois queria que a prisão fosse um sucesso, sem derramamento de sangue. Grillo foi preso e confessou o esconderijo dos meninos, que foram rapidamente localizados. Antes mesmo que Raquel saísse do clube recebeu seus filhos de volta. Emocionados abraçaram-se e beijaram-se repetidas vezes. Luiz sentindo a alegria e o alívio de Raquel, aproveitou o momento e declarou amá-la.

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