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Contos-->O DIÁRIO DE APOLINÁRIO -- 13/08/2004 - 16:00 (Luciluz Sataneus) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
...“Quem hoje me diz: ‘Apolinário’!.. Decerto desconhece. Não estou o mesmo”...


Os quarenta me secam por quatro décadas. “Entediado”, seria o adjetivo mais adequado para a agilidade destes dias, nos quais, discorro sobre a existência.
Lembro bem da chuva que caía naquele outono, o qual, eu nascia. Nasci em casa dos patrões de minha mãe. Eram chefes estéreis. Sonhavam: meninos!.. Fui conveniente e bem vindo. Mal notei a falta do pai negro, marinheiro, de ante-braço tatuado. Como filho de brancos fui criado. Comecei os estudos, doutrinado por um clérigo. Acabei por me formar advogado.
Pois bem, sou doutor, advogado, mais conhecido pelo distinto recato, e em praças vizinhas, encomendo leite de cabra, queijo-prato e minas. Fiscalizo comércios, aceito agrados, nada de propinas! Sou insubornável!
A propósito, tempos atrás, fui requisitado por meu pai, o adotivo claro, a prestá-lo devida atenção, noutro seu, prodigioso sermão. Coisas de quem perece aposentado, rígido, macho sensível e atrofiado, na cama, na poltrona, no sanitário. Morto-vivo, mais morto, menos vivo, manchado, aguçando o amarelo-pálido, paladar da morte. Dessa moça cinza e solta, que macula a moral do homem, já indefeso do conhecimento, da experiência, da terceira idade. Atirado à sorte do câncer, da próstata, do trauma, do fêmur, da angústia, de quem gosta, desgosta! Fui ter com meu pai - velho anjo -, prestes ao desencarne. Aporrinhado, puto com o mundo, ele se esgotava revoltado, insultando-me:-“Seu veado!”
A Poltrona, é o trono de qualquer homem. Valorizo o terno de linho, o maço de dólares, euros, o automóvel importado. A sabedoria se pode deixar um pouco lado! De que adianta a fome coçar num estômago sábio? Mais vale um arroto emergir, acentuando uma satisfação pequeno-burguesa. Mais vale até se ter cinzeiros banhados à ouro, onde dignamente, nossos fumos queimem, quiçá, nestes ainda se despojem catarros privilegiados!
Lembro ainda daquelas noites tensas. Discutíamos nós, universitários, sobre aberturas, ideologias, manobras, políticas, utopias, Sartres, Nerudas, Maos, Clarisses, Patativas, Coralinas, Agrippinos, caos. As noites cresciam ao longe das vistas, e desapareciam. Atravessávamos madrugados nos descobrindo homens, mulheres, vagabundos e bichas. O denso sabor de ser jovem, ainda me apavora, e louco quando em vez, pego-me em falsas apologias, lembrando de antigas estrelas perdidas.
Hoje como qualquer adulto normal. Como quaisquer dos que restaram dessa frágil geração, vivos, afirmo seguramente está assentado. Em breve sei: - estarei casado!.. Namoro uma menina de vinte anos completos nestes dias. Ela é a primeira namorada, que me trata assim pelo nome: Apolinário! Pois canso dessas idiotices amorosas: “Mô, querido, meu bem”! E quando lhe beijo na boca, no clitóris, na vulva, ela sugere: -“Vem”! Obrigado, estamos indo bem!
Minha namorada, trata-me por bem: Apolinário, toca numa banda black-metal, e freqüenta um centro de umbanda. Retrato feminino, ao qual, contempla-me mulher urbana. Hoje encanta o amor, e amadurece, quando não reacende cada qual de seus desvarios, sombras e delírios. O mais primitivo instinto chora, acalma, avança, tripudia e sangra.
Quem então diria? Eu há pouco quarentão, comendo uma menina, que bem poderia ser minha filha?! Daniela não é minha! É urbana; está lendo Che Guevara; curte black-metal; montou sua banda; filha de umbanda! Sobre mim, o terror do medo de novo aflora. Moro há três anos na roça. Gosto de queijos, galinhas, cabras, verduras, suínos, vacas, peixes, cachaças, cachoeiras, cães, lagos, matutos, peões, bezerros, novilhas, frutas, leitões e sapos. Até que me chegue Daniela e grite:-“A-P-O-L-I-N-Á-R-I-O!”
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