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Contos-->Sobre o que você está falando? -- 12/08/2004 - 00:14 (Bruno D Angelo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A república ficava numa pacata rua de cidade interiorana. Nela moravam alguns estudantes universitários, dentre eles, Leôncio, o protagonista desta pequena crônica. Tarde de segunda-feira; o sol resplandecia entre as montanhas verdejantes; os pássaros faziam transbordar de alegria a vizinhança e Leôncio se esparramava, suado e grudado no sofá de couro preto da sala. O cigarro de maconha, tragado minutos antes, havia lhe deixado com um sorriso inextinguível na face e Leôncio assistia à televisão pacificamente.
A muitos metros dali, apesar da deformação aparente causada pelo calor escaldante que evaporava da calçada, já se podia identificar a silhueta pequenina e formosa de Tamba. Ela acabara de dobrar a esquina e caminhava decidida. Iria falar com...Parou em frente ao número dezessete. Campainha. Nada. Palmas. Silêncio. “Leôncio!!!”. Dentro da república, o rapaz se apeou ao ouvir a voz estridente de quem ele já sabia quem era. “Você tá aí, Leôncio?”, disse a voz vinda de fora. Neste instante, Leôncio já se postava em frente à porta de entrada, olhava pelo olho mágico a figura pequena de Tamba e começava a virar a maçaneta para fazer emergir o “monstro da lagoa”.
Tamba não era feia. Nem bonita. Como já foi dito era pequenina e formosa. Assim mesmo, pequenina e formosa. Media um centímetro a mais que alguém que medisse um metro e cinqüenta, o que lhe dava a estatura exata de um metro e cinqüenta um. “Um e cinqüenta um”, ela dizia com a boca cheia, de quem se orgulha de ser o que é. Que no caso era: pequenina e formosa.
Leôncio não sabia se gostava de Tamba. Na realidade sabia sim, ele definitivamente não gostava dela. Quando a conheceu numa festa da faculdade e ela foi logo se oferecendo para ir a sua casa, Leôncio pensou que seria uma ótima oportunidade de se obter sexo fácil, mas só isso. Por mais que se debatesse com a idéia de tratá-la daquela forma, não conseguia sentir outra coisa que não fosse aquilo.
O relacionamento havia começado há uma semana e enquanto Leôncio já se mostrava enfastiado daquele sexo fortuito, Tamba dava sinais de querer algo mais sério, o que talvez fosse um tanto precipitado, visto que não se conheciam há tanto tempo assim. Naquele instante, em que Tamba chamava Leôncio na porta de sua república, ela queria, justamente, resolver aquele impasse. Sexo por sexo, Tamba não queria mais!
- Olá!
- Olá!
Olhos vermelhos, Leôncio não fez questão de sair de casa e nem chamou Tamba para entrar. Do batente da porta, tentando disfarçar o sono, indagou com as sobrancelhas. “E aí o que vai ser?”. Tamba não percebeu o negócio com as sobrancelhas e nem os olhos vermelhos de Leôncio e muito menos a cara de chateação do rapaz, descolou seu olhar, que até então estava fixado em algum ponto da calçada, e começou a despejar tudo aquilo que sentia.
O rosto corado de Tamba apontava para Leôncio, mas vá saber o que ela olhava realmente. Não era Leôncio, era qualquer coisa menos Leôncio. Tamba parecia em transe. Sua boca se movia sem controle e, por um momento, o rapaz chegou a duvidar de que Tamba estivesse realmente falando com ele. Todo aquele sentimento que ela afirmava sentir, toda a agonia refletida em seus gestos, tudo era estranho para Leôncio. Ele não poderia retribuir aquela paixão nem se tentasse por mil anos.
Durante horas, Tamba desabafou. Leôncio não sabia bem quando havia deixado de prestar atenção na conversa, sabia apenas que não podia agüentar aquilo por muito mais tempo. Impaciente, sempre que podia, dava uma espiada para dentro de casa, parecia estar muito interessado em algo que se passava lá dentro. Tamba se apercebeu disso e tentou forçar a entrada na República. Leôncio colocou o corpo na frente e frustrou qualquer tentativa da menina de ganhar algum terreno. Ele simplesmente não a queria lá dentro. Ele simplesmente não a queria ver nunca mais. Tamba falava uma língua diferente.
- Tem mulher aí dentro não tem Leôncio?
Leôncio nem respondeu, era melhor que Tamba pensasse desta forma. Quem sabe assim ela largasse do seu pé e parasse de agir como uma personagem saída do filme ”Atração Fatal”.
- Você não ouviu seu babaca? Tem mulher aí ou não tem?
“Sim tem! Uma bem gostosa, por sinal!”, disse Leôncio já irritado, fechando a porta em seguida. Tamba ficou do lado de fora, com ar de sem graça. Continuava pequenina e formosa e, assim, pequenina e formosa, foi embora. Amanhã ligaria para ele e com certeza tudo seria diferente, pois como só ela sabia: um grande amor não acaba assim. Leôncio tinha de novo a casa só para si. Sentou-se no sofá e pode assistir, sem enchenção de saco, o resto da mesa redonda de futebol que ainda passava na TV.

Por Bruno Moreira
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