Quando a saudade aperta
e a alma se derrama
como águas
sobre a praia,
sempre a querer subir,
sempre a querer vencer
as dunas
pra beijar,
em sôfrego carinho,
os pés descalços,
finos, delicados,
da encantadora musa
dos meus sonhos,
parece a mim
que, em volta,
o mundo se desmancha
em rodopios,
em frêmitos sombrios,
e minhas mãos,
tateando a escuridão vazia,
não tocam nada,
nada encontrando envolto
nesta saudade infinda.
E um turbilhão de sonhos,
em multidão de nadas,
sufoca-me a alma
nos abismos frios
a debater-se, em vão,
em busca da presença amiga
que se quer tão perto
e que se faz tão longe
e cruelmente ausente!
Vem, musa adorada,
que tua ausência longa
já se faz cruel martírio
ao coração exangue
que pulsa por te amar
em descompasso, longe,
e te ama em seu pulsar
a te buscar distante.
BeMendes (direitos reservados)
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