Para Mestre Egídio e Daniel Fiúza,
Retratos
Era eu menina,
ela também.
Eu tinha sonhos,
ela... nem sei.
Eu me alongava,
ela também.
Eu a amava,
ela... nem sei.
E longe, um dia,
amanhecia,
abri a janela,
olhei para ela.
Gentil e segura,
senhora madura,
dava-me os frutos
sem preço, sem custo.
Doou-me os filhos,
doou-me a sombra.
Mostrou que me amava
e provas me dava.
E o tempo insano
cruel, desumano,
ferindo-a de morte
mudou-lhe a sorte.
Esvaída, afinou,
em breve secou,
foi condenada
por conta do nada.
Deitou-se à terra
quedou-se ao chão
na força da serra
de má intenção.
Deixou-me um vazio
e um peito vadio,
chorando de dor
no velório sem flor.
E, dela, pedaços,
guardei ressentida.
São eles retratos
da amiga sem vida.
Maria da Graça Almeida
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