A Orquestra do Presidente (um resumo)
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Mas afinal, que orquestra é esta, que nada toca? Não se houve uma nota. Ou mesmo um estribilho. Não se resolve o problema do miserável e do maltrapilho.
Não há pautas para serem votadas ou tocadas. Não há músicos. Faltam instrumentos. Há metais barulhentos. Sobram cordas no pescoço da gente.
Pratos vazios na bateria. Aguardam o Fome Zero. Cantado em verso e prosa. Em samba e em bolero. Dancemos todos. Ao som da valsa da indecisão. São dois pra lá, dois pra cá. E não se sai do lugar. Estamos presos no chão.
Este país assim não anda. Falta diapasão. Falta afinação. Falta o maestro. Faltam bons compositores. Falta planejamento. Faltam temas. Falta uma grande canção.
Que se mudem o repertório. Musica popular brasileira. Samba-canção. Frevo e chorinho. No lugar da estrangeira.
Que se abram as portas do teatro. Que se retirem as máscaras dos atores. Que os preços dos ingressos alcancem os compradores. Que chorem os palhaços. De alegria, vestindo a sua fantasia. Que todos assumam seus afazeres. Em nome da utopia.
A utopia possível. A utopia da esperança. Sem medo, sem rancores. De futuro ou do presente. Da violência do circo dos horrores. Liberdade já. Ainda que tardia. Gritemos todos. De alegria. Sem rebeldia. Saiamos todos. Desta realidade doentia. E entremos todos. Com a urgência necessária. No mundo da fantasia.