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Artigos-->Elegia ao amor -- 10/08/2002 - 14:29 (gisele leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Elegia ao amor



O artigo discute a origem e a finalidade do amor



Gisele Leite





Refletindo sobre os diálogos de “O banquete” de Platão (ano de 384 a. C) mostrando que por vias distintas se pode ter acesso à verdade. Que através da inteligência que é uma espécie de reminiscência da alma, é possível passar da beleza sensível à beleza perfeita.



Na verdade todas as perquirições acontecem justamente num banquete oferecido pelo poeta Agaton a seus amigos. Lembrando sempre da máxima platônica que diz que a filosofia começa com a perplexidade, volvemos numa discussão sobre o amor e suas mais variadas formas de manifestação.



Havendo inclusive um trecho em que Alcibíades descreveu seu amor vertiginosamente homossexual por Sócrates, o que garantiu uma ampla censura ao livro e sua respectiva inclusão no Index de obras proibidas pela Igreja Católica até o ano de 1966.



Eros era considerado o impulso da alma em direção ao bem. A paixão era uma forma inferior de amor e dotada de ardente desejo de imortalidade, por isto devotada a constituir a prole.



As idéias de Platão sobre o amor eram assim como um amor cortês, muito popular e lírico presente mesmo entre os poetas medievais. No banquete cada um dos convidados faz um elogio ao amor.



Aristófanes, o melhor comediógrafo da época, relata o mito segundo o qual, no início os seres eram duplos e esféricos, e os sexos eram três: um constituído por duas metades masculinas; outro, por duas metades femininas; e o terceiro andrógino constituído de metade feminina e metade masculina.



Como ousassem desafiar deus, Zeus (deus dos deuses) cortou-os em dois para enfraquecê-los. Cada ser tornou-se então um ser fendido, e então o amor recíproco se origina da tentativa de restaurar a unidade primitiva.



Como os seres originais não eram apenas bissexuais, é valorizada a amizade entre os seres do mesmo sexo, sobretudo o masculino, como uma forma possível desse encontro.



O mito traduz o desejo humano por uma totalidade e plenitude de ser, representando um processo de aperfeiçoamento do próprio eu. É impressionante a concepção do amor como uma evolução quase que imprescindível ao humano. É o amor que humaniza todas as coisas.



Sócrates, o último dos oradores do referido banquete, começa alegando que Eros representa “um anelo de qualquer coisa que não se tem e se deseja ter”.



Eros é descendente de Poros (riqueza) e de Penia (pobreza). Seu significado reside, pois na ânsia de sair da situação de penúria para a de riqueza, é o oscilar entre ter e não-ter. Entre o tudo e o nada. Só aí, já começamos a entender o quão é contraditório o amor.



Continua Sócrates: “É capaz de desabrochar e de viver, morrer e ressuscitar no mesmo dia. Come e bebe, dá e se derrama, sem nunca estar rico ou pobre”. Neste instante, Sócrates elogia a beleza e traça uma reflexão sobre o amor; o amor ao belo (corpos, almas e obras humanas) e, por fim o amor da ciência.



Platão através de Sócrates constrói a relação entre Eros e a filosofia. Só o filósofo deseja conhecer, pois sabe que nada sabe e, sente enorme necessidade de saber. Ocupa assim um tertius genus entre a sabedoria e a ignorância.



O amor para Platão não se reduz à busca da outra metade perdida; Eros é a ânsia de ajudar o eu próprio e autêntico a realizar-se. É a realização se faz enquanto a vontade humana tende para o bem e para o Belo, então a beleza física se subordina ao belo espiritual e torna-se pura a contemplação da beleza. A isto, chamamos de amor platônico.



O amor sensual nos enfronha no espiritual apesar de que na visão platônica Eros se subordina a Logos, as paixões submetem-se à razão. O homem enquanto ser desejante procura o prazer e a alegria para alcançar o objeto de seus desejos.



O amante deseja captar a consciência do outro. O encontro do amor supõe vínculos e, estes pressupõem indubitavelmente a liberdade. Só pode atar-se quem um dia foi livre e solto.



“Para amar é preciso ser, mas ser é preciso, antes de tudo amar: pois quem não ama é um simples fantasma” são as palavras de Jankélévitch.



O paradoxo do amor coloca ao mesmo tempo o desejo de união e a preservação de alteridade. Hoje em tempos contemporâneos muito se escreve e se fala sobre o sexo, mas pouquíssimo sobre o amor.



Em amar o belo, há algum mérito? Talvez ao destrinçarmos o sexo imprimimos uma impessoalidade, nos rendemos a um reino de estímulos e instintos. Deixamos de contemplar e sentir para somente obtermos uma finalidade útil e fisiológica.



Haverá o belo absoluto? Ou será que este é todo belo concreto e sensível, captado pela parte mais delicada de meu ser. Percebo a força através de minha fraqueza. E festejo a luz por causa das trevas. De qualquer forma, o amor modifica e vivifica a alma, que modifica o amor e, por sua vez, inaugura um novo ser.



Necessito de ti porque te amo.(Erich Fromm). Só quem recebeu amor é capaz de amar. No amor há a percepção do outro, da fraternidade cósmica e humana.



A solidariedade e a compaixão são formas de amor. Eis que o amor é fundamental para humanidade e, todas suas formas correspondem as diferentes fases evolutivas do homem. Sem amor a sobrevivência do grupo seria praticamente inviável.

Mas só compreenderemos que o amor é um apelo pungente ao outro, compatível com a liberdade, e é mistério porque também nos perdemos um no outro, só assim através dele logramos sobreviver e fugir da loucura ao mesmo tempo.



É o mais puro exercício do paradoxo, é um profundo vivenciar da contradição que ao fim não se antagoniza, mas simplesmente se suplementa. É preciso coragem para sentir amor, para se decidir pelo amor, sem esperar em troca nada além de felicidade e experiência.



Gisele Leite

Professora universitária



















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