Outro dia escrevi sobre mulheres em botecos e pedi que escrevessem com informações sobre o que se fala nestas mesas de mulheres que hoje são cada vez mais comuns. Como o leitor poderá imaginar, recebi respostas tantas a ponto de congestionar o sistema de correio eletrónico do Terra. Até hoje estou enviando esclarecimentos e aproveito para, de público, pedir escusas e agradecer a compreensão. Porém, estejam certos, se de um lado peço desculpas ao Terra, de outro, não imaginem que desencorajarei meus inúmeros leitores a se manifestarem. Estou certo que o Terra haverá de achar uma forma inteligente de acomodar todos os interesses. Assim, continuem escrevendo, não se acanhem.
Mas entre tantas, uma leitora assídua - palavras dela - me escreve, não propriamente contanto o que rola nestas conversas do que poder-se-ia chamar mesa da luluzinha, mas algo muito mais significativo e importante. Ela comete a insensatez - vejam a minha responsabilidade e a que ponto uma fã pode chegar - de revelar o teor das conversas nos banheiros femininos. Inicia com uma minuciosa descrição do que se pensa que é lá falado, descartando as possibilidades, desde as obvias até as mais elaboradas, para então chegar ao cerne da questão.
Naturalmente que preservo-lhe a identidade e, de tão importantes as revelações, fico aqui pensando se é o caso de repassá-las. É claro que as mulheres todas sabem, mas isto não é comentado nem mesmo entre elas. Trata-se de por assim dizer um conluio congênito, pois já vêm estabelecidas no DNA feminino todas as regras de comportamento nos banheiros em geral e nos de bares em particular. O que fazer, o que falar, a troca de olhares, os gestos, as gargalhadas. O pior são as gargalhadas. E dentre tantas regras e suas nuances está o pacto de segredo e discrição. É, nesta questão até a discrição existe, não revelam e sequer comentam qualquer coisa sobre este tema.
Da forma como coloco talvez estejam querendo linchar minha prezada e - se me permite - querida leitora, de modo que me apresso a acudir-lhe. Não, ela não teve nenhum ataque de falta de caráter ou qualquer vacilo sobre sua condição de mulher. Não. Ao que consta, foram noites e noites de indecisão sobre se deveria ou não revelar o segredo mais bem guardado do mundo.
Sua decisão teve como único motivo o apego à verdade científica, motivo que invoquei ao pedir os depoimentos.
Bem, sendo assim, fiquei eu todos estes dias com o dilema sobre se deveria revelar, ainda que omitindo a fonte, ou se deveria guardar comigo em respeito à minha leitora e admiradora - novamente, palavras dela e em outro trecho da resposta.
Eu tenho uma amiga que diz se coçar toda quando fica curiosa com algo. Unhas compridas, coça os braços até riscá-los.
Talvez outro dia. Cocem os braços.
Escrito em 30.07.2003
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