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Contos-->Jardins de Ratsbona -- 26/11/2000 - 20:56 (Marcelo Amoreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Jardins de Ratsbona


“O! That this too solid flesh would melt
Thaw end resolve itself into a tew; O that
The Everlasting bad not fix’d bis conon
‘Gainst self - slaughter!”
William Shakespeare

Com o passar dos anos, tenho tornado meu cotidiano enternecido e, na minha ótica cinzenta, a estética perdeu seu valor.
Embalsamado nas engrenagens da rotina, fazia meu percurso diário em direção à agência dos Correios e Telegraphos, na função que exercia há quarenta longos anos; ressalvo que com a mesma pontualidade simétrica.
Às sete horas e quinze minutos, chego à agência e perfuro o cartão no relógio de ponto, as nove e dez tomo a primeira xícara de café nos seus cinqüenta e oito segundos habituais, as nove e doze minutos mastigo algumas torradas, as nove e quatorze tomo a segunda xícara de café e às nove e quinze, pontualmente, retorno as minhas funções.
Onze e cinqüenta é hora do almoço e, a comida me cai ao estômago como um ponteiro hesitante de uma engrenagem castiça, dois e cinqüenta tem início minhas atividades vespertinas. Dezoito horas e quinze segundos, o expediente chega ao término.
Costumo comparar-me a um relógio de parede, daqueles com um pêndulo enclausurado no seu próprio movimento. Forçado a impelir sua mecânica sempre mais uma vez.
É com pesar que vejo chegar ao fim de mais uma sexta-feira; os carimbos, selos e cartas e até o relógio de ponto deixam saudades.
“Sou a ociosidade de um ponteiro aprisionado no próprio raio de circunferência!”
Retorno com o rosto amorfo do meu ofício, traçando meu rotineiro trajeto; as pernas mecanicamente tomando o rumo esperado. Bares transbordando sua costumeira decadência: mercadores de sexo e menores drogados.
“Uma fauna diversificada para uma floresta de concreto!”
Arrebatado momentaneamente da realidade por um impulso sobrenatural, embora seja céptico, resolvi tomar novo rumo, quebrando a seqüência dos ponteiros. Virei três quadras: à esquerda é pecaminosa... Deparei-me espantado com uma viela de nome Ratsbona; afora a tranqüilidade do cemitério, lugar de meu apreço aos sábados matinais, a ruazinha me trouxe um oceano de paz! Alterei a rotina de minhas passadas em caminhei hesitante, encantando-me e até sorrindo – o que já não fazia há muito tempo. – Casas antigas, árvores frondosas e estáticas, tornei-me uno com a nova atmosfera que me circundava; mas o que me chamou a atenção foi uma casa em especial. A porta entre aberta ministrava pequenos detalhes de sua decoração. Contudo, o que arrebatava o meu espírito em contemplação era o jardim e, a minha outrora e impressentida deusa, minha musa da decadência, com sua roupa cinza vestida em um corpo estéril... Refletia de sua pele morta a estranheza de um brilho lunar. É tão caduca que não consigo avaliar sua Antigüidade.
“Oh! Árvore da miséria, carrega contigo toda a dor e imensa angústia de existir?”
As luzes estão apagadas; em meu transe não percebi a desertificação da vizinhança. Voltei a contemplação ao monumento da Incerteza. Invadi o jardim melancólico e toquei no teu corpo frio e na tua carne morta e perdi-me em afagos nos teus desfolhados braços; de súbito meu foco identifica o que precisava naquele apolíneo instante.
“Serei teu único e derradeiro fruto?”
Subi no teu dorso podre e amarrei a corda de um dos teus desfolhados braços, pus o laço no pescoço e saltei com um brado derradeiro a ecoar na noite...
“Serei teu fruto, mãe estéril... um fruto morto!”


Marcelo Amoreira

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