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Contos-->O ENCONTRO -- 11/07/2004 - 19:02 (Rose Maura Fleixer) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O encontro

Eles nunca haviam se visto antes. Cada um, um ser diferente do outro. Vidas diferentes, empregos diferentes, cidades diferentes, mas as coincidências sempre acontecem, porém de forma tão imprevisível, que só as chamando, de fato, de coincidências.

Ele costumava viajar sobre textos publicados em todas as partes, fazia parte do seu trabalho, pois era jornalista e editor, além de lhe agradar a leitura: livros, jornais, Internet e foi, neste último, que leu algo que o excitou. Era um texto sensual, cheio de detalhes picantes, chegando quase ao erótico e ele não conseguia desprender-se daquelas palavras; palavras fortes, sexys, mas... ditas por uma mulher.

Em princípio ficou confuso, pois parecia uma exposição quase gritante de detalhes íntimos que expunham sua autora. Aquele texto só poderia ser escrito por alguém que não temia a moral, os princípios; alguém, verdadeiramente, diferente.

Ficou curioso para conhecer melhor aquela pessoa que colocava em palavras os desejos dele como se já os conhecessem. Buscou outros textos daquela mulher, que ora escrevia com ternura sobre o amor; com receio sobre o pensar; com vigor sobre a vida; com revolta sobre a sociedade e... sem vergonha sobre o sexo. Seus textos eram para ele como música, pois diziam o que ele queria ouvir e sentiu-se atraído por aquela mulher que somente sabia o nome. Sentia-se atraído pelo que ela escrevia e sentia suas palavras flutuarem em sua direção como um recado: venha me conhecer... venha me conhecer...

A tal convite não se reteve, apenas embarcou nos textos que aquela mulher escrevia e a cada coisa escrita, mais um pouco ele sabia sobre ela. Começou, então, a perceber, conforme ela publicava, os tempos em que ela estava triste, alegre, decepcionada, entediada, pois era mestre em desnudar a alma humana, principalmente a feminina, pois era isso que o fascinava nos seres humanos: as suas dimensões no espaço da vida, nas relações com o outro.

Fez do seu hábito de ler, agora um compromisso: o de acompanhar aquela mulher de longe e foi assim se apaixonando por ela, por quem ela era ( e ele tinha certeza do que fazia). Sua intuição o levava a crer que ela era muito especial e que, de alguma forma, sua vida estava ligada a dela. Era tão diferente, porém, tinha tanto em comum com ele e isso o atormentava, pois o que mais ela teria em comum com ele e que não havia publicado?

Passado algum tempo, ele resolveu escrever para ela, a partir do “contato com o escritor” que havia em sua página. Foi breve, mas enfático. Comentou que gostava do que ela escrevia e a elogiou por isso. Depois de enviar a mensagem, arrependeu-se, pois ela poderia nunca se pronunciar a respeito do seu contato e isso seria o fim; uma decepção diante das expectativas que ele vinha somando sobre ela.

Passados dois dias, ao abrir sua caixa de mensagens, lá estava o nome dela. Um retorno, finalmente! Era ela que correspondia aos seus elogios, agradecendo e se colocando à disposição para outros contatos. Ele sentiu percorrer um frio pela coluna pois era algo muito mais próximo dela do que imaginara, pois ele temia que ela soubesse que ele já a acompanhava de “perto” havia algum tempo. Foi quando deu vasão a sua coragem e começou, timidamente, um contato mais efetivo do que as que já mantinha com os textos dela.

As correspondências de início eram muito formais, mas à medida que foram sentindo-se mais confiantes, passaram a trocar e-mail’s com maior freqüência e ela, ao abrir sua caixa postal, já ansiava pelos elogios dele; ele, por sua vez, não se continha em apenas elogiá-la, também a mimava intelectualmente e, apesar de ainda sentir-se meio absorto junto do que ele imagina ser uma deusa, foi cativando aquela mulher com seu jeito inteligente de penetrar nos sentimentos alheios e massagear as áreas mais estéreis da carência feminina.

Descobriu sobre ela coisas que mal imaginava. Não havia criado uma imagem ainda dela, mas a tinha como um sonho, como algo irreal. Não lhe preocupava se era feia ou bonita; velha ou jovem, apenas gostava de dividir os momentos de prazer em seu monitor com ela. Ela parecia ser a água que afogaria sua sede. Ela parecia o descanso de suas buscas ao desconhecido. Ela, a certa altura, poderia ser tudo e não ser nada e era aquela insegurança; aquele mistério que o fascinava. A cada correspondência, brincavam de se decifrarem, ela fazia perguntas que ele respondia e da mesma forma, o inverso. As perguntas sempre dançavam no campo das ideologias, da magia, da filosofia. Nunca eram diretas, nem objetivas. Ambos esforçavam-se em se conhecerem da forma mais difícil. Certa vez, não se conteve, e perguntou a idade dela. Fora atrevido, mas ela, sem medo, respondeu-lhe e ele ficou feliz pois a distância de tempo que os separava eram apenas quatro anos, logo, a relação tomou maior confiança.

Ele pedia que descrevesse seu cheiro, seu olhar e ela o fazia de forma tão detalhada que ele parecia vê-la olhando-o pelo seu monitor, assim como sabia sentir seu cheiro a partir das descrições dela. Era algo meio mágico aquela descoberta em etapas. Ambos treinavam seu comportamento para a paciência e sabiam que cresceriam com isso.

Algo, a cada dia, os aproximava mais e eles ensaiavam o dia do encontro, que se faria por ocasião de uma viagem dela, a trabalho, à cidade dele. Ela o convidou para recebê-la no aeroporto e ele se fez presente. Já sabia sua altura, a cor de seus olhos e cabelos, mas temia confundi-la com outra ou nem reconhecê-la. Quando o avião aterrisou, seu coração parecia que sairia pela boca, pensou, inclusive, em ir embora e faltar com ela, tamanho era o medo da reação de ambos, uma rejeição também passou pela sua cabeça, mas retomou o controle daquele turbilhão de emoções e passou a observar cada mulher que se aproximava do vão de bagagens.

De repente seus olhos, parecendo seguir seus instintos, viraram-se para um corredor, onde passageiros que não pegariam bagagens na esteira, percorriam, e seu olhar foi de encontro a ela. Ela não andava como os outros, seu corpo se movia como em câmera lenta e seus cabelos dourados vinham carregados contra o vento o que a fazia sexy, além do que ele imaginara. Vestia uma casaca preta de golas altas, que faziam destaque pelo contraste ao seu cabelo, presa a cintura dela por um cinto que repartia seu corpo em duas partes a partir da sua cintura e a abertura deixava transparecer um vestido leve como uma seda que lhe marcava partes do corpo, principalmente das coxas e busto. O decote que ela usava era tão abusado que estava entre o limiar do sensual e do vulgar, mas sua pele branca e rosto afilado escondendo os olhos sob os ósculos escuros a tornava elegante e a destacava entre os outros passageiros que desembarcavam. Os homens, discretamente, viravam os olhos ao vê-la passar e ela... ela parecia ser a única naquele desembarque. Ele sentia como se ela desfilasse exclusivamente para ele.

Aqueles segundos que a separavam dele, pareceram durar horas, tamanho fascínio que ele tivera pela surpresa da visão dela, até que ela conseguiu sair da sala e veio, como de encomenda, ao seu encontro. Disse apenas: - Olá, sou eu. Naquele momento tivera a certeza que tanto o alimentara: era ela a mulher de sua vida. Levou ainda alguns segundos para racionalizar sobre o que fazer. Levou-a até o hotel, pois ela tinha compromissos e a noite sairiam para jantar.

No carro, eles não sabiam direito o que conversar, pois já conversavam muito por correspondência. Aquele era outro momento, o momento do encantamento entre ambos. Ele tentou mostrar-lhe algumas coisas da cidade, fazendo o papel de cicerone, mas aquela voz calada dela, que pouco se fazia ouvir, o deixava louco, pois era rouca a sua voz e saia de seus lábios como um encanto de sereia e ele se sentia agora mais atraído do que antes por ela, mas ela parecia não estar tão nervosa quanto ele e ele gelou por isso, pois ela parecia segura demais, imprevisível e ele temia agora não conhecê-la tão bem...Tinha alguns planos para ela, mas não se sentia mais seguro para executá-los.

Chegada a noite, ele a aguardava no saguão do hotel e a viu sair do elevador bem diferente agora. Aquela mulher estava vestida para a noite, diferente de quando estava no aeroporto e ele percebeu que estava lidando com alguém realmente imprevisível, que não lhe bastava apenas mudança de aparência tão rápida. Seu olhar o congelou por um segundo, mas ao se aproximar, seu sorriso largo e espontâneo o relaxou de toda tensão. Ela parecia, finalmente, com aquela mulher-menina que trocava e-mail’s com ele já há alguns meses.

Já sabia que ela gostava de comidas exóticas e levou-a a um restaurante japonês muito discreto e sofisticado e tentou impressioná-la com seu cavalheirismo e gentilezas, mas, para sua surpresa, aquela que se desenvolvia como uma mulher fatal, era, apesar da idade, quase uma adolescente, que ria e contava piadas o tempo todo. Não era bem aquilo que ele imaginara para aquele encontro, mas começou a perceber outro lado que o contemplava de satisfação tanto quanto estar com a mulher fatal que ele idealizara. Ela fazia o tempo correr mais depressa, tamanho era o prazer de sua companhia. Enquanto ela conversava, ele a observava em todos os detalhes. Seus olhos, seu sorriso, sua voz e tudo agora parecia tão familiar que a idéia de tê-la numa cama, parecia não mais caber com ela. A noite finalizou-se não como esperada, mas, de outra forma, também perfeita.

Deixou-a no elevador do hotel e, após fechar-se a porta do mesmo, ficou alguns segundos pensando sobre ela e, para sua surpresa, a porta do elevador abriu-se novamente e era ela, segurando a porta como quem ta escondida fazendo algo errado, aparecendo de dentro e sinalizando que entrasse com ela. Ele, imediatamente, sem saber ainda direito porquê, entrou com ela e ela explicava-lhe que queria que ele a acompanhasse até seu quarto para conhecê-lo e conversarem mais um pouco apreciando a vista do décimo andar, sob aquele luar prateado e o lufar de um vento frio que a madrugada carregava.

No quarto, nova surpresa. Havia livros sobre a cama, toalha sobre a cadeira e a mala ainda aberta com as roupas. Pensou consigo que aquela mulher era diferente, parecia meio desligada da delicadeza dos pormenores femininos, mas era prática, era evidente, não se importava com o “como” das coisas, mas, principalmente, com os “porquês”. Pediu, então, que a esperasse com uma bebida e foi trocar-se no banheiro. Ele ficou imaginando que teria agora a mulher fatal de volta. Fixou seu olhar intermitente sobre a porta do banheiro, suando nas mãos imaginando o que aconteceria e de lá veio aquela mulher bela, delicada, macia, e que envolveu sua alma e o alertou para um seu querer que ainda não conhecia, pois agora via a beleza de uma mulher sem qualquer subterfúgio, pois ela não estava numa camisola de seda transparente, nem com uma maquiagem sedutora, tampouco corpetes sexys, apenas estava de camiseta branca comprida, que lhe caía sobre os joelhos, e meias nos pés, parecendo alguém puro e desprovido de qualquer intenção. Levou-o até o pátio aberto do quarto do hotel e ambos ali, por bom tempo, apreciaram a lua sem nada dizer.

Já passava-se das quatro da madrugada quando ela mostrou-se sonolenta e ele, como um digno cavalheiro, comunicou-lhe que iria embora, mas ela lhe fez um último pedido: que ficasse ao seu lado em sua cama até que dormisse. Ele não podia negar-se a tal pedido. Não como havia imaginado, mas de outra forma, tomaria conta daquela mulher que agora parecia uma menina e precisava de companhia, pois parecia estar com medo de ficar só e aquilo foi mais do que ele realmente queria, quando imaginou estar com ela, pois não era o sexo que ela o havia solicitado, mas a proteção, o zelo e a companhia dele.

Deitou-se ao lado dela e segurou-a pelas costas deitadas de lado, daquele corpo, que de certa forma, naquele momento, lhe pertencia. Ficou acariciando e cheirando aqueles cabelos como a embalá-la para um sono mais tranqüilo. Ela parecia confortável em seus braços e não temia estar com um homem estranho em sua cama. Ele nunca imaginara estar deitado com uma mulher que lhe atraía em uma cama, apenas velando o seu sono. Foi um momento inusitado em sua vida, talvez até mágico, pois aquela era a mulher que escrevia contos eróticos, que mexia com sua imaginação libídica e o fazia imaginá-la irresistível, e um encontro com ela o faria provar de experiências ainda não desfrutadas por ele. Essa era sua expectativa inconsciente.

Sentiu naquela noite o prazer maior buscado pelas mulheres e pouco apreciado pelos homens, que da mulher advinha a vontade da proteção e do carinho, e do homem, o desejo de proteger e ter boa companhia com alguém alegre, leve e inteligente.

Antes que amanhecesse, suas naturezas corresponderam finalmente a seus instintos e antes que ele percebesse como, mas estava fazendo amor com ela de uma forma tão terna e plena que passou a compreender mais ainda a alma feminina, pois não era apenas sexo o que faziam, era, de fato, amor, como as mulheres sempre tentam explicar.

Depois daquela madrugada diferente e, em todas as demais madrugadas que se fizeram na vida dele, sempre que ele acordava em meio ao sono ou não conseguia dormir mais cedo, lhe vinha a lembrança daquela mulher sexy e simples, sonhadora e realista, forte e frágil e, principalmente, diferente de todas com quem ele já estivera. Ela sempre volta a seus sonhos e a lembrança que mais lhe marca a memória é a dela subindo de volta àquele avião e parando na escada, voltando sua cabeça e brigando com os cabelos para poder vê-lo e dar um último aceno de despedida do seu maior encontro.




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