É inverno... final de inverno.
Que inferno, vocês verão!
Verão que a chuva chove sem fronteiras,
Trazendo a vida que inexiste
Nos lugares mais distantes,
Onde ela não se permite chorar.
Chove candente
A cântaros
A rodo.
Chuva louca, ocaso de inverno
Pingos insanos de final de festa.
A festa d’água, a brisa aguada,
O frio intenso, a trovoada.
Chove no velho telhado da mansão deserta
E cheia de vida.;
Deserta de gente viva,
Mas viva de morte em vida.
Chove chuva que resgata,
Maltrata e me aprisiona
No cantinho poético
Do meu quarto patético
E abandonado de solidão.
Água tanta derramada,
Que escorre da calçada,
Pelo dia a dia açoite,
Pela noite, madrugada.
Chove n’árvore verdinha e bonitinha,
Cheinha de ninhos d’aves,
De versos covardes
Que a ti ousam rimar.
Pobrezinha da chuvinha!
Ela molha, ninguém gosta...
Por que ninguém gosta!?
Ninguém...
Ninguém é indefinido
E eu me defino
E me afino
E me delicio
E me arrepio
E sou feliz.
E eu chovo, quando choro,
Derrotando fronteiras,
Combatendo a leseira
E as asneiras
E as divagações e perplexidades.
Vocês verão!
Verão que a chuva chove
Porque é forte.
Ela chove
E molda
E devolve à vida seus filhos áridos
E derrotados pelo estio.
Desculpa-me, nobreza,
Nunca ousei tocar-te,
Em tempo algum,
Jamais ousei cantar-te.;
Afinal
Somente os poetas te louvam,
Ou te amam
Ou te odeiam.
Perdão, musa aquosa,
Não sou mercedor de teus afagos! |