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Cordel-->O JUMENTO QUE GANHOU UMA ESTÁTUA-BARBOZA LEITE - Ed. Pedro M -- 22/02/2008 - 05:51 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em Santana do Ipanema,
No sertão alagoano.
Deu-se o acontecimento
Que agora aqui explano;
Foi erguido um monumento
Em homenagem ao jumento.
Um ato justo e humano.

Teve a idéia o prefeito,
Mas houve um vereador,
Cujo nome não declino...
Pois não lhe cabe louvor;
Não viu no humilde eqüino
A razão de tanto mimo,
Para votar a favor.

Outras pessoas , porém,
De melhor compreensão,
A idéia aprovaram
Sem fazer oposição,
Na Imprensa demonstraram
E até reclamaram
Ser pequena a distinção.

Uma estátua de bronze
Seria mais condizente,
O poeta Mauro Mota
Disse em prosa veemente;
Pois estátua só merece
Quem a servir se oferece,
Como o jegue paciente.

O Padre Antônio Vieira,
Que a idéia aprovou
E, “ O jumento, nosso irmão”,
Foi o livro que publicou
Onde a verdade se ensina,
Para as cidades nordestinas
Outras estátuas desejou.

Foi bastante combatido
Na ocasião, o Prefeito;
Houve muita agitação,
Falou o torto e o direito,
Reuniu-se a população
Em grande demonstração
Rendendo, ao jumento, o preito.

A verdade é que a idéia
Da estátua se erguida
Não era nem novidade...
Pois em terra desenvolvida
Tigres leões e outras feras
São símbolos e marcam eras
De vitórias obtidas.

Em batalhas memoráveis
Registradas na história,
E não basta ser valente
Para merecer a glória;
O animal liga-se ao homem
Na dor, na morte, na fome,
Juntos na mesmo memória.

Napoleão com seu cavalo;
Scipião com um elefante;
Do camelo o beduíno
Não se afasta um só instante...
Cristo com seu carneiro
Deu o exemplo primeiro,
Do valor de um ruminante.

O jumento, no Nordeste,
É um pau pra qualquer obra;
Sofre como qualquer vivente,
Tem paciência de sobra,
Pancada e fome agüenta,
Nas estradas poeirentas
Sua resistência não dobra.

Comendo qualquer ração,
É coisa de admirar,
Como pode ser tão forte,
Sem hora para trabalhar;
Pois um jegue, lá no Norte,
Só se o ajuda a sorte,
Tem tempo de mastigar.

É também inteligente,
Como agora vou mostrar,
Quando um jegue eu possuía.
Só vendo para acreditar.
Qualquer papel ele comia
Mas os livros que eu lia,
Ele só fazia cheirar.

Deixassem roupa na corda,
Ele apenas olhava...
Mas, qualquer pano no chão,
Rapidamente ele arrastava
E punha num certo lugar,
Para depois mastigar
Enquanto alguém não chegava.

Razão há, e de sobra
Pra que se dê ao jumento,
Como a um herói, um lugar;
Consagrar-se-lhe um monumento
Não é coisa do outro mundo;
Sabendo-se como é profundo
E extenso o seu sofrimento.

Á canícula do sertão
Ele foi habituado;
Pode ser inverno ou verão,
O homem o tem ao seu lado,
Topando qualquer parada;
No estirão das estradas,
Dando conta do recado.

E continuava, o bichinho.
No sertão do Piauí
Morava um tio meu...
Havia um jumento, ali,
Que bastante comoveu
O meu coração de criança;
Na fazenda Boa Esperança,
Este fato aconteceu.

A exagerar na bebida,
O meu tio costumava
E, por isso, aborrecida,
Minha tia se achava,
Pois num comboio de jumentos
Fora ele buscar mantimentos
E, de voltar, não cuidava.

Três dias haviam passados
Sem seu regresso se dar,
Com todo mundo afobado
Sem saber o que pensar;
Era eu um meninote,
Sai num cavalo a trote,
O meu tio a procurar.

Quando já tinha andado
grande parte do caminho
Encontrei muito cansado,
Um dos jumentos, sozinho.
Andava um pouco e parava,
Virava-se para trás, e relinchava

Numa curva da estrada
Eu percebi movimentos
E vi, em fila cerrada,
Caminhando em passo lento,
Com as cangalhas unidas
Por uma corda estendida,
O comboio de jumentos.

Foi então que compreendi,
O quanto era diligente,
O jumento que eu vi
E que seguia na frente:
Aos seus irmãos conduzia,
Em busca da casa ia,
Como um ser inteligente.

Eis, então, como se explica,
Do meu tio o sucedido:
Encontrei-o na cadeia,
Totalmente sucumbido;
Envolvera-se numa briga,
por causa de velha intriga,
E, ali, ficara detido.

Jasmim, colibri, moreno,
Entre outros apelidos,
São dados ao jegue, pequeno,
Mas um bicho destemido,
Teimoso, Galante,Araçá,
De uma família do Ceará,
Eram bastante queridos.

Uma coisa desastrosa
Que faz tristeza contar,
É a medida criminosa
Que deu muito o que falar,
De jumento ser abatido,
Em charque ser convertido,
Para ao Exterior se exportar.

O jumento é o companheiro
Do matuto do sertão,
Não vale muito dinheiro,
Mas é a única locomoção
Que a caatinga enfrenta
E fome e sede agüenta
Sem gastar muita ração.

Entre os rios conhecidos
E famoso, no Nordeste,
Nenhum pode ser excluído,
Ao qual o jumento não preste,
Desde que amanhece o dia
E sempre com a mesma energia,
Uma função inconteste:

É a água levar
Nas ruas costas cansadas
Conduzindo a cada lar
Virtudes abençoadas,
Pois a sede elimina,
E a sujeira fulmina:
Eis suas virtudes traçadas.

A lenha que o fogo acende
E, para cercas, a madeira;
Produtos que o homem vende
Em cada dia de feira,
Tudo o jumento transporta,
Tangido de porta em porta,
Conforme o seu dono queira.

Transporta a vida e a fé,
Transporta velho e criança;
Não deixa ninguém a pé,
De transporta não se cansa;
Transporta o cego, o mendigo,
De todos sendo amigo,
Na miséria ou na bonança.

A estátua do jumento
Foi, portanto, merecida,
Foi um belo pensamento
De uma mente esclarecida,
A que o escultor João Lisboa,
No sertão de Alagoas
Deu forma, calor e vida.

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