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Cordel-->A Guerra de Canudos -Vol.3 -BARBOZA LEITE -Ed.Pedro Marcilio -- 12/02/2008 - 18:06 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Guerra de Canudos - Volume 3

durante seis horas seguidas
um canhoneio medonho
destruiu as belas torres
erguidas como num sonho

mas transformada em ruínas,
tal desastre abateria,
dos jagunços, destemor,
pela tristeza que trazia.

Da igreja mais antiga,
com a fachada demolida,
até o sino, que os fanáticos
conclamava para a vida,

rolava, inútil, pelo chão,
como um símbolo destroçado
que, o ânimo dos penitentes
trazia sempre inflamado.

Quebrava-se a força da fé
destruindo-se os templos sagrados,
diminuído o fervor
dos jagunços sitiados.

Era alegria para as forças;
para eles, total desgraça.
Resta-lhes,agora, sorver o fel
de uma sinistra taça.

Já não tinha, o Conselheiro,
condições para animá-los;
sua aura de santidade
não podia revigorá-los
.................................................

Outros desastres se sucederam
daí por diante, com velocidade;
reiniciando-se com mais energia
a imediata invasão da cidade.

Ficou a quinze metros da Igreja velha
o vigésimo quinto batalhão,
e a linha negra, inexpugnável,
contribuía para acelerar a invasão.

No velho templo semi-destruído,
à noite, um alferes penetrou
e, ateando-lhe fogo, com querosene,
rápido, o madeirame ardeu, e desabou.

Enquanto, os jagunços não vacilavam,
apesar da sucessão desses fracassos;
não se entregariam vivos, enquanto
restassem forças nos seus braços.

Na verdade, a situação das tropas
começava sensivelmente a melhorar,
com a chegada valorosa de víveres
a tendência era a vitória se aproximar.

Aos poucos, um domínio maior
as forças começaram a expandir
fechando os caminhos de Canudos
para onde os jagunços pudessem fugir.

O número de praças se ampliava
com a chegada de mais batalhões,
o cerco ficando mais resistente,
com menor risco para as operações.

Mesmo assim os rebeldes persistiam
utilizando artifícios engenhosos
que mostravam a inteligência dos jagunços,
sempre e cada vez mais rancorosos.

Pelas estradas de Cambaio ou Columby,
fortificações haviam, de deixar assombrados
os oficiais que, de outras expedições
contra insurretos, já haviam participado.

................................................

dispunham, os jagunços, de tanto armamento
que poderiam, fulminantemente, liquidar
a 1ª Coluna ao dirigir-se para Canudos,
se por aquelas estradas tivessem que passar.

Camufladas sobres a barracas do rios
por cujo leito seco as tropas passariam,
as fortificações dos jagunços, invisíveis,
mais de três mil homens ali sepultariam.

Dantas Barreto comenta com a maior honestidade,
A boa sorte das tropas seguindo outro caminho,
e a infelicidade daquele expertos sertanejos
de tantos méritos, mais afogados num torvelinho.

Com a ocupação da estrada Várzea da Ema,
Canudos estava definitivamente subjugado,
irradiando-se alvíssaras pelo País inteiro,
porque o fogo de rebeldes, já estaria dominado.
.................................................

Dos beatos que iam sendo aprisionados
era patética a resignação que revelavam.
como se achassem que suas desditas,
a salvação de suas almas representavam.

Porque não se retiravam as tropa invasoras
que os despojavam de bens adquiridos
sem que ninguém lhes dessem nada
que não fossem por seus cansaços conseguidos?

Era a reação ingênua que exprimiam
desesperados e sem consolos, os prisioneiros
que já não tinham o que comer ou vestir,
ao chegar a luta aos momentos derradeiros.

Ainda assim, era o Conselheiro o que esperavam,
acreditando que o beato era invencível,
a decisão que um milagre ainda pudesse operar
para salvá-los daquele pesadelo tão terrível.
...............................................


Mais funda ia a luta
sucedendo-se as surpresas;
os jagunços reagiam
disfarçando suas fraquezas;
revelavam-se sempre mais
ricos de espertezas.

As mulheres aproveitavam
as horas de escuridão
para ir até o rio
arrastando-se pelo chão
tentando obter assim
água para a população.

Na areia elas deixavam
muitas cacimbas cavadas
que eram, no dia seguinte,
pelos soldados aterradas.

Muitos corpos ficavam
pela areia estendidos
até que o sol da manhã
mostrasse que tinham morrido.

Era fome que aumentava
o número de sacrificados
que a vida desprezavam
por serem fanatizados.


Os animais que restavam
ovelhas, cabritos e leitões
só os combatentes comiam
em diminutas porções.

De uma prisioneira
carregando um recém-nascido
haviam sido trucidados
seu pai, sua mãe e seu marido.

Pedia ela que a matassem
como aos outros acontecera.
Não adianta viver
depois do que sofrera.

Como tinha, essa mulher,
dois filhos em Monte Santo,
para ali foi enviada
mais calma no seu desencanto.
.................................................

De 25 a 29
do então mês de setembro,
das forças de ocupação
então seus maiores membros

reuniram-se para decidir
o término da situação,
já que o cerco, bem fechado
permitia uma definição

e, os óbitos pela varíola
se tornavam constante,
forçando a que, a guerra,
terminasse num instante.

Para os fanáticos não havia
condições de resistir
não havendo o que comer
e nem por onde sair.

Dantas era contrário
a uma ação no momento;
já não dispondo, os jagunços,
de um mínimo alento,

que se esperasse algum tempo
evitando mais sofrimento,
pois a guerra estava ganha.
Era o seu pensamento.

Mas, o coronel Sampaio
que tinha vindo dos pampas,
tinha pressa de aumentar
além de uma, outras estampas

que a ele se referissem
como um grande combatente,
conseguiu autorização
para agir imediatamente.

Como ainda não conhecia
a fibra do inimigo...
atacou, e o seu combate
lhe trouxe um grande castigo.

Foram poucas as vantagens.
Perdeu quase quinhentas praças,
trazendo aos seus camaradas,
imerecidas desgraças.

Embora bem planejado
o ataque não resistia
à defesa dos jagunços
que, um passo não cediam

às forças invasoras;
não regressando, os soldados
que à vingança se lançavam
enquanto eram rechaçados.

No interior dos casebres
onde as forças penetravam
eram os quadros mais terríveis
o que, então, encontravam:

crianças, mulheres, homens
pelos cantos amontoados
como se a morte, por ironia
os mantivessem assim, abraçados.

Às próprias tropas baixava
um susto pelo horror
que tais cenas imprimiam
de tanto heroísmo e dor.

Cada casebre invadido
transformava-se em bastião,
até a força assumir
um nova posição.

Cinco batalhões prosseguiam
quase sem poder avançar,
verificando que as baixas
não deixavam de aumentar.

Era um prodígio a defesa
que os jagunços ofereciam,
os soldados atirando
no que os olhos não viam.

No ponto que fora atacado
pela sexta brigada
ficou sem poder seguir
a invasão estacionada

com a redução das fileiras
que ficaram desprovidas
de uma forma inesperada
por muitas perdas de vidas.

Diante de tal fracasso,
de tanto ardor e agonia,
para prosseguir o combate
tinha que esperar outro dia.

No primeiro dia de outubro
essa batalha aconteceu,
cada herói ali deixando
sua vida, que ofereceu

para favorecer a Pátria
e, da farda, manter o brio,
mas enterrando-se na campanha,
no mais distante chão frio.

Numa margem do Vasa-Barris,
de quatro oficiais destemidos,
a terra recebeu os corpos
que ficaram esquecidos.
.................................................

Não arrefecia, nos jagunços
a vontade de lutar;
sendo os seus meios escassos,
já não podiam esperar

que a noite amortalhasse
um desespero tão imenso;
ao tiroteio se lançavam
com um furor mais intenso


durante a noite atacando
as posições avançadas
com um ímpeto desmedido
de almas desesperadas

como se buscassem a morte
ocultas em fundas trincheiras,
jogando-se de qualquer modo
ao encontro das fileiras.

Seu abrigo e santuário
haviam sido incendiados
além das casas mais próximas
tudo estando devastado

e, com eles querendo apagar
os focos que devastavam
suas antigas posições,
mais as tropas se animavam

a causar-lhe mais aflição,
os fuzis sempre atirando
sem parar um só instante,
com aquela gente acabando.

No dia seguinte era pior
a situação dos miseráveis
para os quais, alívio algum,
ou fuga, eram improváveis.


Os incêndios se alastravam
e a fome e a sede, conjugados,
aumentavam a selvageria
dos homens desesperados.

Eis que, entre as chamas vermelhas,
uma nesga de pano branco avultou.

Como a água na fervura
logo o combate cessou.

Garantido pelas normas da guerra,
um beato se aproximou:

vim oferecer uma rendição
que e o comandante não aceitou:

teria de ser incondicional
a rendição pela qual, optou.
................................................

Os companheiros do beato
reagiram sobre o que foi estabelecido:
dali só arredariam pé vitoriosos
ou mortos, mas nunca vencidos.

Preferiam continuar entre escombros e fumaça,
a aceitarem, sem honra, o fim de sua desgraça.


No entanto, sem saberem
onde estava o conselheiro,
perdiam a fé na Providência
que transformara Canudos num braseiro

de onde mulheres e crianças emergiam
como se do inferno brotassem,
nada mais cruel podendo haver
se elas e as crianças se queimassem.

Queriam água para beber
e comida para as crianças;
já era bastante os três meses
que tiveram que viver sem esperanças.

Suas casas foram destruídas, os templos,
aos canhões não puderam resistir;
e, agora, no fragor da derrota,
já não tinham nem onde cair.

Não tinham mais o que esperar
arrastando homens inutilizados
e crianças doentes e famintas,
que da morte tinham escapado.

Outras mulheres, no entanto,
carregando sua gente,
mergulhavam entre as coivaras
e morriam, subitamente.

O beato ainda voltou
para dizer ao Comandante
que os fanáticos resistiriam
a partir daquele instante.

Passou o momento esperado
de cessarem as hostilidades,
enquanto os mais desiludidos
entregavam-se as autoridades.

Os que ficavam, porém,
entre as labaredas altivas,
mostravam que sua ira
cada vez ficava mais viva.

Ao ressoar das cornetas,
pondo às tropas de sentido,
muitos dos que se entregavam
ainda não tinham saído

do teatro da batalha,
instando, as forças, urgência
pois, já iriam atacar
os focos de resistência.

Ao soar do primeiro tiro,
os fanáticos atravessavam,
sem pressa, a área incendiada,
e onde podiam, se ocultavam.

Depois do segundo tiro
para a luta recomeçar,
os soldados ainda agitavam
os seus lenços, para chamar

aqueles que andavam devagar,
sem pensar no que ia acontecer
pressa já não havia para quem
de qualquer modo iria morrer.

Crianças nuas, desnutridas,
que ainda podiam andar,
seguiam aos tombos, quase caindo
ao menor sopro de ar.

Veio a seguir o terceiro disparo
que teve a resposta dos jagunços, prontamente
revelando mais uma vez, o real preparo
que os compara aos melhores combatentes.

E, assim, a noite outra vez foi sacudida,
do luto mais negro vestindo um dia histórico
que reunia para o desfecho mais atroz,
um exército contra um grupo de estóico.

Desenrolou-se até o dia seguinte
tiroteio que jamais cessava,
estremecendo céus e terras do sertão,
enquanto ao Brasil ensangüentava.

Estava no ânimo das tropas
deixar Canudos totalmente arrasada.
Tinham que debelar a resistência
ou, então, sua honra não estaria lavada.

Além do mais, vários tipos de revolta
surgindo em outros focos de luta civil,
a este não podiam jamais comparar-se
por toda extensão ameaçada do Brasil.

E, ali, as hostilidades iam prosseguindo
em lutas sempre mais cruéis, encarniçadas,
e já a podridão de centenas de cadáveres
deixava a respiração seriamente ameaçada.

Sob o sol muito forte do mês de outubro,
um pano branco de vez em quando aparecia
nas mãos de homens e mulheres mutilados,
dos quais o comandante se compadecia.

Mas, na manhã do dia cinco de outubro
o fogo dos jagunços estava terminado
e permitia a ocupação, de casa em casa,
do que ainda sobrou, pelos soldados.

Em uma delas restavam quatro atiradores
que lutaram, mesmo assim, enquanto puderam,
sendo um velho, um adolescente mais dois homens
que foram encontrado na mesma cova que fizeram.

................................................


Estava, afinal, encerrado um capítulo
negro que se inclui em nossa história;
sendo que seria justo o reconhecimento de
que ambos os lados mereciam a mesma glória.

Tornou-se simplesmente indescritível
o final de uma luta sem comparação
com outra em nossa terra ocorrida.
e que deixou, como prêmio, a solidão
mais tenebrosa, com o despovoamento
dos homens obstinados do sertão.

Deles, o extermínio absoluto
tinha sido um jogo calculado
pelo arbítrio das oligarquias
ao terem seus interesses obstados
pelos sertanejos oprimidos, mas
querendo os seus direitos respeitados.

Ledo engano da gente ingênua e insegura
que a civilização mantinha afastada,
até que querendo livra-se de outros freios,
foi pelo fanatismo fortemente arrebanhada
tornando-se, dessa forma, estorvo e perigo
pelos quais a república estaria ameaçada.
.................................................



Quando a cabeça da Peçonha foi cortada.


Nos três dias de cessada
a batalha que o sertão mergulhou
num abismo tão profundo
que à República rudemente abalou,
mas ao destruir Canudos,
com as perdas que teve, pouco lhe sobrou,

Restava o sertão queimado
e, o caldeirão que ali fervia
estava definitivamente destroçado.
Notícias do Conselheiro
ninguém sabia informar.
Parecia ter-se evolado

como esperavam os romeiros
que assim iria acontecer
por ele ser o primeiro
que teria de merecer
a graça de se salvar,
sem nada lhe acontecer.

Tinha acontecido o contrário
com aquele infeliz mortal
que tentara achar o Bem
mas deparou-se com o Mal.

Encerrado no seu santuário.
em fervorosa oração,
já duravam alguns dias
com ele sumido de ação.

Procurado por todos os cantos,
não se achava o Conselheiro;
as forças vasculhavam tudo,
na busca do seu paradeiro.

Entre escombros calcinados,
vestígios dele não havia,
e entre uma dúvida e outra,
mais a busca atingia

o seu ponto mais agudo
aumentando a curiosidade
sobre o sumiço de um homem
que não saíra da cidade.

Foi, afinal atendido
o esforço dos soldados:
numa cova muito funda
estava o Conselheiro enterrado.

Pelos cálculos do legista,
ali estava há três dias,
quando foi identificado
pelos trajes que vestia.

Como não havia mais jeito
do corpo ser embalsamado,
devolveram-lhe à mesma cova
onde ficou sepultado.

De homens buscando notícia
também ali mergulhara
um sonho que em pesadelo,
afinal se transformara.




FIM


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