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Contos-->NO MUNDO DAS BANANAS -- 03/07/2004 - 01:19 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NO MUNDO DAS BANANAS


Estamos na São Paulo de 1950.
Maria Amélia, solteirona, cinqüentona, virgem de signo e de sexo, chorava copiosamente, pensando na vida. Não era para menos. Desde adolescente, até hoje, nunca teve um namorado, noivo, amante, nem mesmo um amigo homem. Por incrível que pareça, nunca foi beijada sequer no rosto.
Mesmo assim, era bonita!
Morava sozinha e trabalhava em casa, costurando e reformando roupas. Esses serviços deixavam-na com poucas oportunidades para sair de casa.
Naquele tempo não existia televisão no Brasil. Seu passatempo eram as novelas, que acompanhava num velho rádio. Gostava também da voz de Vicente Celestino e do Carlos Galhardo. Enquanto ouvia os seus ídolos, pensava com os seus botões — como seria o sexo?
Amigas tinha poucas. Freqüentavam a Igreja de São Judas no Jabaquara, perto de sua casa. Encontrava com elas na missa, aos domingos, e as conversas eram sempre sobre a religião católica e a sublime devoção que tinham pelo santo. Mas, até aquela data, São Judas não havia ainda escutado as suas preces acompanhadas de juras e promessas.
Sabia, ao observar os bebês, enquanto as mães davam banho e trocavam as fraldas, a diferença entre menino e menina.
O seu secreto sexo ela conhecia bem. Às vezes, depois do banho, com muito recato, ficava olhando-se no espelho. Nem imaginava que existia masturbação.
Certo dia, ao voltar das compras, com as verduras embrulhadas numa folha de jornal, ao abrir o pacote sua atenção foi atraída por um anúncio: “Cartomante vê o seu destino”.
Recortou o que queria e, com o nome e endereço da madame Esther na bolsa, resolveu ir procurá-la.
Perguntou às amigas da missa onde ficava o tal endereço, mas não revelou o motivo. Se dissesse, com certeza seria excomungada pelo bispo que visitava a igreja uma vez por mês.
Santana?! Sim, no bairro de Santana morava a cartomante.
Interessada em saber o que a aguardava no futuro, numa quente manhã de janeiro tomou o bonde que ia até a Praça João Mendes, na cidade. Lá perguntaria como chegar a Santana.
Não foi muito difícil. No Vale do Anhangabaú tomou um ônibus que passava na Rua Voluntários da Pátria, onde morava quem poderia mudar a sua triste vida.
Chegando lá, as decepções começaram. Recebeu uma senha de número trinta e sete. De acordo com os seus cálculos, seria a vigésima nona a ser atendida e, pelo andar da carruagem, sairia lá pelas três horas da tarde.
Dito e feito! Às duas horas, uma senhora gorda e vestida de cigana, que deveria ser a madame Esther, saiu de trás de uma cortina estampada com estrelas azuis, chamando a sua senha.
Maria Amélia inocentemente entrou e contou tudo para a cartomante, antes mesmo que ela colocasse as cartas na mesa. Seu passado, presente e futuro já estavam na mente da espertalhona madame.
A velha raposa distribuiu diversas cartas de tarô sobre a mesa, coberta com uma velha toalha encardida. Em seguida, acendeu uma vela branca, dizendo palavras incompreensíveis. Então, falou com voz pastosa e sorrateira:
— Minha filha, as cartas já disseram tudo!
— Mas o que elas dizem? Perguntou Maria Amélia.
— Dizem que em outras encarnações você foi muito ruim. Em uma delas você foi uma prostituta famosa e judiava muito dos homens. Chegou até a apunhalar um cliente por causa de dinheiro. E é nesta vida que você está pagando tudo o que fez em vidas passadas.
Olhando para as cartas, depois de acender um cigarro na vela, a falsa cigana continuou:
— Portanto, minha filha, nesta vida você não conhecerá os prazeres do sexo. Jamais um homem chegará perto de você! E a carta da morte diz que irá morrer mais virgem do que quando nasceu.
— Mas ainda nos arcanos maiores, a carta dos enamorados diz que só depois da sua morte, na próxima encarnação, você encontrará novamente os prazeres da carne! E será uma vida de plena sensualidade, com muitos homens ao seu redor!
Chocada, Maria Amélia pôs o dinheiro da consulta numa caixa de sapatos que estava num canto da mesa. Saiu da casa da cartomante em prantos, completamente desconsolada.
Para economizar, pois gastou mais do que esperava com a senhora dos destinos, resolveu ir a pé até a cidade.
Andando, tomou uma decisão trágica — iria se suicidar!
Adiantaria continuar vivendo assim, sem conhecer um homem? Não!
Quais traumas levaria para a velhice sem conhecer o sexo a dois?
A decisão estava tomada. Chegando em casa tomaria veneno e morreria em paz.
Com estes pensamentos fúnebres começou a atravessar o Viaduto do Chá. Parou diante do prédio da Light, refletindo: “Meus Deus! Quantas pessoas já se atiraram deste viaduto? Em poucos minutos estarei fazendo sexo com quantos homens eu quiser”.
Fez o sinal da cruz, rezou um padre-nosso e uma ave-maria e seguiu, decidida, para o parapeito do viaduto. Sem que ninguém esperasse atirou-se para uma outra vida, com um sorriso nos lábios.
Mas o destino, caprichoso, havia reservado uma surpresa para ela!
No exato instante em que o corpo de Maria Amélia caía, embaixo do viaduto passava um caminhão, vindo do mercado, carregado com cachos de bananas.
Num estrondo o corpo caiu em cima das bananas.
Com o impacto, Maria Amélia desfaleceu.
O motorista do caminhão, assustado com o baque e a gritaria do povo, estacionou o veículo.
Rapidamente, diversas pessoas subiram no caminhão para socorrer aquela pobre senhora.
Em meio a comoção geral, Maria Amélia, completamente confusa, começou a recobrar os sentidos.
Tentou levantar-se, apoiando-se nas bananas. Naquele momento, segurando o que ela acreditava ser sexos masculinos, e escutando diversos homens falando ao mesmo tempo, ela não teve dúvidas — compreendeu que tinha chegado ao mundo dos prazeres e começou a gritar:
— Esperem! Calma! Por favor, eu dou pra todos! Um de cada vez! Façam fila, por favor! Peguem as suas senhas.
Enquanto falava, concluía: “Finalmente cheguei à vida que tanto queria”.
Também tinha chegado a ambulância.
Levaram Maria Amélia diretamente para um manicômio.
Ainda atordoada e deitada na maca, segurando nos canos de proteção, com olhos fechados, a coitada pensava: “Mas como é grande e duro isso aqui, desconfio que não irei agüentar esta nova vida!”.
Será preciso consultar uma cartomante para saber o futuro da infeliz? Acredito que não!


Roberto Stavale
Direitos Autorais Registrados®
Julho/2004.-

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