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Cordel-->SOLANO TRINDADE - Pedro Marcilio -- 11/02/2008 - 06:45 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SOLANO TRINDADE
Um poeta na passagem por Duque de Caxias

Uma solução tirada da fonte, da mina
que aos políticos costuma ser reservada
foi quando com vinte homens, uma menina,
ficou noites numa cela encarcerada:
a governadora mandou a cadeia derrubar
para que à ordem não pudessem perturbar
e nem que as moças sejam estrupadas.

Assim quando o poeta pode perceber
que o trem que levava os trabalhadores
de volta as suas casas depois do dever
cansados, músculos e estômagos com dores.
Tem gente com fome, tem gente com fome
tem gente com fome, tem gente com fome
denunciava entre ferragens e vapores.

Mesmo que o freio obediente mandasse calar
o poeta nem morto se calaria também
e sempre atento, estaria a denunciar
pois que era homem poeta e não trem.
Das locomotivas, seus caminhos iriam desativar
para dos comuns seus passos prejudicar
mas do poeta, seu sonhos iam além.

Temgente com sono, deixa dormir
tem gente com fome, dá de comer
tem gente chorando, deixa sorrir
tem gente com sede, dá de beber
tem gente querendo ser gente querendo
ser gente querendo tem gente querendo
deixa querendo viver essa gente viver.

E lá vinha o poeta produzindo cultura
em cada cidade que num tempo morava
e era como a cana-de-açúcar: doce e dura;
energia renovável que não se esgotava.
E o poeta caminhando por trilhos e dormente
ia deixando nas cidades vigorosas sementes
que em se cuidando, logo desabrochava.

Assim como um trem fixando populações
um homem de cultura vai fixando utopias
buscando espaços para encenar emoções
em palcos, estrados, lonas ou moradias
que o importante era criar a possibilidade
criar condições para as pessoas da cidade
e era o que o poeta gostava de fazer, e fazia.

Píuuuííí...um dia da capital de Pernambuco partiu
bem depois de 1908 do mês seis e dia vinte e quatro
um anjo menino meio sapeca bem depressa sorriu
e na parede dos eleitos, fixou o seu retrato
ladeado por Manuel Abílio, o pai exímio sapateiro
e Emereciana, mãe quituteira e amor primeiro
inaugurando na história um novo estrato.

Francisco José Solano Trindade, poeta brasileiro
quando nos quintais de Recife, ainda menino atuava
como um herói africano, um valoroso guerreiro
que a todos escravistas, desse solo expulsava.
Uma criança que sonhava em suas brincadeiras
que a justiça em seu País haveria de ser verdadeira
que por todo e sempre, em sua poesia, exaltava.

Criador, produtor e disseminador das culturas
também foi pintor, teatrólogo, ator e folclorista.
Bem, um homem de grande envergadura
só podia ser mesmo um grande humanista.
Militante do direito a todos, ao bem comum
a oportunidade e ao respeito de cada um
tal como ao republicano e ao comunista.

Sensível a questão dos afro-brasileiros
participou de congressos pelo país
utilizando-se de palcos e terreiros
demonstrando a sapiência de raiz
dos formadores de arte, de cultura.
Homens que por terem grandes estaturas
ficam indignados mas não ficam infeliz.

Criador do Centro Cultural Afro-Brasilero
da Frente Negra Pernambucana, uma extensão
e um Grupo de Arte Popular, verdadeiro
dínamo no sul pela qualidade de sua produção.
Um comitê democrático com Abdias Nascimento
e o Teatro Folclórico, grandes momentos
do homem dedicado a arte e a emoção.

Criador do Teatro Popular Brasileiro
sua experiência mias bem sucedida
com o amigo e sociólogo Edison Carneiro
e sua parceira e esposa, Margarida.
O TPB apresentou-se em países do exterior
levando a essência maior do homem de cor
no pulsar da dança, da arte e da vida.

O folclorista , teatrólogo, pintor, ator
Solano Trindade deixava sua marca
por onde passava e por onde ficou
por onde só caminhava e por onde morou.
Eram suas pegadas sementes de arte
dos grupos que criou e dos que fez parte
assim como dos sonhos que sonhou.

Era sem as igrejas, como a Bahia
a cidade que por um tempo morou
na baixada, foi Duque de Caxias
que em seus versos consagrou.
E seu colega de trabalho e amigo de fé
nos anos 50 na Fundação IBGE
Barboza Leite, para morar ele levou.

O trem da Leopoldina que o inspirou
na obra-prima que o ajuda a denunciar
a fome na morada do trabalhador
situação que não deixaria de o indignar.
Preso o poeta, a poesia toma rumo certo
ecoando nos cantos de um mundo moderno
onde a fome não teria mais lugar.

O Teatro Folclórico Fluminense, sua criação
com a parceria do sociólogo Edson Carneiro
foi obra fecunda de intensa produção
em sala cedida pelo amigo Dr. Romeiro.
De Vinicius encena “Orfeu da Conceição”
tendo sido o cinema a sua feição
com “O Santo Milagroso” e “Agulha no Palheiro”

Na sua casa no bairro Itatiaia, em Caxias
havia sempre o encontro do sábio e do aprendiz
do conhecimento desejoso com alegria
quando se produz uma simbiose feliz.
E na arte de pintar, dançar e representar
era o propício momento de se comungar
com o desejo do que o mestre sempre quis.

O poeta orgulhoso de sua negritude
produziu belos versos de sua lavra
cantando do seu semelhante a magnitude
de gente tão generosa quanto brava
quando lhes é cerceada a liberdade
de viver com toda a intensidade
de sentimento que se expande e não trava.

Um dia foi morar em Embu, cidade paulistana
levando sua canastra de sonhos e criação.
Lá construiu centros culturais de grande fama
com sólidas estruturas e concepção
desenvolvendo oficinas de artesanatos
pinturas, esculturas, literatura e teatro
como sempre almejou seu coração.

Na companhia da sempre esposa Margarida
muito mais que cúmplice, parceira, companheira
a co-autora de suas obras mais sentidas
por todo e sempre de uma vida inteira
a co-gestão de Liberto, Rachel e Godiva
filho e filhas que a plenitude da vida
se faz completamente verdadeira.

Deixou aqui muitos frutos e sementes
herdeiros de sonhos e de novas visões
que se multiplicaram em novos agentes
de outras verdades e outras realizações.
Solano, de mais de uma trindade
da justiça, decência e liberdade
de todas as cores e emoções.

À arte e à vida, entregou-se plenamente
sem providência e tampouco previdência
as injustiças, lhe horrorizavam completamente
como a miséria lhe tiravam a paciência.
Em 1974 foi semear em outra dimensão
deixando sementes que brotaram e que brotarão
despertando revigoradas consciências.


FM


“Caxias é para mim um amor... é como menina moça,
mal vestida, de má fama, mas que agrada ao poeta,
pelo laçinho azul que traz na cabeça...”

Solano Trindade


———————————————————————
Referências:
Barboza Leite
Dalva Lazaronni,
Guilherme Peres
Nilton Menezes
Rachel Trindade



TEM GENTE COM FOME ( SOLANO TRINDADE )

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome


Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dzier
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu




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