CARAVELAS DA ESCRAVATURA
Do além mar, caravelas regressam
Trazendo a bordo escravos negros,
Dessa torturante viagem à África
Comandadas por Homens brancos,
De várias nações inclusive daqui,
Do nosso amado Brasil!
Nunca se falou tanto dos negros
Nos porões imundos das caravelas
Um imenso fedor, homens e mulheres
Há muito tempo sem banho, cheiro de suor,
Vômito por toda parte, cadáveres
Dos que estavam doentes e morreram,
Não se falam da minha terra
Choro das mães, das negras parteiras
Recém nascidos, placentas apodrecidas,
Cheiro do mar, cheiro de peixes,
Confundido maresia ao cheiro do sexo,
Cheiro de mofo, comida azeda,
Nunca se falou tanto dos negros
A busca de homens, escravos negros
E de mulheres desse negros africanos
Vindo África, para trabalho escravo
Nesta terra distante que é o Brasil
Tinham a intenção de ricos se tonarem,
Não se falam da minha terra
Gaivotas voavam e se aproximavam
Sem saber o que estava acontecendo
Dentro dessas infelizes caravelas,
Tudo por maldade dos infelizes humanos
Que buscam negros para serem escravos,
Nunca se falou dos negros
Ninguém fala. Oh! Miserável silêncio,
Ninguém dá notícia de minha terra,
O silêncio sobe milhões de braças
E continua entre caravelas que flutuam
A espera do porto, onde ancorariam,
Não há mais notícias de minha terra
Silêncio total, pano abafando a boca,
Medo, pavor por saber o que os aguarda,
Medo sujo, sujo negro, sujeira moral,
Desembarque em terra estranha,
Escravos sendo levados, coisa louca ...
Minha terra ficou distante... choro de tristeza...
Oh! Se eu pudesse voar através dos tempos,
E pudesse impedir esses acontecimentos,
Tenho apenas esse meu poema a cantar...
Que valor tem o meu cantar?
Quisera eu que dentro desse verso
Entoasse um cântico à liberdade...
Só os descendente dos escravos
Terão noticias... da terra distante
De sua terra... a eterna África...
A escravatura ainda é um muro alto
Que separa a humanidade...
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