COR DE PRATA
O silencio da página paralisa-me.
Deixa meu poeta de pena na mão.
Como um dia em branco,
Virou, esta página, o vazio de um não.
Procuro no escuro dos olhos
Um verso a dizer-lhe.
Mas a página, como um poço sem eco,
Não me ouve, recusa-me.
Pergunto-me se sou mesmo quem diz,
Ou se é o silencio das páginas
Que se liberta na pena do poeta.
Mas o verbo, ainda o branco me nega.
Esconde-se no branco que cega
A letra e a dores do choro
Da loucura do silenciado poeta.
E minha mente, confusa, se inquieta.
Torna-se perdida minha razão
Este impiedoso cárcere branco.
Aprisiona-me a ilusão,
E faz insignificante a voz de meu coração.
Tento rasgar-lhe os segredos,
Abrir-lhe fendas na ponta da pena.
E com arroubo de poeta calado,
Sangrar-lhe as linhas com riscos pequenos.
Mas o silencio deste branco
Desafia o poeta e sua pena.
É página d’um livro da vida
Que aceita uma tinta apenas.
Uma tinta cor de prata,
De pena de asa de anjo,
Que liberta o segredo da palavra.
Palavra de anjo, anjo cor de prata.
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