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Contos-->Contos VerídicosSerá a morte melhor do que a vida ?!... -- 30/06/2004 - 07:18 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- DEUS... MATOU-A!


O Paulinho, uma pérola de miudinho com 6 anitos, apareceu de olhos desorbitados e rosto incrédulo de espanto, como se tivesse sido sacudido por um fantasma a sério, à entrada da casa de Zulmirinha, uma sexagenária ainda bem implantada de figura que em tempos idos, antes de ter estabilizado a vida, emigrara com o marido para França, com malas de cartão e tudo.

- Vovó... Vovó... O pai matou a mãe com a espingarda dos coelhos!...

Raúl Cerdeira, filho de dona Zulmira, nasceu em França, no centro da cidade-luz, mas desde sempre foi português. De seu pai, Fulgêncio Cerdeira, o Cerdeirinha, que faleceu a rir, herdou o pendor pelo trabalho na construção civil, com devotado prazer, sendo capaz de fazer uma alinhada aresta em cimento, por trinta metros acima, como lâmina pronta a passar ferro. O suor de corpo e alma vertido ao longo dos primeiros anos de labuta, sempre sob a asa atenta de seu progenitor, tinha-se traduzido num bom pecúlio.

Nas suas idas e voltas a Portugal durante as férias em Agosto, também a gosto uma dada vez se deixou prender pela magia luminosa que viu nos lindos olhos de Ana. Daí e por aí pois, foi à igrejinha da Venda dos Tordos casar-se, terra natal da noiva, que ali lhe jurou fidelidade para o resto da vida.

Em princípio, o casal foi viver para Paris, mas mais ou menos ao cabo de um ano, a Ana não se deu bem e começou a morrer de saudades pelos pais e pelos irmãos, queixava-se. Raúl, que amava de olhos fechados sua mulher, não hesitou e foi ao banco levantar todo o amanho que possuía para comprar uma casa que ladeava a habitação de seus sogros na pacata aldeola donde a Aninhas era natural.

Por sua vez, os pais de Raúl, como surgisse a oportunidade de também comprarem casa própria, contígua à do filho e nora, não perderam mais tempo e adquiriram uma vivendazinha para nela entrarem felizes no patamar da velhice. Maugrado, o Cerdeirinha-pai pereceu meses depois num acidente de automóvel, quando vinha de uma festa com os amigos.

Raúl, recuperando com estoicismo do inesperado desgosto, passou assim a assumir em conjunto as responsabilidades de seu pai, andando de um lado para o outro, entre Portugal e França, vinte e mais vezes por ano. Era em Paris que as suas relações de trabalho se apresentavam sólidas para ganhar folgadamente a vida e garantir o bem estar dos seus entes queridos, esforço que redobrou logo que o irrequieto Paulinho surgiu nas mãos da parteira.

Em Março de 2002, após peripécias um tanto ou quanto do arco-da-velha, já então havia um ano de relações tensas com sua mulher, o que gerou e fez despoletar alguns graves desentendimentos, com agressões e insultos mútuos, o Raúl num trágico minuto esqueceu-se do Paulinho e de todos. Até de si se esqueceu. Introduziu dois cartuchos com zagalotes na caçadeira e desfechou a arma sobre o peito da esposa.

A Ana, havia já algum tempo que lhe recusava qualquer espécie de carinho, inclusive, porque abria as pernas a outrém na obscuridade e as fechava ao marido, a ele Raúl, homem honesto, crédulo e cumpridor de todos os seus deveres familiares ao extremo, habituado desde menino a ouvir os nomes em carinhosos diminuitivos.

Condenado a 20 anos de prisão, o Cerdeirinha-filho obteve mais tarde, através de recurso, uma redução de 4 anos na pena. O Paulinho, neste preciso momento com 9 anos tristes, anda na escola e vive com a avó, a dona Zulmirinha. que tanto trabalhou e sonhou para usufruir de uma velhice feliz.

Raúl Cerdeira, arrependidíssimo do brusco acto que tinha cometido, mas corajosamente firme na postura, antes da setença ser pronunciada, desabafou convicto perante os juízes: - Deus... Matou-a !...

Torre da Guia = Portus Calle


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