Usina de Letras
Usina de Letras
142 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50618)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140802)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->Antonio das Sete Vidas1 - BARBOZA LEITE - Ed. P. Marcilio -- 29/01/2008 - 06:27 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

ANTONIO DAS SETES VIDAS - Vol.1




As estórias de Antonho das sete vidas, foram publicadas originalmente em 1985, pelo Consórcio de Administração de Edições (D. de Caxias)em apenas um volume. Posteriomente foi publicada em vários volumes no formato do cordel tradicional. Agora, em meio digital, esperamos que o seu encontrocom as estórias desse brasileiro lhe
seja muito prazeroso.


Duque de Caxias, 2008





Antonho das Sete Vidas

Volume 1


Nasci de moça donzela.
Depois meu pai se casou com ela
Era tão bonita, a minha mãe;
parecia a estrela d’Dalva
e Dalva era o nome dela.

Me chamavam de curumim;
Depois do batismo Antonho.
Não nasci para ser ruim
mas sou um sujeito medonho.

De minha mãe me lembro pouco,
a não ser que era bela .
Filho de branco e “caboco”
me teve pela janela.

Eu nasci muito assustado
segundo disse a parteira.

Depois que eu soube do caso
não fiquei aborrecido.
Muito cego de nascença
nunca viu a luz do dia
Mas se junta com uma cega,
Descobre a sua alegria.
Sou bastardo, que tem isso?
Me valha a Virgem Maria!
Tem muito cego na vida ...
não é só essa ferida
que atrapalha a fidalguia.


Sou “caboco” sou matuto
das brenhas do meu sertão
mas sempre acendo o meu facho
nas sombras da escuridão.

Não tenho anel de doutor,
mas sei ferrar o meu gado;
sou feliz sendo pequeno,
vivo bem, muito obrigado.

No entanto existe um partido
ao qual estou sempre ligado;
é um adjunto de poetas
cada qual mais inspirado;
então , eu me junto com eles
para dar nosso recado.

Passamos noites e noites
com um pinho bem temperado;
a nossa canção é música
em versos sempre rimados;
quebramos qualquer estrutura,
nosso verso é a moldura
de um universo encantado.

Falando a verdade sempre,
de ninguém temos medo;
quem quizer ficar na ‘nossa”,
não pode esconder segredo:
carregue sua fidalguia,
venha sem covardia
Alimentar nosso enredo.

Quem falava assim
era o Antonho das
Sete Vidas falado,
pelas tantas suas amadas
era assaz comentado.
Mas, mesmo assim afamado
não perdia ocasião
de tornar a coisa feia
se lhe enrolassem nas teias
de qualquer contradição.

Gostava de uma “branquinha”
como também de um “traçado”,
pra outras bebidas, porém,
se fazia de rogado;
dominava uma viola,
gostava de dar esmola;
não bancava valentia,
mas se um valente aparecia
apanhava dele de sola.

Gostava de contar “causos”
e era bem informado,
em qualquer ocasião
dizia bem o seu recado.
Antonio das Sete Vidas
não encurtava caminho,
gostava de andar sozinho
por trilhas desconhecidas.

Conforme se encontrasse
nos lugares mais estranhos
Antonio sempre achava
um jeito de ter seu ganho
conquistando simpatia
fizesse frio ou verão,
pelas grimpas do sertão.


Já tinha sido soldado
e também agricultor
mas, entre outras profissões,
a que mais apreciava,
era a de ser vaqueiro;
dedilhava um violão
e, montado em seu azalão
pulava qualquer balseiro.

Antonho não demorava
muito tempo num lugar
não esquentava assento
mal começasse a gostar
de um lugar que descobrisse
sem que depressa saísse
seguindo a estrada afora
antes que alguma demora
um perigo lhe atraísse.

Era uma cisma de Antonho,
que nunca lhe abandonava
por mais que ficasse à vontade
ele nunca demorava
qualquer que fosse a vantagem;
montava no seu cavalo
e saía de embalo
prosseguindo sua viagem.

Bateu, certa vez, Antonho
das Sete Vidas falado
num lugar muito esquisito
do sertão muito afastado...
as casas só tinham um lado
e as suas partes internas
eram feitas de cavernas
que uns homens tinham achado

passando a morar ali
com suas famílias
dormindo no chão de pedra
pois não havia mobília
os confortos da cidade
nunca ali apareciam
de sorte que eles viviam
na maior promiscuidade.


Não tinham pão nem asseio,
viviam na precisão
que se imagina qual é
onde mora a solidão;
em muitas locas só havia
lagartos, ratos e cobras
e outras feras de sobra
sua morada ali faziam.

vendo coisas tão estranhas
de modo nenhum se afligiu
sua coragem era tamanha
afugentou todos os bichos
com fogueira que acendeu
quem não fugiu, morreu,
deixando limpos os nichos.

Depois de tudo acalmado
puxou, então, da viola
transmitindo aos trogloditas
a mensagem que consola
do verso sempre inflamado
que a poesia intui
e no canto se reflui
seja qual for o estado

Das pessoas mais carentes
por mais que seja a desdita.
Antonho das Sete Vidas
assumindo sua escrita
ainda usou sua pertinência
ficou ali muitos dias
um mundo de alegrias
lhes dando com sapiência.

A coisa mais imediata
que ele lhes ensinou,então,
foi aproveitar umas águas
que vinha de um ribeirão.
fizeram um canal imenso
para irrigar uns baixados,
ele deixou ali, estrelados;
um plantio muito imenso

de feijão e mandioca
girimum e melancia.
As mulheres ajudavam
com a mais santa alegria;
quando Antonho dali saiu
sua alma estava leve,
o seu trabalho foi breve
mas de grandeza se vestiu.

Esta sua experiência
ligava-se a um acontecimento
que lhe fazia saudade
e, às vezes sofrimento.
Era quando recordava
do momento que emigrou
e sua família deixou.
só isso já lhe bastava

para ter constrangimento
pois, não esperava rever
o que então abandonou
e que lhe fazia sofrer.
Além dos pais e dos irmãos,
ele deixara uma roça feita,
só esperando pela colheita,
o que era sua ambição.

Vou descrever o tal fato
e porque ele se deu,
procurando ser tão exato
como de fato ocorreu.

O milharal se estendia
com seus penachos brilhosos,
as espigas já pesavam
nos seus troncos resinosos.

Antonho das Sete Vidas
semeara tanto milho,
e agora o seu cultivo
florescia em tanto brilho.

Com que o sol alegrava
uma extensa plantação,
que deixava satisfeito
o seu humilde coração.

Fora derrubada a mata
até ficar limpo o chão,
pelos esforços dos vizinhos,
na forma de mutirão.

Assim todos se ajudavam
em troca de mão-de-obra
ajudando-se uns aos outros
porque o dinheiro não sobra

como sobra o coronel
que pode mante empregados
em seus grandes latifúndios,
mantendo-os sempre ocupados.
Eram poucos os alqueires
de terra que um seu tio
cedeu-lhe para uma roça,
fazendo-lhe um desafio.

Sendo Antonho ainda moço,
o tio fez uma experiência,
porque o sobrinho insistia
em mostrar sua competência.

Não era do tio a terra,
sendo ele um agregado
- mas, confiava que o coronel
não ficasse contrariado.

Pois bem, os sobrinhos juntou
os seus amigos vizinhos
pois, “a união faz a força ”
que abre qualquer caminho.

E, a terra estava ali
parecendo mulher grávida,
os seus frutos oferecendo,
serena, doce e cálida.

Antonho ria sozinho,
empolgado com a vitória,
sem jamais imaginar
que outra seria a história.

Foi quando chegou o sonho
que o arrastou para o norte;
a tentação da aventura,
em Antonho era mais forte.

Em “ soldado da borracha “
ele, então, se transformou;
do sertão a Fortaleza,
num caminhão viajou.

Sua mãe veio em seguida
para intentar demovê-lo
mas, para sua tristeza,
não teve mais como vê-lo.

Já Antonho tinha embarcado
e o navio se afastava;
no cais entre a multidão,
sua pobre mãe chorava.

Coube ao tio de Antonho
colher toda a plantação
quando o coronel apareceu
pedindo-lhe satisfação.

Exigia a sua parte
do que ele não produzira
mas, como a terra era dele
achou que Antonho invadira.

O que era seu sem consentimento,
o que tinha sido um abuso,
razão pela qual exigia
uma indenização fora de uso:

Queria dois terço da produção,
e não deixava por menos.
doesse a quem doesse
era a sua decisão.

Os dois homens discutiram,
pois o tio de Antonho
Não se conformava em perder
o que o sobrinho e seus amigos produziram.

Um coronel nunca perde,
e a briga ficou feia,
maldizendo-se “seu” Pereira,
de plantar em terra alheia.

O resultado antecipo,
da maior monstruosidade;
“seu”Pereira foi expulso
sem a menor piedade

das terras do coronel,
perdendo tudo o que tinha,
sem poder levar dali
nem um ovo de galinha.

E, ainda foi espancado
para não ser enxerido,
e que não soltasse um pio
sobre o que foi ocorrido

Na roça dele e na de Antonho,
o coronel soltou o gado.
o esforços de tantos homens
foi assim destroçado,

Dava-se isso no sertão
enquanto, distante, Antonho,
na amazônica vastidão,
iniciava outro sonho.

Ganhou novamente o mundo
este homem que descrevo;
andarilho impenitente
dele dizer eu devo
para tudo ele achava meio
de ver a solução encontrada;
nos percursos das estradas
não fugia de aperreios.

Dava consolo aos aflitos,
ajudava aos sofredores;
não se espantava com gritos,
mas não morria de amores
por cabra frouxo ou covarde
que atravessasse sua pista;
riscava o cabra da lista
antes que fosse tarde.

Homem, porém, nenhum
está isento de defeito;
por isso vou confessar,
e o faço contra-feito...
Antonho das Sete Vidas
muita franqueza tinha
que o punha fora da linha
muita vezes sem saída.

Como se deu, por exemplo,
na narração que a seguir,
dele ouvimos, certa vez,
e passamos a repetir
na sua própria tradução;
tal como se deu, então,
e o papel vai imprimir.

Acontecia que Antonho
por muito lugar andando
de cada gente ele ia
o sotaque assimilando
e, assim, se esmerava
para poder retratar
e em sua prosa mostrar
os hábitos que encontrava

Em diferentes locais
durante suas viagens
pois, a sua perspicácia
em tudo via mensagens
em diferentes contextos
e, quando era ocasião
disto dava demonstração
em regalados pretextos.

Depois de se concentrar
tendo a viola afinado,
disse-me Barboza, escuta
com o ouvido bem apurado.
vou falar como um matuto
no seu jeito quase bruto
de um homem iletrado.

“Tava eu em Mandiopá
az moça qui aui si vê
num si cumparum az di lá.
i tin’um feitu u’a latada
a sanfona tava afiada
para um baile cumeçá.

Avia um mundéu di genti
ispiada nu terrêro
I ali eu mi infiei
quiria sortá u galu
nu pastu dexei u cavalu
i du bále mi aprochimei.

Mazpuz logo uz óio im riba
da moça mas infeitada
qui istava nu salão
paricia u’a cabrita
nu seu vistidu di chita
qui arrastava um chão.

Paricia um figurinu
dus qui si vê in rivista
u vistidu da danada
u corpo bem recortadu
tantu di frenti ô di ladu
num dexavais condê nada

Du qui ela tin’a pur baxo
senu ela bem parruda
maz tudim nela bem feitu
eu sinti um istremeção
qui atingia u coração
i apertava u meu peitu.

Num pudi mas disgrudá
uz óio qui achavum ela
ainda muintu novinha
axei inté um pecadu
eu ficar abilolado
pur causu di u’a pombinha

Cuma aquela, tão criança
i já si joganu pros homi.
vacilei, num vô mintir
mi incostei n’ua janela
oiano sempi pra ela
cumecei e refritir.

Us peitu, us peitu
da tal minina
começavum a fulorá
quano ela si mixia
pariceu qui ali avia
doz passarim a sartá.

E a boca, a boca
acuma é qui digo?
da pitanga era a cô
mas paricia u’a rosa
i senu muito xerôsa
era mermo qui u’a flô.

Us cabelu, intonci
paricia qui dançavum
quandu ela si sacudia
xegava a saí faísca
dus cabelo da danisca
pulus briu qui fazia.

Fiquemu na bêradum riu
ondi ela si banhô
nuazin’a cuma nasceu.
num mitu, não; o sol sumiu,
nessa hora nem um pio,
ave ninhuma deu.Intoci pozô na min’a
aqueli facgu di luz
paricenu a tentação
fez um gesto p’reu oiá
insistino p’reu i lá
bem pru meio du salão.,

Mi agarrou, intoci, a bruxa
cuma goma di mascá
ficano bem grudadinha
pur riba acuma pur baxo
Dizeno - guënta, maxo
num banca de armufadinha.

Sigura o pião na dansa
qui eu tô afuleimada
i vi qui tú é di samba.
eu nu mei das pirueta
nem qui fosse carrapeta
acabei di perna bamba,

I fui puxano ela prum cantu
pra minina si acomodá
i ela isquentava az
nu seu jogo adeferenti
seno eu um pinitenti
quereno ficá in paz.

Mermo acim, pulus seus óio
a tentação mi prindia
sem jeito di eu evitá
mi aferrei na isperança
di sigurá min’a lança
pro fogo dele isfriá.

Dancenu, acuma dancemu
até quano minhãceu
sempi junto bem coladu
cum u xêru du seu cângoti
eu dava cada pinóti
acuma um cabritu açustadu.

Ela mi dava unz apêrtu
q’ui eu ficava isprimidu
em sinti us pé nu chão
c’a rôpa toda móiada
eu já num via mas nada
tinha perdidu a rezão.

Quando us galos amiudava
só nóis tava nu salão
Pedimos aDeus que a ocresta
Nun paraci de tocá
Pra num dêxá isfriar
U gostu daquelaa festa.

Intonci, nêce momentu
via a coisa apiorá
eu não tava pra questão
mas ele vin’a arretado
iInuantu eu tava agarradu
ele invadiu o salão

Mi puxou pula a mão
mandamo eu me separá
da sua irmã Filismina
qui eu xerava nu cangóti
dipressa dei um pinóti
mas ela caiu em cima

Dufacão du ispritadu
livranu u que era meu
qui istava daquele jeito
qui num póço ispricar
sô forçado a confeçá
mi deu u friunupeitu

Quanoele si disvviõ
Da morena ispivitada
I mi sigurônovamenti
Intonce eumiabaxei
I u meu punha catuquei
Na partmazsalienti


Lá nele,bem nu mei da braguia
arrebentei uns botão
i az vergoôn’a, di fora
sentira o fresco duventu;
disse ele — num aguentu
i foi logo ino simbora,

outro irmão vei i siguida
mas eu nu mi aperriei...
a caboca num mi largava;
Du mermo jeito q’eu fiz
Cum u ôtro infeliz,
U punha funcionava.

U pissoa si ispaiõ
eu ainda continuei
cu a muié du meu ladu
mas a graçasi acabou.
Ai ela mi levo
p’rum lugar bemafastadu.

U restu du dia fiquemu
naquele lugá tão bunito
qui parecia um paraisu;
um nu ôtro coladinho,
eu presu nus seus carinhu,
amarrado nu seu sorriso.

Fiquemu na beira dum rio
onde ela sibanhô
nuazi’a cuma nasceu.
Num mito, não;o sol sumiu,
nessa hora nenhum pio,
ave nenhuma deu.


Até que eu mi açombrei
ifiqie mei abobadu
venu a beleza dela
us peitu boianu na luz,
paricenu doz cuz-cuz
fumaçanu na panela.

Quanu ela ficava in pé
cum a água nu mei das coxa
u sol fazia u’a mordura
qui parecia di oro
qui nem fosse ela u tisôro
I não u’a criatura.

Cumeceia afroxá,
cufessu qui tava cumedo
du dispotísmo que eu via;
quandu ela mergulhava,
lá de baxo mi chamava;
só podia se magia.

U pió era que eu
vontade tin’a di i
pra onde me chamava;
mas u’a coisa mi prendia
di onde eu tava não saia
inquantu ele demorava.

Muito tempo imbaixo d’água
até aparecê di novo
cada vez mais diferenti
I u’a coisa eu notava
Ficava mais transparenti.


Já não era tão morena
cuma era nu começo
bem da cô du saputi,
mas cada vez mas facêra...
eu vi logo qui era bestêra
continuá ficandu ali.

Foi guandu ela merguiô
si mostrandu meio zangada
i eu vi uma coisa incrive:
az água si avermeiavam
us passaru seagitavam
fazendu u baruio orríve.

Caiu um gaio de arvre
um rasga-mortaia passou
raspano a minha cabeça
eu peensei nu mêrmo instante
vô tratá di sai antes
qui algum’a disgraça aconteça

i si formô di repenti
um redimuim nas água
i u’a risada istridenti
si infiô nu meuzovidu
qui mi deixouaturdidu
I bobo qui nem dementi

Eu quiz corrê maz num pude
a modi que tava prezu
c’os pés infiadu nu chão
I eu mole qui nem mingau
fiz logo o pelo sinal
qui foi minha salvação.

A risada da mãe-d’água
cessou nu mesmo momentu
i az água ficaru calma.
Intonce eu mi acalmei
i dali mi afastei
tava sarva a min’a alma”

....................



No Volume 2 de estórias de ANTONHO
das Sete Vidas, você encontrará de Francisco de
Carvalho, o texto: O Pintor e seu Cordel.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 5Exibido 1186 vezesFale com o autor