Sol brilhante,
ardente,
reverberando brasas de calor.
Areia frouxa,
pesada,
ressequida, inóspita,
cheia de vazio,
transbordando ninguém.
Passos arrastados,
sulcados no fogo da areia.
Um beduíno
que caminha, incerto,
buscando no deserto
uma fonte,
um oásis perdido
que lhe sacie a sede,
que lhe refresque o calor.
Reverbera-se uma fonte,
retrata-se uma flor.
Caminha o beduíno,
em pressa,
se arrastando pela areia
frouxa de calor.
- Ladrão!
Deixa-me a fonte!
Não me roube a flor!
Estou morrendo de sede:
Só sei viver de amor!
E o mouro miserável
revoltado,
que nunca teve amor -
sempre frustrado -
que as fontes do deserto
sempre lhe roubaram,
arranca ao beduíno
o seu amor,
lhe tira uma esperança
já tão próxima
de saciar de amor seu coração
Mas não há mouro,
Não há flor,
Nem fonte...
Há só calor...
areia em brasas
sol incandescente
há só miragem
triste,
que se esvai
distante...
Não há deserto...
beduíno...
mouro...
ou fonte.
Há só miragem
que requeima a fronte
do pobre moribundo
agonizante
que parte
em lágrimas deixando
neste mundo incerto
a sua flor.
BeMendes (direitos rservados) |